sexta-feira, 31 de dezembro de 2010


A literatura ou a vida?
Eis a questão!
Prefiro a literatura ,
Já que a vida é ficção.

sê simples
no que recebes a cada manhã
no que perdes ao anoitecer
entre a vida e a morte de cada estrela
não há hiato
na verdade
o sono e a vigília se confundem
não te pertencem
não há motivos para regozijos
nem para a tristeza

sê simples para que a vida refloresça

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010


o poema deve ser
curto e grosso
sintético
diz o crítico de mau humor
de preferência
só osso
ensina o professor
deve ser inofensivo e neutro
menor que ameba
na medida certa
do cérebro do leitor
reitera o sintomático editor

terça-feira, 28 de dezembro de 2010



porque desejas o domínio absoluto
éS capaz das piores coisas
podes trair com o mesmo sorriso com que amas
podes roubar
com o mesmo cinismo
com que alimentas o mendigo à tua porta
podes matar
com a mesma alegria
com que comemoras teu aniversário
a chegada do Ano Novo
porque desejas o domínio absoluto
não saberás a diferença entre amor e ódio
entre paz e omissão
entre justiça e honra
nunca te bastará o necessário
serás para sempre
inimigo de teus irmãos
de tudo e de todos
porque desejas o domínio absoluto
vives em desassossego
estás condenado a vagar pela terra queimada
sem deixar rastros nem lástimas
serás bruto mais que a pedra do calvário
mais que o animal selvagem
nunca serás nada
nem deus nem homem
nem a cascavel serás
porque desejas o domínio absoluto

sábado, 25 de dezembro de 2010


não te esqueças nunca destas palavras
a água não pode mais do que a água
nem o fogo mais do que o fogo
nem a pedra mais do que a pedra
Deus não pode mais do que deus
nem tu mais do que o que tu és
pó e água
ar e fogo
tudo no universo se curva ao peso
do tempo
à permanente sucessão da existência
nada deve se curvar a teus pés

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010


falo por mim
mesmo quando calo
porque povo
é gado marcado
nao tem preço
não tem cheiro
não tem voz
não tem mercado
povo não come
não bebe
não ouve
não toca violino
não se toca
não inala
povo não é velho
nem menino
na vale um tostão furado
povo é abacaxi e pepino
povo é palavra abstrata
cachaça barata
nó sem gravata
botequim com batata
caranguejo na lata
cumpre e não trata
se assusta à toa
açude sem água
é águia mas não voa
não chove nem molha
não reage nem a tapa
aos desmandos da coroa
povo é esgoto no ralo
pedra no sapato
calcanhar com calo
poleiro de pato
perfume barato
suco
saco de pancada
sucata
não ata nem desata
não canta de galo
não levanta cedo
não levanta a crista
não olha para o alto
povo é povo
por falta de opção
por falta de palavra melhor para saudar o charlatão
pouco mais que menos
carta fora do baralho
a palavra povo
fede a alho
olho por olho
povo é encalhe
não tem boca
nem agasalho
é quebra galho
gargalo e oca
povo não tem tato
não tem trato
não tem retrato
é sempre retardatário
povo não é justo
nem canalha
não é judas
não ajuda
não atrapalha
vive como pode
como agüenta
come pimenta de bode
como permite a elite
em nome do povo
muito crime se comete
mais subtrai
quanto mais promete
em nome do povo
a revolução
a farsa

o fanfarrão sem calça
no caixão sem alça
em nome do povo
nada de novo na rede
nem peixe nem polvo
nem cerca nem parede
a palavra povo aumenta
conforme a ocasião
o que em nome do povo
o rei supostamente inventa
em nome do povo
há quem fala grosso
engrossa o bigode
engorda o bode
torce o pescoço
vira porco
por mais que se sacode
o coqueiro atorto
o coco não cai
não morre
o povo
Brasil
é um vivo-morto
é festa de pagode
Jesus Cristo no Horto
não é pobre nem lorde
é boi que não se lambe todo
nem nobre nem gentil
povo é povo
ovo é ovo
véu é véu
vil é vil
povo é uma ova
depois do voto
toma dorIl

penso por mim
porque o povo
por impaciência
por incompetência
por conveniência
por conivência
sumariamente
democraticamente
subtamente
sumiu
João evangelista rodrigues

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010


que tal
um poeminha descartável
para seu Natal
sem sentimento real
sem pensamento
porque pensar
no final do ano
faz mal para o estômago
não é saudável
que tal
um poemiha normal
com amor bem comportado
e agenda sexual
um poeminha
nada sentimental
com casa e jardim
café da manhã e jornal
um empreguinho óbvio
um automóvel invejável
uma esposa elegane
um gorda conta bancária
uma passagem de avião

um poeminha idiota
com botas na janela
com árvore de metal
com bolas coloridas
falsos frutos de vidro
que tal
um poeminha beleza
com mesa farta
taças de cristal
com vinho importado
castanha do pará
peito de peru e pernil
e sonhos defumados
que tal
um poeminha caótico
católico por convicção
hipócrita e fundamental
que tal
um poeminha erótico
com alta titulação
com rara erudição
com baixa radiatividade
com motivo oriental

que tal
um poeminha burocrático
democrático
simpático
sem preconceito
sem poluição


um poeminha frugal
para um Brasil desigual
para sua vidinha banal
para sua vizinha animal
para o moleque do sinal
para o gestor universal

que tal
um cartãozinho indecente
simplesmente.com.
Feiz Natal

elimina de ti
tudo o que de ti
não faz parte
o amor que não suportas
a arte que não ilumina
o orgulho eu ti humilha
a ciência que não floresce
tudo o que não és
e teimas em ser
joga ao vento
tuas palavras ociosas
tuas metáforas abstratas
teus pertences sem coração
às feras
as cifras
tuas vestes de gala
tua ansiedade
tua fé sem aura
tuas fezes
aos ladrões
tudo o que tens
e não te pertence

seja apenas o que podes ser
no tempo sem núpcias
sem saudades
sem espera
sem perfume

elimina de ti o que te elide
e em silencio dilacera

sábado, 11 de dezembro de 2010



o afundador de navios
vive em palácios submersos
alimenta-se da escuridão das almas
de amizade de peixes carnívoros
seu corpo é uma carcaça de ferros velhos
turbinas emperradas e painéis em pane
de vez em quando ressuscita do coração
de um náufrago

para matar de submarinos desejos
entre um e outro afundamento de navios
lê um livro de poemas
montado no vento

o afundador de navios já se cansou das praias
das garrafas vazias
dos sacos de plásticos das
camisinhas e seringas descartáveis
da alegre hipocrisia dos turistas terrestres
das turvas tempestades humanas

agora sonha com a noite em que um mar de fogo
engula todo o continente como um dragão
invisível
devore a vida no planeta enfurecido

o afundador de navios dorme sobre túmulos de água

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010


para onde pensas que estás indo
quando circulas às tontas pela casa
pelas ruas s da cidade
quando avanças o sinal
quando furas a fila do caixa
no supermercado
quando te fechas por dentro
quando te embriagas de metafísicas
quando arrependes de teus pecados
quando devoras sem mastigar
um livro de poemas
de boas maneiras
de auto ajuda
quando comes sozinho
tua ração diária de tristeza

para e pensa
para onde estais indo neste instante
de chuva noturna e insistente
no fundo sabes que tua busca vã
vazia de sentido

é para a morte que tu diriges a cada passo
a cada sopro do desejo
de teu pensamento a caminho do silêncio
a cada movimento de teu espírito sem aconchego

não te perturbes
todos os caminhos caminham em direção à morte

para onde pensas que estás indo
quando circulas às tontas pela casa
pelas ruas s da cidade
quando avanças o sinal
quando furas a fila do caixa
no supermercado
quando te fechas por dentro
quando te embriagas de metafísicas
quando arrependes de teus pecados
quando devoras sem mastigar
um livro de poemas
de boas maneiras
de auto ajuda
quando comes sozinho
tua ração diária de tristeza

para e pensa
para onde estais indo neste instante
de chuva noturna e insistente
no fundo sabes que tua busca vã
vazia de sentido

é para a morte que tu diriges a cada passo
a cada sopro do desejo
de teu pensamento a caminho do silêncio
a cada movimento de teu espírito sem aconchego

não te perturbes
todos os caminhos caminham em direção à morte