terça-feira, 5 de outubro de 2010


Não atirem! Não atirem pedras no Tiririca.
João Evangelista Rodrigues
O povo sabe o que quer. O povo não sabe o que quer. O leitor pode escolher qualquer uma das duas afirmações para seguir comigo neste breve texto. A questão é a expressiva votação recebida pelo palhaço Tiririca, de trânsito global. Di palhaço, no sentido profissional, carreira artística que escolheu por vocação, necessidade, luta pela sobrevivência ou inapetência mesmo para qualquer outra atividade que exija o mínimo de lucidez, ou preparo técnico, ou intelectual. Isto só Deus e o próprio Tiririca sabem!!
Se o povo souber o que quer, a análise sobre este fenômeno eleitoral, que abalou o coração da mídia - se é que ela tem este órgão vital para a vida humana - e a prepotência das elites brasileiras, segue uma direção. Se o povo não souber, a perspectiva de entendimento da coisa, vai por caminhos bem diversos.
Sei que o leitor/eleitor não é burro nem insensível como tantos que se arvoram em analistas e, por isso, deixo que ele mesmo se posicione. Apenas lhe dou algumas pistas. Um pequeno método para refletir, ele mesmo, sobre o que ocorrido fato que chamou a atenção do mundo inteiro.
Primeiro, procure enumerar todos os absurdos, falcatruas, casos de corrupção, brigas e agressões que ilustraram a vida do Congresso Nacional nos últimos anos. Só o que a mídia noticiou. Nem precisa ir mais longe nem ser um gênio para se descobrir o grau de descrédito de certo tipo de candidato de ficha nebulosa e relativizar o valor da democracia, em um sistema de poder fundado no patrimônio financeiro, no poder da mídia e, pior, na ignorância e bonificação programada da sociedade, em termos educacionais, políticos e culturais.
Segundo, tente recordar as formas como o personagem, não o cidadão Tiririca, aparece na televisão. O que fala? Como age? O que defende....se defende alguma coisa. Aproveite este raro momento de reflexão e enumere os reis e heróis, mulheres melancia, éguas pocotós e outras “esteritas a mãs”, que chegam via mídia em todas as casas, disse casa, não lares, brasileiras, dia e noite.
Soma-se a isto o “besterol” derramado por uma chusma de candidatos claramente despreparados durante a recente campanha eleitoral.
Claro que não exporei, aqui, as minhas conclusões. Para terminar – hoje em dia, poucas pessoas conseguem ler mais do que cinco linhas sem reclamar - podemos simular duas hipóteses, ambas consistentes: se o povo sabe o que quer, teria votado no Tiririca, para mostrar o quanto de palhaçada existe em torno das eleições, em tempo de partidos gelatinosos, de individualismo selvagem, de sarcasmo e cinismo com relação a tudo o que diz respeito à vida e às coisas do próprio povo.
Se o povo não sabe o que quer, por já estar manipulado ao extremo e exausto de acreditar no futuro e lutar para promover as mudanças estruturais via Congresso, portanto, já perdeu o senso, porá em cheque a validade de todo o processo democrático. Não só a eleição do Tiririca, pois, semelhantes a ele, em vários outros ramos de atividade profissional, existem tantos que foram eleitos por serem ídolos das massas, herdeiros do poder e fiéis defensores das elites. Seríamos todos palhaços? Se mirarmos bem, cada manhã, no espelho da realidade nacional, com certeza, descobriremos quem somos e porque o Tiririca foi o candidato – o personagem – mais votado destas últimas eleições.

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