sexta-feira, 18 de agosto de 2006

Transversias V

Minas e seus escravos
Minas e suas excumunhões

Minas e seus alinhavos
Minas e suas aliciações

Minas e suas alianças
Minas e suas alienações

Minas e suas anuências
Minas e suas aliterações

Minas e suas bandas
Minas e suas bandalheiras

Minas e suas bandeiras
Minas e seus bandolins

Minas além das Gerais
Minas aquém de si mesma

aqui jaz minas
nos limites dos quintais

aqui jaz Minas
e suas minerações

aqui jaz minas
e suas indagações

aqui jaz Minas
e suas indiciações

aqui jaz Minas
e suas nomeações

aqui jaz minas
e suas deleções

aqui jaz Minas
e suas dicções

aqui jaz Minas
e suas lamentações

aqui jaz Minas
e suas procurações

aqui jaz Minas
e suas contradições

minas e suas posturas
minas e suas provocações

minas e suas figuras
e suas configurações

Minas e suas promessas
Minas e suas provações

Minas e suas escrituras
Minas e suas escriturações

Minas e seus escritórios
Minas e suas reconciliações

Minas é onde está
sstado de pura decantação

Minas é onde nunca esteve
nem aqui nem lá - em desterro

Minas mesmo é o outro lado
foge ao alcance das mãos

Minas mesmo o outro ladra
foge das mãos do ladrão

a palavra atrás da porta
a palmeira a palmatória

a palavra noite morta
a nota nada promissória

a palavra em código morse
vaga pela praça à fora

tudo a peso de ouro
a pedra o ferro os florões

tudo a peso de outros
a torre o bispo os peões

o barco sob a névoa
suas degenerações

Minas são vastas serranias
e devastações
arraiais
imensidões vazias
dessertões
há vilas vagas
burgos insones
freguesias
cidades
sobrados soberbos
soturnos subúrbios
e porões

há morros e montes
há sempre um belo horizonte

há marcos e arco-íris
severas demarcações

há pouca água nos rios
muita mágoa sob a ponte

sirenes e cincerros
serras e cercanias


se não há mar não há
também porque deveria

há mais do que se vê
há mais do que se via

há mais do que se lê
bem mais do que se ouvia

não há só vilas em Minas
há víboras à revelia

não há só vilas em Minas
há capital e capitanias

se há vilas há vilas
há muito mais à vista

se há vilas há vícios
há muito mais valia

se há vilas há vínculos
há muito mais compadrio

se há vilas há vaias
por nadas se aviltaria

se há Minas há muitas
muitas diversas marias

valeria mais amar
amargas minas

valeria mais o mar
amáveis minas

valeria mais o marco
de antes das sesmarias

Minas e suas amarras
Minas e suas armadilhas

Minas e suas armas
Minas e suas auras

Minas e suas arenas
Minas e suas armações

Minas a margem
ou mais interior

pouco decoro
muita decoração

muito choro
pouco devotamento

muito dilúvio político
pouco ouro de aluvião

se não há mar não há
também que mar seria

se não há mar melhor
mudar o seu movimento

mudar de Minas o norte
o rumo mesmo do vento

mudar de Minas o marketing
o prumo do monumento

mudar de Minas o verbo
independente do tempo

mudar de Minas o verso
indiferente ao aviso

mudar de Minas o acesso
independente da via

independente do mote
do uivo de suas matilhas

independente das mortes
que rondam por suas vilas

independente das vagas
independente dos links

independente do porte
da pose da hierarquia

independente de mim
independente de Minas

seja qual for o suporte
o mar que a noite vigia

seja qual for a paisagem
da virtual geografia

seja qual for o poeta
seja qual for o requinte

seja qual for o libelo
seja qual for o calibre

seja qual for a patente
seja qual for o limite

seja qual for a suspeita
seja qual for o palpite

seja qual for o profeta
seja qual for a magia

seja qual for o projétil
seja qual a transversia

nadar de Minas a Minas
independente das ilhas

nadar de Minas a Minas
independente das trilhas

nadar de Minas a Minas
independente do mar

nadar do mar o rumor
amar de Minas toda a poesia

Nenhum comentário: