domingo, 14 de janeiro de 2007

Xingó é minha amiga.Mora em Ponte Vila,
Distrito de Formiga, Minas Gerais,Brasil.

um homem que bicho estranho

tem pele feito porco
tem penas igual pavão

faz ferramentas
faz contas
faz amor por precisão
é doido de jogar pedras
ama-gama-desama-ama
morre de tédio e tesão
não raro sai a galope
cai do cavalo na cama

é ruim igual cobra
faz banquete
come sobra
usa palitó e gravata
computador
celular
usa porrete e facão
não raro entre em coma
é ladino igual raposa
finge ladra feito cão
faz lixo faz comício
por nada vira ladrão

adora espelho
pipoca
cinema televisão

é esperto igual coelho
inventou o fogo o barulho
a bomba a explosão
jogo de bicho de damas
que bicho estranho é o homem

depois de tanto inventar
a sujeira e o sabão
desinventar seu invento
reinventar a invenção
achou por bem registrar
ele mesmo a criação
por justo achou negar
a luz a voz a razão
e na prisão se trancar




é belo igual demônio
igual anjo pode ser
desenha canta faz novena
vê novela mexicana
faz de besta faz promessa
pra viver mais vive em vão
de asa delta ou sonho
voa de vez em quando

trabalha ajunta rouba e esbanja
come carne tem paixão
bebe muito come canja
mata o desejo com as mãos

tem pés igual tatu
cava buraco no chão
cava sua sepultura
criou o céu o inferno
o casamento a censura
a gaivota e o dragão

botou fogo na floresta
pôs rodas na bicicleta
vai ao velório protesta
rosna ri briga na festa
incendiou o planeta
a terra da promissão
se tem culpas
reza
se tem sede
bebe
se em fome
nem sempre come
se for necessário improvisa
bule bole bate e bale
dá o bote
sabe que nada acontece
pede perdão no cartório

não tem asas também poderia
ser completo mais um Deus
lê escreve faz poesia
diz que viu o que não vê
no lugar de asas e nuvens
preguiça nave navio
tem pensamento avião

faz casa funda cidades
arquiteta faz artes
gravura muro e carvão
mora na rua na mata
mata seu próprio irmão

imagine se o homem
mudasse o nome do não

o nome do que procura
do amor do tempo da chuva

se revertesse o invento
do desencanto da lua

ou invertesse o sentido
da seta do poste da rua

imagine se o homem
fosse só - vazia imaginação


o homem que bicho estranho

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