sexta-feira, 4 de agosto de 2006

















A saga Sagarana
Sessenta anos depois

“O Sertão é o mundo” - “O Sertão está em toda a parte. Está essencialmente em Sagarana, do médico, embaixador, o escritor mineiro de Cordisburgo, João Guimarães Rosa, publicado em 1946”.
Etimologicamente, a palavra sagarana é composta, pois dos termos. Saga que tem raiz germânica e significa narrativa em prosa, históricas e/ ou lendárias, ricas em incidentes e rana, sufixo tupi que quer dizer à semelhança de ao modo de. Saga, também, de acordo com o dicionário Houaiss, é o nome dado pelos romenos às bruxas e feiticeiro.
Polêmico desde o seu surgimento, Sagarana é, portanto, um conjunto de sagas - histórias épicas, folclóricas, de amor, mistério e aventura no qual o autor universaliza o sertão, mistura o popular e o erudito. São nove contos-novelas ou sagas-narrativas onde o real e o sobrenatural se cruzam. Em cada conto, várias mini-narrativas se entrelaçam à narrativa principal, fornecendo pistas ambíguas sobre o desenlace do conflito central, retardando e, assim, aumentando o suspense. Fazem parte de Sagarana s histórias O Burrinho Pedrês ,À volta do marido pródigo, Sarapalha ,Duelo Minha Gente , São Marcos ,Corpo Fechado, Conversa de bois e A hora e a vez de Augusto Matraga.
Mesmo depois de seis décadas de seu lançamento Sagarana continua a despertarem os interesses dos antigos e novos leitores, apaixonados pelas grandes narrativas mundiais. Não por a caso, o interesse por Sagarana e por toda a obra de Guimarães Rosa cresce com o passar do tempo. Não por ação, em Minas, experiência literária e tempo se transformam em vivencia e memória. Memória individual e coletiva que dá vida e eternidade a um universo próprio, particularíssimo. Universo líquido, mineral povoado de aves, plantas, bichos, almas do outro mundo. Universo ao mesmo tempo mágico e trágico. Épico e estético. É que Minas Gerais é território em constante expansão através da cultura e da arte, da forma imaginaste de ver e ser cúmplice da paisagem mística e bruta simultaneamente. Minas vai a além de Minas. Muito mais Gerais do que os campos e cerrados que aos olhos do observador desatento se estendem. Enganam-se quem procura somente Minas na obra de Rosa. Esta é rosa de pétalas variadas, labirinto de cores e perfumes sem nomes. Daí que obras como Sagarana são de leito obrigatórias, pois não só não envelhecem com o tempo, mas com ele se transformam e permanecem. Amadurecem de sentidos novos à medida que o leitor amadurece com o rigor do tempo.
É que, como diz Sônia Van Dijck, uma obra literária é sempre uma construção de linguagem e, no caso de Sagarana, Guimarães Rosa alterou o texto, sempre em busca de uma otimização, que só ele podia saber se havia alcançado ou não. Será que alcançou?
É que, segundo o próprio JGR, - Jornal do Brasil, 11 jan. 1959 -.
”Fazer um livro é como bordar um tapete: cada um que vê acha uma coisa. Se o leitor achou isso, é porque ali está: o leitor tem sempre razão”. Está sempre renovado pela curiosidade e pelo olhar caminhante e cambiante do ledor de me em Rosas. Aí está um bom motivo para as movimentar a escolas e faculdades de Letras e de Jornalismo, em tempo de muita musculação, muita agitação mental e de pouca leitura: revista da obra de Rosas, cada vez mais nova, a media e que o tempo passa. O tempo passa? Para a literatura, pergunta-se? E não venha me dizer que se trata de livro difícil. Difíceis são a burrice programada pela mídia, mediocridade e a preguiça intelectual, marcas evidentes da cultura contemporânea.
Mas Sagarana escreveu o crítico Antônio Cândido, em maio a tanta polêmica “não vale apenas na medida em que nos traz um certo sabor regional, mas na medida em que constrói um certo sabor regional, isto é, em que transcende a região”.
É pro estas e outras des razões mineiras, que “Ficamos sem saber o que era Joãoe se João existiude se pegar... aí que”UM CHAMADO JOÃO, o de Carlos Drummond de Andrade foge pela janela do livro, evapora-se por encanto. Em plena Noite do Sertão reaparece. Esse tal de João Rosas. Você já conhece? João é de igual o sertão, está por toda à parte!


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