sexta-feira, 13 de abril de 2007


“ Nas palavras aparentemente isoladas do texto, ouve-se a multidão de vozes que ali ecoam.” Nicodemos Sena



o que ecoa na palavra pedra
reverbera no interior
não é a voz do vento
o som das letras do livro invisível
nem o canto do pássaro canoro
de cinco patas
com setenta dentes de granito
nem a voz das plantas imberbes
o que ecoa no oco das coisas
no socavão das bocas insaciáveis
não são palavras apenas

é o estrondo da bomba
a explosão da aparência
o grito cotidiano
de desmandos e desavenças
o que ecoa é trovão sem luz
o trem de ferro
de ventre obeso
sob o peso das almas
do indigesto alimento
o que ecoa no portal da manhã
no meio da arde
na escuridão da noite sem futuro

e a fratura exposta da montanha
a solidez do poema
a sordidez do império em chamas
afundado sob pedras
sob colunas de papel
é a solidão de homens e mulheres
amargurados e tristes
imersos em sues mistérios
perdidos em falsos desejos e afazeres
o que ecoa
no que de pedra ainda resta
é o sem mister
o entulho
o barulho dá magoa
no interior do túnel
do túmulo sem máscaras
no mais o que ecoa
é silencio
submissão de comensais
sortilégios de toda as desordens
de glórias e desonras
um estranho conforto de cemitério

a morte muda ecoa na oca boca do
mundo

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