domingo, 14 de setembro de 2008


Balanço positivo:

Seminário Nacional de Viola
Caipira supera seus objetivos


Viola. Reflexão e festa.Consciência política e compromisso social. Esta pode ser a síntese do I Seminário Nacional de Viola Caipira, realizado pela Associação Nacional dos Violeiros do Brasil, em Belo Horizonte, no primeiro semestre de 2008.

Durante três dias reuniram-se violeiros, acadêmicos, mestres da cultura popular, pesquisadores e profissionais ligados ao universo da viola. Além de palestras e debates, o encontro contou ainda com exposições, mostras de vídeos e apresentações artísticas.

Uma das participantes, a professora de literatura Alzira Soares, assim se expressa ao comentar sobre a organização e importância do evento: “As palestras do I Seminário Nacional de Viola Caipira remexeram num baú histórico, em algo tão abstrato, como é a noção de cultura. Afinal, o que se cultiva, pois é significativo e instalado em nós? Essas marcas ancestrais estão expressas em nós”.

A dimensão nacional do Seminário não se limitou ao nome, mas se concretizou no número e origem dos participantes. Foram mais de 300 participantes dos estados de São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do sul, Goiás, Brasília, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraná, Rio Grande do Sul e Minas Gerais.

Se em grande parte, o sucesso desta iniciativa se deve ao empenho dos organizadores e ao apoio dos patrocinadores, maior mérito, entretanto é dos diversos segmentos que integra o universo da viola. Todos compreenderam e aderiram à proposta dando importantes contribuições para o enriquecimento dos debates. Ao todo foram realizadas 08 mesas de discussão, com a participação de mais de 40 palestrantes que debateram os seguintes temas: A Viola na Musicalidade do Brasil Colônia; A Viola e suas Manifestações na Cultura Popular; Novos Rumos e linguagens da viola; A Música Caipira; Metodologia de Ensino da Viola, registro e documentação; Orquestras de Viola; Difusão da Viola; políticas públicas segmentadas para a música de viola e suas tradições. Dentre os debatedores e palestrantes, destacaram-se pesquisadores, representantes de movimentos sociais e de órgão públicos, dentre eles, Sérgio Marbert (Secretária da Diversidade Cultural); Pedro Brás (Ministério da Cultura), Adriana Lopes (NEAD), Evelaine Martinez (MST).


O tema central dos debates foi a Viola Caipira como um “toque de identidade da cultura brasileira”, conceito expresso pelo slogan do Seminário que define bem o espírito e a energia que move as pessoas envolvidas nesta área do conhecimento e da cultura. A grande estrela foi a viola caipira, tratada como o instrumento nobre a partir de seus aspectos antropológicos, sociológicod e políticos.


Riqueza Nacional

Os mestres, Badia Medeiros, Oliveira de Panela, Leonildo Pereira e Manelin de Oliveira contribuíram para o encontro com sua experiência, carisma, e profundo conhecimento da viola no contexto da cultura popular.

Durante o seminário discutiu-se sobre o papel da viola caipira enquanto instrumento de resistência, formação e transformação da cultura brasileira.

Para o presidente da Associação Nacional dos Violeiros do Brasil, ANVB, José Rodrigues, Pereira da Viola, no momento atual a música de viola caipira é a mais consistente no que diz respeito à identidade brasileira. Pereira acredita que, dentro de algum tempo, essa música será uma das mais ouvidas no Brasil, por sua riqueza, beleza, sinceridade e sensibilidade.

E não poderá ser de outra forma, pois, a música de viola é uma linguagem expressiva da cultura identitária brasileira. A viola é fruto de uma realidade cultural complexa formada por elementos religiosos, crenças, costumes, permeada por matizes étnicos e históricos. Por isso, o instrumento, em suas diversas formas de uso, contribui para escrever a história da música brasileira, bem como para o fortalecimento de sua identidade e da história do povo brasileiro.

Difusão da viola

O I seminário Nacional de Viola Caipira contribuiu como movimento de revitalização da música de viola nas suas características essencialmente brasileiras. Tal fato pode ser identificado na potencialização de ações nacionais e regionais que promovem a difusão e a fruição da viola, bem como uma maior mobilização do setor cultural em prol de sua valorização.

- Vivemos ali o encontro da alegria, da confraternização, da responsabilidade com a nossa música popular de raiz, da nossa brasilidade! Certamente esse foi o maior acontecimento na história da viola em toda sua existência, e frutos irão aparecer. Esse seminário foi um marco na história de cada um que ali esteve, violeiro ou não. Foi um "carimbo" com tinta forte na poesia, na simplicidade, na alegria, na transformação e na essência de um povo que, com sua arte, romperá a barreira da ignorância e da indiferença. É o que escreve, por e-mail a ANVB - Associação Nacional dos Violeiros do Brasil, o estudioso e violeiro Zeca Colares.

Em seu depoimento, o violeiro Levi Ramiro, afirma que o movimento de viola no Brasil é um movimento que está acontecendo independente de qualquer vínculo em questão de transformar isso em produto. Mas o violeiro precisa trabalhar, precisa viver. Mas violeiro trabalha sem competição, ressalta.

Um dos organizadores e mediadores dos debates, o jornalista, escritor e compositor mineiro, João Evangelista Rodrigues alerta: não se pode comprar gato por lebre. Neste ponto, tudo cuidado é pouco, pois, quando o trem passa, muitos tentam pegar carona, mesmo sem passaporte legal. É preciso unir forças autênticas, sem preconceitos de estilo. Com critério, ousadia e pé no chão. Afinal, como a cultura, viola é coisa séria, não mero entretenimento ou simples objeto de consumo à mercê de um sistema midiático insaciável ávido por tudo devorar. Difusão sim, confusão, não, afirma.

Daí a importância deste Seminário, não só por sua abrangência foi de fato, mas por ter se tornado , de fato, espaço de troca de valores e experiências e fortalecimento dos laços culturais e de amizade entre artistas, pesquisadores, estudiosos e apreciadores da música viola.

Concerto de encerramento

Nada mais adequado que um Grande Concerto para encerar, com alegria e emoção, um acontecimento tão forte como este I Seminário. Um púbico de aproximadamente , 650 agitou o Teatro Sesi Minas, para ouvir, curtir e aplaudir nada menos que Pereira da Viola, Joaci Ornelas, Dércio Marques, Gisela Nogueira, Paulo Freire, Abel Santos, Adelmo Arcoverde, Roberto Corrêa, Zé Mulato & Cassiano, Fernando Deghi, Miltinho Edilberto, Levi Ramiro, Rogério Gulin, Chico Lobo. Foi sem dúvida, uma noite histórica.

A diversidade de temas e estilos marcou a apresentação dos principais nomes da música de viola da atualidade. O violeiro Abel Santos explica que a viola não é só um instrumento musical. É a prova de que os seres humanos são essencialmente artísticos e musicais.

Quem esteve no espetáculo sentiu, ouviu e percebeu que acordes e letras desse universo musical não é somente técnica, não é um sertanejo banal, mas traços de expressão da cultura popular do homem do sertão.


O Seminário

Desde a concepção do projeto, até a produção e sua realização, inscreveu-se uma trajetória de esforços conjuntos. “Foi um longo tempo, desde a concepção da e idéia até a realização. Foram necessárias várias articulações políticas até que se tivesse à estrutura para a realização. Tivemos setores dos governos federal e estadual como parceiros no processo de realização e como patrocinadores e apoiadores do projeto. Isto ajudou viabilizar o que antes era apenas um grande sonho de muitos violeiros. comenta o presidente da ANVB, Pereira da Viola.

Na avaliação do músico e coordenador do Seminário, Joaci Ornelas, o resultado foi positivo. Reforçou-se a articulação entres órgãos públicos ligados à cultura e os artistas representantes da viola. “Cumprimos nosso objetivo de realizar um fórum de discussão com temas importantes e atuais a cerca do universo da “viola caipira” Neste caso, o termo caipira se aplica para ressaltar a origem e a identidade da viola”. Explica Ornelas.

Além dos produtos finais – DVD, CD, revista, banco de imagens e relatório que estão sendo produzidos - o seminário abre perspectivas para novas políticas públicas dirigidas a música de viola e todo o seu ambiente. Após este evento constatou-se que as questões relacionadas à viola e a cultura popular são mais complexas e delicadas do que se imaginava. Por isto, exigem tratamento sério e compromisso de todos ao se criar projetos e exigir ações públicas para o desenvolvimento desse setor, porque trata se não só da formação da cultura identitária brasileira, mas de um movimento extremamente rico e autêntico de relevante importância para nossa música, diz Ornelas.


A Associação Nacional dos Violeiros do Brasil, ANVB.

Fundada em 13 (treze) de março de 2004 durante o II Encontro Nacional de Violeiros em Ribeirão Preto, a Associação Nacional dos Violeiros do Brasil, é uma entidade jurídica de direito privado, de caráter sócio-cultural, apartidária e sem fins lucrativos.

A ANVB é composta de: Diretoria; Conselho Deliberativo; Conselho Fiscal; Assembléia Geral. Tendo como atual presidente: José Rodrigues Pereira (Pereira da Viola) e Vice-Presidente o Sr. Rogério Gulin.

A associação tem por finalidade principal defender, preservar, fomentar e promover a cultura popular brasileira bem como os interesses dos violeiros e dos profissionais relacionados ao universo da viola, assim entendidas: viola caipira, viola sertaneja, viola brasileira, viola de 10 cordas, viola nordestina, viola de arame. É prioridade da ANVB o desenvolvimento de pesquisas, estudos e programas sobre a cultura popular brasileira relacionada ao universo da viola, a realização de projetos, eventos e ações de preservação e difusão da cultura caipira ligada à viola, a promoção de intercâmbio com entidades congêneres e representativas, na busca de parceiras para o desenvolvimento de suas atividades.

Além do I Seminário Nacional de Viola Caipira, a ANVB
realizou como parceira e colaboradora os Encontro Nacional de Violeiros, na cidade de Ribeirão Preto (SP) de 2003 a 2006 e vários Fóruns de discussões sobre a viola caipira e a cultura popular brasileira, em Belo Horizonte, São Paulo e Brasília.

Patrocinadores e Apoiadores

O I seminário Nacional de Viola Caipira teve o patrocínio da Petrobrás e da Caixa Econômica Federal. E contou com o apoio da Secretaria Estadual de Cultura, do Governo de Minas Gerais, da Rede Minas de televisão, TV Integração, Rádio Inconfidência, TV UFMG, SESC–MG, Ministério da Cultura, NEAD, Ministério do Desenvolvimento agrário e do Governo Federal.