terça-feira, 31 de março de 2009


? poesia
não serve para nada
se servisse
nada seria
poesia não é serva
poesia não serve!


renuncias
à literatura sem vida
à ditadura da gramática
à liturgia das rimas
ao ritual das mímicas
ao vil metal
aos sete sacramentos
da palavra submissa
renuncias a satanás
ao demônio da crítica
em nome da paz
entre homens e mulheres
de todas as pátrias
entre os poetas sem escolas
de todas as vontades
renuncias à história da infâmia
em nome de Orfeu
ao céu do Olimpo
ao dicionário de empáfias
a terra é pequena e concreta
renuncias á calmaria dos eventos
à feira dos sentimentos
em nome do Cão de Ulisses
renuncias ao carnaval do espírito
de todos os deuses
a todo o ornamento
a terra e um grande deserto
renuncias à gula
ao orgulho
à agulha que lhe costura a alma
em nome da água escassa
da águia de sete cabeças
aos sete pecados do capital
renuncias a ti
poeta
em nome da poesia


entrego-me a Vênus
ao vento cósmico
misterioso movimento
tudo ignoro
intriga-me de repente a cerca
“Penso logo, existo”
insisto em pensamento
lógico
impreciso e lento
o mundo se desaba
à minha frente
pego o mapa com as mãos
restauro pelo sentimento
o poema incontinente nuvem
profundo embaçamento
abro a cortina da linguagem
tiro a ferrugem do tempo
de nada sou distinto
concreto inútil fragmento
me foge ao tato a pedra
ao paladar por dentro
procuro meu escuro invento
cego raciocínio me provoca
pela poesia escavo a vida
todo o dia pelo menos tento

sábado, 28 de março de 2009


sob suspeita
o poeta escreve
a meia noite
a meia luz
ignora a lei do silêncio
a liturgia da lei
o movimento da rua
o regime do tempo
a cidade cega
adormecida sob a lua rubra
escreve com palavras dúbias
escapa aos olhos
do grande irmão
do guarda noturno
do governo diuturno
ao controle de qualidade
das leis do lucro
das rendas da escritura
das regras do grupo
do sermão das manhãs

escreve escava a gruta
escuta o som da palavra acesa
escapa pelo ferrolho da literatura

quinta-feira, 26 de março de 2009


exercício poético

Cruzeiro x Atlético
a torcida faz guerra no estádio
nada de novo
no campeonato mineiro
no balé dos gladiadores
nada muda
o estado das coisas
as cores das bandeiras
a bola continua redonda
no final de mais um domingo
radioativo
tristíssimo
poesia não é jogo
é luta corporal
prazer físico exercício poético

quarta-feira, 25 de março de 2009


Mimas submissa
mística alegoria
se ourifica em brumas
etérea substância
em linhas gerais
se esvai
entre montanhas
castiçais
ntre muros escravos
comensais
entre luas de neon
e salários mensais
liberdade em silêncio
nos horários de expediente
só nos obedientes comerciais

a luta insone
os sonhos
os sinos da realidade
os inconvenientes sinais
da poesia inconfidente
esses não
não se tocam mais