quinta-feira, 21 de dezembro de 2006



tudo de passagem
de pedra
a paisagem estreita
o pássaro
a mina
a mira
o avião
o paraíso mínimo
a miragem

tudo de passagem
ouro de aluvião falsa viagem


Deputado não é Deus
A vergonhosa saga dos deputados
que venderam a alma ao diabo na véspera do Natal para aumentar o valor
de seus vencimentos à custa do povo brasileiro.



Aos homens, mulheres , crianças, meninos e meninos de bem que animam e trabalham pra reconfigurar as tristes feições do Brasil desde sua invasão ou achamento.; Aos rios e pássaros, às aves. Paisagens e passageiros que habitam os desvãos e deslugares na desordem do mapa real do Brasil. Abaixo o progresso a qualquer custo .Viva a liberdade,porque já é tarde da noite e a madrugada em breve virá ao som das chuvas de dezembro.



.
João Evangelista Rodrigues
Arcos, dezembro de 2006

pelos deuses do planalto
pelo grão sol do cerrado
pelo que voa mais alto
por quem não fica calado
com o tempo aprendi
me dê força São Vidente
pra vencer esta serpente
com cara de deputado


me dê força e harmonia
me dê verso bem marcado
pra vencer a apatia
pra ver o povo acordado
com o tempo descobri
o voto é muito importante
voto em meu louro falante
mas não voto em deptado


quando eu era criança
pensava que deputado
era ser de confiança
justo gentil e honrado
com o tempo descobri
o Brasil não tem futuro
nasceu em Porto Seguro
hoje é um barco furado

deputado, para mim,
era doutor estudado,
sabia a causa e o fim
de um país bem governado,
com o tempo descobri
o Brasil não tem mais jeito
e o seu maior defeito
é o tal de deputado



o tal chegava a cavalo,
a pé de carro emprestado,
só o que vi é que falo
por isso não falo errado.
Com o tempo descobri
era tudo hipocrisia,
era tudo picardia,
desse tal de deputado

Se um deputado chegava
no meu calmo povoado,
todo o povo festejava
tinha até papel picado.
Com o tempo descobri
que ali o melhor palhaço
será sem desembaraço
o besta do deputado.



Pra encurtar a conversa,
ando muito chateado.
Vou direto ao que interessa
senão morro sufocado.
Com o tempo descobri
todo o poder do dinheiro
faz mover o vespeiro
onde esconde o deputado.

Recordo bem seu sorriso,
era bem apessoado,
usava terno bem liso,
um vozeirão empostado.
Com o tempo descobri,
lá na casa de meus pais
dizia coisas banais,
comia feito um capado.


Depois vem o desemprego,.
violência e mau olhado
Vem a falta de sossego
tem ladrão por todo o lado.
Com o tempo descobri,
ladrão é quem faz a lei
pra servir a um só rei,
esse tal de deputado.

Depois vem a mordomia,
o cinismo, o embuçado,
a traição, a covardia,
todo o crime organizado.
Com o tempo descobri,
o Brasil está doente,
faminto doido e sem dente,
por causa do deputado.




Depois vem a ambição,
pelo que sei é pecado.
Impunidade e perdão
para quem é mais culpado.
Com o tempo descobri,
salvo alguma exceção,
o maior bicho-papão
do Brasil é o deputado.

Veja só o que ele fez
com relação ao salário.
Trabalha pouco por mês,
como todo o salafrário.
Com o tempo descobri,
não há país que agüenta,
salário aqui só aumenta
no bolso do deputado.

Só não cresce a consciência ,
o povo anda avexado
com tamanha incompetência,
tanto roubo refinado.
Com o tempo descobri,,
é mais fácil dar pinote
beber água de dez potes,
do que ser bom deputado.

Só não cresce a liberdade
de ser bem alimentad.o
Cresce o crime na cidad,
a morte, o medo macabro.
Com o tempo descobri,
viver não é perigoso,
maior e mais vergonhoso,
é ser como um deputado.

o governo é conivente,
pois defende o seu babado,
populista inconseqüente,.
foi eleito ou foi comprado
Com o tempo descobri,
vida boa é de mendigo,
pois não tem falso amigo,
nem amigo deputado.


Foram quase cem por cento,.
quase o dobro do passado
Deputado não é bento,
é xucro e esfomeado .
Com o tempo descobri.
Trabalhador não tem vez,
dá duro durante o mês,
pra sustentar deputado.

Quando eu era criança
pensava que deputado
era gente de sustança,
era homem refinado.
Com o tempo descobri.
Salvo alguma exceção,
ninguém é mais canastrão
que o tal de deputado.

Tem uma cara de pau
que deixa a gente possesso.
Pede voto ,pede aval,
passa a vida no congresso.
Com o tempo descobri.
Salvo alguma exceção,
ninguém é maior ladrão,
que o tal de deputado.




Eu agora me despeço,
caro eleitor, mais cuidado.
Veja o que diz o meu verso,.
em tom sério e bem rimado
Com o tempo aprendi.
O valor da poesia
vale mais que valeria
o que fala um deputado.

Ele promete e não faz,
e o povo fica calado,
parece até satanás,
diante de deus louvado.
Com o tempo aprendi
a viver sem fantasia.
Congresso e casa vazia
é pensão pra deputado.

O que pensei tá escrito,
conforme deixei gravado.
O poeta é um proscrito,
não segue a lei do mercado.
Com o tempo descobri.
Prefiro ver o capeta
pra dizer ao pé da letra,
do que ver um deputado.

Quando eu era criança,
hoje me sinto vingado.
Quem espera sempre alcança,.
mas o povo está cansado
Com o tempo descobri.
Pelo sim e pelo não,
pra salvar esta Nação,
tem que prender deputado.
...

Nota: João, li o texto que mais uma vez é excelente e o corrigi, mas não pude colocar a correção em vermelho. Coloquei apenas vígulas e pontuação de acordo com o ritmo dos versos.Espero que goste.Abraços da Maria

sexta-feira, 15 de dezembro de 2006

uma parte de mim
fantasia
outra parte
sentimento

uma parte de mim
arte e pensamento
poesia
dor por dentro

por fora
falso descobrimento

uma parcela
percebo no escuro

no vento bebo
aventura e tempo
paisagem de letra e gravura
fermoso invento

um pedaço de mim
não tem conserto
sem consolo se evapora
perdeu-se ma viagem
de leitura em desleitura
nunca mais se cola

quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

paralelismo


os homens andam em paralelas de infinitas tramas

curvam-se com suas dores invisíveis
nunca se encontram

armas e auras
negócios e ócios

olhos e óbces
ópios e óculos

ocos e óbvios
seios e ancas

sapos e cobras
homens e antas

lutas e lutos
luas e sombras

perdas e danos
ledos enganos

pedras e pedras
muros e ramos

tristes tiranos
tigres humanos

rezas e ramos
rosas urbanas

mapas e mandos
sagas de sangue

partes e portais
partos e prantos

sábios e santos
sóbrios nem tanto

bandas e bancos
surdos e mancos

ricos e pobres
órfãos e manos

cartas e contas
camas e coma

mares e montes
mortes e mantos

lucros e sobras
furtos e famas


nunca se encontram
curvam-se sob o peso de suas dores risíveis

os homens andam em paralelas infinitas e infames

terça-feira, 12 de dezembro de 2006

não inveje a alegria dos homens
na maioria das ocasiões
soam falsas suas gargalhadas
não dependa da companhia deles
para viver em paz
a maioria deles nunca o verá
não o ouvirá jamais o seu apelo
passe a largo quando ouvir um burburinho
um comício um pregão
um elogio que seja
tente ser feliz em sua minimitude

homens – de qualquer estirpe – são eloqüentes
jamais moverão uma palha
para lhe consolar em suas angústias e aflições

não se iluda
não busque a manhã nos domínios humanos







declaro
para os indevidos fins que isto não é mais um manifesto poético
não é mais um artigo de luxo
da declaração dos direitos humanos
da constituição brasileira
é simplesmente
uma declaração sem fins lucrativos
uma declaração de princiipicios
declaro portantoque o poeta não é santo ben satabáz





em nome de todos os deuses
de todos os continentes
desertos e abismos
que a poesia está morta nos cartórios
nos tribunais
nos clubes sem esportiva

nos bancos das universidades
que o poeta é um asno que voa
que o livro não é objeto de
primeira necessidade
é uma coisinha a toa
uma canoa no museu
uma leoa no cio
um tambor que não ressoa
que é proibido proibir
meninos e meninas
menores e maiores
internautas inteligentes
intelectuais sem classe
de todas as idades
freqüentar lugares suspeitos
feito livrarias e bibliotecas
declaro que bares e igrejas
praças e jardins
rodoviárias
hospitias e aeroportos
motéis e postos de gasolina
são iguais
em qualquer parte do mundo
do planeta sujo e mal divido
em versos e muros de arrimo

que a verdadeira poesia
é livre e obscena
em plena luz da ironia
que e indiferente a todo poder
a qualquer geografia
ameaça a integridade física dos cidadãos de bem
a moralidade púbica
que o poeta é um perigo para a sociedade
explora
rouba
estupra
assassina
bagunça o coreto
a linguagem defunta o
a sonata e o soneto
destrói florestas
muda o regime das águas
o curso dos manda-chuvas
o sentido dos rios
queima florestas e mapas suburbanos
é desumana e cruel com as palavras de consumo
subverte cidades de letras
ocultas nos dicionários de rimas
de infâmia e intrigas universais
invade terras baldias
recicla o luxo o lixo do redizer
cultiva urtigas
apropria indevidamente do lucro do resíduo das fábricas
das usinas nucelares
do que sobra nas mesas das delites
nos corredores das universidades
o poeta é um perigo
comete suicídios cotidianos
atentados contra o pudor
coloca bombas no coração das pessoas de boa vontade
domina submete o sistema de signos
defende a luta a mão armada de versos
não tem Bandeira
somente o Manuel
para salvar o poeta de barro das dores e prazeres
do inferno
das glorias e mesmices do eu
das delícias do céu
declaro
que por estas e outras
cem razões irracionais
o poeta é um perigo
para ele
para a gramática
para a máquina impressora
para a professora de literatura
para a literatura infantil
para seus semelhantes replicantes
para os macacos e elefantes
para o mundo das letras
para todo o que for de terno
e efêmero
o sol
o tempo
o horizonte
para todo o que for belo
e inconstante
é claro
o poeta é um perigo
declara o poeta ao seu umbigo
ao rei
da cocada de toda a cor
ao poema
a outro poeta sem juízo
ao juiz
ao crítico
ao louco
ao lírico
ao povo
a todo ser morto
a todo ser livre
declara o poeta ao vivo
ao seu melhor inimigo

o poeta é um perigo


Que maravilha! bendito seja o poeta e abençoada seja a sua poesia, pois ela a subversiva mor é que sustenta a bendita loucura humana sem a qual todos não serímos nada mais do que um grão de poeira perdido no caos. Um beijo da Maria Lucia

segunda-feira, 11 de dezembro de 2006





um poema
não se ganha no grito
nem maior amor
nem mais bendito
poema é rito
plumagem
mito oculto na linguagem
após o grito de gol
de guerra
após de pedra fundar de sangue e sol
a idade do ouro
do sonho
a ambigüidade da vida

não se vence no grito nenhum abismo
não se abre no grito
os lábios
a porta do poema nenhum labirinto
debaixo do guarda-chuva
o homem não tem rosto
as penas os pés se movem
sobre o paralelepípedo

seria um homem comum
a sombra que se move
debaixo do guarda-chuva

seria algum doutor
ou simplesmente mais um
o vulto que se move
debaixo do guarda-chuva

os sapatos pretos não deixam marcas
de vez em quando os braços
pedaços dr corpo se revelam

pelo ritmo dos passos
o homem tem pressa
de não se ser feliz
de não se chegar a lugar nenhum

um homem sem janelas passa
diante de meu nariz
debaixo do guarda-chuva

domingo, 10 de dezembro de 2006




unar

hoje morreu Augusto Pinochet
anunciam os jornais do mundo inteiro

nenhuma honra
nenhuma lágrima
nenhuma glória
nenhum pesar
nenhum lamento

somente um sorriso de ironia
nos lábios das viúvas
alegria incontida no coração dos órfãos
dos jovens no jardim das ruas
um crispar de onda bravia
nos mares de Isla Negra
a liberdade trêmula de júbilo
nos bairros de Santiago
agita a bandeira da Nação sacrificada

sentença maior e mais justa
vem pelas mãos do tempo
juiz sereno
severo
incorrupto

somente a morte vence a fúria
dos ditadores
a injúria dos Senhores
a infâmia dos dominadores
somente a morte não morre
de ambição e tédio

pouco importa se a história está morta
o importante
é que a esperança e a poesia
sobrevivam às ruínas das civilizações
abaixo e acima da linha do Equador

de Neruda a Drummond
de Gabo a Cabral
de Gabriela a Milton
de Mercês a Glauber
Atahualpa YupanquiVictor Jara
Elis Regina
Geraldo Vandré

hoje morreu no Chile Augusto Pinochet
a América Latina renasce de luz lunar

não queiras o perfume da manhã
o sol em flor no coração da janela
o sol tem seu caminho pronto
o flor tem seu tempo de glória
não queiras o perfume por mais puro
talvez não seja só de flor o seu aroma
nem só de sol o tom de sua pele
ao perfume da manhã tudo se mistura
o som da música o mistério o ruído da plebe

não queiras só para ti o perfume da manhã

sábado, 9 de dezembro de 2006


“É uma coisa admirável olhar um objeto e acha-lo belo, pensar nele, retê-lo, e dizer em seguida: Vou desenha-lo, ( fotografá-lo) e trabalhar então até que ele esteja reproduzido. Cartas de Van Gogh a Théo Fragmento de
Abril de 1882 .

um poema feito pedra de sol
branco
livre de todo encantamento
sem ornato
de pedra
branco
sob o céu claro
mergulho de ave
no deserto
vazio sem nuvens

um ponto cego no espaço
um poema branco para Octávio Paz


primeiro foi a pedra
depois o gesto
o arremesso
o aceno contra o vento
espesso tempo
a tempestade do medo
original por dentro
a fala veio após
a floração dos cipós
a divisão das terras
e das águas
após a multiplicação
dos signos
das letras e imagens
feito fosse pão
o milagre da página
a erosão da paisagem
após a vertigem do espaço
entre linguagem e coisa
entre a noite e as cores
entre o cosmo e o caos
entre a música e a pauta
veio após tudo se perder
de sentido e nome
as frutas podres
seu poder
original embalagem
após o homem se dividir
ao longo da viagem
entre som e pedra
entre sono cego
entre sonho incerto
virtual miragem

primeiro foi a pedra
a linhagem dos pássaros

sexta-feira, 8 de dezembro de 2006


epifalso
aqui jaz o poeta
não foi santo nem herói
nem bandido nem barão
jaz de pedra sob pedra o poeta
como soe ficar a sós
e calcário
ao se ouvir um jazz

após longa vida breve
tanto faz a guerra ou a farsa
a ação entre inimigos
o amigo salafrário
mesmo morto o poeta é um perigo
adverte o prefeito de plantão
o choro surdo dos muros
nada mais lhe fere
nada mais lhe dói

aqui jaz o poeta
sem forma sem futuro


Quarta dimensão.Quatro visões. A imagem fotográfica à semelhança da imagem verbal, na construção poética, submete-se à imaginação e à subjetividade do olhar. Assim a relaidade , dita objetiva,. O mundo dito real desaparece e dá lugar a mundos recriados, recortados , vislumbrados a partir da lente do olhar e da teleobjetiva. Qual é a verdade do mundo?

o que maldita o rumo do poema
o remo no reino de água escura
o ritmo mais leve estrutura
o murmúrio do rio ferve
inimigo rumor a flor da pelve
infimo fio que de sereno se tece
indo e vindo como se tudo breve

rio fosse o sol o que sua pele inverte

sexta-feira, 20 de outubro de 2006

A morte mora entre Arcos e Formiga

Mal acordo. O telefone toca pela primeira vez.São sete horas de uma incerta manhã de sol claro e vivo.O dia anterior foi marcado por nuvens cheias, vento forte e relâmpagos.
Pelos sinais, os cerrados tremeram . As pedreiras da região se estremeceram de tanta chuva. Só as tempestades do humano coração costumam ser mais fortes e ameaçadoras!
Meia dúzia de palavras e a notícia que, quando ruim, corre mais rápido. Assim diz a voz popular. A voz de Deus, quem sabe!
-Você ficou sabendo do acidente que acabou de acontecer ali na curva da morte?
Não respondo. Penso.Pergunto.
-Outra vez?
-Pois,é, mais um.Pelo jeito é mais de um toda a semana.
-Não é possível, retruco, entre cético e assustado.Você se lembra? Há poucos dias um acidente com a Kombi que levava pacientes de Arcos para fazer hemodiálise no Hospital de Formiga, causou a morte de cinco pessoas.
Eh, elas estavam lutando pela vida e morrem de uma hora para outra.
-De uma morte estúpida e desnecessária.
-É mesmo, responde meio desanimada a outra voz. Se as coisas continuarem assim, não poderemos mais viajar de carro.
-Nem de ônibus , nem de avião, nem de navio.Os homens estão invadindo todo o espaço do Planeta.Estão se chocando como astros apagados. Estrelas mortas.
-Feito cachorros doidos, mordendo uns aos outros.
O homem está perdendo a medida. Bebe demais.Corre demais. Xinga demais. E pelo jeito, não dá a mínima para a vida. Brinca com a morte em cada curva, como em um pega de adolescentes. Como uma roleta russa sobre quatro rodas. E nem se importa se sua irresponsabilidade vai causar a dor e a tristeza em outras pessoas.
A conversa foi interrompida pelas necessidades e rumores cotidianos, mas poderia não ter fim, tantos os casos absurdos de acidentes em todos os pontos do planeta. Só ficamos um pouco sensibilizados quando acontecem com pessoas próximas de nós. Com nossos familiares. Com gente que amamos de verdade. Passado o choque, continua-se a correr, a beber e a xingar, pois a vida é urgente. “Sai da frente que atrás vem gente”. E os acidentes de percurso e os atropelamentos de toda a ordem acontecem dentro e fora do mar.No ar. No asfalto. Nas estradas vicinais .Nas encruzilhadas e atalhos da existência.Dentro de casa, nas repartições públicas e privadas. Nos hospitais, nos super-mercados,nas instituições financeiras, nas ruas e Universidades. No trabalho ou, principalmente, nos períodos de lazer. Realmente o homen não sabe conviver com o avanço tecnológico, com as maravilhosas máquinas que ele mesmo inventou. Sobretudo não aprendeu e, pelo jeito não irá aprender tão cedo, a convier e a respeitar os seus semelhantes.
- O asfalto está ruim?
- Não, está ótimo, foi reformado há pouco tempo.
-Seria bom se se fizesse uma campanha de conscientização, de educação e cidadania no trânsito dirigida aos motoristas da região e caminhoneiros - carreteiros ; Uma campanha ampla que contasse com a participação dos órgãos públicos, da polícia estadual, da prefeitura , escolas e da sociedade. Talvez diminuísse um pouco esta mortandade que está pior do que as guerras do outro lado do Atlântico.
-Seria mesmo, mas alguém tem que tomar a iniciativa. Liderar. Caso contrário , nada acontece. Todos assistem às tragédias de braços cruzados, até que num certo dia , de chuva ou de sol, a coisa vira pro seu lado.Aí, “a Inês é , literalmente , morta”.
-Mas de quem é a culpa de tudo isso?
-Sei não, na verdade não há um culpado só.São vários fatores e situações.
- Sei, então, deve ser culpa do governo. Dos patrões que exigem que os seus mororistas trabalhem até 20 horas por dia. Ou á culpa é da ganância e da ignorância do homem. Se não for do governo, deve ser culpa mesmo é do homem. Ou na melhor das hipóteses, culpa de Deus que fez o homem a sua imagem e semelhança , mas se esqueceu de dar Ele um pouquinho que seja de cuidado, de sua infinita perfeição e divindade.
Seja como for, com ou sem culpados diretos e explícitos, penso mesmo que a morte mora mesmo é entre Arcos e Formiga.Ali naquela curva escura e traiçoeira.






















Duas décadas
O “Xou” não pode parar






Se o sistema político brasileiro fosse monárquico, não faltariam reis nem rainhas para ocupar o trono em Brasília. De Pelé a Xuxa, de Roberto Carlos a Airton Sena, do Rei Momo ao rei da cocada preta, passando pelos fenômenos homônimos e opostos, ambos estrelas decandentes:os Ronaldinhos. Antigamente, no meio musical sertanejo,falava-se em Rei do Gado , o Rei do Café. Atualmente, fala-se em rei do tráfico, rei do contrabando, rei da corrupção e , para não ser omisso, Rei dos Peões de Boiadeiros e Rei do Forró. Ai de nós tem dó, ai de nós pobres súditos de reis tão desastrados.
Coicidentemente, um dos Ronaldos também é gaúcho, portanto, conterrâneo da Rainha dos Baixinhos. Se se considerar que a maior parte dos brasileiros é baixinha, - de baixa estrutura física, cultural , intelectual, econômica e social, incluindo o presidente – este deu a volta por cima - e “não sabe de nada”, a loirinha, que de burra não tem nada, poderia ser considerada a rainha-mãe de todos os brasileiros. Pelo menos daqueles mais alienados e felizes, apesar de toda a tragicomédia-nacional.
Para um país de miseráveis – boa parte de fãs incondicionais do Xou da Xuxa é formada por consumidores implacáveis dos mais de 200 produtos Xuxa, todos supérfluos, inclusive a Rainha dos Baixinhos pode ser considerada uma das empresárias brasileiras mais bem sucedidas do meio artístico brasileiro.
Estima-se hoje que sua fortuna ultrapassa a cifra de mais de R$ 250 milhões. Nada é de graça. Até no amor ela foi milionária. Primeiro foi o Rei do Futebol, depois Sena, o Beco. Já com o empresário e ator Luciano Szafir, seu mais recente namorado, depois da fortuna, Xuxa, conquistou seu maior sonho; ser mãe. A filha Sasha. E assim, como em um conto de fadas , a Rainha ri de seu trono de “faz de conta “ e comenta:"Estou fazendo coisas que nunca fiz. Vou ao playground ficar vendo ela brincar. E vou amarradona, acho o melhor programa do mundo". Enquanto isso, os brasileiros divertem-se no grande circo nacional, coberto pelo céu anil e algumas estrelas esparsas. Um imenso circo , com milhões de palhaços, poucos artistas, muitos bandidos, pouquíssima educação, muita violência urbana e rural, muito forró e Hap – o samba está ficando fora de moda? – e , pra variar, pouco pão para a maioria dos sem tudo. Ah!se este país fosse uma monarquia, Os brasileiros não teriam que escolher, entre opções tão insonsas – uma “esquerda” anacrônica ou um neo-liberalismo globalizante porque, no lugar das eleições, haveria uma guerra entre tantos reis e rainhas desastrados para ver quem ocuparia o trono mágico.
Apesar de tudo, na vida real, sem fantasia nem carnaval, nada se compara ao regime democrático, ainda que “meio mambembe” de República Federativa do Brasil. Certamente, os brasileiros que têm hoje, entre cinco até vinte ou trinta anos, não compreendem , perfeitamente o que estou dizendo.Afinal , o “Xou das bruxas” não pode pára!. E os brasileiros, infelizmente, já não se”axustam” - “axustamos”? - com mais nada.Infelizmente!

quinta-feira, 19 de outubro de 2006


faça ou faça
face a face
faca a faca
faz-se a farsa
ordena a mídia
a moda opaca
a via-crucis
a via-sacra
a vida no vazio
grita
a palavra bate
na vidraça
o dentre morde
a mordaça
simultâneo simulacro
a morte por dentro
lacra

a natureza das coisas

terá o homem negado a natureza das coisas
a alma gêmea do seres inanimados
a palavra liberdade

terá rasgado o homem
o código secreto de seu coração
em nome das leis
do dono da rês
da tez do anjo
perdido a chave do abismo
a raiz de todo sentimento
terá negado o seu semelhante
um único sorriso
diante do altar das oferendas
do impacto das rendas
violado o reino das águas
o regime das chuvas
o regimento das ruas
o canto das aves
a sinceridade da pedra
dos bichos
terá negado a si mesmo
o homem
três vezes
antes do sono
do santo ofício do galo
da peregrinação do gajo

o navio foi feito para o mar
não para o naufrágio
não para o porto
o corpo do navegante

o amor foi feito para o amor
não para a morte
não para marcar
de fogo a posse do feitor

maior liberdade é seguir
sem resistir
o percurso da vida
sem mirar o porvir
sem ao mapa de origem se prender
perder-se de amor

maior liberdade é viver a natureza das coisas

quinta-feira, 5 de outubro de 2006


não guardo rebanhos
nem estrelas
signo meu caminho de letras
em branco
sem vê-las
às vezes me perco
na pastagem urbana
na paisagem desumana
uivam lobos e ovelhas
sigo sombras fugidias
redemoinhos sem fronteiras

terça-feira, 26 de setembro de 2006












cronema

tempo mu(n)do se conquista
exata espera
um dia um ano ensinam muito
muito se muda
de flores e vento a primavera

segunda-feira, 25 de setembro de 2006


calo
de pedra como de fato urge
a palavra pedra no útero da urbe nasce
em arcos de trunfos e tristezas
reverbera a máquina muge
como de dentro do túmuloo dente se arrebenta
quando o eco do vento ecoa
no ventre da fera ferve de cal virgema ferrugem das ruas
das rugas
quando a palavra calcária fere de pronto
a fronte branca do dragão sem cérebro
quando de raiva o gigante imberbe apita
bebe baba grita cava oscila
contra o nada
vocifera


Política não é isso mesmo
Tempo de refletir e mudar
.

Quem se der ao trabalho de consultar o dicionário, um tratado de filosofia ou qualquer obra do gênero verá, com surpresa, que política não tem nada a ver com o que se fala e se pratica hoje em dia no Brasil. Lá se foi o tempo dos grandes estadistas, das pessoas cultas e éticas, de um certo tipo humano - em via de extinção - que se destacava, ganhava prestígio e conquistava respeito pela coerência e labor com que se dedicava à causa pública. Sempre foram raros, é verdade, mas distinguiam-se .Faziam a diferença. Suas ações, norteadas pelo compromisso e pela sabedoria política, exerciam influência e transformavam positivamente o perfil do país. Suas vozes ecoavam e eram ouvidas nos longes com a mesma veemência e força dos que lhe estavam próximos.
E , agora, que as eleições estão cada vez mais próximas, sentimos falta destes senhores e senhoras respeitáveis e honrados, candidatos merecedores , de fato, da confiança e da preferência dos eleitores. Nem pára-quedistas, nem oportunistas, nem carreiristas, mas políticos coerentes e conseqüentes. Onde estão eles? Em quem votar? Para que votar? Só para ficar em dia com um lei anti-democrática, que transforma o sufrágio universal, a liberdade de escolha, em voto obrigatório. Seguirá o eleitor o que dizem as pesquisas? Ou ainda há tempo para reverter esta triste e crua e triste realidade política brasileira.
Tenho por mim, que a voz do povo, nem sempre, é a voz de Deus. Penso mesmo que, existindo Deus, ele não perderá uma mínima parcela de sua santa e infinita sabedoria e eternidade, metendo a mão nesta cumbuca de falcatruas , negociatas, de cinismo e de corrupção que se tornou a vida nacional.E o pior, com o aval de significativa parcela de artistas, acadêmicos e intelectuais, até então, considerados a antena da raça, a reserva moral e a voz da consciência sócio-política e cultural. Quem não se lembra das grandes mobilizações e manifestos de peso encabeçados por ele. Arriscaria a repetir o que já disse há alguns anos: o advento do neo-liberalismo, do marketing cultural e das leis de incentivo - tudo gato do mesmo saco - prostituiu e desintegrou a classe artística em nome de um falso profissionalismo. A arte de arte virou mercadoria e o artista um empresário de meia tigela. E entre a obra de arte e o público, floresce a grotesca figura do agente cultural, uma espécie híbrida de atravessador e de gigolô da criatividade alheia. Assim é o mercado, Deus me livre!
Já os resultados das recentes pesquisas eleitorais dão margem a outras interpretações, além de revelar a vantagem do candidato a reeleição à presidência na intenção de voto do eleitorado brasileiro. Seria correto, por exemplo, afirmar, a partir destas pesquisas, apesar das técnicas de amostragem e das margens de erros, metodologicamente previstas, que as próximas eleições seriam definidas pela massa de miseráveis que habita as periferias, as favelas, as palafitas, guetos e viadutos que assustam o país. Seria o voto a arma mais eficiente dessa ampla camada da população brasileira para concretizar uma vingança historicamente engendrada? Mais forte que a violência dos assaltos à mão armada, dos seqüestros. Do roubo sistemático de carros, da máfia de políticos e do crime organizado? Seria vingança ou justiça social contra a mínima elite entrincheirada nos grandes conglomerados industrias e financeiros, nos condomínios de luxo e carros blindados? Qual será o peso da chamada “classe média” nestas eleições? Nulo, alienado ou vendido, como sempre pelo preço vil, as migalhas que sobram da mesa elegante e farta dos poderosos? E saber que esta “misere” foi gerada ao longo de várias décadas por uma elite renitente, conservadora, arrogante e gananciosa.
Alguém poderia argumentar, e com razão, que os resultados das pesquisas também podem ser fruto da ignorância e da necessidade de milhões de brasileiros à margem do processo produtivo e do consumo de bens matérias e culturais. Pode até ser, já que o analfabetismo e a ignorância são produtos da mesma política autoritária, populista e manipuladora. Seja qual for o argumento, o certo que esta é a realidade mais triste de um país sem perspectiva e sem esperança. Mas os resultados dizem também que nem sempre a maioria tem razão. Haja vista o que aconteceu nos regimes facistas e nazistas. A experiência tem mostrado que o regime democrático só pode ser saudável, quando se desenvolve no mesmo terreno e no mesmo ritmo em que florescem a justiça social, a educação e a cultura.
Foi este quadro deprimente de crise ética, política, educacional e cultural, que levou o Senador pelo estado do Amazonas, Jefferson Peres – não confunda alhos com bugalhos, isto é, com o outro Jéferson, o Roberto que, nem mesmo gostaria de citar aqui – a fazer um pronunciamento trágico e contundente. em 30.08.2006 no plenário do Senado Nacional. No seu pronunciamento, o Senador revela toda a sua angústia desilusão com a classe dirigente, sua decepção com boa parte dos artistas e intelectuais.Anuncia, ainda e anuncia sua despedida da vida pública e promete continuar sua luta, como cidadão, em outras trincheiras como a imprensa.
Assim se expressa o nobre Senador “ a crise ética não é só da classe política, não. Parece que ela atinge grande parte da sociedade brasileira. Ele vai voltar porque o povo quer que ele volte. Democracia é isso. Curvo-me à vontade popular, masinconformado. Esta será uma das eleições mais decepcionantes da minhavida. É a declaração pública, solene, histórica do povo brasileiro deque desvios éticos por parte de governantes não têm mais importância.Isso vem até da classe dos intelectuais, dos artistas. Que episódiodeplorável aquele que aconteceu no Rio de Janeiro semana passada! Artistas, numa manifestação de solidariedade ao Presidente, com declarações cínicas, desavergonhadas! Um compositor dizer que "política é isso mesmo, fez o que deveria fazer", o outro dizer que "política é meter a mão na 'm...'"! Um artista, em qualquer país do mundo, é aconsciência crítica de uma nação. Aqui é essa, é isso que é a classe artística brasileira, pelo menos uma grande parte dela, é o povo conivente com isso”.É lamentável que políticos conscientes não suportem as pressões e abandonem seus postos dando lugar cada vez mais a pessoas despreparadas política, ética e culturalmente, dispostos a negociar com toda o tipo de bandidos, aproveitadores e delinqüentes de toda a toda a laia, salvo, é claro, às raríssimas exceções.
Há quem diga que a ignorância é cega, surda e muda. O pior é quando um país faz do estado da ignorância uma forma de ser para beneficiar os mais espertos e sem escrúpulos. Em países assim, como este momento lamentável por que passa o Brasil, não há lugar para a primavera, nem para a esperança.Neles florescem a omisao de quem vê, o silêncio de quem ouve, a conivênia que quem fala. No lugar da alegria e da vida prevalecem a trágica arrogância dos poderosos e dos cínicos. A palavra justa perde seu lastro concreto e o sufrágio universal, sua áurea de democracia e liberdade.
Pelo sim e pelo não, política mesmo é dimensão mais séria e sagrada da expressão da vontade e do desejo humanos.

sábado, 23 de setembro de 2006



não sou anjo
nem azul

sou de carne e osso
torto por convicção

pasto sem pluma
sem métrica

vôo sem rumo
não levo nada no dorso

sou américa do sul



retórica

política é isso mesmo

política não é isso
mesmo

política não
é isso mesmo

política não é isso

nem toucinho
nem torresmo

meio texto
meio termo

meio livre
meio preso

meio liso
meio crespo

meio lince
meio leso

meio triste
meio ermo

política é risco
não é riso a esmo

política não é isso mesmo

sexta-feira, 22 de setembro de 2006


não apresses tua primavera
o setembro ensolarado
no calendário virtual
espera cada flor se abrir
no tempo exato
como o corpo desabrocha
em tímidos avisos
em noites e manhas desinteressadas
não apresses teus passos
para o amor
para o jardim que te espera

a primavera é paisagem

necessariamente secreta

terça-feira, 12 de setembro de 2006


Vestígios do fogo x

Vestígios do fogo Ix

Vestígios do fogo VIII



Vestígios do fogo VII


Vestígios do fogo VI

Vestígios do fogo V

Vestígios do fogo IV

Vestígios do fogo III

Vestígios do fogo II

Vestígios do fogo

Exposição Fotografia II

Paradoxos contemporâneos
Ainda é possível ser feliz.

O homem vive, atualmente, estranho paradoxo. Depois de romper as fronteiras das ciências e das tecnologias, debate-se em uma crise de identidade e ética sem similar na história. Nem mesmo o período do pós-guerra, anos 50 e 60, foi tão enervante e cruel como o que se vivencia neste momento. Se naquela época predominava a descrença com relação às instituições e à generosidade do homem, havia , por outro lado, uma boa dose de consciência social, de rebeldia, de luta ideológica e de contestação política e moral. Angustiados, tristes ou rebeldes , cada grupo lutava para superar as limitações e propunha alternativas, modos de vida diferentes, posturas marcantes e e combativas diante das atrocidades da guerra, do imperialismo e das injustiças sociais. Acreditava, ainda, no poder de mobilização, organização e transformação social. Este sentimento e esta certeza geravam novas formas de relacionamento e de solidariedade afirmativos e saudáveis. Sentia-se que o homem, ser social por essência, estava vivo e palpitante. Pensava-se.Sonhava-se. O conforto era menor e menos as bugigangas chinesas contrabandeadas via Paraguai. Não havia, ainda, a Internt, nem a LER nem a Aids. Drogas, só para grupos privilegiados, mesmo assim mais leves e com nítida conotação de protesto e posturas alternativas. “Quem não tem colírio, usa óculos escuros”, cantava o Raulzito.
Certamente, não havia shopping-centers, sexo virtual, super-mercados. Os anti-depressivos eram raros e cuidadosamente medicados nos casos estritamente necessários.Não distribuídos a granel, “até para galinhas”, como panacéia para todos os males. Agrotóxicos, poluição, mensalão, máfia das combes, seqüestros, tudo era motivo de escândalo e repulsa por parte da sociedade. Máfia e crime organizado , só nos filmes americanos. Havia poucas universidades, mas se preocupava muito com a formação humana e ética, além da formação técnico-profissional. Havia pouca rede de esgoto nas cidades e menos favelas. Era o tempo do “topa-tudo” e da conga. Tênis e carros importados, nem pensar. A água não era tratada e ainda se tomavam lombrigueiros. Respeitavam-se os pais, os professores, o padre e demais autoridades. Amigo era mesmo coisa para se guardar no lado esquerdo do peito. A amizade e o amor eram nobres sentimentos.Poucas coisas eram descartáveis. Colecinavam-se marcas de cigarros, selos e LPs, aqueles discos grandes com fotos bem feitas e textos bem escritos, produzidos com gosto, arte e cultura. Havia poucas opções de lazer, de consumo, de entretenimento, mas todos acreditavam, desejavam e buscavam a felicidade, motivo maior da vida e da existência humana. Não o consumo pelo consumo. Não o objeto pelo objeto.O luxo pelo luxo, a luxúria. A reconfiguração sem limite do prazer e da competição desenfreada.
Em (torça) multiplicam-se as doenças, as drogas, as inimizades entre homens e países, as guerras, os acidentes automobilísticos. A morte e vida se igualam em vulgaridade e banalização.
Afogado nas maravilhas e facilidades do conforto contemporâneo o homem quer viver tudo, a qualquer preço, a qualquer custo.

Configurações cada vez mais arrojadas. Acrítico, soterrado de informações, mas sem conhecimento e sabedoria, o homem contemporâneo mergulha”de ponta cabeça” no consumismo e no individualismo, de matriz neo-liberal. Segue obediente , cego e mudo os ditames e insinuações da mídia cada vez menos comprometida com os valores e o bem estar da sociedade e cada vez mais concentrada, em nível mundial, nas mãos de poucas pessoas.
Tudo isso acontece com o meu, o seu, o nosso consentimento explícito ou tácito, seja por comodismo, por modismo ou por mera comunhão de estilos, de pensamento e de interesses.
Daí, o grande paradoxo contemporâneo.. O homem-comsumismo, o homem máquina de produzir e destruir sabe o que é felicidade. Saberá o homem contemporâneo que, por um longo período da história ocidental, a felicidade era colocada com o fim ultimo do humanidade, um fim a que todo homem em particular desejava atingir? E o que é ser feliz, mesmo sabendo-se limitado e provisório? Será correr a mais de duzentos por hora e morrer na primeira curva do asfalto, maquiado para o funeral, pintado de escuro. E como diz a canção popular de um certo e talvez já esquecido Sidnei Miler, “se você tem pressa que arranje um carro” Compre depressa tudo o que puder, música brega, tv de plasma, um bazar barato, tudo isso, “Pois é, pra quê?
Sem falso moralismo ou chateação , quero lhe perguntar, caro leitor, cara-a-cara, olhos nos olhos: será que, em meio a tantos paradoxos e contradições o homem contemporâneo anda poderá viver feliz?

sábado, 9 de setembro de 2006


nunca fui romântico

na fase adulta
por descrença

em nenhum momento
por conveniência

na adolescência
nunca bebi
em sonho
o oceano Atlântico

sou anti-romântico de nascença

sexta-feira, 8 de setembro de 2006


aqui o mar é de pedra
de pedra branca
no horizonte fluvial
de pedra sabão
sob os pés lacustres

mar-amor
é confidência
pura imaginação
soe de verde acontecer
em mar de enigmas
são os mares de Cabral
canavial sem fim
as embarcações de Maria Helena Andrés
a fora isso
o mar de Minas é triste névoa
constelação de montanhas
liberdade tardia
furacão de asas
boiada arribada
chifres e ancas
cascos cintilantes
no cascalho da Estrada Real

anjos de Guingnard
entre nuvens ondeantes
vendaval de sinos e torres
memória
traição
paisagem secreta

há quem diga
não exista mar em Minas
nem mesmo Minas existiria
sentencia de Minas o Poeta

quarta-feira, 30 de agosto de 2006



não o homem
o seu santo nome em vão
a palavra
o alfabeto inscrito em sombras
sobre os ombros do universo

terça-feira, 29 de agosto de 2006


raro é o pássaro a escritura corporal
mais ágil e firme o lápis que rabisca
ara por instinto a carne o terreno baldio
de corte vertical a síntese a cintura
o veludo a vista por fora da moldura fisga
o dedo os olhos da enguia insiste na procura
busca no escuro os lábios a volúpia
livre labirinto de espumas
o mar mais fundo se agita e geme
e todo se estica e treme
por dentro o peixe o orbe atemporal momento
no ponto exato da ogiva explode chama
quando em ondas e urros a urbe iluminada
de macio silencio se inunda após o vento
tempestade de sossego abriga

segunda-feira, 28 de agosto de 2006

em si sendo efígie
a poesia me escapa
me provoca
me chama para a briga

e reina e ruge
e fere e fulge
me pega a tapas
não se rende à rede

e após a luta
da palavra esgrima
a poesia se declara
avessa à rima
cavalga a sede

flor e cactos
a poesia nua
continua viva
no fulgor do enigma

liberdade

liberdade nasce de parede branca
de grade azul
no cosmos
da pele do peso do corpo
inábil para o salto
a liberdade se faz de lua cheia
de luz reclusa
nenhuma constelação jamais se apaga
após chuvas de silêncio
ao norte não há chaves
nem portas
a palavra liberdade
não se abre aos socos
morte maior liberdade se conquista
namorada absoluta só por amor desaba

domingo, 27 de agosto de 2006



a Itabira do poeta
resiste ao tempo eterno da poesia
o casarão de janelas azuis
revela o dia
entre a névoa e a lembrança
entre a prece e a hipocrisia
tudo que poderia ter sido
e que foi
ao findar do inverno
a passo lento
de boi-tempo
a lerdeza mineira
o falso encantamento da tristeza
o lirismo mórbido da burguesia
a mulher de sombrinha preta
de vestido longo
com ares de princesa
a fumaça escura do trem-de-ferro
rumo a Vitória
pela graça do Espírito Santo
o minério que não há mais
as minas que nunca houve
suas guerras gerais
as brigas em família
aa falência
as arengas
os avais
suas abstinências
dominicais
o sacro-ofício da poesia
a ingerência do padre
a Itabira do Poeta
há vinte anos
jamais
resiste ao tempo efêmero da travessia
a avenida de tráfego ofegante
o elefante de quatro asas
a mitologia das letras
o colégio das freiras
as colegiais de pernas roliças
o Pico do Cauê de corpo desfigurado
a paisagem lavrada de Itabira
migra para o Rio de Janeiro
vive em um copo de louça
sobre a mesa do poeta
a moça de olhos de pássaro
da pele da cor de doce de leite
a poesia no pretérito perfeito
a desordem gauche
das coisas absurdas
abstratas
das flores roxas à beira da estrada
o absoluto abismo de MInas
Itabira
não é mais um retrato na parede
é sede e cinismo
surda obediência à tirania do tempo
sua matéria-prima
bruma de poeira e vento
friagem na espinha
vertigem no ventre
de quem por onde Drummond
se descaminha
inseto raro
cava escava escavaca
sua sofre
escorre sobre si
em sete faces se desdobra
leito sem rio
verso onipresente
voz sem rima
vida sem graça
urbe urgente
liga de ferro e aço
véu de nuvens
paisagem transparente
passo a passo vaga em permanente ausência