que fantasmas dominam a cidade
movem suas máquinas de morte
que santos protegem a cidade
contra a peste da ignorância
que fadas distraem a cidade
com ilusões e encantamentos
que força move os desejos da cidade
sua obsessão pelo prazer
que deuses alimentam a cidade
nas épocas de miséria e escassez
que heróis protegem a cidade
contra a opressão e a discórdia
que idioma fala a cidade e suas mídias
que mediam sua cotidiana mediocridade
que crenças separam a cidade
com muros invisíveis e cruéis
quem fantasmas fecham as portas
quando a noite recomeça em nós
que feiticeiro médico ou charlatão
pode curas as doenças da cidade
que olhos são esses que nos olham
de soslaios pelas ruas mal iluminadas
quem dirige o relógio da matriz
o tempo mínimo que nos resta
que oráculo nos protege do ócio
quando após a missa nos odiamos
quem detém a chave do erário
enquanto o público se diverte com sandices
quem controla o regime das chuvas
e do poder que cai sobre a cidade
que seres moram nos esgotos da cidade
e tudo devoram com voracidade
quem guarda a senha dos segredos
dos cofres que escravizam a acidade
que mestres ensinam a cidade
estimulam a ganância e o egoísmo
quem fabrica o pão e as intrigas
que desintegram a cidade
quem trafica drogas e sonhos abstratos
para que a cidade se esqueça de si mesma
que juízes condenam a cidade
contra os seus crimes absolutos
quem guarda a cidade contra seus invasores
quem a protege em tempos de trégua
que guru ou cartomante se arriscaria
a prever o futuro da cidade sem felicidade
o que seríamos sem a consciência do que somos
senão fantasmagorias de uma cidade sem alma
quem sou eu no mapa da cidade
senão um ponto de interrogação
quem de fato vive em paz nesta cidade