segunda-feira, 30 de agosto de 2010


Um passeio pela Estrada Real ao som da nossa viola caipira

O projeto Vivaviola - Sessenta Cordas em Movimento – Turnê Estrada Real, que começou em julho, deste ano, como parte da abertura do 23º Inverno Cultural, promovido pela UFSJ, vem conquistando a simpatia do público receptivo e ávido por músicas de qualidade. Agora é a vez de Ouro Preto e
Congonhas receberem a viola capira e conhecerem o trabalho dos violeiros e cantadores Bilora, Chico Lobo, Gustavo Guimarães, Joaci Ornelas, Pereira da Viola e Wilson Dias, integrantes do Vivaviola.
Além de São João Del Rei , o Vivaviola já se apresentou no 42º Festival de Inverno da UFMG, em Diamantina e no XVlll Festival da Cachaça , Cultura e Sabores de Paraty.
Os dos últimos compromissos do Vivaviola, dentro do Projejto Tounê Estrada Real, patrocinado pela Natura Musical, será em mais duas importantes cidades históricas mineiras:

dia 10 de setembro - 21 horas - Ouro Preto
local: Teatro Municipal (Casa da Ópera). Entrada franca; ingressos devem ser adquiridos na bilheteria do teatro à partir das 20 horas; parceria com a Secretaria de Cultura e Turismo.
O show de encerramento do projeto será no dia 17 de Dezembro, no Cine- Teatro Leon; parceria com a Fumcult.

Após as apresentações, os violeiros vão autografar o CD VivaViola, o primeiro do grupo, que será vendido a R$20,00.

Paisagem sonora
Versátil e diversa em seus estilos e temas, a viola caipira vem ganhando cada vez mais espaço como instrumento de composição e de execução. Ela está presente e atuante nas mais diversas formações, indo desde os grupos instrumentais, como orquestras, passando pelas duplas, Jazz , choro e
instrumento solo. E mais, como ficou provado nas apresentações que o VivaViola fez tanto em teatro, anfi-teatro, como em praça publica: a viola caipira é forte e consegue despertar a atenção do publico, independente da idade de hábitos musicais dele. É vibrante e não se intimida quando
tem de se apresentar em ambientes marcados pelo predomínio da tecnologia e pelas grandes massas sonoras e rítmicas http://www.blogger.com/img/blank.gifda moda.
Verdadeiro passeio musical, passando pela moda de viola, catira, calangos, folias e muitos outros ritmos da cultura popular , o Projeto Vivaviola - Sessenta Cordas em Momento, Turne Estrada Real, não só contibrui para o desenvolvimento cultural de nosa gente, como afirma a identidade da cultura
brasileira, a partir de suas raízes, ou seja, da música composta feita e executada na viola caipira.

sábado, 28 de agosto de 2010


aos homens de meu tempo
dedico esse poema
sem nódoas
nem rótulos
infenso a todo sentimentalismo
a todo óbvio ornamento
dedico o poema necessário
a todos
de todos os tempos
e enganos
um poema de pedra à deriva
livre de todo antropomorfismo

sábado, 21 de agosto de 2010




os cães de Paraty
são mansos e amáveis espalham-se pelas ruas
a feito da água
dormem no convés dos barcos
na porta das casas

vigiam o tempo ocioso
sem latir
dividem com os pescadores
e turistas
o sabor das caminhadas
após as refeições

são cães de belas plumagens
misturam-se em sossego
com as pedras roliças e gordas das calçadas
dividem com os pássaros
o aconchego mítico da paisagem

assemelham-se a Argus
o espera de Ulisses
os cães de Paraty são amáveis
parecem esculturas a beira do mar

quinta-feira, 29 de julho de 2010


o poema se faz
de água transparente
no limite da pedra
no seu silêncio fluido
por dentro
por dentro da linguagem
sem ressonâncias
a pedra em pensamento
se funde no que ouve
de escuta atenta e rude
entre folhas brancas
ruge o eco seco
sem saliências
a razão implume
o poema se fraga no que diz
insuspeito alheamento
sem música sem perfume
onde de pedra por igual
fico em cada grão
de areia e sedimento

o poema na pedra se imanta
em sintaxe ausente se matura

domingo, 25 de julho de 2010


o poeta não é noz
é a voz do tempo
mais do que nunca
incomum
cada vez mais veloz
a poesia somos nós
nos nós da linguagem
viagem sonora
antevisão da última
utópica
impossível aurora
vertigem visual
asas do albatroz

sexta-feira, 16 de julho de 2010


depois da missa
no adro da igreja matriz
homens conversam em grupos
divididos pelos trajes
pela posse
pelas convicções políticas
e irmandades beneficentes

vendem gado
trocam lotes
compram carros
pedem votos
negaceiam frívolos acontecimentos

falam da vida alheia
em manchetes importantíssimas
comentam futebol
comem com os olhos
a beleza da mulher do próximo

domingo é dia de prece
de frango a molho pardo

quinta-feira, 15 de julho de 2010


minha mãe era mulher de sete serventias
desdobrava-se em tarefas domésticas
e pequenas alegrias maternas
lavava
passava
cozia
costurava
escrevia poemas
enfeitava a casa com flores que ela mesma fazia

professora por vocação
não se curvava ao peso das palavras
por conveniência política
nem por submissão às injustiças
não era de ficar calada
quando lhe pisavam nos calos

isto lhe valeu nove filhos
muitas noites sem sono
e infinitas aflições

com ela aprendi as primeiras letras
descobri o poder das palavras
o prazer da poesia
minha mãe
era mulher de sangue nas veias
de sete sabedorias de repente se encantou

quarta-feira, 14 de julho de 2010


o que somos
somos só no tempo
vida provisória
se inscreve
entre a memória
e um breve esquecimento

segunda-feira, 12 de julho de 2010


quem fala no poema
onde ninguém fala
a voz reponde

a pedra
a água
o vento

o alicerce do poema
a palavra líquida
o som da água na pedra
levado pelo vento

ninguém fala quando no poema fala a fala
a palavra sobre si mesma se faz se esfacela

domingo, 11 de julho de 2010


ouço a Canção do Exílio
no quintal de minha casa
o mesmo sabiá ventríloquo
canta na palmeira de acrílico
na Praça da Liberdade

sexta-feira, 18 de junho de 2010




os atletas se benzem
nos estádios
sonham vitórias invencíveis


Deus dribla os heróis
Brinca com suas bandeiras
domina a bola da vez
a seu bel prazer
impõe-lhes derrotas invitáveis

a torcida grita
delira
chora
Deus continua em silêncio

o universo é um imenso campo vazio


não há surpresas na morte
em si
na morte de ninguém
de nenhum ser no universo
desde o início
avisa de sombra em anúncios
a fúnebre ocorrência
apenas fingimos não ver
ignoramos o idioma letal

todos somos condenados
apenas adiamos nosso entendimento
sobre ausências e despedidas
agarramos a qualquer migalha
qualquer distração nos alimenta

não há regras no jogo contra a morte
sempre vitoriosa
não há ética nem equidade
no olhar da morte não há compaixão
nem esperanças
a morte em si soberana de todo o universo
não há surpresas

quinta-feira, 10 de junho de 2010


copa do mundo

o mundo todo doido
de olho em Jabulani
veloz mais que um gato siamês
sem voz
lua de lã
lúdico animal feroz
anjo de couro cru
monstro de pano
redondo jabuti na lama
a bola rola
a gorduchinha da vez
corre para
sobe desce
bate rebate rebola rebumba
balança a bunda do atleta
escapa impune
no balé dos astros e dos deuses
dribla o bobo da corte
engana o zagueiro
o goleiro engole o gol em seco
o grito da torcida aflita retumba
o choro dos humilhados
dos desde e para sempre
perdedores
inunda o estádio
cheio de falsas esperanças
elefante branco na clareira
da floreta nua

Jabulani se mistura
a tudo que é gente e bicho
a tudo que é lixo e luxo
no fundo da rede
presa feito peixe fica
o coração disparado
se ilude
o mundo todo de pé
de joelhos
se benze
reza
faz feitiço
comunga pão no circo
no parque de diversões
no decurso dos políticos no palanque
faz tremer o altar de afrodite
no mágico ritual das coisas surdas

Jabulani ri
ao som ensurdecedor
das vovuzelas
mais alto que as estrelas
que as cornetas do juízo final

sábado, 29 de maio de 2010


paisagem

entre o visto
e o imaginado retrato
Minas se mostra diamante
a olhos nus se oculta
ostra de ouro
a música barroca
o ventríloquo em suas entranhas
o monumento de capuz
a estrada antiga
a montanha seca
o vôo rasante dos urubus

quinta-feira, 27 de maio de 2010



tudo em MInas é de pedra sabão
os profetas de Aleijadinho
a escadaria das igrejas
seus candelabros de fé
suas esculturas
os degraus da cadeia púbica
o passeio da farmácia
a rua estreita
sob luz minguada
o piso da Casa do Contos
das prostitutas
o murmúrio dos homens
sua esperança
sua inveja
seu ódio e tédio
seu ócio
as folhas do livro sagrado
os muros de lamentações
o chafariz
por onde escorre a água
o tempo líquido do sonhos
a alma dos inconfidentes
os votos os ossos do ofício
as recorrentes traições


tudo em Minas com raríssimas sucessões
pelo sim e pelo não é de pedra sabão

sexta-feira, 21 de maio de 2010


zaz
o poema pássaro
pousou na pagina branca
mais que o albatroz
veloz
voou pela prça
pela paz dos homens

sábado, 15 de maio de 2010


canto as coisas sem nome
as coisas precárias de sempre
as que do passado no abismo se perderam
as coisas do futuro sem retorno
as que no presente se escondem
sob a ruína das letras se levantam

canto as coisas sem nomenclatura
sem registro na memória
nas porcelanas da família
sem herança literária
sem aparências
sem aparatos
sem fronteiras

as coisas das sombras canto
canto as coisas que não se humilham


quarta-feira, 12 de maio de 2010


Sant’Ana

meu avô paterno na janela
olhando o gado indo em direção ao rio
minha Vó no jardim da frente
nolhado as flores
tristes alecrins
rosas e dálias
brancas e amarelas

o rio carrega o tempo de areia
a vida lenta e movediça

o cerrado se estende pelas vertentes
em mandos e segredos familiares
antevejo um tempo de impossíveis reconciliações

segunda-feira, 10 de maio de 2010


comércio

a cidade engorda
com o comércio de pedra
com ares de falso orgulho
e arcos de triunfo
com o comércio de ferro velho
de engodos e grutas esgotadas
troca de roupa
de farpas e influências
com a compra e venda
de votos
de carros
de fazendas
de almas e indulgências
de ferramentas
de cimento
e outros cereais em pó
trocam-se ofensas
e oferendas
por ópios
álibis
e óbitos
diplomas
hematomas óbvios
pães e opiniões
por meia dúzia de ovos
- quem for mais esperto
carrega o ouro
engole o outro
segura touro
diz o devoto contrito
o legislador sem juízo
o oráculo de olho torto
três vezes
com a mão no bolso

o boi todo se lambe
o crime anda solto
envolto em bruma
em moeda mais clara

homens e mulheres se fingem
dobram esquinas e joelhos
choram às ocultas
se riem de si mesmos
de seus múltiplos
mínimos prazeres
da torre da Igreja Matriz
Nossa Senhora do Carmo
tudo vê

sexta-feira, 7 de maio de 2010


notícia

avise a todos
por todos os meios
por todos os códigos
oficiais e falsos
sem falácias nem hipocrisias
avise bandeirantes e paulistas nordestinos e baianos
avise ao rei
ao vice-rei da cobiça
aos bandidos todos da corte
do Planalto
avise
grite alto
não economize verba de publicidade
aos contratadores da ganância
avise às claras
a todas as classes
de casa em casa
às ocultas
de cara limpa
de ficha suja
de capuz
aos padres
aos párias
aos poetas
aos intelectuais
aos corruptos
de todas as verves
e rituais
avise pelos rádios e jornais
pela TV digital
pela Internet
pelo correio
avise ao mundo
a Europa ao fim do dia
aos Clube dos
Sete
aos traidores de plantão
à torcida do Atlético
aos deuses tristes da Grécia
a Atenas em chamas
ao povo da Cochichina
da Pasargada
avise
o ouro de Minas
o orgulho se acabou
a paciência poética
foi para os quinto
o Ribeirão do Carmo
fede a enxofre
esgoto de aluvião
Minas não há mais
nem deveria
pelo que resta da paisagem
da Serra do Curral
pela honra do dever
em nome da liberdade de expressão
espalhem a notícia
avise a Tiradentes
aos poetas Inconfidentes
aos legisladores inconseqüentes
ao oráculo de crentes e beatas
o que Drummond já previa

o ouro de Minas acabou
a prata de Minas acabou
o mundo não rima
não tem sedução
o Pico do Cauê se exilou
de dentro e fundo só restam
dores gerais e solidão