segunda-feira, 23 de maio de 2011

a morte não descansa aos domingos
madruga seu perfil de pedra
afia suas ferramentas
trabalha duro durante a missa
celebra ocultos rituais e predições
dorme depois do almoço
vai ao estádio
não torce pelo mais fraco
não se consente em reflexões
no parque municipal
visita os doentes
penitenciárias e hospícios
vê programas de entretenimento
de gosto duvidoso
engorda seu instinto no sofá da sala
ronca bizarras sonatas
sonha com exóticas paisaqgens
não dirige mais devagar
não se comove com a música
com a miséria
com a indiferença da raça humana
dos condenados a prisão perpétua

aos domingos a morte veste sua roupa de gala
percorre invisível seus caminhos prediletos
olha com desdém os homens nos bares
as mulheres na janela
não repara nas crianças entretidas
com seus brinquedos eletrônicos
nos jovens de sonhos videogames de si mesmos
almoça em silêncio
alheia aos desmando políticos
à às ocorrências policiais
aos eventos familiares

a morte segue à risca
sua agenda de lutos
perpetra crimes hediondos
sempre escapa às condenações
não luta contra as feridas do mundo
não tira férias
licença maternidade
não se aposenta
sente -se feliz
exerce com prazer seu ofício
com absoluta eficiência
é democrática e triste por natureza

a morte não descansa aos domingos

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