Além dos jardins da paixão
“Há muitas maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira.” Manoel de Barros
A maior parte dos romances entre empresas e profissionais, ao contrário do que espera o leitor mais conservador, quase sempre tem um final infeliz. É uma historia comum que nem os best-sellers de quinta categoria arriscariam a inventar desfechos mais ousados. Mesmo quando seus autores incluem ingredientes da moda - como a conquista da felicidade, receitas de auto-ajuda - em suas narrativas, para engabelarem seus leitores, o romance acaba em angu de caroço ou em pastelão gorduroso. Indigesto.
À medida que a ciência ou a arte da administração vai se transformando - não necessariamente se evoluindo ou se aprimorando – surgem novos modismo. Cada época com seus modelos de gestão. Com suas palavras de ordem, adotadas automaticamente, mecanicamente, sob o efeito da mídia e dos discursos bem elaborados e do álibi de consultores moderníssimos. Senhores e senhoras bem trajados, adornados com terno, gravata, “notebook” e outros atrativos tecnológicos; Adereços simbólicos de um mundo virtual e mágico que ajudam esses senhores a vender seu peixe. Passar gatos por lebre. Não que seus conhecimentos sejam de todo inválidos. Claro que não. Fosse assim não seria possível construir, em bases científicas e técnicas, os grandes complexos empresariais, organizacionais e coorporativos de grande complexidade.
O certo, é que existe um ponto cego neste relacionamento. Um espaço conflituoso que teima em resistir aos modismos, lançando um desafio permanente aos gestores e atores envolvidos na trama administrativa e produtivo. O romance não se desenvolve. O enredo trava com os personagens presos na angústia e de uma rotina estressante e sem motivação.
E porque o relacionamento não avança. Não se aprimoram os processos de maneira satisfatória para ambos os lados da parceria. Porque o namoro empresa e profissionais, de todos os setores e escalões, não se aprofundam em termos de respeito, fidelidade, compromisso mútuo e paixão?
E qual é a onda do momento? Qualidade de vida? Gestão participativa? Produtividade? Excelência? Informatização? Desenvolvimento sustentável? Cursos de especialização? Marketing? Responsabilidade Social? Propaganda? Comunicação? Upgrade pessoal e profissional? Ginástica Zen? Racionalização e flexibilização? E tantos outros expedientes periféricos que certamente desconheço e que não vêm ao caso neste momento. Nunca se pega na veia mesma do problema. No coração da empresa. No cérebro da organização. Nunca se enfrentam os verdadeiros dilemas vividos pela maioria das corporações. E o romance, pois é?
O romance fala de amor, mas lhe faltam “glamour” e paixão. Sua linguagem é balofa, retórica, desligada da cultura, dos sentimentos, valores e desejos de seus personagens. Não que seja de todo mentirosa, mas falseia a realidade concreta sobre a qual a organização está assentada. Gagueja sobre coisas da alma e da vida, criando um ambiente difuso, de difícil compreensão. Transfere a responsabilidade da empresa para dinâmica da sociedade, do mercado, isentando-se de qualquer culpa ou responsabilidade. Quer dizer, se o leitor se desinteressa pela história e abandona a leitura, a culpa é do leitor preguiçoso ou sem visão, nunca do romance mal escrito, mal editado. Afinal, e por isso mesmo, é um best-seller.
Já no romance escrito e mal vivido pelas organizações, em uma economia em crise, promete-se um final feliz, mas não cria uma história consistente, uma trama válida, nem se buscam, em alguns casos, as condições materiais, intelectuais e espirituais para se chegar a ele. No máximo, traçam-se estratégias de mando e de gestão à revelia da realidade e dos seus parceiros internos e externos, para atender a interesses próprios, nem sempre justos e democráticos. Traçam metas irrealistas, cujos princípios, meios e fins são ignorados pelos protagonistas, com exceção de alguns membros.Dos executivos que habitam o topo da pirâmide, ou , se o leitor preferir, o ponto mais alto da torre de marfim. Dai os conflitos entre interesses pessoais e corporativos. A rotina. A frustração. Daí as falências de toda a ordem no interior das empresas. Tudo isto pode acontecer quando não se leva em conta aquela força primordial que move os sentidos na tentativa de seduzir o objetivo de desejo, como acontece em todo inicio de namoro: a paixão.
De acordo com o escritor Tom Coelho, palestrante na área de qualidade de vida e marketing, que ministra palestras para discutir com profissionais e empresários os erros cometidos no processo que leva os dois lados a perderem a paixão inicial, ao contrário do que muitos pensam, a perda de interesse não decorre de questões salariais. “Os primeiros fatores, diz Coelho, são o orgulho de trabalhar na empresa e a sensação de fazer parte da organização”. Tratam-se, portanto, de fatores humanos, subjetivos, mais que recursos materiais, técnicos e financeiros. Um romance de roteiro previsível, com pequenas variações, desastres ocasionais e algumas aventuras de sucesso.
Sinto frustrar o leitor, mas nossa história não acaba aqui. Nosso romance continua de acordo com as contradições objetivas da realidade. Conforme cada um dos protagonistas, contribuímos para seu desfecho, a partir de onde vivemos e atuamos. O romance empresarial, por sua vez, vinculado por natureza ao modo de produção vigente, não escapa a estas contradições. Prefiro deixar os personagens agirem com liberdade e destreza o bastante para escreverem, eles mesmos, um livro mais interessante do que os best-sellers que abarrotam as prateleiras das livrarias, o coração e a inteligência dos leitores menos atentos e exigentes. Poderia ser um romance policial, de aventura, ficção cientifica, futurologia, ou, ate mesmo, de terror tipo, “Doctor” Frankstain. Vampiros? Existem, embora pareçam “fingir de mortos para viverem felizes”. Podem estar dormindo no umbral da organização sobre seus próprios pesadelos nos porões da consciência ou se passem por invisíveis nos horários convencionais dos expedientes e de trabalho. Talvez esses romances não conquistem certos tipos de leitores. Aqueles movidos pela paixão que ilumina e não cegados pela competitividade, pela ganância, pelo egoísmo individual, de grupos ou de classe, bem ao estilo neoliberal, Acrítico e sem limites. Tal como você, já vi este filme, antes.
Plim- Plim. ”The End”.
“Há muitas maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira.” Manoel de Barros
A maior parte dos romances entre empresas e profissionais, ao contrário do que espera o leitor mais conservador, quase sempre tem um final infeliz. É uma historia comum que nem os best-sellers de quinta categoria arriscariam a inventar desfechos mais ousados. Mesmo quando seus autores incluem ingredientes da moda - como a conquista da felicidade, receitas de auto-ajuda - em suas narrativas, para engabelarem seus leitores, o romance acaba em angu de caroço ou em pastelão gorduroso. Indigesto.
À medida que a ciência ou a arte da administração vai se transformando - não necessariamente se evoluindo ou se aprimorando – surgem novos modismo. Cada época com seus modelos de gestão. Com suas palavras de ordem, adotadas automaticamente, mecanicamente, sob o efeito da mídia e dos discursos bem elaborados e do álibi de consultores moderníssimos. Senhores e senhoras bem trajados, adornados com terno, gravata, “notebook” e outros atrativos tecnológicos; Adereços simbólicos de um mundo virtual e mágico que ajudam esses senhores a vender seu peixe. Passar gatos por lebre. Não que seus conhecimentos sejam de todo inválidos. Claro que não. Fosse assim não seria possível construir, em bases científicas e técnicas, os grandes complexos empresariais, organizacionais e coorporativos de grande complexidade.
O certo, é que existe um ponto cego neste relacionamento. Um espaço conflituoso que teima em resistir aos modismos, lançando um desafio permanente aos gestores e atores envolvidos na trama administrativa e produtivo. O romance não se desenvolve. O enredo trava com os personagens presos na angústia e de uma rotina estressante e sem motivação.
E porque o relacionamento não avança. Não se aprimoram os processos de maneira satisfatória para ambos os lados da parceria. Porque o namoro empresa e profissionais, de todos os setores e escalões, não se aprofundam em termos de respeito, fidelidade, compromisso mútuo e paixão?
E qual é a onda do momento? Qualidade de vida? Gestão participativa? Produtividade? Excelência? Informatização? Desenvolvimento sustentável? Cursos de especialização? Marketing? Responsabilidade Social? Propaganda? Comunicação? Upgrade pessoal e profissional? Ginástica Zen? Racionalização e flexibilização? E tantos outros expedientes periféricos que certamente desconheço e que não vêm ao caso neste momento. Nunca se pega na veia mesma do problema. No coração da empresa. No cérebro da organização. Nunca se enfrentam os verdadeiros dilemas vividos pela maioria das corporações. E o romance, pois é?
O romance fala de amor, mas lhe faltam “glamour” e paixão. Sua linguagem é balofa, retórica, desligada da cultura, dos sentimentos, valores e desejos de seus personagens. Não que seja de todo mentirosa, mas falseia a realidade concreta sobre a qual a organização está assentada. Gagueja sobre coisas da alma e da vida, criando um ambiente difuso, de difícil compreensão. Transfere a responsabilidade da empresa para dinâmica da sociedade, do mercado, isentando-se de qualquer culpa ou responsabilidade. Quer dizer, se o leitor se desinteressa pela história e abandona a leitura, a culpa é do leitor preguiçoso ou sem visão, nunca do romance mal escrito, mal editado. Afinal, e por isso mesmo, é um best-seller.
Já no romance escrito e mal vivido pelas organizações, em uma economia em crise, promete-se um final feliz, mas não cria uma história consistente, uma trama válida, nem se buscam, em alguns casos, as condições materiais, intelectuais e espirituais para se chegar a ele. No máximo, traçam-se estratégias de mando e de gestão à revelia da realidade e dos seus parceiros internos e externos, para atender a interesses próprios, nem sempre justos e democráticos. Traçam metas irrealistas, cujos princípios, meios e fins são ignorados pelos protagonistas, com exceção de alguns membros.Dos executivos que habitam o topo da pirâmide, ou , se o leitor preferir, o ponto mais alto da torre de marfim. Dai os conflitos entre interesses pessoais e corporativos. A rotina. A frustração. Daí as falências de toda a ordem no interior das empresas. Tudo isto pode acontecer quando não se leva em conta aquela força primordial que move os sentidos na tentativa de seduzir o objetivo de desejo, como acontece em todo inicio de namoro: a paixão.
De acordo com o escritor Tom Coelho, palestrante na área de qualidade de vida e marketing, que ministra palestras para discutir com profissionais e empresários os erros cometidos no processo que leva os dois lados a perderem a paixão inicial, ao contrário do que muitos pensam, a perda de interesse não decorre de questões salariais. “Os primeiros fatores, diz Coelho, são o orgulho de trabalhar na empresa e a sensação de fazer parte da organização”. Tratam-se, portanto, de fatores humanos, subjetivos, mais que recursos materiais, técnicos e financeiros. Um romance de roteiro previsível, com pequenas variações, desastres ocasionais e algumas aventuras de sucesso.
Sinto frustrar o leitor, mas nossa história não acaba aqui. Nosso romance continua de acordo com as contradições objetivas da realidade. Conforme cada um dos protagonistas, contribuímos para seu desfecho, a partir de onde vivemos e atuamos. O romance empresarial, por sua vez, vinculado por natureza ao modo de produção vigente, não escapa a estas contradições. Prefiro deixar os personagens agirem com liberdade e destreza o bastante para escreverem, eles mesmos, um livro mais interessante do que os best-sellers que abarrotam as prateleiras das livrarias, o coração e a inteligência dos leitores menos atentos e exigentes. Poderia ser um romance policial, de aventura, ficção cientifica, futurologia, ou, ate mesmo, de terror tipo, “Doctor” Frankstain. Vampiros? Existem, embora pareçam “fingir de mortos para viverem felizes”. Podem estar dormindo no umbral da organização sobre seus próprios pesadelos nos porões da consciência ou se passem por invisíveis nos horários convencionais dos expedientes e de trabalho. Talvez esses romances não conquistem certos tipos de leitores. Aqueles movidos pela paixão que ilumina e não cegados pela competitividade, pela ganância, pelo egoísmo individual, de grupos ou de classe, bem ao estilo neoliberal, Acrítico e sem limites. Tal como você, já vi este filme, antes.
Plim- Plim. ”The End”.
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