domingo, 26 de setembro de 2010


esses poetas
o poeta global se gaba
na internet
da patota virtual
mete o pau no poeta federal
o poeta federal
bebe o sangue do poeta estadual
o poeta estadual
come os olhos do poeta municipal
o poeta municipal
sonha um pedaço de fama
por um segundo que seja
no maior jornal da província
no mais conservador de sempre
todos comem e bebem da mesma desilusão verbal
da impossibilidade poética
de se dizer a vida
como a vida não é
palavras não são servas
não se servem à milanesa
em mesa de bar de grife
ou de boteco sem pedigree
poesia não tem fronteira
nem eira nem beira
não cheira à flor burguesa
não termina na porteira do curral
no adro da igrejinha
na nave da catedral
um poeta não cheira o outro
nem se cachorro se faz
por qualquer ninharia
em nome da paz
da morte da ideologia
seja do que for
por mais que sofra
o poeta é cego
apalpando as coisas
de um mundo caduco
o sulco sem serventia
das letras todos os dias
segue sozinho
mordendo o vento
uivindo
uivendo a noite passar
como passam todas as coisas findas
as que nunca ficarão
se o verso não for sincero
asa sonora fincada no chão

Um comentário:

Rodrigo Franco disse...

João,
senti-me um literalmente um poeta municipal.

Gostei muito do seu trabalho!