terça-feira, 20 de abril de 2010


A dança dos anjos
Futebol em sua essência é festa para os olhos. Está mais perto do balé do que do Karatê. É lindo, livre e lúdico. Não tem nada a ver com brigas de torcida ou artes marciais.Pode até lembrar, em alguns lances inusitados, um jogo de capoeira. Assemelha-se às artes plásticas, a um painel gigante com minúsculas telas em movimento.Nisto, o futebol tem tudo a ver com a sedução da alegria e da visualidade da estética contemporânea. Nada a ver com a violência das ruas, das disputas de poder nas arenas de Roma ou do Congresso, com a desenfreada competição do mercado. Não quero, aqui, pensar o futebol simplesmente como produto ou evento alienante. Isto existe, mas fica por conta dos que desejam, em nome de interesses próprios ou de grupos hegemônicos, transformar tudo em mercadoria, em objetos de consumo. Em meios de dominação. Também não quero ver, de propósito, o torcedor como alienado joguete das olas e marolas de braços, cores, caras e caretas, apitos, cornetas e bandeiras que aumentam, ainda mais, o brilho dos estádios. Dos grandes e pequenos. Das várzeas, sobretudo. Imagino o futebol como uma confraternização dos sentidos, caarnavalizaçao dos sentimentos e instintos mais primitovos do ser humano à procura de si mesmo. A brincadeira, a sublimação da força bruta, a comunhão da vida com sua dura e permanente realidade. Mas, para isto, dentro das quatro linhas, os atletas também não deveriam ser transformados em gladiadores, em imperadores. Heróis ou réus. Nada disso. Deveriam ser vistos apenas como atletas, seres humanos dadivosos, dedicados a uma atividade profissional, lúdica e solidária. Pessoas habilidosas, artistas talentosos que se entregam de corpo e alma ao que fazem, Seres que desenham com os pés e voam com os braços abertos para muito além dos limites dos estádios. Pássaros, talvez, de tempos míticos.
Ao escrever estas linhas, naturalmente estou pensando nos “Meninos do Santos Futebol Clube”. Não só pelo sucesso da temporada no Campeonato Paulista, já em sua fase final, sob a orientação discreta e competente do técnico Dorival Jr., mas pelo estilo de jogo do grupo. Estes garotos jogam com o coração. Fazem ressurgir, em tempos de tragédias e violência, dentro e fora dos gramados, nas ruas e nos lares, nas cidades e nos campos, o que sempre foi a vocação do futebol brasileiro: a brincadeira, a molecagem sadia, o drible, a velocidade, a dança. A surpresa em cada lance. O espetáculo de jogar o jogo com a bola da vida. E, claro, a chuva de gols. Esse estilo bem poderia inaugurar uma nova tendência no futebol brasileiro. Tendência que privilegie a genialidade, a flexibilidade e a leveza, contra a força, a gritaria, as ofensas pessoais, carinhos, cama de gatos e ponta pés anti-esportivos. E, como estamos próximos da Copa do Mundo, nada mal se o Dunga, técnico da Seleção Brasileira de Futebol, cujo mérito todos reconhecemos, tivesse olhos para ver e sensibilidade para convocar dois craques –Neimar e Ganso – cuja bela atuação tem tudo a ver com a grandiosa diferença técnica, o sentido de conjunto e a união da gloriosa equipe santista. Vale ver jogar, quando olhos e coração vivem e vibram na mesma sintonia. O resultado só poderá ser a justa conquista. A merecida vitória.

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