domingo, 29 de novembro de 2009

Cecília

assim diria Cecília
eom sua delicadeza
tranqüila mais que um lago
em uma tarde sem vento
mais calma que a tristeza
mais triste que a beleza
de seu rosto irrequieto
assim diria a poeta
das coisas mais pequeninas
das magias mas secretas
atrás das portas fechadas
onde as palavras florescem

a vida parece impossível
no coração do
universo
se não for com alegria
pela palavra tocada
se não for toda bebida
sobre toalha bordada
se a vida não for sentida
repartida e bem cuidada
se não for vida incompleta
se não for reinventada

j

sábado, 28 de novembro de 2009


o silêncio é de ouro
ensina o professor
o vigário
a família zelosa
em nome da ordem
e dos bons costumes
da vida bem comportada
sem eira nem beira

quem fala muito
dá bom dia cavalo
repete em coro a gente mineira
mesmo assim falo
escrevo
resisto
grito
protesto
proclamo palavras de prata
silêncio demais adoece
anoitece a casa
mofa as paredes do espírito
amolece a carne
denuncia os sigilos do corpo

silêncio demais apodrece a alma
VivaViola – Sessenta Cordas em Movimento.

A viola caipira possui magia própria, eleva o espírito, amplia a percepção, educa a sensibilidade, aprimora o gosto.
Não importa se fala de temas comuns e cotidianos, se fala do amor, da vida na roça, da natureza, ou se conta uma história acontecida ou inventada.Não importa se chora ou protesta.
Quando cultivada com maestria e sinceridade a viola caipira sempre toca coração e mente de todas as pessoas.


nstrumento vibrante. Transita com a mesma desenvoltura pelas mãos dos mestres nas folias, folguedos e festejos populares, nos bailes da roça, nos teatros e palcos urbanos.
Pelas suas características e pela autenticidade dos valores que representa e defende, a viola caipira é símbolo da identidade da cultura popular brasileira.
Fazem parte do Vivaviola importantes nomes da viola de Minas Gerais:
Bilora,Chico Lobo, Gustavo Guimarães, Joaci Ornelas, Pereira da Viola e Wilson Dias.

terça-feira, 24 de novembro de 2009


viagem
a viagem pela leitura
é ventura diferente
o que mora nas lonjuras
fica pertinho da gente

o livro esconde piratas
estrelas mares serpentes
campos castelos e casas
nas florestas reluzentes

tudo no meio das letras
as letras dentro das linhas
as linhas todas bem pretas
da cor de certas frutinhas

e nem precisa passagem
nem endereço nem mapa
o leitor nesta viagem
vê o mundo pela capa

depois o livro se abre
ao toque firme das mãos
logo se vê os lugares
as formas e a dimensão

nos livros moram as fadas
índios, reis, animaizinhos
cada pausa é uma pousada
depois de muitos caminhos

a viagem pela leitura
dá prazer só de pensar
na escrita e na gravura
e no leitor a voar

seja em casa ou na escola
mo carro no lotação
mal o avião decola
some na imaginação

segunda-feira, 23 de novembro de 2009



a um passo do inferno
o homem pós-moderno
se espedaça
se orgulha
se humilha
ilha de sombras insônias
de tristissimos signos
e armadilhas

sábado, 21 de novembro de 2009


cada palavra uma alma
cada palavra uma aura
fúria humana
flatua amena
cada palavra no poema
versicanta a voz terrena
exala seu veneno
o vocabulário aurífero se abre
sob o céu de tristes açucenas

escrevo sem lirismo
por necessidade dos nervos
sem meio termo
sempre que impreciso
vocabulário volátil
vivo à beira do abismo

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

há muitas formas de amor
muito mais formas de desamar
amar sem amor
desamar de amor
amar amar amar
sobre todas as coisas
sem forma e sem esperança

o coração doente não sabe
porque se entrega a tão grande
descabido amor

exige que o corpo se estenda sem razão
na direção de outro corpo sem sentido

há muitas formas de não se entender o amor

terça-feira, 17 de novembro de 2009


amor

no texto
as palavras se abraçam
signos amorosos
se entregam ao calor das letras
dançam
voam no vazio da voz
no espaço do poema
engendram novos sentidos
primitivas borboletas

falo da origem
da floresta
onde
a vertigem
verbo vegetal
começa

tudo a tudo
neste verso único
gesto
se liga
desde o primeiro
grito de luz
ao ultimo seguinte
verso
no vértice da noite
inexorável
impenitente extinta

autonomínima

vivo da palavra
mínima
da que em mim
ainda resta
autônoma e ínfima
anônima por fora
luz infinita fera
me ilumina
por dentro meu corpo dilacera

segunda-feira, 9 de novembro de 2009



AFP PHOTO JOHN MACDOUGALL
berlin

berlin berlin
o mundo todo
única verdade comemora
a queda do muro de Berlim
brindes etílicos
rimas idílicas
fogos de sacrificios
música
samurias coloridos
painéis de liberdade
míticos rituais
da mídia irremediável
Sérvia
comemora aos berros
nos bares e becos
o fim da história
a funesta festa do mercado
o santuário do lucro
saturado de inutilidades
mas perto de mim
persistem tantos
tristes postais
trágicas barreiras muralhas turísticas
carros de luxo
casas em ruínas
reinos virtuais
falsas cores e luxúrias
cercas elétricas
caras fechadas
fechaduras de ouro
fachadas desertas
asilos de solidão
pobreza absoluta
desigualdade
e servidão
entre mim e meu vizinho
eu sozinho
não há paisagem possível
nem água nem passarinho
carinho incomum
na esquina transita figura esquiva
me escuta
não há
um buraco sequer
no cérebro eletrônico
uma brecha que seja
na parede que divide
o quintal das dores
universais
tudo de murmúrios e revides ocultos
se orgulha
doma
domina
doura a pílula da alegria
a Terra dorme
em paz sobre os cadáveres
a linguagem triunfante
mata o sonho
muda a senha
assanha a sede
cega o anjo da esperança
nenhum caminho leva à honra
à Roma ao amor entre os homens
todos os dez caminhos levam ao simulacro
ao rumor de um tempo estúpido
espúrio e sem nome