terça-feira, 1 de maio de 2012

vozes do mundo joão evnagelista rodriuges agosto de 1980 meu verso não canta por si mesmo a vida é que nele canta e em si cantando nele se transforma a vida em mim versi-fica e fere na flor da pele comum jardim meu verso não fala por si mesmo a vida é que nele fala às vezes canta quase sempre cala o verso em mim vivi-fica e flora flor de marfim que na palavra mora meu verso não vale por si mesmo a vida é que nele vale na parte mais sofrida que da História se exilou a História em mim fruti-fica e fala presente verso ferido a bala meu verso não vive por si mesmo a vida é que nele vive na morte varia da operaria construção no meu verso a vida voci-fera em vão se não for manhã na palma da mão do livro "O Avesso da Pedra"

sábado, 28 de abril de 2012

olhar horizontes é arte de paciência de quem já lutou contra o vento venceu todas as guerras paz de aqui jazz de paciência de quem Já em tantos se venceu
Sobre as águas e as culturas de Minas joão evangelista rodrigues Todos sabemos , via Guimarães Rosa, e isto já virou refrão: Minas São muitas. Mas o que as pessoas não explicitam é de que Minas estão falando, quando se referem a um de nossos maiores escritores. Realmente, se Minas são multivárias, multivastas são as formações e manifestações culturais deste Estado. Porque Minas mesmo, às vezes, parece permanecer em seu estado mineral, inerte, empedernido, como a fazer jus, à origem de seu nome. Outras, a essencial, é intocada como convém a um mapa sagrado. Minas é o que se vê e ouve. O que se sente com o coração e a mente abertos. Parece, ainda bem, porque dentro e fora das burocráticas estruturas criadas, durante mais de trezentos anos de história, para “administrar a cultura de Minas”, pulsa uma infinidade de vozes, populares ou nem tanto, mas todas em busca de espaço e de expressão em suas comunidades. Claro, hoje, graças à Internet, nas imponderáveis geografias do mundo. Veja-se; por exemplo, as eleições para a escolha dos membros que irão compor o Conselho Estadual de Cultura cuja votação, claro, ocorreu lá longe, na suntuosa e escura Cidade Administrativa uma semana antes das comemorações da Inconfidência Mineira. Não vou entrar no mérito do processo, pelo simples fato de que, por questões de somenos, não o acompanhei de perto. Não posso afirmar com certeza se este processo foi democrático ou burocrático. Legítimo ou ilegitimado por lutas de puder, por ser apenas mais uma forma de manter a cultura de Minas onde sempre esteve . Debaixo das asas , nas mãos de poucos, os mesmos. Dos que, não sei por que cargas d´água, se auto elogiam e se elegem como donos de tudo o que se refere às coisas de Minas. E por falar em água, Minas pode ser considerada o sertão das águas, maior riqueza, juntamente com sua cultura, que todo o minério já minerado e amontoado do outro lado do mundo. Minério já negociado e comprometido, através de contratos que duram cerca de duzentos anos a frente. Na verdade, Mina já nasceu vendida, ultrajada, escavada, apesar do orgulho mineiro e das opiniões em contrário. Não sou pessimista, sou ate sonhador demais. Conheço bem as infinitas geografias de Minas. Suas entranhas e estranhas minerações. Seu jeitinho e sua falta de jeito para com os interesses do povo. Por dentro e pro fora da máquina gestora. Mas às vezes um espírito sombrio, desses que chegam na penumbra das salas de espera e dos gabinetes, tomam conta de mim e me ponho a cismar. Será que a profecia de Drummond está se cumprindo á risca? Minas não há mias? Pelo menos o Pico do Caué não há mais. A Serra do Curral não há mais. As montanhas de Conceição do Mato Dentro, em futuro próximo, não existirão mais. O Rio São Francisco, na parte que corre pelas veias de Minas, como todos seus afluentes, está franciscanamente enfraquecido e pobre. Corre o risco de não haver mais. Até mesmo as pedreiras de reservas calcárias de Arcos são sistematicamente contrabandeadas no lombo do trem de ferro. Daí, pergunto-me: Há liberdade democrática em Minas. Ou apenas democracia formal. Liberdade só para motivo de desfiles e discursos em Ouro preto, no dia 21 de abril. Com relação ao Conselho, que se fosse bom ninguém daria, só espero que as pessoas eleitas procurem conhecer , com o coração e com a sensibilidade, com olhos livres de vaidade, de ganância, de preconceitos e sem competição toda riqueza cultural deste território. Espero que vejam além da Praça da Liberdade, dos jogos de poder da Cidade Administrativa, do Palácio da Liberdade, do Palácio das Artes, dos ares da moda, das academias e de outros palacetes da cultura “mineira”. É no sertão da voz, da palavra não domesticada, da música natural das águas, nas pequenas cidades e comunidades rurais que floresce a maior riqueza. Apesar da labuta e da vida singela que levam. Não estou descartando nem desvalorizando, com isso, o que se faz e se produz com autenticidade e qualidade aqui na capital, em nenhuma das áreas da arte e da cultura. A questão é que existe muito mais em Minas do que isso e com igual força e importância. E não me venha dizer que , pelo fato de ser rural, de ser do interior, de ser artesanal, é conservadora ou desintegrada do que antigamente se chamava de vanguarda, coisa que nem existe mais e que muitos ainda teimam em defender. Da mesma forma que defendem, em vorazes campanhas eleitorais, sua fatia fatal no já desgastado latifúndio (cultural) mineiro, via Leis de Incentivo. Diga-se de passagem, depois da criação das Leis de Incentivo e do famigerado Marketing Cultural, descoberto pelas grandes empresas, os artistas, a sua maioria, viraram produtores e se tornaram inimigos comuns. Hoje, raramente se vê colaboração entre grupos de artistas, a não ser que esteja mediada por um bom cachê, via incentivo. Nem me refiro aos lobbies e as inevitáveis negociatas para garantir a captação dos projetos aprovados. O pior é depois desse expediente legal, as obras produzidas já nascem estigmatizadas e condicionadas pela política cultural, criada pelo departamento de marketing da empesa apoiadora. Ou seja, quem não concordar ou não adequar a esta política, estará, automaticamente fora do processo. Com raríssimas exceções são produções de entretenimento, desideologisadas, descomprometidas com a vida mesma da sociedade, com seus sonhos e contradições. Bem, quem dera Minas valorizasse e defendesse, de fato, suas águas e suas culturas. Nem precisaria destruir suas montanhas para angariar recursos. No futuro e, praticamente já e uma realidade, água e cultura valerão mais do que ouro em pó. Vejam só, oh! Quem diria. Minas sem mineiro. Mineiro sem montanhas. Quem não se lembra do belo poema Tristes Horizontes, publicado no maior jornal dos mineiros na década de 80. Minas sem água e sem cultura. Minas sem alma. Sem futuro. Minas sem aura. Sem gloria, sem Glaura. Adeus Minas de tantas andarílias Marílias sem Dirceu. Minas a Deus da dará. E os Gerias. Ah! OS Gerais? Mire e veja; O Senhor sabe de saber mais fundo. Imagine. Os Gerais descansam, descambam, decantam, desparecem, cantam em campos e cerrados muito mais além de Minas. Muito mais que muitos. Da parte dos homens de sangue nos olhos. Dos que gosto de tanto mais saber de olhar no rosto. Ora se não. Pois seja. “Mas, da parte do poente, algum vento suspendia e levava rabos-de-galo, como que com eles fossem fazer um seu branco ninho, muito longe, ermo dos Gerais, nas beiras matas escuras e águas todas do Urucúia, e nesse céu sertanejo azul-verde, que mais daí a pouco principiava a tomar rajas feitas de ferro quente e sangues. Digo, porque até hoje tenho isso tudo do momento riscado em mim, como a mente vigia atrás dos olhos.” Mas tudo, no entretanto, de tudo é parte. Único verso de água e sol, de ferro no sofismável dadivoso tempo. Diversas Minas em pacto. Artes do Universo.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

que fantasmas dominam a cidade
movem suas máquinas de morte

que santos protegem a cidade
contra a peste da ignorância

que fadas distraem a cidade
com ilusões e encantamentos

que força move os desejos da cidade
sua obsessão pelo prazer

que deuses alimentam a cidade
nas épocas de miséria e escassez

que heróis protegem a cidade
contra a opressão e a discórdia

que idioma fala a cidade e suas mídias
que mediam sua cotidiana mediocridade

que crenças separam a cidade
com muros invisíveis e cruéis

quem fantasmas fecham as portas
quando a noite recomeça em nós

que feiticeiro médico ou charlatão
pode curas as doenças da cidade

que olhos são esses que nos olham
de soslaios pelas ruas mal iluminadas

quem dirige o relógio da matriz
o tempo mínimo que nos resta

que oráculo nos protege do ócio
quando após a missa nos odiamos

quem detém a chave do erário
enquanto o público se diverte com sandices

quem controla o regime das chuvas
e do poder que cai sobre a cidade

que seres moram nos esgotos da cidade
e tudo devoram com voracidade

quem guarda a senha dos segredos
dos cofres que escravizam a acidade

que mestres ensinam a cidade
estimulam a ganância e o egoísmo

quem fabrica o pão e as intrigas
que desintegram a cidade

quem trafica drogas e sonhos abstratos
para que a cidade se esqueça de si mesma

que juízes condenam a cidade
contra os seus crimes absolutos

quem guarda a cidade contra seus invasores
quem a protege em tempos de trégua

que guru ou cartomante se arriscaria
a prever o futuro da cidade sem felicidade

o que seríamos sem a consciência do que somos
senão fantasmagorias de uma cidade sem alma

quem sou eu no mapa da cidade
senão um ponto de interrogação

quem de fato vive em paz nesta cidade

sábado, 31 de dezembro de 2011


a Baal deus da pedra negra
ofereço este altar de palavras
ofereço o sacrifico da pedra
que da montanha sagrada
cai a cada manhã

ofereço
o que pelo fogo se purifica
a alma da pedra no forno
o coração do povo
de voz contrita se humilha

cubro de cal a cidade proibida

sábado, 24 de dezembro de 2011


Desejos

para o Natal
imaginei um poeminha
nada coloquial
nada de Herodes
de deserto
de fuga para o Shopping
de excursão para o Egito

nada de estrela do oriente
do ocidente
da TV decadente

mão quero reis
nem Magos nem gordos
pouparia a vida dos porcos
dos chesters e dos perus
quero uma ceia frugal ao ar livre
uma banquete universal
com vinho e frutas exóticas para todos

quero água potável
não preciso de neve
nem de papel Noel
quero um céu saudável
povoado de pássaros de rara plumagem
sem buraco negro ou camada de ozônio

gostaria que a rena e u burrinho
descansassem em campo fértil e floridas
nada de entregas à domicílio
nada de turismo interplanetário
de viagens às escondidas

a pobreza é igual e triste
em toda a parte
seja no Brasil
no Equador ou no Senegal
no Timor Leste ou no Haiti

no Natal
quero muitas árvores na
Amazônia
muitas luzes nas ruas das metrópoles
na periferia do planeta

quero água potável
menos poluição nos oceanos
menos violência contra as baleias
do homem contra si mesmo
mais cuidado no trânsito
no trato da coisa pública
menos tráfico de drogas e de influência
menos abuso de nossa paciência
de cidadãos
mais clemência para os fracos
os velhos e doentes
mais rigor na aplicação das leis
contra os ladrões e expoiadores
menos corrupção nos tribunais
nas palácios e nas mansões

não será preciso presépio
nem estrebaria
nem galo eletrônico
nem estrela virtual
porque ninguém há de nascer
fora do tempo
fora das maternidades
entre lençóis limpos e
sorrisos cordiais

quero um link para a paz
um kit de sobrevivência
embrulhado para presente
com felicidade e sossego
solidariedade
amizade e confiança

um frasco de amor
sensível
sensual e perfumado
me parece indispensável
para alegrar os dias
que nos habitam de tédio e incertezas
de indiferença e medo

o que mais gostaria no Natal
mais que um anel de brilhante
que o amor fatal da mulher invisível
um carro veloz e alucinante
que um DVD erótico
um Cd dançante
é poder viver e morrer em paz
aqui mesmo onde moro e não demorarei
porque breve é a vida
e leve é a morte dos homens
longe ou perto de Deus
seja em Belém do Pará
em Bagdá
em Roma ou em Belo Horizonte

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011


estou diante de teus olhos
e não me vês
escondo-me atrás das palavras
entre elas me ofereço
entrelaço signos e sentidos
teço cada manhã com fios indecisos
raios luminosos me cegam
sou mais apto para o vôo que a borboleta
mais sutil que a beija-flor
adoro sapos em dia de chuva
na penumbra da janela
coaxos encharcados de sinfonia
me remetem ao relento onde a vida me procura
o discurso dos grilos me ensinam
poesia é verso livre de literatura

segunda-feira, 28 de novembro de 2011


Silêncio

no princípio do princípio

era o verbo

a palavra primavera

a linguagem em flores encarnada

pela voz

abre-se o abismo dos tempos

da memória e do esquecimento

a história oculta do poema

no princípio do princípio

na havia mistérios nem fingimentos

só o pleno silêncio