O lugar da Cultura
Mal termino a leitura do editorial “A Cultura sem casa” da edição nº139, Ano IV de 6 a 13 de julho de 2007, do Jornal Portal de Minas, e um triste pensamento vem-me à cabeça: pobre país, o Brasil. Sem memória. Sem esperança.
Diz a matéria, “Assim acontece em Piumhi, que tem seu maior acervo cultural sem um lugar específico para visitação e estudos. O material que conta um pouco da história dos piumhienses está dividido, desagrupado, longe dos seus objetivos que seria unir as pessoas através da história”
Pobre país, o Brasil, mais de 50 milhões de analfabetos. Crise econômica, política, educacional e ética. Até aérea. Os céus brasileiros estão de luto. E tem mais. Com um déficit habitacional de mais de sete milhões de moradias, não seria de se estranhar o fato de a cultura também não ter um casa decente para se abrigar contra as traças do tempo, os ventos da ignorância, da insensibilidade, das lutas de poder e da omissão. Não seria, se de fato isto não ocorresse bem debaixo de nossos narizes em nível nacional, estadual e municipal. Infelizmente. Isto mostra, em parte, porque a cultura nunca recebe o tratamento devido, como realidade essencial da vida humana e fator estratégico para o desenvolvimento sócio-educacional e político dos municípios brasileiros. Não por acaso, rege-se a cultura, hoje em dia, pelas regras do marketing e da propaganda e das leis de incentivo, que abrem brechas para diversas formas de corrupção, favoritismo, dirigismo e manipulação, de verbas e pensamentos. Em muitos casos, a gestão cultural não passa de um apêndice da área educacional e até mesmo esportiva. Faltam formação, informação, critérios e projetos próprios de gestão da cultura. Resguardados a liberdade de escolha individual e os princípios da pluralidade e da diversidade, é lamentável ver a cultura se transformar, nas mãos da mídia, dos empresários inescrupulosos e dos “podres poderes” públicos, em mero divertimento com a promoção de megaeventos de custo milionário e de gosto artístico duvidoso. Quem ganha com isto? Aqui, nem vale a pena especular! Quem sai perdendo? Não êxito em afirmar: a comunidade. E sempre com alegação cínica e elitista de que é disto que o povo gosta. Será mesmo? Será que o povo gosta mesmo é de carne de terceira e de vinho de ruim qualidade? Tenho minhas dúvidas! E você, o que acha?
O leitor há de concordar comigo pelo menos neste ponto: cultura não é luxo, nem lixo. Sendo assim, merece respeito. Como tal, deve ser tratada com profissionalismo, numa perspectiva contemporânea, dinâmica e integrada à educação, a economia e ao turismo. A qualidade de vida e o desenvolvimento sustentável passam, necessariamente, por uma ação cultural autêntica e emancipadora.
Por suas dimensões materiais, espirituais, artísticas, simbólicas e comunicacionais, certamente o processo cultural ultrapassa os limites de uma Casa de Cultura, sobretudo nas de modelos centralizadores, elitistas, preocupadas em preencher a agenda com eventos e cursos à revelia do gosto e do interesse da população. Neste sentido é melhor mesmo que a cultura continue sem casa própria, e viva e se manifeste livremente sob o céu aberto, nas periferias urbanas, nas comunidades rurais, nas praças públicas sob as mais diversas formas de expressão. Da capoeira ao Rap. Do congado à moda de viola, a legítima. Folias de Reis e festas religiosas, passando pelo artesanato e pelas rezas, chás, costumes e crenças populares e pelo sabor sofisticado e simples das comidas e doces caseiros. Pior que cultura sem casa é uma casa – seja mansão ou choupana- sem cultura, não é mesmo? E isto não falta por este Brasil a fora, onde o que mais vale são os carros de luxos, as grandes camionetes incrementadas com sons estridentes e música “breganeja”, tipo “cowboy” americano, via Barretos, as marcas da moda, a ostentação, o desinteresse pelas autênticas causas sócio-culturias, a desinformação e a violência de toda a ordem. A alienação diante da realidade brasileira e a balofa algazarra dos sem causas. Sem identidade.
No mais, é como escreve Neusa Maria Mendes de Gusmão, em seu artigo, Noção de Cultura e seus desafios, mais que fruto do contato entre coisas, as culturas resultam do diálogo do homem consigo mesmo e com o outro diferente de si, parte de uma mesma humanidade, nem sempre vista como tal, posto que são todas, a um só tempo una e diversa, universal e singular. O lugar da cultura é, principalmente, a inteligência, o coração e a sensibilidade do ser humano. Do indivíduo e cidadão do mundo. Agora, pesquisar, guardar, registrar, preservar, expor, comercializar objetos e produtos culturais criados por uma comunidade é direito e dever da própria comunidade, diretamente ou através de seus representantes legais, eleitos democraticamente. A uma Casa de Cultura, portanto, cabe, entre outras coisas, identificar talentos, mobilizar a comunidade, discutir, democraticamente, projetos, sensibilizar o meio empresarial e educacional, criar, planejar e irradiar novos conceitos e formas de fazer cultural. São também lugares privilegiados da cultura, a liberdade, a alegria e a esperança de um mundo mais belo e mais justo. Pois, a Cultura é o Etos, a morada do Homem. Infinitas protas para a imaginaçao.
Mal termino a leitura do editorial “A Cultura sem casa” da edição nº139, Ano IV de 6 a 13 de julho de 2007, do Jornal Portal de Minas, e um triste pensamento vem-me à cabeça: pobre país, o Brasil. Sem memória. Sem esperança.
Diz a matéria, “Assim acontece em Piumhi, que tem seu maior acervo cultural sem um lugar específico para visitação e estudos. O material que conta um pouco da história dos piumhienses está dividido, desagrupado, longe dos seus objetivos que seria unir as pessoas através da história”
Pobre país, o Brasil, mais de 50 milhões de analfabetos. Crise econômica, política, educacional e ética. Até aérea. Os céus brasileiros estão de luto. E tem mais. Com um déficit habitacional de mais de sete milhões de moradias, não seria de se estranhar o fato de a cultura também não ter um casa decente para se abrigar contra as traças do tempo, os ventos da ignorância, da insensibilidade, das lutas de poder e da omissão. Não seria, se de fato isto não ocorresse bem debaixo de nossos narizes em nível nacional, estadual e municipal. Infelizmente. Isto mostra, em parte, porque a cultura nunca recebe o tratamento devido, como realidade essencial da vida humana e fator estratégico para o desenvolvimento sócio-educacional e político dos municípios brasileiros. Não por acaso, rege-se a cultura, hoje em dia, pelas regras do marketing e da propaganda e das leis de incentivo, que abrem brechas para diversas formas de corrupção, favoritismo, dirigismo e manipulação, de verbas e pensamentos. Em muitos casos, a gestão cultural não passa de um apêndice da área educacional e até mesmo esportiva. Faltam formação, informação, critérios e projetos próprios de gestão da cultura. Resguardados a liberdade de escolha individual e os princípios da pluralidade e da diversidade, é lamentável ver a cultura se transformar, nas mãos da mídia, dos empresários inescrupulosos e dos “podres poderes” públicos, em mero divertimento com a promoção de megaeventos de custo milionário e de gosto artístico duvidoso. Quem ganha com isto? Aqui, nem vale a pena especular! Quem sai perdendo? Não êxito em afirmar: a comunidade. E sempre com alegação cínica e elitista de que é disto que o povo gosta. Será mesmo? Será que o povo gosta mesmo é de carne de terceira e de vinho de ruim qualidade? Tenho minhas dúvidas! E você, o que acha?
O leitor há de concordar comigo pelo menos neste ponto: cultura não é luxo, nem lixo. Sendo assim, merece respeito. Como tal, deve ser tratada com profissionalismo, numa perspectiva contemporânea, dinâmica e integrada à educação, a economia e ao turismo. A qualidade de vida e o desenvolvimento sustentável passam, necessariamente, por uma ação cultural autêntica e emancipadora.
Por suas dimensões materiais, espirituais, artísticas, simbólicas e comunicacionais, certamente o processo cultural ultrapassa os limites de uma Casa de Cultura, sobretudo nas de modelos centralizadores, elitistas, preocupadas em preencher a agenda com eventos e cursos à revelia do gosto e do interesse da população. Neste sentido é melhor mesmo que a cultura continue sem casa própria, e viva e se manifeste livremente sob o céu aberto, nas periferias urbanas, nas comunidades rurais, nas praças públicas sob as mais diversas formas de expressão. Da capoeira ao Rap. Do congado à moda de viola, a legítima. Folias de Reis e festas religiosas, passando pelo artesanato e pelas rezas, chás, costumes e crenças populares e pelo sabor sofisticado e simples das comidas e doces caseiros. Pior que cultura sem casa é uma casa – seja mansão ou choupana- sem cultura, não é mesmo? E isto não falta por este Brasil a fora, onde o que mais vale são os carros de luxos, as grandes camionetes incrementadas com sons estridentes e música “breganeja”, tipo “cowboy” americano, via Barretos, as marcas da moda, a ostentação, o desinteresse pelas autênticas causas sócio-culturias, a desinformação e a violência de toda a ordem. A alienação diante da realidade brasileira e a balofa algazarra dos sem causas. Sem identidade.
No mais, é como escreve Neusa Maria Mendes de Gusmão, em seu artigo, Noção de Cultura e seus desafios, mais que fruto do contato entre coisas, as culturas resultam do diálogo do homem consigo mesmo e com o outro diferente de si, parte de uma mesma humanidade, nem sempre vista como tal, posto que são todas, a um só tempo una e diversa, universal e singular. O lugar da cultura é, principalmente, a inteligência, o coração e a sensibilidade do ser humano. Do indivíduo e cidadão do mundo. Agora, pesquisar, guardar, registrar, preservar, expor, comercializar objetos e produtos culturais criados por uma comunidade é direito e dever da própria comunidade, diretamente ou através de seus representantes legais, eleitos democraticamente. A uma Casa de Cultura, portanto, cabe, entre outras coisas, identificar talentos, mobilizar a comunidade, discutir, democraticamente, projetos, sensibilizar o meio empresarial e educacional, criar, planejar e irradiar novos conceitos e formas de fazer cultural. São também lugares privilegiados da cultura, a liberdade, a alegria e a esperança de um mundo mais belo e mais justo. Pois, a Cultura é o Etos, a morada do Homem. Infinitas protas para a imaginaçao.
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