sábado, 13 de novembro de 2010


cada um de nós
somos o mundo
cada um com sua voz
cada um em cada túmulo
a sós

não te iludas
não te entristeteças por teres poucos amigos
não os conte pelos dedos das mãos
pelas noites passadas juntos no bar da esquina
nem pela mesa farta que oferece aos pássaros
nem pelos livros e discos trocados
amigos chegam sem fazer alarde
sem sinais visíveis
compreendem pelo silêncio
pelo calor da amizade
que mãos e olhos
podem mentir sinceramente
podem ler e assinar tua sentença de morte
nem sempre um beijo na face
um aperto de mão
quer dizer conte comigo
deixa que teu coraçao desinteressado celebre
na dor e no prazer
o bom vinho da amizade

não te iludas meu amigo

sexta-feira, 12 de novembro de 2010


Tens espírito de borboleta
Em nada pousas definitivamente
Nenhuma flor
Por mais exótica ou colorida
Sacia teu apetite andarilho
Não te embriaga o perfume
Mais essencial

Tens espírito de borboleta
Mil asas os pés de teus desejos

enganas a ti a aos outros
quando proclamas a eternidade do amor
quando ao bem amado prometes
céus e terra
a quitessência da felicidade
quando ignoras que aos homens
somente é dado amar
de modo humano e provisório
quando te inquietas por esta
ou aquela abstrata forma de amar

melhor seria se amasses a liberdade
sem amor e sem esperança
apartado de tudo o que não seja silêncio
posto que o amor é leve e chama
e leva com ele tudo
tudo o que por amor reclama

quarta-feira, 10 de novembro de 2010



és somente o que és
sem arrependimentos
nãos suspires
pelo que não foste
pelo que serás

sê tudo que puderes
no fluir de tua existência
e serás tudo
passado e porvir
em teu eterno presente

Nada mais fizeste
Que demarcar o Terra
Que dividir a Pátria
Não vês quanta ignomínia
Alimenta os teus gestos
E tudo prra em nada resultar
Além da posse e da perda
Náo te prendas ao fio invisivel das cisas
Quanto menos tiveres mais verás
E mais longe andarás por tuas próprias pernas
Sê livre e gozarás a beleza de todo o unvierso


O que na vida se desfaz
No correr das horas
Ao sopro da aragem
Não exige tanto afago
Não mercê tanto sofrimento

terça-feira, 9 de novembro de 2010


um poema quando guarda
em suas salas
um dentro de outro infinito
livro de cristal
todas as letras e suas possíveis
constelações

um poema quando guarda
em noite tropical
a mágica música do universo
nele se multiplica o alfabeto
em memória e esquecimento
um poema úmido de sonhos
no qual todos os poetas se iluminam

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Joao Es un inmenso placer descubrir su sentir. Recibir sus letras, es penetrar pasión en nombre del amor Siempre su amiga Noris Roberts Caracas_ Venezuela http://web.me.com/norisroberts2 http://www.norisroberts.com
Por Noris em sem a rosa da palavra sem a música da linguagem ... em 03/11/10

quarta-feira, 3 de novembro de 2010


nenhum tratado
traduz o sentido
do amor perdido
do amor desejado

nenhum amante
traduz a magia
do verbo encarnado
na poesia

sem a rosa da palavra
sem a música da linguagem
sem o som da chuva na paisagem
sem o vento
que no escuro se traduz
o rio não cantaria
não mataria a sede da terra
não haveria o mistério da poesia
o homem não seria homem
vagaria pelo mundo etéreo
sem horizonte
sem sentimento nem sentido
atiro uma pétala de rosas
no abismo
no Grand Canyon
e nada espero
quem
senão outro poeta
ouvirá o eco
áspero de minha voz

terça-feira, 2 de novembro de 2010


o que revela a árvore na montanha
na manhã de chuva
senão que o coração do homem
está úmido de tristeza
e pouco pode fazer
para diminuir a distância
entre as coisas
emtre o homem e ele mesmo
há um abismo

o que além do silêncio
me faz ouvir os pássaros
na copa da árvore no alto da montanha
seria pássaro sua voz
pedra surda a solidão

segunda-feira, 1 de novembro de 2010


olhas a pedra e nada vês
teu olhar pousa de pássaro cego
a superfície sem mapa
nada decifras da aurora das leis
da matéria bruta
do avesso das nuvens
do que sobre a pedra absoluta
paira a espera a efígie

entre céu e terra vaga
teu olhar vazio tudo devora

domingo, 31 de outubro de 2010


nada se move
na superfície de água
nem folha seca
nem peixe
no esquife do vento
nada balança o barco
só o sol sem sono no fundo do poço
arabrilhaodiamenteaceso


uma nada mais que pedra
quando se choca ao acaso
com a água e o vento
se quebra no abismo
cai
nada mais que pétala pedra
o que da rosa se abre em partes
rosa e pedra
lado a lado
no jardim pela arte se completam

sexta-feira, 29 de outubro de 2010


a memória da água sua sonoridade líquida
a música do vento em sua face implícita
o que se ouve no percurso na pedra
a se modela a seu tempo por fora do corpo
do que por dentro e mais profundo campo
se discorre em filetes de água
o discurso de rio oculto no escuro
no fio da manhã em frutos se perfuma
o barulho da água na pedra se desenha
mina de suspiros emrge de seus músculos assimétricos
o fluxo perpétuo imemorial murmúrio em círculos entre sol e chuva se repete

a memória da água persiste em pêndulos
de soluços
no que no ventre primitivo da escrita em sulcos se esculpe

a memória da água sua sonoridade líquida
a música do vento em sua face implícita
o que se ouve no percurso
do tempo por fora do corpo
o que por dentro e mais profundo campo
se discorre em filetes de água
discurso de rio oculto no escuro
no fruto no fio da manhã
o barulho da água na pedra se desenha
mina de seus músculos assimétricos
fluxo perpétuo imemorial murmúrio em círculos

a memória da água persiste
no que no ventre primitivo da escrita se esculpe

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Entre forma e fome
Entre linha e cor
Entre massa e pão
Entre vento e pássaro
entre dardo e dor
entre ar e alçapão

no pouso do canto
a vida não termina
no bico da asa
a liberdade predomina

terça-feira, 26 de outubro de 2010


não falo de algo
quando falo de fato
a fala é lago
que tudo afaga
entre água e céu
entre fel e mágoa
é crista e galo
e canto calmo
recanto da alma
no canto da boca
outro pássaro pousa
quando falo de algo
raaramente falho
se a fala não mente
escapo
a semente ecoa
no galho da árvore
a ave espera o vôo

segunda-feira, 25 de outubro de 2010


mão me procures nas palavras
belas e corajosas
ditas sob céu estrelado
não me procures na sonoridade
proverbial do meio dia
na verdade não me escondo
no que digo
nem me mostro por inteiro
no escombro das letras
mal emparelhadas
se é que estou
fico feito peixe abissal
folha seca
restos de raízes
nos intermitentes intervalos
do desdizer
deslizo mais que a enguia
sob a pedra
sorvo cada instante a pequena bolha
respiro de silêncio em silêncio
o mágico veneno do sentido
a vida foge quando
em meu nome
nomeio o sem mistério
das coisas obesas
não me procures nas palavras
ociosas

não me procures e me encontrarás

sábado, 23 de outubro de 2010


um poema se faz
na escritura do corpo
no limite do poema
nem mais nem menos
no limo da língua
no cemitério da boca
o poema se inicia
sob a pele do logro
objeto ao fogo
nada nele se perde
tudo em poema se tranforma
nada reto nada torto
nada além de seu contorno
o poema todo em cada parte
se revela entre preso e solto
artefato e rosto

sem ti
reina a desordem
do vocabulário cósmico
nada canta ou voa
tudo em pedra se traveste
de lodo e musgo
o sol cego
se erige na parede dos olhos
sem ti reina a desordem
no coração das coisas

sexta-feira, 22 de outubro de 2010


o objeto por si só
opaco e mudo
pássaro quieto
rio surdo
o objeto por si só
lua geométrica
caixa hermética
sonar sem rumo
anti-verbal
túmulo desnudo
o objeto por si só
compacto objeto
sobretudo

quarta-feira, 20 de outubro de 2010


Nem miragem
Nem vertigem
Escrever é dever de ofício
Viver na voragem
Da viagem e do vicio

sabiás
o sabiá brasileiro
não canta mais na palmeira
nem na laranjeira em flor
ouvi um sabiá eletrônico
tagarelando em um português estropiado
em um inglês macarrônico
sobre a dor humana
e o “desfuturo” do planeta
ouvi outro sabiá
ventríloquo e altaneiro
imitando um astro de TV
e mais outro “breganeiro”
desafinado e rouco
gritando feito louco ao vento
uma sinfonia urbana
entre antenas enferrujadas
flores de cimento
e telhas de amianto
bem em cima de meu apartamento

segunda-feira, 18 de outubro de 2010





Minas e suas bandas
De música
Minas e suas bandeiras
De rusgas
Minas e suas bandalheiras
ocultas
suas partituras e ruas
Minas suas veias e músculos
Minas e suas meninas líricas
e únicas.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010


Noite Latina

trinta e três mineiros chilenos
emergem do centro da terra
como se de parto originário
brotassem as árvores e as pedras
os anjos e os bichos de todas as espécies
as cidades e suas maquinarias de tédio
as estrelas todas que povoam o universo

permaneceram no coração
do deserto de Atacama
durante muitas luas e muitos sóis
astros invisíveis aos olhos imemoriais

renascem por milagre ou sorte
por sortilégios da tecnologia
da poesia e da música
da arte de viver
como se de vento solitário fossem
a sua carne e o seu pensamento
e cavalgassem sobre si mesmos
com a leveza do tempo prisioneiro

entre Deus e o Diabo
os trinta e três heróis
operário de um tempo mineral
surgem de longa e solidária espera
da inexplicável fé no amor
confiaram no acaso
na eficiência da técnica
no sempre incompleto
conhecimento humano

só eles sabem o que sentiram
em suas fabulações oníricas
entre as paredes das noites
sem estrelas

o desejo de viver adiou a morte onipotente
o fantasma da solidão
no túmulo provisório

o mundo inteiro assiste ao vivo
em tempo real o resgate inédito
a versão da mídia

uma a um chega à superfície da terra
no útero da cápsula de metal
pisam a terra firme
recebem o carinho familiar
o beijo de Judas
atento e inoportuno
promete maiores alívios
deixa marcas evidentes

todos querem participar da trágica aventura
da bem sucedida empresa

por um momento os deuses pedem trégua
o universo pára de respirar
o canto de Pablo Neruda se eleva além dos Andes

a bandeira chilena ostenta o orgulho
latino- americano

“estamos bem no refugio os trinta e três”


o mundo continua sua acelerada trajetória de enganos
preso às fantasias de uma guerra surda e sem memória

sexta-feira, 8 de outubro de 2010



Pote: poesia e música de viola


1) Como surgiu a idéia de fazer este CD em parceria?


João Evangelista:

“Na realidade esse CD surgiu aos poucos. Eu já era parceiro do Pereira da Viola, há cerca de 20 anos. Em 1993, ele fez seu primeiro disco, no qual está registrado nosso primeiro trabalho de parceria, a música “Veio Caipira”. Eu conheço o Wilson há menos tempo nestas andanças pelo interior de Minas.Trabalhamos juntos , como jurados, no Festivale, na cidade de Bocaiuva, porém, só começamos compor em parceria a partir de um relacionamento mais próximo que se iniciou há cerca de três anos. Neste período já construímos um bom repertório, tanto pela qualidade , tanto pela quantidade. Uma delas foi Brasil Festeiro que está no Cd Vivaviola e também no repertório do CD Pote.. A parceria entre os três foi crescendo e numa conversa surgiu a idéia de se fazer um disco só com letras minhas. A coisa foi tomando rumo e pintou a música Sagarana Ana, depois Brasil Festeiro, Mulher de Argila e Sem Desatino. São músicas muito fortes e, ao mesmo tempo, têm conteúdo lírico, num universo bem de sertão, no sentido mais autêntico da palavra. A idéia da parceria veio dos dois. Eles queriam um CD que valorizasse a letra, o poema e a poesia. E, aos poucos, chegamos no “Pote” que é esse conjunto de quatorze músicas que mostram o sertão real, sertão ficcional e o sertão de cada pessoa. Eu considero este CD mais que um belo presente, uma surpresa”.

Pereira da Viola:

“Foi a energia do nosso encontro, porque até então a gente já vinha trocando idéias. Toda vez que encontrava com Wilson, a gente mostrava uma coisa que fez com o João. “Mas que negócio bonito, que coisa forte! Cumé que João consegue escrever umas coisa dessas”. Nesse ambiente várias vezes a gente se encontrou e o que rolava era música feita em parceria com o João. A energia forte, a afinidade maior parecia que estava nos três. Então o João começou a mandar poesia para gente colocar música. Tinha semana que saía duas, três, quatro. Chegou uma hora que eu falei: compadre Wilson vamos fazer um disco só de parceria com João?

João Evangelista:

Eu fiquei um longo período, - de 200 a 2007, em Arcos e, antes de voltar para Belo Horizonte, escrevendo muito, esboçando letras. Quando eu cheguei aqui eu comecei a revisar, separar as que eu achava que tinham potencial melódico e a deletar as idéias frustradas.Aí comecei a bombardear os dois ) Pereira da Viola e Wilson Dias - com letras, parecia que eu estava produzindo em massa, só que tinha muita coisa já escrita. No meio disso tudo tinha coisa nova também que ia pintando do relacionamento do dia a dia, dos questionamentos nossos. Nós temos temperamentos fortes, posicionamento político muito definido e os valores também em afinidade. Então são três pessoas que quando se reúnem sai faísca até na flor d’água. Não escrevemos porque queremos fazer música. – “Quando eu laço o boi eu cango, bato firme e não esfrego”, ou seja, a idéia da gente é de bater firme mesmo, escrever pra valer e tocar as pessoas pra valer. O resultado são letras fortes que revelam nossa identidade pessoal e coletiva.

Wilson Dias:

Eu ficava olhando os dois _ Pereira e João - um pouco de longe, observando, como naqueles namoro de antigamente. Quando nós nos encontramos a primeira vez mais intimamente, eu fui conhecendo as faces dos dois e percebi que ali não havia apenas três pessoas pensando em um projeto de fazer música, existiam três pessoas preocupadas em construir alguma coisa que tivesse realmente sentido e que retratasse realmente a nossa união e o nosso desejo de caminharmos juntos. Foi um processo tão natural que fica quase impossível definir como é que isso começou. Talvez isso tenha começado até muito antes do que a gente imagina, num outro plano, talvez até uma relação um pouco mais sagrada, talvez esse nosso encontro já tivesse sido determinado de alguma forma, é a única explicação que eu encontro. Porque o Pote? Talvez ai esteja essa explicação. É uma das coisas mais antigas da humanidade, é o barro de onde nós viemos.


2) Como foi o processo de criação deste CD?

João Evamgelista:

A “inspiração”.as informações, vêem das minhas origens. A minha identidade com o congado, com a religiosidade popular, com os rituais afro, que tive a oportunidade de vivenciar no Oeste de Minas. São sons e imagens colhidos de memória , da minha infância. Agora, o Pereira é do Vale do Jequitinhonha, Wilson do Vale do Mucuri e eu do Vale do São Francisco. São três vales e três energias. Minhas verdades estão lá. Meu primeiro presente foi uma enxada jacaré, quando eu tinha de cerca de 10 anos. Então nós temos essa experiência rural, os valores, uma identidade e uma visão política muito parecidas.

Wilson Dias:

A gente se encontra mesmo é quando olha para o passado e volta às origens. Essa coisa de encontrar e de dar um abraço é um “negócio” muito forte. Na verdade, são imagens desse passado, por isso este CD é um trabalho um pouco cinematográfico. Eu fico impressionado que tudo que nós colocamos nesse disco são palavras que, apesar da gente não ter convivido na infância, parece que o João estava escrevendo para a gente. É uma coisa absurdamente misteriosa.

Pereira da Viola:

Este CD descreve um espaço que é real e não só fictício. No contexto da criação em si, existe uma recriação do espaço, nós criamos um imaginário que tem a ver com o Grande Sertão Veredas, com o Drumond de Andrade e vários mestres da literatura. O João tem seu próprio caminho que dialoga com essas idéias e espaços. Do meu ponto de vista, é onde a gente encontra uma riqueza muito grande para se expressar através das melodias e dos arranjos. A palavra dele nos permite cantar. As letras dão asas para as melodias.

Pereira da Viola:

É o puxar de um fio de uma linha que está muito lá atrás, mas, é um trabalho extremamente contemporâneo. Eu acho que tem um fio condutor pra fazer esse link com a nossa ancestralidade africana. Ao lado da espiritualidade, tem uma coisa que é a amizade. Esse trabalho é o resultado deste nosso encontro afetivo e artístico. O que eu falo de doar, quer dizer que toda vez, por exemplo, que eu recebo um email com uma letra do João, eu encaro como um presente. Eu me lembro que na roça toda vez que você vai na casa de alguém sempre tem que levar alguma coisa e não é por uma questão de necessidade e sim de doação.

3) A música de viola está voltando com força?

João Evangelista:

Antigamente, a viola era uma música encarada como reacionária, atrasada. Hoje, estamos experimentando outros estilos e linguagems.A universidade já está estudando e pesquisando a viola caipira. Não se trata de voltar ao tempo das consagradas duplas caipiras que ouvia através do radio. As escolas de música estão ensinando viola.Trata-se de um processo de retomada da viola caipira, enquanto instrumento de composição, de acompanhamento e de concerto. Trata-se, sobretudo, de redescobrir e valorizar uma importante vertente das raízes da cultura brasileira.

Pereira da Viola :

Hoje nós fazemos parte de um grupo de artistas que mais movimentam gente fora do show business. Os violeiros são um grupo alternativo a esse cenário. E a gente lota teatros pelo país afora. Existe um calor e uma coisa efervescente em busca da viola. Há um interesse por parte da sociedade. É um instrumento que mostra a musicalidade do Brasil. Não é só entretenimento. Pra nós é importante que cada vez mais as pessoas assimilem a sonoridade deste instrumento. O movimento da viola é comprometido com valores, mas também fala de amor, da vida e da esperança.

Wilson Dias:

É um negócio interessante. Eu tenho visto um constante crescimento de um público muito heterogêneo. Isso importante para a viola, para o que ela se propõe. As pessoas saem encantadas dos shows que são feitos apenas com a viola. Eu fico impressionado, as pessoas estão redescobrindo a beleza e a magia da viola.

4) Como vocês definem musicalmente o CD?


João Evangelista:

É um disco que se define por um processo, no qual o lado profissional e o lado mágico se interagem e se completam. Este Cd nasce em um momento de maturidade artística dos três autores.Talvez por isso, tem uma amplitude que vai de Minas, passeando pelo Brasil e chegando ao mundo , via América Latina. Trata-se, nele, de um mundo particular sem perder a visão do coletivo e universal, como convém a uma obra de arte, digna deste nome.

Pereira da Viola:

É um disco que eu fecharia os e colocaria qualquer uma das 14 faixas e ouviria com prazer. Parece que a gente foi dirigido por se sabe lá que força ou intuição. São sete músicas para cada um dos violeiros/compositores, é um número interessante. Cabalístico. São músicas de várias formas, ritmos e estilos. Tem até samba rural.E tudo composto com a viola caipira, encostada no corçao.

Wilson Dias:

O CD tem alguns estilos. Brasil Festeiro começa com o ritmo de moda de viola e termina com um boi. Tem toada. Tem a música Sete Donzelas, que começa com um samba e depois vai para uma coisa meio caboverdiana. É essa mistura de coisas. Eu diria que tem muito samba no disco. A célula rítmica é o samba. A música também tem muito do clube da esquina, do auge desse movimento. É musica feita com viola, com certeza, mas que transita por estilos e épocas com os pés no presente e, porque não, com os olhos no futuro,

5) Como foi o processo de criação dos arranjos ?

Pereira da Viola:

Em primeiro lugar, a palavra do João nos dá o note e ,em segundo,canta a viola,. O que me moveu mais foi a palavra. A gente está dialogando com Guimarães Rosa, Drumond, entre outros mestres. A primeira coisa é ressaltar a palavra. Nós queremos que as pessoas escutem a palavra, sobretudo, a palavra poética do João Evangelista Ela chega para as pessoas como um processo de amaciamento das melodias. A viola vem para facilitar a compreensão da letra.


Wilson Dias:

A gente tentou recriar muitas imagens, fazendo com que as melodias apresentassem a coisa cinematográfica da letra do João. A viola já está inserida no contexto social da cultura popular e existe uma grande possibilidade dos outros ouvirem com carinho. Esse casamento foi perfeito. Mesmo o cidadão que nasceu nas metrópoles consegue entender essa vivência que a gente passa. Eu vejo o Brasil bem rural, apesar das grandes cidades, especialmente em Belo Horizonte.

João Evangelista:

Outro dia uma pessoa disse na televisão que o sertão não existe mais, que ele só está nos livros e na cabeça dos pesquisadores, nas bibliotecas universitárias. Estes são os lugares mais imporváveis pra se encontrar e conhecer o sertão que conhecemos de perto, de origem e que cantamos aqui. Mas, quer mais sertão soturno do que a solidão de cada um no turbilhão das megalópolis.Outro dia em um filme estrangeiro falaram do sertão. Mas, o sertão não é só montanha e sol. Rio, vereda, bicho e passarinho. É isso também. `Pode ser. Sem dúvida, a angústia, a solidão e o medo de uma pessoa frente a outra. A violência institucionalizada, o excesso de.O inexplicável cotidiano das multidões cegas de poder e de desejo . As pessoas não têm tempo ou não querem pensar. E no sertão o que mais se tem é tempo, reflexividade, interioridade, mistério e busca de sentido para a existência em si mesma a feito de rio. Coragem no sertão tem outro nome: é vida em estado puro de pedra e sol , de água e vento.

Pereira da Viola:

Na viola tem umas “coisas de arranjos” que são inovadoras. Trazemos para o disco alguns elementos pessoais. O Wilson também está trazendo umas formas diferentes, que remete â música da noite, as folias, os bailes e umas nuances da melodia da viola própria com elementos desconhecidos de tudo que há de viola por aí, atualmente.E uma concepção de viola bem sofisticada e atenta ao movimento de nosso tempo.

6) O que as letras do Pote revelam ?

João Evangelista:

A letra é aparentemente simples, com elementos rurais e com muita intertextualidade com as músicas populares e folclóricas. Dialogam com poetas e pensadores contemporâneos;É ocaso de Leonardo Boff em Pachamama e de João Guimarães Rosas, em Sagarana-Ana. Ouço de que bom, sem preconceito: MPB, Jazz. Blues,rock, música clássica , contemporânea e experimental e,claro, a boa música de viola. O que escrevo pra música tem a mesma linhagem poética ligada à tradição literária e a busca comprometida e crítica por uma estética encarnada na vida do homem de nosso tempo , do qual sou parte e cúmplice.

Pereira da Viola:

O Pote traz uma estrutura literária sofisticada, rica, de um valor importante para as pessoas prestarem atenção e rever alguns conceitos de literatura mineira e brasileira. Foi definido que a música seria feita para valorizar a palavra poética do João. Do meu ponto de vista é um disco necessário para os dias de hoje. Eu dei o que há de melhor dentro de mim para esse disco, de buscar na viola determinadas riquezas que não tenho em nenhum outro disco meu. A poesia do João serviu como eixo em torno do qual se desenvolve toda a riqueza musical do CD.

Wilson Dias:

É um disco que nós optamos em fazer tudo, desde o repertório, estúdio, gravar, mixar, colaborando um com o outro. A gente deixou fluir, vazar, derramar o que a gente estava sentindo. Quando se tem esse zelo ao fazer, as coisas ficam mais fáceis. Foi um processo muito natural. Coletivo, feito por uma trindade unificada pelo sonho e animada pelo desejo comum de criar , de presentear as pessoas com esse misterioso pote pleno de água e de melodiosas palavras..

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Oi João, como vai?

Não fique muito desiludido com tanta porcaria que nos rodeia? Eu estou sem palavras para manifestar o meu repúdio a tudo isso que está acontecendo como essa votação esdrúxula do Tiririca que sinaliza essa tomada de atitude que você tão bem definiu. Protesto? Insatisfação? Desencanto? Acredito que seja uma mistura de tudo isso, mas que é doloroso para a gente é.
Mas cada povo tem o governo que merece e na era Lula acho que ele é o que melhor encarna o resultado de estarmos governados por um analfabeto de pai, mãe e parteira........
Mas sempre é bom receber seus textos e saber como vai.

Receba um abarco e o carinho da Maria

terça-feira, 5 de outubro de 2010


Não atirem! Não atirem pedras no Tiririca.
João Evangelista Rodrigues
O povo sabe o que quer. O povo não sabe o que quer. O leitor pode escolher qualquer uma das duas afirmações para seguir comigo neste breve texto. A questão é a expressiva votação recebida pelo palhaço Tiririca, de trânsito global. Di palhaço, no sentido profissional, carreira artística que escolheu por vocação, necessidade, luta pela sobrevivência ou inapetência mesmo para qualquer outra atividade que exija o mínimo de lucidez, ou preparo técnico, ou intelectual. Isto só Deus e o próprio Tiririca sabem!!
Se o povo souber o que quer, a análise sobre este fenômeno eleitoral, que abalou o coração da mídia - se é que ela tem este órgão vital para a vida humana - e a prepotência das elites brasileiras, segue uma direção. Se o povo não souber, a perspectiva de entendimento da coisa, vai por caminhos bem diversos.
Sei que o leitor/eleitor não é burro nem insensível como tantos que se arvoram em analistas e, por isso, deixo que ele mesmo se posicione. Apenas lhe dou algumas pistas. Um pequeno método para refletir, ele mesmo, sobre o que ocorrido fato que chamou a atenção do mundo inteiro.
Primeiro, procure enumerar todos os absurdos, falcatruas, casos de corrupção, brigas e agressões que ilustraram a vida do Congresso Nacional nos últimos anos. Só o que a mídia noticiou. Nem precisa ir mais longe nem ser um gênio para se descobrir o grau de descrédito de certo tipo de candidato de ficha nebulosa e relativizar o valor da democracia, em um sistema de poder fundado no patrimônio financeiro, no poder da mídia e, pior, na ignorância e bonificação programada da sociedade, em termos educacionais, políticos e culturais.
Segundo, tente recordar as formas como o personagem, não o cidadão Tiririca, aparece na televisão. O que fala? Como age? O que defende....se defende alguma coisa. Aproveite este raro momento de reflexão e enumere os reis e heróis, mulheres melancia, éguas pocotós e outras “esteritas a mãs”, que chegam via mídia em todas as casas, disse casa, não lares, brasileiras, dia e noite.
Soma-se a isto o “besterol” derramado por uma chusma de candidatos claramente despreparados durante a recente campanha eleitoral.
Claro que não exporei, aqui, as minhas conclusões. Para terminar – hoje em dia, poucas pessoas conseguem ler mais do que cinco linhas sem reclamar - podemos simular duas hipóteses, ambas consistentes: se o povo sabe o que quer, teria votado no Tiririca, para mostrar o quanto de palhaçada existe em torno das eleições, em tempo de partidos gelatinosos, de individualismo selvagem, de sarcasmo e cinismo com relação a tudo o que diz respeito à vida e às coisas do próprio povo.
Se o povo não sabe o que quer, por já estar manipulado ao extremo e exausto de acreditar no futuro e lutar para promover as mudanças estruturais via Congresso, portanto, já perdeu o senso, porá em cheque a validade de todo o processo democrático. Não só a eleição do Tiririca, pois, semelhantes a ele, em vários outros ramos de atividade profissional, existem tantos que foram eleitos por serem ídolos das massas, herdeiros do poder e fiéis defensores das elites. Seríamos todos palhaços? Se mirarmos bem, cada manhã, no espelho da realidade nacional, com certeza, descobriremos quem somos e porque o Tiririca foi o candidato – o personagem – mais votado destas últimas eleições.

domingo, 26 de setembro de 2010


esses poetas
o poeta global se gaba
na internet
da patota virtual
mete o pau no poeta federal
o poeta federal
bebe o sangue do poeta estadual
o poeta estadual
come os olhos do poeta municipal
o poeta municipal
sonha um pedaço de fama
por um segundo que seja
no maior jornal da província
no mais conservador de sempre
todos comem e bebem da mesma desilusão verbal
da impossibilidade poética
de se dizer a vida
como a vida não é
palavras não são servas
não se servem à milanesa
em mesa de bar de grife
ou de boteco sem pedigree
poesia não tem fronteira
nem eira nem beira
não cheira à flor burguesa
não termina na porteira do curral
no adro da igrejinha
na nave da catedral
um poeta não cheira o outro
nem se cachorro se faz
por qualquer ninharia
em nome da paz
da morte da ideologia
seja do que for
por mais que sofra
o poeta é cego
apalpando as coisas
de um mundo caduco
o sulco sem serventia
das letras todos os dias
segue sozinho
mordendo o vento
uivindo
uivendo a noite passar
como passam todas as coisas findas
as que nunca ficarão
se o verso não for sincero
asa sonora fincada no chão

sexta-feira, 24 de setembro de 2010


Comentários Blog vialaxia
Caros amigos, sou péssimo em manter correspondências em dia e, sobretudo, em atualizar este Blog , seja pro preguiça, falta de tempo ou incapacidade técnica RSS mas ficarei feliz se vocês ( e outros visitantes/leitores. caso existam) continuarem acessando e me retornando . Para quem escreve, isto e fundamental..mas o mais importante mesmo PE que minha escrita contribua para a recriação do universo através da reescrita de todos que com ela tiver contato . Obrigado. Com um abraço carinhoso do João Evangelista
Oi, João !!!
Amei seus versos !!! são muito inspirados!!! Parabenss !!!
beijos,
Adriana

Caro amigo Joao,
Muito bom seu blog, como já conheço o sua esperteza poéticaica, serei modesto em elogiá-lo.Acredito que seu canto e sua prosa, embora erudita e ao mesmo tempo singela ( via-satélite) , transporá as montanhas destas minas, em gerais.
TL

João, obrigado por seu belo complemento poético ao meu artigo "O problema de ler poesia". Parabens também pelo seu blog e por seus textos.
Aproveito para dizer que publico colunas nos sites acontecendoaqui.com.br e cronopios.com.br
Um abraço. Seguimos em contato.
Sérgio Calderaro
Cacá has left a new comment on your post "pelo poema o poeta se erige e se sustenta escultu...":

João, se você ainda se lembra de mim, sou o Antônio Carlos, o Cacá, aquele que foi mensageiro na Comunicação da MinasCaixa. Outro dia procurei por você na Internet, depois de encontrar com Rubinho,e achei seu blog. Seus poemas continuam ótimos, sua atuação em favor da cultura também. Um abraço.
has left a new comment on your post " sempre viva sempre a amável artesania das mãos o...":

Sempre viva vivas, tanto as fotos quanto o poema.
Bjs, amigo!
htm consuelo abreu has left a new comment on your post " sempre viva sempre a amável artesania das mãos o...":

lCristiane Duarte has left a new comment on your post " No Dia Internacional da Mulher....resolvi brincar...":

Olá¡ João! Pois é, acompanho o seu blog a algum bom tempo. E vejo muita força e criatividade em seus poemas. Tenho um blog também e amo escrever. Adorei esta foto!!! éns por sua arte!
efault.htm Gustavo Guimarães has left a new comment on your post " nada aprendemos com a morte dos inimigos morrem ...":

Grande João! Parabéns pelo blog! Viva a poesia, viva o poeta!

ISABEL HORTA has left a new comment on your post " Mimas submissa mí stica alegoria se ourifica em br...":

João:
Você ouviu com Drummond o bruxismo nas asas das palavras...
Gostei do encontro de vocês... Abraaços, Bel..

sob suspeita
o poeta escreve
a meia noite
a meia luz
ignora a lei do silêncio
a liturgia da lei...
escuta o som da palavra acesa
escapa pelo ferrolho da literatura
efault.htm Janice Sanna has left a new comment on your post " Um Pote para matar a sede de quem gosta da boa mú...":

Reflexão poética

Vedes os arcos da música?
Vossos prováveis acertos
residem em terra firme.

Façais da paixão, liberdade,
em afino com aquela garça no céu.

As lágrimas não correm mais
que vossos gestos de flor,
em flor...

Vesti o couro, sem sangue.
Servistes-vos de oliva madura
em montes férteis,
no caminho á¡rdo que ficou.

Sentis a onda do rio
que trilha o canto, nos dedos?
Não temais erro!

O tempo paira onde resiste a emoção.
Os versos incertos do amor mundano
são sementes frescas para vosso servo que cultiva frutos, no desassossego.

Vedes a doçura do som?
São vossos olhos sobre o sol,
estalos de fogo que cuida,
em noite sem lua.

Vossos bendizentes anjos
São ávidos de cores,
tais quais, infinitas
nas margens da vida.

Vagueai, com força, nos pés,
ao prelúdio dos ventos,
Como os lobos azuis
uivam vossos sonhos
de menino.

Não permitais o frio!

Vedes o diálogo longínquo
dos peixes com vosso oriente?

São a estação que buscais,
em acordes de ar
e melodia. (Janice Pires-2008)


efault.htm Livia has left a new comment on your post " Haiti só quem viu poderá nos dizer quanta dor qu...":

seu trabalho é lindo... Mas passei aqui porque uma vez fiz uma musica com um poema seu (Transversias). Meu nome é Livia Oliveira, Moro na cidade de Confins, trabalha com musica e agora vou estudar no Palácio das artes. Morávamos em Arcos e minha mãe encontrou seu irmão no aeroporto, mas infelizmente perdeu o papel que tinha anotado seu endereço. Espero podermos fazer contato. meu email é livia_itaborahy@hotmail.com
Abraços
ault.htm margaret has left a new comment on your post " crian§a se fores capaz de criançar o vocabulári...":

que lindo vc é demais...amei a foto,ela representa tanto para mim amei o poema.

fault.htm Revista Cidade do Sol has left a new comment on your post " Bate-Pilão celebra a cultura popular Os violeiro...":

Oi, João, tudo bem? Vou fazer um post sobre sua oficina aqui no festival. Vai lá¡ dar uma olhada.

Abraços do Lúcio Jr.
efault.htm Revista Cidade do Sol has left a new comment on your post " culinária o frango a molho pardo o feijão trope...":

Oi, joão.

Reproduzi esse poema no meu blog.

Dá um pulo lá¡. Já divulguei seu blog no meu outro blog, o Penetralia, onde aparecem o Gerald Thomas e o John Hemingway: www.penetralia-penetralia.blogspot.com

Vc falou sobre o Anelito na palestra: eu acho ele um péssimo crí tico, uma merda mesmo. E agora ele é doutor na USP.

Eu me arrependo amargamente não ter feito aquele prefá¡cio para vc. O Anelito te chamou até de poeta de falação e vc aceitou como posfá¡cio...

Tem sempre alunos precisando de temas para monografia que me procuram, uma hora vou escolher seus textos e te mando o projeto, ok?

Mas me fale do lançamento do Visões de João Manoel, que eu quero ir.

Abraços do Lúcio.

fault.htm Sônia (anja) has left a new comment on your post " Um Pote para matar a sede de quem gosta da boa mú...":

Oi!
Estive aqui lendo e relendo. encantada com tuas palavras.
Encontrei o poema da Mãe >>"De repente encantou"
:)
Tem muito com que me deliciar por aqui.
Sou a Sônia (anja) parceira de Josino Medina.
bjos

Aqui alem do blog anjacaramuja: meu habitat do clube caiubi (tem blog tb)

http://clubecaiubi.ning.com/profile/Anja31


fault.htm Sara Roosevelt has left a new comment on your post " depois da missa no adro da igreja matriz homens ...":

Acabei de ouvir sua palestra(sjdr);
Gostei muito das coisas que falou, vou levar comigo áarias palavras ! :)

"vendem gado
trocam lotes
compram carros
pedem votos
negaceiam ívolos acontecimentos"

È o povo mineiirooo ":)) rsrs ...

sexta-feira, 17 de setembro de 2010



Um Pote para matar a sede de quem
gosta da boa música de viola caipira

A melodia vem do chão, da musicalidade, da poesia. Deste encontro telúrico, nasce o “Pote”, um CD independente e inédito, criado em parceria com violeiros e os cantadores - Pereira da Viola e Wilson Dias - e o poeta e jornalista João Evangelista Rodrigues. Três mineiros de águas fortes e confluentes vindos, respectivamente, dos Vales do Mucuri, do Jequitinhonha e do São Francisco. Três vertentes com raízes comuns no que diz respeito à cultura popular, ao sentimento de religiosidade e às convicções políticas, fundados na amizade e na defesa da cidadania. O show de lançamento do CD “Pote” será dia 14 de outubro, quinta-feira, às 21 horas, no Teatro Sesiminas, em Belo Horizonte.

O CD “Pote” pode ser definido como contemporâneo e primitivo. Rústico e refinado. Feito a mão. Modelado pela sensibilidade da palavra e conduzido pelo fio mágico dos acordes da viola. O “Pote” emerge da imaginação, dá asas ao sentimento, vivifica as coisas e objetos perdidos e/ou esquecidos no sertão. O mesmo infinito e indefinido sertão de João Guimarães Rosa, ao mesmo tempo íntimo, concreto e transcendental. Um sertão que todos somos ainda, apesar das urbanidades e desurbanidades contemporâneas.

Em todas suas dimensões de utensílio, de arte, o pote é sagrado pelos segredos que contém e revela, por suas qualidades pictóricas. Um pote pode servir ainda de sepultura, de túmulo. E isto só aumenta e valoriza seu potencial significativo, sua transcendência. Em nada diminui, portanto, a magia de sua beleza. Quando animado pela poesia e pela música, cria asas, canta e voa feito pássaro entre montanhas mineiramente latinas. No CD, faixas como Sem Desatino, Mulheres de Argila, Sagarana Ana, Pacha Mama, Fim de Tarde, Latina e Tributo, sem nenhum prejuízo crítico para as demais canções que integram o disco, atingem alto grau de expressividade poético-musical. Seja pelo lirismo ou pelo comprometimento com a vida e o desatino do ser humano em um planeta ameaçado.

O CD é uma homenagem à palavra poética pela valorização da letra no processo de composição musical. É também um reconhecimento do trabalho de criação do poeta João Evangelista que, além da música, utiliza de várias linguagens e campos de conhecimento para expressão, como filosofia, jornalismo, literatura e fotografia. Foi a intenção de destacar o papel da letra na construção da canção que orientou todas as etapas de produção do CD, desde a composição, passando pelos arranjos, processo de gravação, interpretação, mixagem e concepção gráfica do encarte. É por isso que, ao manusear e ouvir o CD, pode-se perceber com todos os sentidos a intensidade e o sabor de cada palavra, de cada imagem; sua textura e visualidade. Um verdadeiro cinema sonoro, onde a música feita na viola revela as tonalidades de cada história. A palavra cantada torna-se palavra encantada. Música necessária e mágica, fruto de um encontro espiritual e artístico ente os três compositores. Uma trindade que só vem enriquecer a música feita na viola caipira, em Minas. Por isso mesmo, a viola, cada vez mais valorizada no complexo cenário musical brasileiro da atualidade, ganha uma nova aliada: a poesia, que se mistura de maneira equilibrada e harmônica com o timbre e com a autêntica sonoridade do instrumento. Assim, tanto do ponto de vista temático, quanto musical e poético, pode-se dizer que há uma verdadeira sintonia criativa e estética.

Os Compositores

De certa forma, O Cd “Pote”, o sexto da carreira artística de Pereira da Viola e o quarto da de Wilson Dias, é um desdobramento natural do trabalho que estes violeiros vêm desenvolvendo juntos nos últimos anos. Neste contexto, situam-se os espetáculos “Dois Rios” e “Bate Pilão”, ambos muito bem recebidos pelo público e cuja base do repertório são composições feitas em parceria com João Evangelista. Tanto nestes espetáculos, quanto no Cd “Pote”, os dois amigos violeiros primam pelo domínio na execução do instrumento, pela sensibilidade e força interpretativa em um ambiente de admiração e de respeito mútuo.

Pereira e Wilson participam também do projeto Vivaviola, criado em 2008; juntamente com Bilora, Chico Lobo, Gustavo Guimarães e Joaci Ornelas. O Vivaviola já rendeu um Cd, com o mesmo nome e, este ano, foi escolhido pela Natura Musical para realizar o Roteiro Vivaviola Estrada Real, com apresentações nas cidades de São João Del Rei, Diamantina, Paraty, Ouro Preto e Congonhas.

O poeta João Evangelista Rodrigues é parceiro de Pereira da Viola desde o lançamento do primeiro Cd do compositor, “Terra Boa”, do qual participa com a música Veio Caipira. De lá para cá, os dois artistas vêm trabalhando regularmente, criando canções como Aboiador de Viola, Misturas Mistérios, Violeiro Trovador, Viola in Blues entre outras. A parceria com Wilson Dias é mais recente, mas já rendeu inúmeras composições como as que integram este novo CD e tantas outras músicas, ainda inéditas, com estilos e temas diversificados.

O trabalho de composição de João Evangelista Rodrigues, apesar de discreto, é forte e reconhecido. Teve início nos anos 70, quando se mudou para a Capital Mineira, onde cursava Jornalismo e já atuava como militante político e nos movimentos de cultura popular. Vem dessa época sua primeira música, Sinetes de minas, composta com Cristiano Guedes, o Bain. Depois, fez parcerias com Zé Neto, Rubinho do Vale, Enzo Merino, Paulinho Pedra Azul, Gilvan de Oliveira, Cid Ormelas, Téo Azevedo, Zé Baliza, Carlos Maia, Dadi do Norte, Arlindo Maciel, Nelson Ângelo, Marcos Carvalho. Também é parceiro de Joaci Ornelas, Gustavo Guimarães e Chico Lobo. Hoje, dedica a maior parte de seu tempo à literatura, música e fotografia. Atualmente, coordena o projeto Vivaviola, e está preparando um novo livro de poemas, fotos e prosa poética: “Visões de João Manoel”− diálogo com o poeta Manoel de Barros − projeto aprovado na Lei Estadual de Incentivo, e que deverá ser lançado no início do próximo ano. Como poeta, é autor dos livros “O Avesso da Pedra”, “Mutação dos Barcos”, “A Oeste das Letras” e “Transversias”, além de livretos de cordel e participação em várias antologias impressas e eletrônicas.

A melodia do chão

O CD “Pote” é marcante. Pode ser entendido como uma metáfora da condição do homem no mundo contemporâneo. Uma evocação do ambiente do mineiro a partir de uma visão crítica. Cercado de simbologia, um objeto real e mítico, que reflete a arte, a cultura, os valores, a religiosidade e as contradições da mineiridade. O pote, objeto que deu origem ao nome do CD, guarda a água, símbolo da vida, ecoa a essência, marca o lugar e a passagem para o imaginário. Para um mundo real, a poesia e a música, o sorriso e o diálogo, a prosa e a viola, ainda são possíveis.

As 14 composições do CD são todas assinadas por João Evangelista Rodrigues, autor das letras, e por Pereira da Viola e Wilson Dias, responsáveis pelas melodias e interpretação. Participam da gravação os músicos: Pereira da Viola e Wilson Dias (voz e viola), Pedro Gomes (contrabaixo), André Siqueira (guitarra e violão), Carlinhos Ferreira (Percussão). Tem ainda a participação especial do cantador e compositor Dércio Marques. A arte gráfica é da designer e jornalista Doris Sanabio.

Serviço:

Lançamento do CD “Pote”
Local: Teatro Sesiminas - na Rua Padre Marinho, 60
Bairro Santa Efigênia – Belo Horizonte – MG.
Data: 14 de outubro, quinta-feira.
Horário: 21h00

segunda-feira, 30 de agosto de 2010


Um passeio pela Estrada Real ao som da nossa viola caipira

O projeto Vivaviola - Sessenta Cordas em Movimento – Turnê Estrada Real, que começou em julho, deste ano, como parte da abertura do 23º Inverno Cultural, promovido pela UFSJ, vem conquistando a simpatia do público receptivo e ávido por músicas de qualidade. Agora é a vez de Ouro Preto e
Congonhas receberem a viola capira e conhecerem o trabalho dos violeiros e cantadores Bilora, Chico Lobo, Gustavo Guimarães, Joaci Ornelas, Pereira da Viola e Wilson Dias, integrantes do Vivaviola.
Além de São João Del Rei , o Vivaviola já se apresentou no 42º Festival de Inverno da UFMG, em Diamantina e no XVlll Festival da Cachaça , Cultura e Sabores de Paraty.
Os dos últimos compromissos do Vivaviola, dentro do Projejto Tounê Estrada Real, patrocinado pela Natura Musical, será em mais duas importantes cidades históricas mineiras:

dia 10 de setembro - 21 horas - Ouro Preto
local: Teatro Municipal (Casa da Ópera). Entrada franca; ingressos devem ser adquiridos na bilheteria do teatro à partir das 20 horas; parceria com a Secretaria de Cultura e Turismo.
O show de encerramento do projeto será no dia 17 de Dezembro, no Cine- Teatro Leon; parceria com a Fumcult.

Após as apresentações, os violeiros vão autografar o CD VivaViola, o primeiro do grupo, que será vendido a R$20,00.

Paisagem sonora
Versátil e diversa em seus estilos e temas, a viola caipira vem ganhando cada vez mais espaço como instrumento de composição e de execução. Ela está presente e atuante nas mais diversas formações, indo desde os grupos instrumentais, como orquestras, passando pelas duplas, Jazz , choro e
instrumento solo. E mais, como ficou provado nas apresentações que o VivaViola fez tanto em teatro, anfi-teatro, como em praça publica: a viola caipira é forte e consegue despertar a atenção do publico, independente da idade de hábitos musicais dele. É vibrante e não se intimida quando
tem de se apresentar em ambientes marcados pelo predomínio da tecnologia e pelas grandes massas sonoras e rítmicas http://www.blogger.com/img/blank.gifda moda.
Verdadeiro passeio musical, passando pela moda de viola, catira, calangos, folias e muitos outros ritmos da cultura popular , o Projeto Vivaviola - Sessenta Cordas em Momento, Turne Estrada Real, não só contibrui para o desenvolvimento cultural de nosa gente, como afirma a identidade da cultura
brasileira, a partir de suas raízes, ou seja, da música composta feita e executada na viola caipira.

sábado, 28 de agosto de 2010


aos homens de meu tempo
dedico esse poema
sem nódoas
nem rótulos
infenso a todo sentimentalismo
a todo óbvio ornamento
dedico o poema necessário
a todos
de todos os tempos
e enganos
um poema de pedra à deriva
livre de todo antropomorfismo

sábado, 21 de agosto de 2010




os cães de Paraty
são mansos e amáveis espalham-se pelas ruas
a feito da água
dormem no convés dos barcos
na porta das casas

vigiam o tempo ocioso
sem latir
dividem com os pescadores
e turistas
o sabor das caminhadas
após as refeições

são cães de belas plumagens
misturam-se em sossego
com as pedras roliças e gordas das calçadas
dividem com os pássaros
o aconchego mítico da paisagem

assemelham-se a Argus
o espera de Ulisses
os cães de Paraty são amáveis
parecem esculturas a beira do mar

quinta-feira, 29 de julho de 2010


o poema se faz
de água transparente
no limite da pedra
no seu silêncio fluido
por dentro
por dentro da linguagem
sem ressonâncias
a pedra em pensamento
se funde no que ouve
de escuta atenta e rude
entre folhas brancas
ruge o eco seco
sem saliências
a razão implume
o poema se fraga no que diz
insuspeito alheamento
sem música sem perfume
onde de pedra por igual
fico em cada grão
de areia e sedimento

o poema na pedra se imanta
em sintaxe ausente se matura

domingo, 25 de julho de 2010


o poeta não é noz
é a voz do tempo
mais do que nunca
incomum
cada vez mais veloz
a poesia somos nós
nos nós da linguagem
viagem sonora
antevisão da última
utópica
impossível aurora
vertigem visual
asas do albatroz

sexta-feira, 16 de julho de 2010


depois da missa
no adro da igreja matriz
homens conversam em grupos
divididos pelos trajes
pela posse
pelas convicções políticas
e irmandades beneficentes

vendem gado
trocam lotes
compram carros
pedem votos
negaceiam frívolos acontecimentos

falam da vida alheia
em manchetes importantíssimas
comentam futebol
comem com os olhos
a beleza da mulher do próximo

domingo é dia de prece
de frango a molho pardo

quinta-feira, 15 de julho de 2010


minha mãe era mulher de sete serventias
desdobrava-se em tarefas domésticas
e pequenas alegrias maternas
lavava
passava
cozia
costurava
escrevia poemas
enfeitava a casa com flores que ela mesma fazia

professora por vocação
não se curvava ao peso das palavras
por conveniência política
nem por submissão às injustiças
não era de ficar calada
quando lhe pisavam nos calos

isto lhe valeu nove filhos
muitas noites sem sono
e infinitas aflições

com ela aprendi as primeiras letras
descobri o poder das palavras
o prazer da poesia
minha mãe
era mulher de sangue nas veias
de sete sabedorias de repente se encantou

quarta-feira, 14 de julho de 2010


o que somos
somos só no tempo
vida provisória
se inscreve
entre a memória
e um breve esquecimento

segunda-feira, 12 de julho de 2010


quem fala no poema
onde ninguém fala
a voz reponde

a pedra
a água
o vento

o alicerce do poema
a palavra líquida
o som da água na pedra
levado pelo vento

ninguém fala quando no poema fala a fala
a palavra sobre si mesma se faz se esfacela

domingo, 11 de julho de 2010


ouço a Canção do Exílio
no quintal de minha casa
o mesmo sabiá ventríloquo
canta na palmeira de acrílico
na Praça da Liberdade