terça-feira, 23 de dezembro de 2008
as casas
procura em vão
quem na cidade procura
no burburinho da rua
na esquina da praça esquiva
alguma sombra antiga de alpendre
algum vestígio de vozes
no ausente casario
pergunta em vão quem pergunta
quem insiste em ver
o invisível
tempo do esquecimento
criaram asas as casas
com suas largas janelas
voaram delas as almas
os vutos
as aves
os jovens e donzelas
ou só de vazio se arquiteta
o lote vago
o terreno baldio
evaoraram-se os corpos
o choro das crianças
o rumor amoroso dos leitos
os bens de família
os desejos rarefeitos
a ostentação secular
dos nomes
dos móveis de jacarandá
para onde foram as casas
de ares nobres e solenes
a casa do João Jacinto
do Antônio Barbeiro
do Seu Rubens Frias
do seu Edson Fonseca
e tantas outras residências
de obscuro silêncio
procura em vão a liberdade
quem de memória abstrata
procura entre os escombros
da história
entre os dentes da engrenagem agônica
traços de pedra da cidade ausente