domingo, 29 de novembro de 2009

Cecília

assim diria Cecília
eom sua delicadeza
tranqüila mais que um lago
em uma tarde sem vento
mais calma que a tristeza
mais triste que a beleza
de seu rosto irrequieto
assim diria a poeta
das coisas mais pequeninas
das magias mas secretas
atrás das portas fechadas
onde as palavras florescem

a vida parece impossível
no coração do
universo
se não for com alegria
pela palavra tocada
se não for toda bebida
sobre toalha bordada
se a vida não for sentida
repartida e bem cuidada
se não for vida incompleta
se não for reinventada

j

sábado, 28 de novembro de 2009


o silêncio é de ouro
ensina o professor
o vigário
a família zelosa
em nome da ordem
e dos bons costumes
da vida bem comportada
sem eira nem beira

quem fala muito
dá bom dia cavalo
repete em coro a gente mineira
mesmo assim falo
escrevo
resisto
grito
protesto
proclamo palavras de prata
silêncio demais adoece
anoitece a casa
mofa as paredes do espírito
amolece a carne
denuncia os sigilos do corpo

silêncio demais apodrece a alma
VivaViola – Sessenta Cordas em Movimento.

A viola caipira possui magia própria, eleva o espírito, amplia a percepção, educa a sensibilidade, aprimora o gosto.
Não importa se fala de temas comuns e cotidianos, se fala do amor, da vida na roça, da natureza, ou se conta uma história acontecida ou inventada.Não importa se chora ou protesta.
Quando cultivada com maestria e sinceridade a viola caipira sempre toca coração e mente de todas as pessoas.


nstrumento vibrante. Transita com a mesma desenvoltura pelas mãos dos mestres nas folias, folguedos e festejos populares, nos bailes da roça, nos teatros e palcos urbanos.
Pelas suas características e pela autenticidade dos valores que representa e defende, a viola caipira é símbolo da identidade da cultura popular brasileira.
Fazem parte do Vivaviola importantes nomes da viola de Minas Gerais:
Bilora,Chico Lobo, Gustavo Guimarães, Joaci Ornelas, Pereira da Viola e Wilson Dias.

terça-feira, 24 de novembro de 2009


viagem
a viagem pela leitura
é ventura diferente
o que mora nas lonjuras
fica pertinho da gente

o livro esconde piratas
estrelas mares serpentes
campos castelos e casas
nas florestas reluzentes

tudo no meio das letras
as letras dentro das linhas
as linhas todas bem pretas
da cor de certas frutinhas

e nem precisa passagem
nem endereço nem mapa
o leitor nesta viagem
vê o mundo pela capa

depois o livro se abre
ao toque firme das mãos
logo se vê os lugares
as formas e a dimensão

nos livros moram as fadas
índios, reis, animaizinhos
cada pausa é uma pousada
depois de muitos caminhos

a viagem pela leitura
dá prazer só de pensar
na escrita e na gravura
e no leitor a voar

seja em casa ou na escola
mo carro no lotação
mal o avião decola
some na imaginação

segunda-feira, 23 de novembro de 2009



a um passo do inferno
o homem pós-moderno
se espedaça
se orgulha
se humilha
ilha de sombras insônias
de tristissimos signos
e armadilhas

sábado, 21 de novembro de 2009


cada palavra uma alma
cada palavra uma aura
fúria humana
flatua amena
cada palavra no poema
versicanta a voz terrena
exala seu veneno
o vocabulário aurífero se abre
sob o céu de tristes açucenas

escrevo sem lirismo
por necessidade dos nervos
sem meio termo
sempre que impreciso
vocabulário volátil
vivo à beira do abismo

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

há muitas formas de amor
muito mais formas de desamar
amar sem amor
desamar de amor
amar amar amar
sobre todas as coisas
sem forma e sem esperança

o coração doente não sabe
porque se entrega a tão grande
descabido amor

exige que o corpo se estenda sem razão
na direção de outro corpo sem sentido

há muitas formas de não se entender o amor

terça-feira, 17 de novembro de 2009


amor

no texto
as palavras se abraçam
signos amorosos
se entregam ao calor das letras
dançam
voam no vazio da voz
no espaço do poema
engendram novos sentidos
primitivas borboletas

falo da origem
da floresta
onde
a vertigem
verbo vegetal
começa

tudo a tudo
neste verso único
gesto
se liga
desde o primeiro
grito de luz
ao ultimo seguinte
verso
no vértice da noite
inexorável
impenitente extinta

autonomínima

vivo da palavra
mínima
da que em mim
ainda resta
autônoma e ínfima
anônima por fora
luz infinita fera
me ilumina
por dentro meu corpo dilacera

segunda-feira, 9 de novembro de 2009



AFP PHOTO JOHN MACDOUGALL
berlin

berlin berlin
o mundo todo
única verdade comemora
a queda do muro de Berlim
brindes etílicos
rimas idílicas
fogos de sacrificios
música
samurias coloridos
painéis de liberdade
míticos rituais
da mídia irremediável
Sérvia
comemora aos berros
nos bares e becos
o fim da história
a funesta festa do mercado
o santuário do lucro
saturado de inutilidades
mas perto de mim
persistem tantos
tristes postais
trágicas barreiras muralhas turísticas
carros de luxo
casas em ruínas
reinos virtuais
falsas cores e luxúrias
cercas elétricas
caras fechadas
fechaduras de ouro
fachadas desertas
asilos de solidão
pobreza absoluta
desigualdade
e servidão
entre mim e meu vizinho
eu sozinho
não há paisagem possível
nem água nem passarinho
carinho incomum
na esquina transita figura esquiva
me escuta
não há
um buraco sequer
no cérebro eletrônico
uma brecha que seja
na parede que divide
o quintal das dores
universais
tudo de murmúrios e revides ocultos
se orgulha
doma
domina
doura a pílula da alegria
a Terra dorme
em paz sobre os cadáveres
a linguagem triunfante
mata o sonho
muda a senha
assanha a sede
cega o anjo da esperança
nenhum caminho leva à honra
à Roma ao amor entre os homens
todos os dez caminhos levam ao simulacro
ao rumor de um tempo estúpido
espúrio e sem nome

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

sexta-feira, 9 de outubro de 2009


criança

se fores capaz de criançar o vocabulário
de ver um pássaro nos olhos do gato
um peixe no galho das árvores
um carneiro no algodão das nuvens
por certo
ainda tens uma criança em teu coração

criança é signo de liberdade
sigilo da imginaão
não se recohece pela idade do corpo
mede-se pela voz da alegria
não é questão de tempo
é quando a inocência do espírito
vence pelo amor toda a hipocrisia

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

CÓPIA REVISADA

Desafios da ética na contemporaneidade.
Papel da educação e o lugar da poesia.

Senhoras e senhores, boa noite,

Alguns homens buscam ouro.
Outros, fantasia!
Há os que se reinventam
Entre sombras e atalhos .
Aventuram cada sol em nome da vida.

De inicio, agradeço aos responsáveis por este evento e aos gestores desta Universidade pelo convite.É um privilégio dialogar com um público diferenciado e interessado em assunto tão antigo e tão atual, ao mesmo tempo negado e acolhido ao longo da história da humanidade, em sua venturosa e trágica travessia pelo Planeta Terra. Reunir um grande número de pessoas dispostas a ouvir e discutir de maneira sensível e democrática um tema pungente e necessário é já , por si, sinal de que nem tudo está perdido para o ser humano, no complexo contexto social , em que todos, sem exceção, vivemos mergulhados na mais absurda perplexidade. Todos, inclusive nós, pequena parcela de cidadãos brasileiros e do mundo, vizinhos no pequeno Planeta Terra e dos imponderáveis sítios perdidos no coração do Universo.

Viajei muitos quilômetros para estar aqui, nesta noite. Durante o percurso, cortei paisagens de nuvens, sobrevoei cidades, atravessei campos e cerrados. Vi e imaginei grandes rebanhos de novilhos brancos pastando obedientes e serenos, enquanto engordavam sob as ordens o desejo de seus donos, vi e imaginei fábricas, usinas, represas, universidades, hospitais, presídios, catedrais, estádios de futebol, motéis, armazéns, florestas destruídas, montanhas e abismos, toda a arquitetura sócio-econômica e político-cultural, de um mundo ébrio de poder, cego pelo saber, saturado de bugigangas e de informações e, por isso mesmo, em muitos pontos ameaçado de desabar. Casas abandonadas, trabalhadores madrugando em bandos, feitos pássaros sem pouso, em busca de sustento e de menos sofrimento para si e para suas famílias.

Risco maior e mais evidente após a conquista da violenta vitória e da arrogante e emergente hegemonia, em escala planetária, do projeto neoliberal.
Diante deste cenário, nada animador, o que teria a dizer-lhes, senhores professores, estudantes e outras pessoas presentes, aqui, hoje, um outro cidadão brasileiro, igualmente perplexo e ferido pelas mazelas nacionais e contemporâneas?

Alguns, talvez esperem de mim, um discurso sistemático, metodológico e historicamente fundamentado, sereno e ascético, como convém a um clássico professor de Filosofia. Outros, talvez, ficassem felizes se minhas palavras avalizassem o comportamento autoritário e acrítico de um processo mecanicista e funcionalista de transmissão de informação e de mera reprodução da sociedade. Falas poéticas, nem pensar! Porque o verdadeiro espírito poético desequilibra as regras do jogo. Nada de metáforas. Nem por dentro, nem por fora da fala cotidiana. Do jargão acadêmico. Nada de paralelismos, aliterações, ou aproximações sonoras, rítmicas e/ou semânticas do tipo escola/gaiola/viola. Nada que acenda, em demasia, a curiosidade e a imaginação dos estudantes. Asas/brasas; abraços/abra/cadabra.Casas. Casais.

Não por acaso, sortilégios assim estranhos e metodologicamente incontroláveis não são aconselháveis aos jovens descobridores do mundo e da vida. Dos desbravadores do espírito, dos riscos e da alegria de viver. Dos mistérios da vida da morte. Dos desafios da existência individual e coletiva, da sobrevivência da humanidade. Para estes jovens iluminados pelo desejo de liberdade e pelo sabor do saber (e não alunos –isto é, sem luz - como até hoje insistimos em nomeá-los, em contraposição à luz dos mestres, do professor, das instituições de ensino , que de tudo quase tudo sabe, ou se pressupõe saber) a ética, na sua essência e na sua historicidade, reserva melhores e mais valiosos e incorruptíveis tesouros.

E que tesouros serão estes? Não se trata aqui, de simplesmente entregar, de mãos beijadas, uma lista exaustiva destes tesouros conquistados pela humanidade, como se fazem com produtos de consumo em campanhas publicitárias de liquidação. Trata-se, ao contrário, de tesouros em falta, não ofertados cotidianamente. Raridades somente encontráveis a partir de uma arqueologia do conhecimento. Frutos de escavações profundas no espírito humano, valores e formas de ser incorporados no comportamento, nos gestos e atitudes cotidianas de cada pessoa, de cada indivíduo concreto, enquanto sujeito responsável e atuante no seio de uma determinada sociedade.

Neste ponto de nossa quase conversa, vale a pena voltarmos à mitológica Grécia de onde herdamos a essência do que pensamos, do nosso modo de ver e interpretar o mundo. Seria erro imperdoável ignorar a tradição do pensamento grego em função das mudanças históricas e das injunções conjunturais de um mundo em crise, sob o rótulo plástico e embaçado da pós-modernidade. Conceito ambíguo que tudo/nada abarca de todas as formas, com ou sem fundamentação sólida e consistente.
Assim, na geléia geral do cenário contemporâneo, parece conveniente a dificuldade em se estabelecer parâmetros e critérios válidos de comportamento éticos, científicos, políticos, econômicos, sociais, morais, jurídicos, estéticos, artísticos e culturais. Tudo sugere que, sob o signo da “satisfação das necessidades imediatas e superficiais” e da manipulação potente e onipresente da mídia e do marketing, o consumismo, a todo e a qualquer custo, seja o único valor vigente em nosso dias.

Daí que sucesso, poder, competição, individualismo, egoísmo, traição, negociação, vantagem, chantagem, insegurança, medo, violência e morte sejam palavras que habitam nosso cotidiano , chaves que permitem abrir os grandes templos simbólicos do mundo contemporâneo. Raras instituições têm conseguido escapar deste vírus letal que, no campo da saúde, pode ser chamado pelo nome de Aids, de tuberculose, malária, ou gripe suína. No campo sócio-econômico e político atende por diversos apelidos como mercado, marginalização, desemprego, suborno, manipulação, corrupção e omissão, para citar apenas alguns de seus cognomes.

No campo educativo e cultural a situação não é menos grave, ao serem os que dela participam, igualmente reeificados e mercadorizados, rebaixados ao nível de objetos postos à venda. Despojados de tudo o que lhe dava sentido, ou seja, a subjetividade, a criatividade, a afetividade, a alegria da descoberta, a participação livre e democrática no processo coletivo de busca e construção da autonomia e da cidadania, os educandos também estão à deriva.

Senhora e senhores, quão longe estamos do ideal grego. De um tempo e de um lugar onde o conceito de ética que, provavelmente nasceu da necessidade de se criar um rumo para a existência humana, para evitar que os aventureiros, e navegadores dos mares antigos, não se orientassem somente através das estrelas, mas por princípios que os protegessem das artimanhas e sofismas da vida real e os impedissem de sucumbir à deriva nos mares e marés das paixões humanas. Estamos, agora, nos transformando, passiva e docilmente, em seres de consumo, animais sem compaixão, inimigos permanentes de nós mesmos e de nossos pares.

Quão longe estamos de compreender e viver no nosso dia-a-dia a ética entendida como ethos, moradia do ser. Ética como lugar da convivência e do cuidado , como sempre reafirma em suas falas o filósofo e teólogo Leonardo Boff. Se houvesse tempo, faríamos um passeio pelos jardins de Epicuro, conversaríamos, sem preconceito, sem fundamentalismos, sem dogmatismos com a tradição do pensamento ético, colocando-a vis-a-vis com os questionamentos e reposicionamentos dos filósofos contemporâneos.

Entretanto é bom relembrarmos, antes de chegarmos ao final deste nosso memorável encontro. A questão ética não se esgota no ato de se estudar e conhecer a história da Filosofia, a trajetória do pensamento ético no ocidente nos dois últimos milênios. A ética, como a entendemos, só existirá se for incorporada no agir, no sentir coração do ser humano. É dimensão profunda, mas não deve ser confundida com a fé de qualquer natureza, embora existam vestígios éticos desde as Leis de Moisés ao Alcorão. Ética também não se confunde com moral, sistemas jurídicos e legais, sendo que nenhum destes sistemas podem renegar nem violar seus princípios. Prova disso é a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, as constituições democráticas dos principais paises do mundo, incluindo a nossa de 1988, nas quais os princípios éticos e cidadania estão preservados. Contudo, na prática, é comum, sobretudo em nossos dias, testemunharmos a existência de leis injustas, portanto, não éticas e de jurisprudências imorais. Isto prova que a dimensão ética é de natureza dinâmica e deve se realizar através da vivência, da defesa e das conquistas diárias dos cidadãos coletivamente comprometidos com a vida, com a segurança ,com a alegria e a felicidade de seus semelhantes.

E a escola, onde fica nesta história? Bem, segundo Ruben Alves, em entrevista concedida à Revista Ecológico , de“Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas. Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do vôo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. (...) . Porque a essência dos pássaros é o vôo.”“Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são pássaros em voo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o voo, isso elas não podem fazer, porque o voo já nasce dentro dos pássaros. O vôo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado”. De certa maneira, esta é, também, a natureza da ética. Trata-se de experiência pessoal, de atitude individual, em contextos históricos particulares e concretos, Semelhante ao que acontece com o ato de voar, ética não se ensina. Estimula-se no seio da família, da escola , da sociedade, das instituições jurídicas e civis, religiosas ou não.Ser livre e ser responsável pela sua própria liberdade, é de inteira responsabilidade do ser humano, aprendizado que se conquista ao longo da vida. Alguns pássaros voam mais alto que outros. Estes são águias, diria Leonardo Boff, outros mergulham no abismo da vida. Contentam-se com as migalhas, com os dejetos que se acumulam à altura do meio fio. Na rês do chão. Voar não compõe seu repertório de sonhos. Seus mapas de utopia.

Mesmo em contextos adversos, como o da sociedade contemporânea, deve se ressaltar o papel da escola e da educação como ambientes responsáveis pelo estímulo do exercício da liberdade e da ampliação do horizonte ético em termos exemplares e de excelência pedagógica. Neste ponto , gostaria de compartilhar com vocês mais um depoimento de Ruben Alves no qual afirma:

“Não acredito que exista coisa mais importante para a vida dos indivíduos e do país que a educação. A democracia só é possível se o povo for educado. Mas ser educado não significa ter diploma superior. Nossas universidades são avaliadas pelo número de artigos científicos que seus cientistas publicam em revistas internacionais em línguas estrangeiras. Gostaria que houvesse critérios que avaliassem nossas universidades por sua capacidade de fazer o povo pensar. Para a vida do país, um povo que pensa é infinitamente mais importante que artigos publicados para o restrito clube internacional de cientistas.”

A escola, portanto, defende José Luiz Quadros de Magalhães em entrevista , publicada na edição nº 400, de setembro de 2009, Jornal Mundo Jovem, “ tem um papel fundamental nesse processo, pois é o lugar do conhecimento e do aprendizado. O ambiente escolar deve ser pautado numa visão democrática que se inicia a partir da delimitação da gestão do ambiente onde se desenvolve a educação.”
E a poesia? Bem a seu modo, vem, desde os tempos gregos, ora ostensiva oura silenciosamente, contribuindo para que a linguagem da alegria e da esperança não desapareçam para sempre da face da terra. É pela poética, pela libertação e renovação da linguagem, a morada do ser, via Martin Heidegger, que o homem se eleva acima da opacidade cotidiana e ilumina a clareira da enigmática floresta dos signos para erigir, entre nós, o labirinto da Verdade, do bem e da beleza.

Pela poesia, posso dizer sem medo de cair no ridículo, que já sinto saudades de todos vocês, saudade original, plantada no coração mesmo do ser”. Seria o sentimento ético uma espécie de saudade do ser original? Saudade de uma morada comum, de uma vida comunitariamente vivida e compartilhada de maneira livre e solidária? Ou isto seria apenas um devaneio do espírito, uma licença poética absurdamente exagerada? Ou maior absurdo seria viver o que estamos vivendo cômoda e passivamente,sem nos questionar, sem questionar nossos pares, sem nos indignar? Não basta, portanto , sermos livres. Precisamos ter consciência de nossa liberdade e sabermos agir de maneira livre, procurando sempre respeitar a liberdade do outro. E para reafirmar a grandeza, a beleza e a importância da ética podemos dizer com Imanuel Kant, o mais destacado filósofo do iluminismo, que dedicou grande parte de seus estudos para lançar as bases de uma ética autônoma, nos limites da razão humana: "As estrelas no céu e a ética dentro de meu coração", ou seja, dentro dele próprio. Poder-se-ia dizer: dentro do coração de cada homem, cuja principal missão é interferir e transformar o mundo, transformando-se a si mesmo.
Porfim, por tudo que nos aconteceu esta noite, já podemos falar de uma certa saudade, marcada pela afetividade e pelo entendimento, a mesma saudade que, conforme Rubem Alves, é nossa alma dizendo para onde ela quer voltar.”

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

pelo poema o poeta se erige
e se sustenta
escultura de nuvens
solta
no vazio do vento

pelo poeta o poema se inssurge
origem e movimento
o poeta e o poema se fundem
no ser
arte essencial
mútuo esquecimento

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

para além das palavras
descansam formas opacas
o sem discurso da pedra
das coisas insignificantes
o céu sobre árvores mudas
espanta pássaros em bandos
tudo de invisível existência
se banha
molha de solidão os olhos do mundo

o homem indefeso habita
a clareira do verbo

sexta-feira, 31 de julho de 2009




VivaViola lança Cd e se apresenta no Grande Teatro do Palácio das Artes

Depois de lotar o Teatro Alterosa, durante três dias em 2008, o VivaViola lança Cd e se apresenta, no dia 19 de agosto de 2009, no Grande Teatro do Palácio das Artes. Esta é, sem dúvida, uma boa opção para quem aprecia a música de viola de raiz.
Lançado ano passado, o Projeto VivaViola, 60 cordas em movimento, reúne seis importantes nomes da música regional mineira: Pereira da Viola, Chico Lobo, Wilson Dias, Bilora, Joaci Ornelas e Gustavo Guimarães.
O repertório privilegia o trabalho autoral dos artistas, destacando-se a parceria de alguns deles com o jornalista e poeta João Evangelista Rodrigues. Dinâmico e descontraído este espetáculo integra a moda de viola, as folias e os catiras, com ares de renovação criativa. Os seis violeiros ficam no palco durante toda a apresentação, alternando-se em solos e duos. Há momentos, sobretudo, na abertura e no encerramento, que o grupo faz uma cantoria coletiva o que aumenta, ainda mais, a força expressiva e a beleza do espetáculo. Os ingressos já estão à venda na bilheteria do teatro de segunda-feira a sábado, de 10h ás 21h00. Nos domingos e feriados, de 14h00 às 21H00.

CD VivaViola

Primeiro registro sonoro feito por este grupo de violeiros, o CD Vivavio0la é um retrato do espetáculo que será apresentado no Grande Teatro do Palácio das Artes. Além de ter o mesmo nome do projeto, o Cd ViVaViola foi gravado em clima de colaboração, descontração e alegria. Verdadeiro mutirão, onde todos desempenharam, e bem, o papel de cantor, instrumentista, diretor artístico, dando opinião e discutindo cada detalhe do processo de gravação, da arte gráfica, fotografia e textos do encarte. Esta é uma atitude rara em tempos difíceis, marcados, sobretudo, pelo individualismo, pela disputa por verbas via editais e a acirrada competição do mercado. Esta é talvez uma das principais lições destes seis violeiros: a arte pode e deve ser compartilhada e quando isso acontece com maturidade, os resultados são os melhores possíveis.
São ....faixas, correspondentes ao repertório do espetáculo VivaViola, seguindo a mesma ordem e formato de apresentação. A gravação foi feita no estúdio Rio Abaixo, de Gustavo Guimarâes. A arte gráfica tem assinatura de Joaci Ornelas e as fotografias e textos de apresentação de João Evangelista Rodrigues.
Seja pela qualidade do repertorio, seja pela forma que foi produzido, o CD VivaViola é, sem dúvida, um importante documento para a história da viola caipira em Minas, nesta primeira década do século XXI. Pode ser entendido como testemunho de que, contra todas as predições, ainda são possíveis a poesia e a música, a amizade e a esperança. Por isto, é possível resistir. Continuar cantando e se educando, pela magia da voz, pelo toque e sonoridade poética da viola caipira. Por isso pode-se falar, ainda, parodiando o poeta perrnambucano, João Cabral de Melo Neto, de uma educação pela viola.Vale a pena conferir.

O espetáculo
Esta é a segunda vez que o espetáculo VivaViola é apresentado em Belo Horizonte. No ano passado, os violeiros Pereira da Viola, Chico Lobo, Wilson Dias, Bilora, Joaci Ornelas e Gustavo Guimarães lotaram o Teatro Alterosa durante três dias.. Muitas pessoas não tiveram a oportunidade de ouvir e ver o que este grupo de violeiros mineiros é capaz de fazer nos braços da viola. A diferença de estilos, a marca regional de cada um deles, a diversidade do repertorio, tudo contribuiu para que este espetáculo agradasse e conquistasse o coração do público. Nesta apresentação, dia 19 de agosto, no Grande Teatro do Palácio das Artes, a energia não será diferente, tendo como novidade, o lançamento do Cd VivaViola.

Tanto o espetáculo quanto o Cd VivaViola mostram as riquezas e particularidades originas do universo da viola caipira em suas diversas paisagens sonoras. Os seis violeiros, cada qual com seu estilo, suas formações e vivências, procuram ressaltar importância deste instrumento enquanto expressão artístico-cultural coletiva e, por toda sua história, como símbolo da identidade da cultura popular brasileira. Revigora e reafirma, assim, a existência de uma coletividade que se desenvolve em torno da tradição – não conservadorismo - no âmbito da música mineira e brasileira.

Pontos de Vista

Em matéria no dia 24 de outubro de 2008, em O Tempo, o jornalista Daniel Barbosa refere-se ao espetáculo como “Uma verdadeira esquadra da música de raiz (...) mutirão que lotou o teatro Alterosa durante três dias”.

O jornalista César Macedo, especial para o Hoje em Dia, 9 de novembro de 2008, na matéria “A hora da Viola” faz alusão a capacidade deste instrumento de reunir pessoas, de sensibilizar mentes e corações pela a força do seu sotaque ao mesmo tempo mágico e realista, pelas suas inúmeras possibilidades sonoras e melódicas.

De acordo com repórter Eduardo Tristão Girão, Jornal Estado Minas, 24 de outubro de 2008, o espetáculo definiu-se como “Seis Violeiros mineiros de diferentes origens e formação se encontram para provar que a viola tocada em minas está viva, pulsante; (...) mostrando o bom panorama da produção atual para o instrumento, sem deixar de lado tradição como cantigas rodas e folias de reis”.

O repertório

O repertório privilegia o trabalho autoral dos artistas. Dinâmico, integra a moda de viola, as folias e os catiras, com ares de renovação criativa. O formato estético do espetáculo prevê que os seis músicos estejam no palco o tempo inteiro.

Entre as músicas do repertório, Wilson Dias apresentará “Brasil Festeiro”, composição inédita feita em parceria com João Evangelista Rodrigues. E Pereira da Viola interpretará a conhecida “Menina Flor”, autoria dele com Josino Medina. Joaci Ornelas cantará “Moda de Violeiro”, uma de suas parcerias com o também poeta e compositor João Evangelista Rodrigues. Enquanto Gustavo Guimarães cantará “A voz do Rio”, que faz parte do seu primeiro CD, “Vaqueiro”. Chico Lobo apresentará uma de suas músicas mais apreciadas, “No Braço dessa Viola”. E Bilora, “Calango na cidade”.

Os artistas, cada qual com suas particularidades e estilos, naturais diferentes lugares de minas, apresentam músicas que retratam as influencias dos lugares de onde vieram, em genuínas formas de expressão, como modas, batuques e toadas.

A Viola Caipira

Instrumento fundamental na formação da identidade cultural de Minas e do Brasil, a viola caipira continua presente nas manifestações populares, nas festas religiosas e profanas. Nas palavras do professor Romildo Sant’Anna a viola caipira “é uma das mais relevantes expressões da cultura e da arte radicalmente brasileira”.

Símbolo do coletivo, do mutirão, este projeto encadea-se no processo de legitimação da viola caipira como marca da diversidade cultural brasileira. O espetáculo VivaViola é, de certa forma, uma referência aos sertões de minas, através de canções que refletem as vivências afetivo-sensorial deste grupo de cantadores comprometidos com a realidade social e os valores da cultura brasileira.
A música de viola ressurge a partir dos anos 80 no ambiente cultural contemporâneo, após um período de ostracismo com força e importância no cenário fonográfico. Diferente dos modismos, ela retrata questões relacionadas à tradição com ênfase na expressão de raiz.
Sobre os violeiros
Chico Lobo – um dos mais ativos violeiros do cenário nacional e internacional, idealizador e apresentador, desde 2003, do Programa de TV Viola Brasil, especial veículo de divulgação da viola –, ressalta a importância deste projeto: “É sempre bom juntar minha viola com a dos companheiros. A viola é de festa, é de mutirão, é de coletividade. Sendo assim, se uma viola já é bonita, imagina quando muitas se juntam numa cantoria certeira”.
Para Gustavo Guimarães – um dos legítimos representantes da nova geração da viola –, o concerto tem um significado especial por ser este um momento de afirmação e ascensão da viola. “É importante ressaltar também os princípios que giram em torno da música de viola, como a defesa de valores éticos, morais, culturais e espirituais”, aponta.
Pereira da Viola, um dos artistas mais reconhecido de Minas e do Brasil, presidente da Associação Nacional dos Violeiros (ANVB), situa o concerto VivaViola no contexto do movimento nacional em torno deste instrumento. Ele afirma que, “Em Minas, sempre nos deparamos com um certo vazio, se comparado a São Paulo e até mesmo outros estados, no processo de identificação, estruturação e expansão deste movimento musical. Compreendo que este momento é profundamente oportuno, para esta ação coletiva que estamos desenvolvendo”.

A opinião de Wilson Dias – que tem direcionando sua carreira para o encontro entre a tradição e o urbano, com um viés especial para a cultura popular –, reforça poeticamente essa idéia da valorização da música de viola caipira, que vem crescendo a cada dia. Para ele, “cabe a todos nós o trabalho de manter enlaçados os fios que nos ligam, de maneira que a nossa rede de vida permaneça ‘redeviva’, em permanente frescor construtivo”.

Fiel às suas origens, o violeiro Bilora – um dos mais premiados violeiros do Brasil – faz questão de ressaltar que “a viola representa a cultura popular brasileira do interior. Está presente na alma desse povo e tem cheiro de mato. O concerto é uma festa da música semeando o belo som da viola”.

Um dos responsáveis pela realização do I Seminário Nacional de Viola Caipira (evento que reuniu, em Belo Horizonte, neste ano, os principais violeiros do país), Joaci Ornelas tem seu trabalho essencialmente ligado à viola caipira, como tradução musical desde o estilo renascentista, barroco, até os batuques e composições próprias. Ele afirma que este espetáculo tem dupla importância: pessoal e artística. “Primeiro, me coloca em contato direto com o trabalho musical de outros artistas. Segundo porque favorece uma troca de informações, sentimentos, experiências com artistas que acreditam numa vida mais justa e bela”.

Serviço:
Grande Teatro do Palácio das Artes
Dia 19 de agosto de 2009 – 21 horas
Informações bilheteria do Teatro: 3236-7400




Produção VivaViola – 60 cordas em movimento
Coordenação:
João Evangelista Rodrigues
31 3371 5525

Produção:
Ângela Lopes - 31 3459 8026 / 9954 6580
Daiany Durães - 31 8315 0450
Nilce Gomes: (31) 3427 9670 / 9113 1626 / 8721 7122

e-mail: pvivaviola@gmail.com