sábado, 10 de janeiro de 2009
dos dizeres do poeta
( Imagem a prtir de um poema-objeto de Rosane Magalhões)
o que diz o poeta
com sua fala sempre incompleta
o que diz o poeta
quando o alvo se dispara contra a seta
o que diz o poeta
quando o verbo se fecha sobre a paisagem aberta
o que diz
o poeta diz somente do que lhe afeta
diz do que lhe falta
do que prediz ou lê nas cartas
o que o poeta quando diz
porque nada diz quando fala em voz alta
o poeta diz do som da flauta
do magnata infeliz que se mata
da engrenagem da máquina
da viagem a Marte
dos martírios por nada
das morte do poema da poesia insensata
porque desejam silenciar o poeta
porque o silêncio sela sua voz seleta
é proibido ao poeta dizer
se não for de forma concisa
sintética
se não for hermético
é possível ser poeta
sem fingir
sem aderir ao patético
sem ser parnasiano
romântico
simbolista
modernista ou concretista
sem ir ao supermercado das letras
ao cinema novo
ao comitê do povo
ao circo do cinismo literário
sem ser esperte ou otário
ao se ajoelhar diante do olhar
solar de Van Gogh
em se jogar no abismo do verso árido
sem cair do pico do Itacolomi
sem mudar seu fuso horário
o peta e seus dizeres
o poeta e seus prazeres
o poeta e seus pesares
o poeta e seus díspares
o poeta e suas essências
o poeta e seus aparências
o poeta e seus mal ditos zelos
o poeta e suas íntimas letras
o poeta e seus pêsames
é possível apenas ser poeta
sem paisagem
sem ornamento
sem passagem pela delegacia
de bons costumes
pela poesia sem perfume
o que diz o poeta quando em silêncio apenas ri