domingo, 31 de julho de 2011


face a face
Minas retórica
católica
despótica
folclórica
bucólica
dá cólica na poesia

prefiro Minas
exótica
erótica
melódica
sem melancolia amorfa
sem lua fria na montanha torta

sábado, 30 de julho de 2011


o avesso mineiro

para ser mineiro
não basta nascer em Minas
obra do acaso
pura predestinação
não basta proclamar
aos quatro ventos
arroubos de liberdade
sentimento essencial
ideal inatingível
trágica herança
espólio de mortes
roubos e traições
não basta
fazer política em benefício próprio
com astúcia de raposa
e juba de leão
fingir de bobo para levar vantagens
trucar em falso na hora da missa
enganar o povo que acredita
em Deus
em Zeus
no Papa
em bicho papão
no papo do patrão
que acredita no espírito mineiro
sem restriçções
sem fazer perguntas
que recita de cor
o ato de contrição


para ser mineiro
não basta comprar um sitio
uma fazenda
um chapéu
um manga larga alazão
nem entender os sons dos sinos
os grifos e grafites
represar os rios dos sentidos
São Francisco
Rio Doce
Jequitinhonha
Rio verde
Rio Grande
Urucuia uai
deveras que não

não basta admirar as montanhas
gastas
o minério etéreo dos astros
a geografia metafísica das vacas
a neta linguagem das fábricas
a polissemia das facas
urge escalar a Serra do Curral
rolar pela Serra do Rola Moça
tropeçar nas pedras
nas cinzas do Cauê
do que resta na Serra do Cipó
botar o dedo nas chagas
de Minas crucificada na Capital
em Congonhas
em Santo Antônio das Roças Grandes
no coração do Caraça
no cafundó do Judas
urge conhecer de perto
as rugas
as rusgas
as urtigas e intrigas
dos partidos e das tribos
as cidades todas históricas
e mágicas
Ouro Preto
Mariana
São João del Rei
Caeté
Diamantina
Pitangui
Serro e Sabará
Minas só de se saber
não há
é mais de se ver
e de se tocar
encher a pança em mesa farta
meneiridade só não basta
mineiros há
mergulhados na tristeza
na miséria mais que Jó
famintos de sonhos
e de pão- de- ló
de respeito pela coisa pública
de educação e festa
de afeto e poesia
de verdade e compaixão
para ser mineiro
não basta contar mentira
com ares de surpresa
e firme convicção
fazer catira
desatar a peia
se aproveitar da bondade alheia
comer queijo
pão de queijo
farofa de queijo
guardar o sobejo
para outro mais oportuno ensejo
não basta beber da boa
tirar gosto com leitoa
costelinha com mandioca
carne de sol com farinha
paçoca de amendoim
arroz com carne
feijão tutu com couve
orapronobis
galinha caipira com açafrão


para ser mineiro
nas basta
ser mineiro
ajuntar dinheiro
viver de rendas
cismar à toa
ter saudades do Latim
ou de Lisboa
há mais do que se ser
nos ilimitados limites de Minas
do sertão ao cerrado
do triângulo ao quadrilátero ferrífero
há mais debaixo do tapete
dos músculos dos bíceps
do que sabe o atleta
o vigário de plantão
do que suspeita o patife
o artífice do rei
o súdito do sultão
para ser mineiro
não basta concordar com a devassa
assinar sem ler
a concordata
morar na Savassi
ouvir seresta
música sacra
fazer serenata
tocar viola
tocar violino e tambor
cantar toada
rock in blues ou balada
para ser minero
não basta ser besta de barro
nem barroco
nem santo nem oco
é preciso acabar como vespeiro
exigir o troco do gerente do banco
do trocador do trem
pular carnaval em dezembro
ser minério de janeiro a janeiro
e isto ainda é pouco

basta de silêncio em Minas
fale cante grite mesmo que fique rouco

quinta-feira, 28 de julho de 2011


Para Emy WineHouse

o que a música
não me deu
o que o mundo
me negou
o que de mim mesma
se perdeu
o que ninguém
nunca encontrou
e jamais ouviu
isto é o que procuro
no silêncio
no fundo dos óculos escuros
ao sul dos hemisférios ocultos
uma casa que em mim habite
um cais
com pássaros de luz
e navios fantasmas
um caminho de paz
anjos sem olhos
tudo o que me seduz
e me consumiu
onde eu possa viver sozinha
com minha dor e minha solidão
ao som de um blues
meu coração parado me diz
o mundo é pouco
para quem ama
e grande demais para quem deseja a primavera
uma canção efêmera
me levará
em suas asas
por entre as nuvens

sábado, 23 de julho de 2011

Estou em Diamantina este final de semana. Participei do lançamento de uma revista em homenagem a Geraldo Vandré. Juntos com alguns amigos aproveitamos para curtir as atrações do festival de inverno. Diamantina permanece alegre e boemia. Cultural e hospitaleira. A visita à Gruta do Salitre foi emocionante. Fotografei luz e sombras, imagens talhadas pelo vento e chuva, que formam figuras de pedra, verdadeiros guardiões do tempo e dos mistérios de minas. Prometo postar algumas destas imagens nos próximos post.


lírica

descansa no fundo de minha alma
paisagem de pedra canta
entre folhas de relva
água antiga
amorosa melodia reverbera
acorda imagens mais profundas
tudo vem à tona
turva a vista à vida se mistura

terça-feira, 19 de julho de 2011

sábado, 16 de julho de 2011


lírica

descansa no fundo de minha alma
paisagem de pedra canta
entre folhas de relva
água antiga
amorosa melodia reverbera
acorda imagens mais profundas
tudo vem à tona
turva a vista à vida se mistura

quinta-feira, 14 de julho de 2011


neste exato momento
no Sudão
al-Bashir bombardeia
as montanhas Nuba
mata sem piedade
mulheres e crianças
seus soldados
de porta em porta
cortam a garganta da liberdade
aniquilam a população
indefesa
o mundo ocidental a tudo assiste
fecha os oslhos
indiferente e compassivo
troca seu silêncio pelos barris de petróleo

até quando as bombas
continuarão caindo sobre as montanhas Nuba
até quando explodirá o sol
da justiça e da alegria
nos campos do Sudão
até quando suportará este peso o coração
da poesia

aqui estão todas as palavras
em estado bruto de água e pedra
de fogo e vento
dentro e fora do tempo absoluto
no ventre do mundo
das vastas coisas
por virem
as própria coisas proverbiais e fluidas
palavras a espreita do olhos inaugurais
sinais solertes de um tempo sem luz
aqui estão
para quem por necessidade essencial
delas se aproximar
e por desejos mais sublimes
compartilhar seus significados
de vida e esperança

aqui estão as sementes das palavras
em estado de permanente espera

quarta-feira, 13 de julho de 2011


O Navegador De Palavras

Se o leitor se dispuser a viajar comigo por essas rotas perdidas no interior desta página, poderá ajudar-me nessa tarefa: encontrar Marco Polo. O pouco que sei dele, chegou-me pelo mar da linguagem e, para ser sincero, não disponho de nenhuma pista mais segura. Nunca vi sua foto . Pelo menos disto não tenho lembranças. Ouvi dizer que ele deixou muitas cartas e anotações, porém juro que não tive acesso a nenhum tipo de memória desse navegador inteligente e intrigante. A não ser, alguns livros que comprei no antigo sebo da esquina, transcrições de transcrições, cuja veracidade é sempre bom por em dúvida.
Dele, sei apenas o que me contaram alguns igualmente viajantes. Náufragos, talvez, de navios pertencentes à sua misteriosa esquadra. Também não arrisco desenhar seu perfil, uma vez que, com o passar do tempo, sua sombra, projetada naquela praia deserta já deve ter se desmanchado quase que por completo. Portanto, se depender destes sinais, teremos pouca chance de encontrá-lo. A não ser embalsamado em alguma biblioteca. Emparedado entre as letras dos livros ou perdido no labirinto de imagens e manuscritos.
De minha parte, prefiro imaginá-lo numa destas cidades ensolaradas, descritas por outro navegador italiano. Refiro-me a Ítalo Calvino que, pelo que parece, era de Marco Polo íntimo conhecedor. Chegou mesmo a reinventar suas histórias e suas aventuras pelas inúmeras cidades que Polo conhecera. Como não estou muito preocupado com as datas e mapas, também invento minhas geografias.
Tenho de palpite, quase certo, que Marco Polo, neste momento deve estar em algum ponto esquecido do Universo. Em alguma cidade portuária. Daqui posso vê-lo atento e minucioso aos detalhes de cada ângulo da paisagem. Seus olhos estão faiscando de felicidade porque acaba de fazer um bom negócio. Retorna ao seu navio, depois de um encontro na qual ele conta suas aventuras de maneira brilhante. Não por vaidade ou para se gabar de sua erudição, mas principalmente para criar um ambiente propício à conversa, à troca de informações. Na verdade, pelo que dele me contaram outros, que por sua vez, também de outros ficaram sabendo, Polo estava mais interessado era em ouvir. Ele queria conhecer a história e os costumes daquelas terras exóticas pela boca e pelos gestos de seus próprios interlocutores. Trocar produtos era apenas uma desculpa. Na verdade, vendia idéias, palavras, poemas, romances, desejos, fantasias e imaginação. Era com esses objetos invisíveis que ele conquistava seus anfitriões, fossem eles reis, sacerdotes, comerciantes, cidadãos comuns, sábios ou, simplesmente, vagabundos. Polo sabia do que era capaz a linguagem, por isso foi escolhido pelo rei. Era pago para viajar e para falar. O que, naturalmente, implica ouvir. No que ele também era sábio e paciente nessa arte.
Tanto divagamos e nos divertimos com o movimento do mar e das gaivotas que acabamos por perdê-lo. Ainda a pouco, ele estava sentado numa taberna. Talvez tenha desaparecido entre os rostos anônimos da multidão do mercado. Isso parece impossível, Polo tem semblante forte que dificilmente desapareceria de nosso pensamento como por encanto. Além do mais, todos o conhecem nestes cais de porto, povoados de navios e bandeiras coloridas de todas as partes do mundo, fedendo a peixe, com todo tipo de negócios escusos. Estranhos navios carregados de palavras, de mercadorias, as mais diversas, e objetos de arte.
Não sei se vocês perceberam. Polo é tão envolvente que, falando dele, esquecemos de falar da cidade onde ele deve estar neste momento. Cidade da qual não sei nem mesmo o nome. Talvez Alcídia, Selênia, Cecília. Quem saberá? Bem que poderia ser Rosana. Não, esta tem um sabor italiano e, pelo que não sabemos, Polo deve estar do outro lado do mundo. Esteja ele onde estiver, vá para onde for, tenho certeza de que qualquer dia desses o encontraremos. Polo, em carne e osso. Aqui, bem à nossa frente. É navegando por estes territórios desconhecidos, acima e abaixo destas florestas de água, que haveremos de encontrá-lo.
Quem duvidar, que vá até a biblioteca e fique lá, o tempo que for necessário. De olhos fechados e coração aberto. Pode ser que uma figura misteriosa lhe toque os ombros. Não se vire. Apenas ouça as histórias que ele quiser lhe contar. Apenas deixe sua imaginação viajar navios de fogo. Deixe entrar um raio de sol daquela cidade grega onde agora, com certeza, nosso companheiro de viagem acaba de desembarcar. Espere até que a noite fique mais densa e engula a cidade. Cubra-a de silêncio de tal modo que possa ouvir a respiração dos barcos e o arfar dos homens e dos peixes. Quando acenderem as primeiras luzes, entre com ele no grande pátio, à direita do jardim de rosas vermelhas encarnadas por onde passeiam mulheres e crianças. Apenas ouça a voz do rio Amazonas no interior de seu corpo. Depois parta em sua própria embarcação. Cheia de esperança e de palavras incendiadas. Esqueça o porto. A esquadra. A tripulação.
Há mesmo quem diga que Marco Polo nunca fez viagem alguma. Talvez tenha apenas compilado papiros e alfarrábios de tempos imemoráveis no conforto de uma biblioteca clandestina. Não se importe muito com estas versões e inversões históricas. Elas sempre acontecem e, a cada época, a verdade assume novos ares, de acordo com o humor e a seriedade dos pesquisadores. Desconfiar da história oficial, pelo menos à primeira vista, não é só um sinal de prudência, mas principalmente de sabedoria. O importante é você acreditar no que está fazendo, no caminho que escolheu em sintonia com seu desejo e sentimento.
Se seu desejo é encontrar Marco Polo, não desanime. Vá em frente. Esqueça a última porta por onde passou. Invente novos horizontes e não se preocupe comigo. Estarei bem, onde quer que esteja. A linguagem é meu norte. Minha forma de viver e dar notícias sobre a vida que, a cada instante, se abre, independente de nós mesmos. A vida e a morte juntas .Coladas como o sal e o mar. Talvez nunca serei feliz. Mesmo assim, continuarei tentando encontrar o verdadeiro Marco Polo. O que caminha comigo, acima e abaixo destas páginas, na solidão de cada sílaba. Nestas florestas de água, verdadeiro labirinto de espelhos e de palavras, cuja superfície infinita sempre e muitas vezes nos confunde.
Sobre o papel em branco ou no computador, a escrita é sempre um rasgo misterioso, uma ferida, sendo suja de sangue. É sempre alguma coisa que marca e delimita pontos geográficos até então inexplorados, com piquetes e bandeiras muito íntimas .Signos de pessoalidade ,possibilidades de comunicação, nem sempre concretizados. Mesmo no computador, no seu rosto liso de vidro, sobre seu corpo tecnologicamente tido como frio e neutro, a escrita emana raios de luz , aquece a madrugada, envolta em si mesma e recoberta por uma cortina de letras , cuidadosamente tecida e projetada à guiza de perfeição e imortalidade. Pura solidão. Neste momento , a escrita insurge de sangue o horizonte longínquo no qual se insinua , timidamente, mas com determinação, o que se pode chamar de escritor. A doença da escrita, violação e conquista, sedução e entrega, torna este sonho realidade. A vidaescreve a si mesma, bordando e transbordando de seu próprio tempo. O templo da escritura profana, sagrada apenas no momento em que da solidão do branco ou da tela do micro se emerge. Cumpre seu destino macrocósmico. Fabrica com letras entrelaçadas redes de sentidos, de sentimentos e razões, muitas vezes incontroláveis. Mas o texto mesmo e este empenho permanente de a tudo dar forma e destinação ,mesmo quando se sabe que essa forma e esse destino sempre escapam das mãos do escultor, do escritor, do digitador, do operador/agitador da complexa máquina do mundo, da qual o escritor também é uma letra igualmente indecifrável. Enquanto não se devora em dúvidas e lamentações, escreve. Inscreve-se no último círculo do horizonte inatingível, tingido de sombras, contra as ruínas das montanhas. Montanhas de pedras, de resíduos, de sucatas, de leis, de inutilidades , de linhas e limites. De livros. O próprio mundo, um livro. O único ser vivo, úmido de sentidos, ainda sem título.

segunda-feira, 11 de julho de 2011


a primeira pessoa
soa mal
tece loas no poema
faz intriga
enche linguiça no jornal

a primeira pessoa
engorda a política no sofá
multiplica a lista
a safadeza nacional

a primeira pessoa é um engodo
um embuste lírico
um lobo com fantasia de carnaval
um busto de bronze no planalto
no quintal neo-liberal
um tolo enfeitado para a festa
a espera do funeral

o que aprendo
apreendo com meus olhos
sol de surpresas
entre coritnas
o sonho recomposto
sobre a mesa do café

estarei vivo
interrogo ao espelho
da manhã sobrevivente
o que passou respira ainda a enxofre
em tudo o que faço ou tento desfazer

o dia cresce em desconcertos eltroeletrônicos
homens onlines passeiam pelas ruas vazias
e pelo sorriso plástico de seus lábios viperinos
parecem satisfeitos com as mazelas do banquete
com a vertiginosa velocidade do abismo
a cidade virtual promete a felicidade
tudo o que não habita em seus jardins rarefeitos

o que aprendo com meus olhos não esqueço

quinta-feira, 7 de julho de 2011


passeio

o que passou
não passou
vejo pelos restos
os rastros do que
um dia foi pássaro

o que passou aqui está
indivisível
preso ao futuro espaço
o que há de ser será
pelo que por si
pelo crivo dos olhos
não se deixou passar

quarta-feira, 6 de julho de 2011


premunição

um dia
não me lembrarei de meus poemas
das horas insones de leitura
do semblantes de meus amigos
do rosto feroz dos que me prejudicaram
todas as imagens se dissiparão
na imensa folha do corpo
do tempo sem alma

serei apenas um velho livro
oco
vazio de sonhos
sem amor
sem remorsos
sem histórias nem imaginaççoes

um dia certamente serei livre

estética lll

ninguém se repete
porque deseja
a arte é sempre nova
mesmo que assim
não seja
de tanto se repetir
a arte se renova
no calor da vida
da palavra na peleja
a vida não se repete
muda o rótulo
os óculos
o eufemismo da forma
o invólucro
o cinismo de quem a corteja

a vida não se repte

terça-feira, 5 de julho de 2011

domingo, 3 de julho de 2011


presente eterno
este poema
seu eco
este poema de pedra
de pedra oca
no meio do descaminho
tinha um poema
de eterno esquecimento