sexta-feira, 7 de maio de 2010


notícia

avise a todos
por todos os meios
por todos os códigos
oficiais e falsos
sem falácias nem hipocrisias
avise bandeirantes e paulistas nordestinos e baianos
avise ao rei
ao vice-rei da cobiça
aos bandidos todos da corte
do Planalto
avise
grite alto
não economize verba de publicidade
aos contratadores da ganância
avise às claras
a todas as classes
de casa em casa
às ocultas
de cara limpa
de ficha suja
de capuz
aos padres
aos párias
aos poetas
aos intelectuais
aos corruptos
de todas as verves
e rituais
avise pelos rádios e jornais
pela TV digital
pela Internet
pelo correio
avise ao mundo
a Europa ao fim do dia
aos Clube dos
Sete
aos traidores de plantão
à torcida do Atlético
aos deuses tristes da Grécia
a Atenas em chamas
ao povo da Cochichina
da Pasargada
avise
o ouro de Minas
o orgulho se acabou
a paciência poética
foi para os quinto
o Ribeirão do Carmo
fede a enxofre
esgoto de aluvião
Minas não há mais
nem deveria
pelo que resta da paisagem
da Serra do Curral
pela honra do dever
em nome da liberdade de expressão
espalhem a notícia
avise a Tiradentes
aos poetas Inconfidentes
aos legisladores inconseqüentes
ao oráculo de crentes e beatas
o que Drummond já previa

o ouro de Minas acabou
a prata de Minas acabou
o mundo não rima
não tem sedução
o Pico do Cauê se exilou
de dentro e fundo só restam
dores gerais e solidão

quarta-feira, 5 de maio de 2010


alusões
a pedra em Minas se impõe
em múltiplas figurações
a pedra em Minas se sobrepõe
em muros e discriminações
a pedra em Minas se interpõe
em ruas e desertificações
a pedra em Minas se extravia
em múltiplas migrações
em magras minerações
a pedra em minas se insinua
em suas nuas ulcerações
a pedra em Minas
e suas dúbias interpenetrações
a pedra em Minas não se opõe
em suas líricas alusões
a pedra em minas não se esgota
em suas míseras escoriações
a pedra em Mians poligrota
em suas defuntas manifestações
a pedra em minas pedragógica
em suas fúnebres alucinações
a pedra em Minas polimórfica
sem suas inúteis interpretações
a pedra em Minas cristalógica
em suas históricas escavações
a pedra em Minas cosmológica
em suas concretas construções
a pedra em Minas solidão
em suas crônicas solidificações
a pedra de Minas perdição
em suas barrocas ponderações
a pedra em Minas mitológica
em suas poéticas remições

segunda-feira, 3 de maio de 2010


Minas
não a palavra
a geografia enfática
o cinismo da montanha
não o lugar
de lua enigmática
o abismo da manhã
Minas
o que não se diz
nem de longe se desconfia
a sete chaves se guarda
a luta
o lucro
o luto
o latifúndio das letras
nem mineiro sabe
deveras o mito
as muitas
os segredos maiores
os deveres de Minas

terça-feira, 20 de abril de 2010


A dança dos anjos
Futebol em sua essência é festa para os olhos. Está mais perto do balé do que do Karatê. É lindo, livre e lúdico. Não tem nada a ver com brigas de torcida ou artes marciais.Pode até lembrar, em alguns lances inusitados, um jogo de capoeira. Assemelha-se às artes plásticas, a um painel gigante com minúsculas telas em movimento.Nisto, o futebol tem tudo a ver com a sedução da alegria e da visualidade da estética contemporânea. Nada a ver com a violência das ruas, das disputas de poder nas arenas de Roma ou do Congresso, com a desenfreada competição do mercado. Não quero, aqui, pensar o futebol simplesmente como produto ou evento alienante. Isto existe, mas fica por conta dos que desejam, em nome de interesses próprios ou de grupos hegemônicos, transformar tudo em mercadoria, em objetos de consumo. Em meios de dominação. Também não quero ver, de propósito, o torcedor como alienado joguete das olas e marolas de braços, cores, caras e caretas, apitos, cornetas e bandeiras que aumentam, ainda mais, o brilho dos estádios. Dos grandes e pequenos. Das várzeas, sobretudo. Imagino o futebol como uma confraternização dos sentidos, caarnavalizaçao dos sentimentos e instintos mais primitovos do ser humano à procura de si mesmo. A brincadeira, a sublimação da força bruta, a comunhão da vida com sua dura e permanente realidade. Mas, para isto, dentro das quatro linhas, os atletas também não deveriam ser transformados em gladiadores, em imperadores. Heróis ou réus. Nada disso. Deveriam ser vistos apenas como atletas, seres humanos dadivosos, dedicados a uma atividade profissional, lúdica e solidária. Pessoas habilidosas, artistas talentosos que se entregam de corpo e alma ao que fazem, Seres que desenham com os pés e voam com os braços abertos para muito além dos limites dos estádios. Pássaros, talvez, de tempos míticos.
Ao escrever estas linhas, naturalmente estou pensando nos “Meninos do Santos Futebol Clube”. Não só pelo sucesso da temporada no Campeonato Paulista, já em sua fase final, sob a orientação discreta e competente do técnico Dorival Jr., mas pelo estilo de jogo do grupo. Estes garotos jogam com o coração. Fazem ressurgir, em tempos de tragédias e violência, dentro e fora dos gramados, nas ruas e nos lares, nas cidades e nos campos, o que sempre foi a vocação do futebol brasileiro: a brincadeira, a molecagem sadia, o drible, a velocidade, a dança. A surpresa em cada lance. O espetáculo de jogar o jogo com a bola da vida. E, claro, a chuva de gols. Esse estilo bem poderia inaugurar uma nova tendência no futebol brasileiro. Tendência que privilegie a genialidade, a flexibilidade e a leveza, contra a força, a gritaria, as ofensas pessoais, carinhos, cama de gatos e ponta pés anti-esportivos. E, como estamos próximos da Copa do Mundo, nada mal se o Dunga, técnico da Seleção Brasileira de Futebol, cujo mérito todos reconhecemos, tivesse olhos para ver e sensibilidade para convocar dois craques –Neimar e Ganso – cuja bela atuação tem tudo a ver com a grandiosa diferença técnica, o sentido de conjunto e a união da gloriosa equipe santista. Vale ver jogar, quando olhos e coração vivem e vibram na mesma sintonia. O resultado só poderá ser a justa conquista. A merecida vitória.

quinta-feira, 25 de março de 2010


O olhar que caminha
O título não se quer original. Faz parte do texto “No mundo da leitura: a leitura do mundo”, primeiro capítulo do livro “O jornal como proposta pedagógica”, de Joana Cavalcanti. Não é, nem seria possível ser original em tempos de pós-modernidades, tardias ou não. Paulo Freire já ensinou bastante, com profunda sabedoria, sobre a arte de bem se ler o mundo.
O que há de original neste texto que ora se insinua sobre o vazio que se segue em linhas e signos imprevisíveis é a disposição do leitor em prosseguir na sua leitura. É o momento mesmo em que seus olhos deslizam à procura de algo perdido no tempo, memórias ancestrais, talvez. Terras devolutas, quem sabe. Terrenos baldios, desses atravancados de ferro-velho, caixas de papelão, livros deteriorados, pedaços de canos, restos de carros enferrujados, panelas furadas, todo tipo de rejeito da insaciável oficina de consumo. Desses lugares que só meninos e meninas encapetados, afeitos a molecagens, conseguem ver e explorar. Nesses territórios malditos não se entra de sapato novo e engraxados, de roupa domingueira, branca e alvejada. De grifes exclusivas e excludentes.
Se o leitor se deixar levar pelo prazer do caminho, certamente irá descobrir, pelo desejo e pelo gosto de caminhar, motivos de sobra para continuar sua viagem pelo texto-vida que aqui se estica mundo a fora. Terá rara oportunidade de descobrir e recriar“cores, formas e imagens” , de sentir “cheiros, sons”, de tocar de pele a pele “ texturas” e, se for mais ousado que a média dos mortais, de ler grafismos, gravetos, gramados, garranchos, tudo que sob algum aspecto se assemelha a palavras, ao rastro dos bichos, dos signos na paisagem extensa e infindável. Mais profundas e atraentes, entretanto, são as paisagens humanas. Nem sempre amenas e amorosas. Agrestes e espinhosas, traiçoeiras e abissais muitas vezes. Escorregadias e evasivas, quase sempre. Saber percebê-las e cativá-las é arte para poucos. São mais comuns, nesses jogos, a conquista e o domínio. As gerações mortas já o provaram.
O olhar que caminha desenha percursos os mais diversos, conforme seja seu caminhar ardoroso ou frio. Varia se se desenha em si mesmo, em ritmo de caminhada sossegada em alguma manhã de sol ou no final de uma tarde de verão. Também será diferente se for um olhar solitário ou povoado de companhias amigas e galantes. Faladoras. De cima de uma bicicleta, de dentro de um carro, do trem-de-ferro, no metrô ou de avião, certamente os olhares se mostram diferenciados tanto pela angulação, quanto pela rapidez de seu deslocamento. Cercado pelas águas , de dentro de um barco, os olhos podem colher, aram horizontes e lembranças vickings sob o ondeante azul do céu. Mediatizados ou condicionados pelos óculos, pela lente da máquina fotográfica ou da filmadora, os olhares perscrutam visões e enquadramentos ainda mais diferenciados.Olhares que espiam pelas frestas das janelas ou pelos buracos de fechadura, à moda mineira, por certo herança portuguesa, não merecem tanta consideração.
Produtivos são os olhares ciganos, desses que pousam. Descansam sobre paisagens inacessíveis. Apaixonam-se pelo que divisa entre o permanente e o transitório. Dizem que olhares se parecem com espelhos de água. Há os rasos e lamacentos, os límpidos e profundos. Transparentes. Há olhares misteriosos e vagos. Fisgam. Fingem não ver, para olhar mais dentro e inquisidor.
O olhar que caminha não caminha só. Abre janelas ao vento, de par em par, em sucessões indefinidas, concêntricas. Leve, leva consigo a cultura e a história de seu portador, de sua gente. Mais, carrega dentro de si toda a herança acumulada desde a origem da raça humana. O olhar que caminha não enxerga o mundo tal qual. Percebe-o, apenas, em sutis e vertiginosas representações. São leituras atravessadas por histórias, lutas, guerras, romances, aventuras, descobrimentos, sonhos, projetos, sofrimentos, colonizações. Existem olhares livres e ou colonizados. Livres são os olhares que caminham por caminhos espontaneamente traçados pelo prazer de caminhar. Como diz o poeta “pelo caminho que se faz, caminhando”
O olhar que caminha livremente descobre mundos igualmente livres e lindos. Mundos falidos, lidos a caminho, de ida e volta para a escola, de passagem pelas avenidas da cidade em sossego noturno. Apaziguada em seus afazeres e posses pelas rezas na igreja matriz. Mundos virtualmente lidos e vividos. Mundos de caminhos reais. Leituras mais que decifração dos tristes códigos gravados a ferro e fogo nas páginas dos livros, na pele, no coração dos homens e mulheres, sobreviventes destes tristes trópicos.
O olhar que caminha decifra, inventa, recria e constrói novos mundos. Mira o olhar do tigre e admira a paisagem que nele se reflete. Simplesmente caminha da mesma forma que o tigre e nele se espelha, apesar das bibliotecas e dos livros esquizofrênicos. Desconfie, portanto, de certos livros. O olhar que caminha ama o que lê. Vive o tempo necessário para as leituras possíveis. Caminha solto entre signos ou sobre as florestas incendiadas salta. Aqui o caminhante se insinua em sombras entes de estender seus olhos sobre mapas mais distantes descansam. Estica-se na sala sobre os livros de sua predileção. O mundo da leitura e a leitura do mundo se confundem. Misturam-se a caminho. O olhar brilha.

sábado, 13 de março de 2010



ave palavra nossa de cada dia
pássaros sem pausas
pastos auríferos
sob céu de seda brotam
manso mistério de gado
em descanso de sombrs buritis
só asas cantam
de silêncio em silêncio se imiscui
fora da paisagem a poesia voa

sexta-feira, 12 de março de 2010



nada

nada aprendemos com a morte
no Calvário
no Horto das Oliveiras
não há choro
nada é necessário

a morte dos pássaros e dos rios
das geleiras e florestas
a morte dos peixes
dos bichos de terra firme
nada nos ensina
nem mesmo a morte de nosso melhor amigo
de um parente mais próximo
dá-nos algo essencial
sobre a vida precária
a que em nós teima em resistir
por insistência do corpo provisório
castigo do espírito insaciável

à todas as mortes assistimos
impávidos e inertes
entre omissos e impotentes
mas avenidas e estradas
nos templos e cavernas
nas arenas e super-mercados
nas fábricas e estádios
como se assiste a um ritual de magia
a uma luta de serpentes
a um programa imbecil de TV

a notícia da morte por e-mail
se mistura a imagens de catástrofes
e “spans” de mal gosto
a comentários políticos e inócuos
sobre o cotidiano de um herói sem caráter
de um país sem imaginação

a tudo se iguala a Tal
sem rosto
em consórcios de consumo
sem perceber nos consumimos
em espetáculos sucessivos e recorrentes
sob rótulos e slogans
os mais diversos e eloqüentes

nada aprendemos com a morte
alheia
por mais estúpida e feia
estampada nos jornais
na Internet
com as mortificações globais
menos ainda aprendemos
com a mobilidade das nuvens
com o discurso dos sobreviventes
no percurso de nossa própria morte

nada aprendemos com a morte

domingo, 7 de março de 2010


No Dia Internacional da Mulher....resolvi brincar com o Chico Buarque e escrever uma cação como se...vejam como ficou:A melodia ainda está a caminho.

súplica

olhem para mim
vejam nos meus olhos
tudo o que existe
tudo o que puder
sentir
mais dentro de mim
onde ninguém vê
mora um querubim
dói só de pensar
na dor
no dom de ser mulher

vejam quem sou eu
vejam onde estou
o que se perdeu de mim
por onde passei
ninguém chorou
por mim na TV
eu cai na vida
sou a mãe da vida
estou sem saída
estou de partida
sem saber quem sou
para onde vou

olham para mim
como se eu fosse
sala de visita
capa de revista
um cartão postal
uma presa fácil
um falso rubi
ágil no que faço
dócil na conquista

sou admirada
mais que uma estrela
sou mais desejada
sou mal entendida
pelo que prometo
pelo que espero
pelo que revelo do amor
em nome da vida
ao longo da estrada
nas marcas de meu corpo
em meu próprio espelho
estou dividida

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010


A dengue pode matar
Leia , imprima e divulgue.

Arcos virou notícia
em tudo o que é lugar
eu não falo por malícia
o leitor vai concordar
o mosquito é atrevido
vive sempre escondido
a dengue pode matar

ta virando epidemia
pelo que ouvi falar
o bicho tem picardia
esperteza pra picar
e pior é traidor
adora vaso de flor
a dengue pode matar

tem cada mosquito gordo
que dá dó só de olhar
não trabalha e vive solto
rola de lá e pra cá
mosquito bem titulado
sem nunca ter estudado
a dengue pode matar

cada mosquito sisudo
até no modo de andar
perna fina barrigudo
custa se equilibrar
tem mosquito milionário
que pica só operário
a dengue pode matar

já vi mosquito agressor
em tudo quanto é lugar
tem mosquito professor
este nem é bom falar
pica sé pelo poder
pelo prazer de picar
a dengue pode matar

o mosquito é praga antiga
é só você pesquisar
mais velho quanto a intriga
bem mais velho que o mar
para tudo tem razão
adora flor de caixão
a dengue pode matar

é bicho de tradição
de poder familiar
só não pica a própria mão
pois seria suicidar
mosquito finge de amigo
é onde mora o perigo
a dengue pode matar

ele mora nos quintais
sabe a hora de voar
esconde nos matagais
nos jardins e no pomar
e pior é mentiroso
desleal e perigoso
a dengue pode matar

tem mosquito na igreja
na empresa e no bar
tem mosquito na pedreira
ou no que dela restar
mosquito vive de lucro
pica até cavalo xucro
a dengue pode matar

tem mosquito que sorri
na hora que via ferrar
eu mesmo juro já vi
até mosquito chorar
mosquito neo-liberal
mata mais do que punhal
a dengue pode matar

e tem mosquito na praça
no bairro chique a vagar
tem mosquito que só passa
pra poder alguém pegar
o mosquito é uma droga
vive até na sinagoga
a dengue pode matar

ele adora pneu velho
água limpa é o seu lar
não se olha no espelho
com medo de se assustar
e pior entra jogo
populista e demagogo
a dengue pode matar

ele mora em casa pobre
em mansão mora no ar
de tão falso se encobre
não dá nem pra acreditar
vive do sangue do povo
todo ano vem de novo
a dengue pode matar

tem mosquito ignorante
não sabe nem soletrar
usa apenas do rompante
para poder dominar
mosquito adora dejeto
adora roubar projeto
a dengue pode matar

tem mosquito candidato
a candidato a picar
adora pó de asfalto
mas se diz que é popular
já vi mosquito erudito
este é mais esquisito
a dengue pode matar

tem mosquito sem cultura
sem gosto sem paladar
tem mais bunda que cintura
que cabeça pra pensar
e se acha o maioral
na escala nacional
a dengue pode matar

tem até mosquito brega
não dá nem para escutar
tem mosquito que escorrega
onde acaba de cagar
mosquito é bicho tinhoso
predador mais perigoso
a dengue pode matar

por isto preste atenção
não se deixe acovardar
entre neste mutirão
que tudo pode mudar
combata este mosquito
feito as pragas do Egito
a dengue pode matar

Arcos merece carinho
merece mais se cuidar
não há de ser um bichinho
por destino ou por azar
que vai picar tanta gente
por a cidade doente
a dengue pode matar

vamos todos combater
com este bicho acabar
a vida há de vencer
há de florir e cantar
seu povo merece mais
merece respeito e paz
a dengue pode matar

por isto caro leitor
faça o verso vicejar
seja mais um bem-feitor
de mãos dadas vem lutar
não vote neste mosquito
atrevido e esquisito
a dengue pode matar

por isso caro leitor
não se deixe enganar
pelo zumbido o que for
seja gosto ou paladar
este mosquito moderno
se esconde atrás do terno
a dengue pode matar

e por aqui eu termino
meu cordel de convocar
seja idoso ou menino
todos vão participar
Arcos é civilizada
merece ser bem cuidada
a dengue pode matar

não quero ninguém de fora
a dengue tem que acabar
comece já e agora
a varrer e a limpar
vamos por fim à sujeira
viver não é brincadeira
a dengue pode matar

traga verdade e alegria
vamos com força esfregar
jogue água e poesia
pra tudo desinfetar
casa jardim coração
rua riacho emoção
a dengue pode matar

em nome da ecologia
do bom viver do lugar
em nome do dia a dia
mais feliz e salutar
vamos fazer nossa parte
viver a vida com arte
a dengue pode matar

a morte não é tão feia
como se pode pintar
pior é morrer na peia
sem poder espernear
eu prefiro a liberdade
de viver nesta cidade
a dengue pode matar

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010


o poema prefere
palavras curtas
de pele intacta
mínimas em tudo
sem asas
sem artefatos óbvios

ave e ar
água e pedra
palavras que
sob sol antigo
fervem se afloram

o poema prefere
palavras míticas

domingo, 31 de janeiro de 2010


Haiti

só quem viu
poderá nos dizer
quanta dor
quanto sofrimento
quanta solidão
só quem sentiu
tremer seu corpo
seu coração
pode chorar seu povo
merece mais
que o poder
merece amor
merece voz
todos os seres
aves e plantas
bichos e homens
ios e mares
merecem ter um país feliz

ver o vento da morte
passar
e chegar uma nova estação
e do fundo da terra brotar
a liberdade
e a esperança morar
em suas mãos

só quem viu o que eu vi
pode chorar por ti
só quem ouviu
pode cantar por ti
Haiti
Haiti Haiti
ai de ti
ai de ti
ai de todos nós


de comum insiste
a pedra na memória
o riachinho sujo
sobre o mesmo arqueado nome
a imaginária história
de tropeiros sem descanso
a fé missionária
veio de fora
de igual os fornos
e as forjas de sandice

de comum o que ainda resta
dos mortos no cemitério velho
alguns arcos de barris
o abismo entre os vivos
as rixas entre seus donos

arco íris por acaso ronda
o céu branco de fumaça
em uma incerta manhã
de sermão dominical
com sua ambígua
e desconfortável paz

de comum exibe a pedra
o face inculta do túmulo

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010


não é do poema
o que nele habita
homens sem rosto
tempo sem futuro
lugares sem marcas
não é do poema
tudo o que nele grita
o que em sua órbita vazia
grávido de angústia
sobre si gravita
no poema nada sequer
se prende por instinto
nada imita a vida
animal mais íntimo

não é do poema
a solidão da escrita

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

exorcizo pela escrita
no útero da paisagem
o que de mim
em mim mesmo ultrapassa
a parede da fala
o malefício do poema

prefiro ser vasto em sossego
sem saliência
liso de gravuras
mais que própria pedra de giz

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009


nada sei sobre o rosto de meu avô
se seus olhos eram negros ou azuis
nenhuma palavra de sua boca
nem um sorriso

nada me faria antever seu vulto
na penumbra
não fosse seu nome
minha única herança
alguns objetos já desaparecidos
dele me dizem
pendurados na parede invisível da sala
resistem ao tempo da provação
selam de silencio
a genealogia do poema
sem memória

nada sei sobre o rosto de meu avô

nenhum poema
é uma ilha
rodeada por palavras frias

Jão,Hoje, me vi pensando como seria viver em um país de leitores literários. Pode ser apenas um sonho, mas estaríamos em um lugar em que a tolerância seria melhor exercida. Praticar a tolerância é abrigar, com respeito, as divergências, atitude só viável quando estamos em liberdade. Desconfio que, com tolerância, conviver com as diferenças torna-se em encantamento. A escrita literária se configura quando o escritor rompe com o cotidiano da linguagem e deixa vir à tona toda sua diferença – e sem preconceitos. São antigas as questões que nos afligem: é o medo da morte, do abandono, da perda, do desencontro, da solidão, desejo de amar e ser amado. E, nas pausas estabelecidas entre essas nosssas faltas, carregamos grande vocação para a felicidade. O texto literário não nasce desacompanhado destes incômodos que suportamos vida afora. Mas temos o desejo de tratá-los com a elegância que a dignidade da consciência nos confere.A leitura literária, a mim me parece, promove em nós um desejo delicado de ver democratizada a razão. Passamos a escutar e compreender que o singular de cada um – homens e mulheres – é que determina sua forma de relação. Todo sujeito guarda bem dentro de si um outro mundo possível. Pela leitura literária esse anseio ganha corpo. É com esse universo secreto que a palavra literária quer travar a sua conversa. O texto literário nos chega sempre vestido de novas vestes para inaugurar este diálogo, e, ainda que sobre truncadas escolhas, também com muitas aberturas para diversas reflexões. E tudo a literatura realiza, de maneira intransferível, e segundo a experiência pessoal de cada leitor. Isto se faz claro quando diante de um texto nos confidenciamos: "ele falou antes de mim", ou "ele adivinhou o que eu queria dizer".João, o texto literário não ignora a metáfora. Reconhece sua força e possibilidade de acolher as diferenças. As metáforas tanto velam o que o autor tem a dizer como revelam os leitores diante de si mesmo. Duas faces tem, pois, a palavra literária e são elas que permitem ao leitor uma escolha. No texto literário autor e leitor se somam e uma terceira obra, que jamais será editada, se manifesta. A literatura, por dar a voz ao leitor, concorre para a sua autonomia. Outorga-lhe o direito de escolher o seu próprio destino. Por ser assim, João, a leitura literária cria uma relação de delicadeza entre homens e mulheres.Uma sociedade delicada luta pela igualdade dos direitos, repudia as injustiças, despreza os privilégios, rejeita a corrupção, confirma a liberdade como um direito que nascemos com ele. Para tanto, a literatura propõe novos discernimentos, opções mais críticas, alternativas criativas e confia no nosso poder de reinvenção. Pela leitura conferimos que a criatividade é inerente a todos nós. Pela leitura literária nos descobrimos capazes também de sonhar com outras realidades. Daí, compreender, com lucidez, que a metáfora, tão recorrente nos textos literários, é também uma figura política.Quando pensamos, João, em um Brasil Literário é por reconhecer o poder da literatura e sua função sensibilizadora e alteradora. Mas é preciso tomar cuidados. Numa sociedade consumista e sedutora, muitos são leitores para consumo externo. Lêem para garantir o poder, fazem da leitura um objeto de sedução. É preciso pensar o Brasil Literário com aquele leitor capaz de abrir-se para que a palavra literária se torne encarnada e que passe primeiro pelo consumo interno para, só depois, tornar-se ação.João, o Brasil Literário pode, em princípio, parecer uma utopia, mas por que não buscar realizá-la? Com meu abraço, sempre, Bartolomeu

Prezado Bartolomeu, li sua carta de um só fôlego. Nela reconheci o amigo dileto, o escritor delicado e cuidadoso e, em fusão vivenciada, o cidadão atento aos problemas e esperanças de um país admirável e povoado de contradições. Nada mais justo e oportuno um “movimento por um Brasil literário” nos moldes propostos em sua amável carta. Nada mais necessário aos escritores, aos leitores que escrevem, aos intelectuais de nosso tempo ( e, hoje, mais do que nunca, de todos os lugares) essa retomada de c consciência , em uma perspectiva crítica , mas humilde, da importância da literatura e da leitura no processo de construção/reconstrução/reinvenção deste Brasil que amamos e, por isto mesmos, questionamos.
Indispensável dizer sobre o caráter sincero e brilhante de seus conceitos e análises sobe o texto literário. A idéia da metáfora como força política ( não apenas como figura de linguagem, como adorno ou subterfúgio) é fundamental ao ofício, sacro-ofício ou sacrificio literário. Mais que uma carta em defesa da Literatura procurei entender suas belas palavras como um alerta aos escritores, sejam os neófitos, seja os veteranos, consagrados, reconhecidos ou anônimos...a todos que labutam diariamente com a palavra e delas se alimentam,,mais espiritual do que materialmente. Alerta, no sentido de que todos devemos
caminhar em direção à solidariedade, à comunhão e à comunicação, sem cair na armadilha da globalização, no fetichismo da tecnologia e no isolamento egoísta e consumista propagado pelo neo-libralismo.
Desculpe-me se não entendi o que escreveu como devia, mas como leitor, limitado sob muitos aspectos, não posso ir além do que sou capaz rss..
Bartolomeu, li e repassei sua carta para compartilhar suas iéias e ideais com pessoas que sei interessadas e Literatura/leitura e com os destinos e desatinos brasileiros.Confesso que ,desde que tive a honra de trabalhar sob sua orientação na Fundação Clovis Salgado –Palácio das Artes, quando passei a conheê-lo de mais perto, tenho procurado aprender com cada linha que você escreve. É um privilégio ter amigos de seu porte e humildade.
De minha parte, coloco-me à sua disposição para o que eu puder contribuir ,mais diretamente para que este movimento ganhe força e seja vitorioso.
Carinhosamente,
João

de pássaro
e tigre
de cisne
e arco íris
o poema se nulti faz
no ar
desaparece

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009



Reflexão

há mais de dois mil anos
o Natal se repete
repleto de luzes e enganos
a mesma cena diária
a mesma fila de indigntes
a mesma festa literária
dita de modos diferentes

debaixo de árvores coloridas
repousam gordos mendigos
objetos de vidro
amigos incultos
inimigos declarados
senhores falidos
senhoras faladas
mulheres de luto
cauxas e latas
anjos de pelúcia
filhos descontentes
sonhos perdidos
livros não lidos
fotos indecentes
o planeta ferido
animais doentes
ovelhas e burros
lobos e serpentes

os dias se evaporam
vazios
mortos
violentos
tudo em tudo se reflete
tudo se embrulha
de confeitos e confetes
a estampa de luxo
o estampido do buxo
o burrinho de argila
o menino Jesus
seu pai velhinho
sua mãe tranqüila
com o mesmo papel de presente

um moleque de rua nasce a meia noite
sob o acoite do pai
encharcado de aguardente
sob os olhos da estrela guia
o galo eletrônico
entoa hinos natalinos
com rock sinos pagodes e axés
a chuva cai impenitente
Deus chora
o sino toca
o carro passa
o boi passa
o tempo avisa
o trenó voa
a sirene apita
todo ano se repete o sacrifico divino
indefinidamente

a vida inútil nuvem
cego ritual de sempre
segue seu calendário urgente

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009


universal
para todos que falo
para todos os lugares
todos os tempos
de alegria ou de sombras
falo de palavra livre
de vento no deserto
palavras de águas amazônicas
de aves sem pouso
cidades mortas
animais em extinção

assim são minhas palavras em ruínas
desmedidas e musicais
de pedra em repouso
mesmo quando as montanhas
de abusos e absurdos
se desabam em nuvens de silêncio e de terror
e as geleiras se derretem
contra a ignorância
a ira e a arrogância dos homens sem pares

falo de fala amável e necessária
do que me é dado ver e sentir
do que me é dado sofrer e sorrir
falo do que de humano existe
em todos os homens
de todos os tempos e lugares
para que vida se cumpra
e floresça em sua plenitude
no coração da humanidade

quem tem ouvidos que ouça
o poema da alegria
da dor da arte universal
de minha parte esqueço o som vazio
a sinfonia de minha própria boca

domingo, 29 de novembro de 2009

Cecília

assim diria Cecília
eom sua delicadeza
tranqüila mais que um lago
em uma tarde sem vento
mais calma que a tristeza
mais triste que a beleza
de seu rosto irrequieto
assim diria a poeta
das coisas mais pequeninas
das magias mas secretas
atrás das portas fechadas
onde as palavras florescem

a vida parece impossível
no coração do
universo
se não for com alegria
pela palavra tocada
se não for toda bebida
sobre toalha bordada
se a vida não for sentida
repartida e bem cuidada
se não for vida incompleta
se não for reinventada

j

sábado, 28 de novembro de 2009


o silêncio é de ouro
ensina o professor
o vigário
a família zelosa
em nome da ordem
e dos bons costumes
da vida bem comportada
sem eira nem beira

quem fala muito
dá bom dia cavalo
repete em coro a gente mineira
mesmo assim falo
escrevo
resisto
grito
protesto
proclamo palavras de prata
silêncio demais adoece
anoitece a casa
mofa as paredes do espírito
amolece a carne
denuncia os sigilos do corpo

silêncio demais apodrece a alma
VivaViola – Sessenta Cordas em Movimento.

A viola caipira possui magia própria, eleva o espírito, amplia a percepção, educa a sensibilidade, aprimora o gosto.
Não importa se fala de temas comuns e cotidianos, se fala do amor, da vida na roça, da natureza, ou se conta uma história acontecida ou inventada.Não importa se chora ou protesta.
Quando cultivada com maestria e sinceridade a viola caipira sempre toca coração e mente de todas as pessoas.


nstrumento vibrante. Transita com a mesma desenvoltura pelas mãos dos mestres nas folias, folguedos e festejos populares, nos bailes da roça, nos teatros e palcos urbanos.
Pelas suas características e pela autenticidade dos valores que representa e defende, a viola caipira é símbolo da identidade da cultura popular brasileira.
Fazem parte do Vivaviola importantes nomes da viola de Minas Gerais:
Bilora,Chico Lobo, Gustavo Guimarães, Joaci Ornelas, Pereira da Viola e Wilson Dias.

terça-feira, 24 de novembro de 2009


viagem
a viagem pela leitura
é ventura diferente
o que mora nas lonjuras
fica pertinho da gente

o livro esconde piratas
estrelas mares serpentes
campos castelos e casas
nas florestas reluzentes

tudo no meio das letras
as letras dentro das linhas
as linhas todas bem pretas
da cor de certas frutinhas

e nem precisa passagem
nem endereço nem mapa
o leitor nesta viagem
vê o mundo pela capa

depois o livro se abre
ao toque firme das mãos
logo se vê os lugares
as formas e a dimensão

nos livros moram as fadas
índios, reis, animaizinhos
cada pausa é uma pousada
depois de muitos caminhos

a viagem pela leitura
dá prazer só de pensar
na escrita e na gravura
e no leitor a voar

seja em casa ou na escola
mo carro no lotação
mal o avião decola
some na imaginação

segunda-feira, 23 de novembro de 2009



a um passo do inferno
o homem pós-moderno
se espedaça
se orgulha
se humilha
ilha de sombras insônias
de tristissimos signos
e armadilhas

sábado, 21 de novembro de 2009


cada palavra uma alma
cada palavra uma aura
fúria humana
flatua amena
cada palavra no poema
versicanta a voz terrena
exala seu veneno
o vocabulário aurífero se abre
sob o céu de tristes açucenas

escrevo sem lirismo
por necessidade dos nervos
sem meio termo
sempre que impreciso
vocabulário volátil
vivo à beira do abismo

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

há muitas formas de amor
muito mais formas de desamar
amar sem amor
desamar de amor
amar amar amar
sobre todas as coisas
sem forma e sem esperança

o coração doente não sabe
porque se entrega a tão grande
descabido amor

exige que o corpo se estenda sem razão
na direção de outro corpo sem sentido

há muitas formas de não se entender o amor

terça-feira, 17 de novembro de 2009


amor

no texto
as palavras se abraçam
signos amorosos
se entregam ao calor das letras
dançam
voam no vazio da voz
no espaço do poema
engendram novos sentidos
primitivas borboletas

falo da origem
da floresta
onde
a vertigem
verbo vegetal
começa

tudo a tudo
neste verso único
gesto
se liga
desde o primeiro
grito de luz
ao ultimo seguinte
verso
no vértice da noite
inexorável
impenitente extinta

autonomínima

vivo da palavra
mínima
da que em mim
ainda resta
autônoma e ínfima
anônima por fora
luz infinita fera
me ilumina
por dentro meu corpo dilacera

segunda-feira, 9 de novembro de 2009



AFP PHOTO JOHN MACDOUGALL
berlin

berlin berlin
o mundo todo
única verdade comemora
a queda do muro de Berlim
brindes etílicos
rimas idílicas
fogos de sacrificios
música
samurias coloridos
painéis de liberdade
míticos rituais
da mídia irremediável
Sérvia
comemora aos berros
nos bares e becos
o fim da história
a funesta festa do mercado
o santuário do lucro
saturado de inutilidades
mas perto de mim
persistem tantos
tristes postais
trágicas barreiras muralhas turísticas
carros de luxo
casas em ruínas
reinos virtuais
falsas cores e luxúrias
cercas elétricas
caras fechadas
fechaduras de ouro
fachadas desertas
asilos de solidão
pobreza absoluta
desigualdade
e servidão
entre mim e meu vizinho
eu sozinho
não há paisagem possível
nem água nem passarinho
carinho incomum
na esquina transita figura esquiva
me escuta
não há
um buraco sequer
no cérebro eletrônico
uma brecha que seja
na parede que divide
o quintal das dores
universais
tudo de murmúrios e revides ocultos
se orgulha
doma
domina
doura a pílula da alegria
a Terra dorme
em paz sobre os cadáveres
a linguagem triunfante
mata o sonho
muda a senha
assanha a sede
cega o anjo da esperança
nenhum caminho leva à honra
à Roma ao amor entre os homens
todos os dez caminhos levam ao simulacro
ao rumor de um tempo estúpido
espúrio e sem nome

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

sexta-feira, 9 de outubro de 2009


criança

se fores capaz de criançar o vocabulário
de ver um pássaro nos olhos do gato
um peixe no galho das árvores
um carneiro no algodão das nuvens
por certo
ainda tens uma criança em teu coração

criança é signo de liberdade
sigilo da imginaão
não se recohece pela idade do corpo
mede-se pela voz da alegria
não é questão de tempo
é quando a inocência do espírito
vence pelo amor toda a hipocrisia

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

CÓPIA REVISADA

Desafios da ética na contemporaneidade.
Papel da educação e o lugar da poesia.

Senhoras e senhores, boa noite,

Alguns homens buscam ouro.
Outros, fantasia!
Há os que se reinventam
Entre sombras e atalhos .
Aventuram cada sol em nome da vida.

De inicio, agradeço aos responsáveis por este evento e aos gestores desta Universidade pelo convite.É um privilégio dialogar com um público diferenciado e interessado em assunto tão antigo e tão atual, ao mesmo tempo negado e acolhido ao longo da história da humanidade, em sua venturosa e trágica travessia pelo Planeta Terra. Reunir um grande número de pessoas dispostas a ouvir e discutir de maneira sensível e democrática um tema pungente e necessário é já , por si, sinal de que nem tudo está perdido para o ser humano, no complexo contexto social , em que todos, sem exceção, vivemos mergulhados na mais absurda perplexidade. Todos, inclusive nós, pequena parcela de cidadãos brasileiros e do mundo, vizinhos no pequeno Planeta Terra e dos imponderáveis sítios perdidos no coração do Universo.

Viajei muitos quilômetros para estar aqui, nesta noite. Durante o percurso, cortei paisagens de nuvens, sobrevoei cidades, atravessei campos e cerrados. Vi e imaginei grandes rebanhos de novilhos brancos pastando obedientes e serenos, enquanto engordavam sob as ordens o desejo de seus donos, vi e imaginei fábricas, usinas, represas, universidades, hospitais, presídios, catedrais, estádios de futebol, motéis, armazéns, florestas destruídas, montanhas e abismos, toda a arquitetura sócio-econômica e político-cultural, de um mundo ébrio de poder, cego pelo saber, saturado de bugigangas e de informações e, por isso mesmo, em muitos pontos ameaçado de desabar. Casas abandonadas, trabalhadores madrugando em bandos, feitos pássaros sem pouso, em busca de sustento e de menos sofrimento para si e para suas famílias.

Risco maior e mais evidente após a conquista da violenta vitória e da arrogante e emergente hegemonia, em escala planetária, do projeto neoliberal.
Diante deste cenário, nada animador, o que teria a dizer-lhes, senhores professores, estudantes e outras pessoas presentes, aqui, hoje, um outro cidadão brasileiro, igualmente perplexo e ferido pelas mazelas nacionais e contemporâneas?

Alguns, talvez esperem de mim, um discurso sistemático, metodológico e historicamente fundamentado, sereno e ascético, como convém a um clássico professor de Filosofia. Outros, talvez, ficassem felizes se minhas palavras avalizassem o comportamento autoritário e acrítico de um processo mecanicista e funcionalista de transmissão de informação e de mera reprodução da sociedade. Falas poéticas, nem pensar! Porque o verdadeiro espírito poético desequilibra as regras do jogo. Nada de metáforas. Nem por dentro, nem por fora da fala cotidiana. Do jargão acadêmico. Nada de paralelismos, aliterações, ou aproximações sonoras, rítmicas e/ou semânticas do tipo escola/gaiola/viola. Nada que acenda, em demasia, a curiosidade e a imaginação dos estudantes. Asas/brasas; abraços/abra/cadabra.Casas. Casais.

Não por acaso, sortilégios assim estranhos e metodologicamente incontroláveis não são aconselháveis aos jovens descobridores do mundo e da vida. Dos desbravadores do espírito, dos riscos e da alegria de viver. Dos mistérios da vida da morte. Dos desafios da existência individual e coletiva, da sobrevivência da humanidade. Para estes jovens iluminados pelo desejo de liberdade e pelo sabor do saber (e não alunos –isto é, sem luz - como até hoje insistimos em nomeá-los, em contraposição à luz dos mestres, do professor, das instituições de ensino , que de tudo quase tudo sabe, ou se pressupõe saber) a ética, na sua essência e na sua historicidade, reserva melhores e mais valiosos e incorruptíveis tesouros.

E que tesouros serão estes? Não se trata aqui, de simplesmente entregar, de mãos beijadas, uma lista exaustiva destes tesouros conquistados pela humanidade, como se fazem com produtos de consumo em campanhas publicitárias de liquidação. Trata-se, ao contrário, de tesouros em falta, não ofertados cotidianamente. Raridades somente encontráveis a partir de uma arqueologia do conhecimento. Frutos de escavações profundas no espírito humano, valores e formas de ser incorporados no comportamento, nos gestos e atitudes cotidianas de cada pessoa, de cada indivíduo concreto, enquanto sujeito responsável e atuante no seio de uma determinada sociedade.

Neste ponto de nossa quase conversa, vale a pena voltarmos à mitológica Grécia de onde herdamos a essência do que pensamos, do nosso modo de ver e interpretar o mundo. Seria erro imperdoável ignorar a tradição do pensamento grego em função das mudanças históricas e das injunções conjunturais de um mundo em crise, sob o rótulo plástico e embaçado da pós-modernidade. Conceito ambíguo que tudo/nada abarca de todas as formas, com ou sem fundamentação sólida e consistente.
Assim, na geléia geral do cenário contemporâneo, parece conveniente a dificuldade em se estabelecer parâmetros e critérios válidos de comportamento éticos, científicos, políticos, econômicos, sociais, morais, jurídicos, estéticos, artísticos e culturais. Tudo sugere que, sob o signo da “satisfação das necessidades imediatas e superficiais” e da manipulação potente e onipresente da mídia e do marketing, o consumismo, a todo e a qualquer custo, seja o único valor vigente em nosso dias.

Daí que sucesso, poder, competição, individualismo, egoísmo, traição, negociação, vantagem, chantagem, insegurança, medo, violência e morte sejam palavras que habitam nosso cotidiano , chaves que permitem abrir os grandes templos simbólicos do mundo contemporâneo. Raras instituições têm conseguido escapar deste vírus letal que, no campo da saúde, pode ser chamado pelo nome de Aids, de tuberculose, malária, ou gripe suína. No campo sócio-econômico e político atende por diversos apelidos como mercado, marginalização, desemprego, suborno, manipulação, corrupção e omissão, para citar apenas alguns de seus cognomes.

No campo educativo e cultural a situação não é menos grave, ao serem os que dela participam, igualmente reeificados e mercadorizados, rebaixados ao nível de objetos postos à venda. Despojados de tudo o que lhe dava sentido, ou seja, a subjetividade, a criatividade, a afetividade, a alegria da descoberta, a participação livre e democrática no processo coletivo de busca e construção da autonomia e da cidadania, os educandos também estão à deriva.

Senhora e senhores, quão longe estamos do ideal grego. De um tempo e de um lugar onde o conceito de ética que, provavelmente nasceu da necessidade de se criar um rumo para a existência humana, para evitar que os aventureiros, e navegadores dos mares antigos, não se orientassem somente através das estrelas, mas por princípios que os protegessem das artimanhas e sofismas da vida real e os impedissem de sucumbir à deriva nos mares e marés das paixões humanas. Estamos, agora, nos transformando, passiva e docilmente, em seres de consumo, animais sem compaixão, inimigos permanentes de nós mesmos e de nossos pares.

Quão longe estamos de compreender e viver no nosso dia-a-dia a ética entendida como ethos, moradia do ser. Ética como lugar da convivência e do cuidado , como sempre reafirma em suas falas o filósofo e teólogo Leonardo Boff. Se houvesse tempo, faríamos um passeio pelos jardins de Epicuro, conversaríamos, sem preconceito, sem fundamentalismos, sem dogmatismos com a tradição do pensamento ético, colocando-a vis-a-vis com os questionamentos e reposicionamentos dos filósofos contemporâneos.

Entretanto é bom relembrarmos, antes de chegarmos ao final deste nosso memorável encontro. A questão ética não se esgota no ato de se estudar e conhecer a história da Filosofia, a trajetória do pensamento ético no ocidente nos dois últimos milênios. A ética, como a entendemos, só existirá se for incorporada no agir, no sentir coração do ser humano. É dimensão profunda, mas não deve ser confundida com a fé de qualquer natureza, embora existam vestígios éticos desde as Leis de Moisés ao Alcorão. Ética também não se confunde com moral, sistemas jurídicos e legais, sendo que nenhum destes sistemas podem renegar nem violar seus princípios. Prova disso é a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, as constituições democráticas dos principais paises do mundo, incluindo a nossa de 1988, nas quais os princípios éticos e cidadania estão preservados. Contudo, na prática, é comum, sobretudo em nossos dias, testemunharmos a existência de leis injustas, portanto, não éticas e de jurisprudências imorais. Isto prova que a dimensão ética é de natureza dinâmica e deve se realizar através da vivência, da defesa e das conquistas diárias dos cidadãos coletivamente comprometidos com a vida, com a segurança ,com a alegria e a felicidade de seus semelhantes.

E a escola, onde fica nesta história? Bem, segundo Ruben Alves, em entrevista concedida à Revista Ecológico , de“Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas. Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do vôo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. (...) . Porque a essência dos pássaros é o vôo.”“Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são pássaros em voo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o voo, isso elas não podem fazer, porque o voo já nasce dentro dos pássaros. O vôo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado”. De certa maneira, esta é, também, a natureza da ética. Trata-se de experiência pessoal, de atitude individual, em contextos históricos particulares e concretos, Semelhante ao que acontece com o ato de voar, ética não se ensina. Estimula-se no seio da família, da escola , da sociedade, das instituições jurídicas e civis, religiosas ou não.Ser livre e ser responsável pela sua própria liberdade, é de inteira responsabilidade do ser humano, aprendizado que se conquista ao longo da vida. Alguns pássaros voam mais alto que outros. Estes são águias, diria Leonardo Boff, outros mergulham no abismo da vida. Contentam-se com as migalhas, com os dejetos que se acumulam à altura do meio fio. Na rês do chão. Voar não compõe seu repertório de sonhos. Seus mapas de utopia.

Mesmo em contextos adversos, como o da sociedade contemporânea, deve se ressaltar o papel da escola e da educação como ambientes responsáveis pelo estímulo do exercício da liberdade e da ampliação do horizonte ético em termos exemplares e de excelência pedagógica. Neste ponto , gostaria de compartilhar com vocês mais um depoimento de Ruben Alves no qual afirma:

“Não acredito que exista coisa mais importante para a vida dos indivíduos e do país que a educação. A democracia só é possível se o povo for educado. Mas ser educado não significa ter diploma superior. Nossas universidades são avaliadas pelo número de artigos científicos que seus cientistas publicam em revistas internacionais em línguas estrangeiras. Gostaria que houvesse critérios que avaliassem nossas universidades por sua capacidade de fazer o povo pensar. Para a vida do país, um povo que pensa é infinitamente mais importante que artigos publicados para o restrito clube internacional de cientistas.”

A escola, portanto, defende José Luiz Quadros de Magalhães em entrevista , publicada na edição nº 400, de setembro de 2009, Jornal Mundo Jovem, “ tem um papel fundamental nesse processo, pois é o lugar do conhecimento e do aprendizado. O ambiente escolar deve ser pautado numa visão democrática que se inicia a partir da delimitação da gestão do ambiente onde se desenvolve a educação.”
E a poesia? Bem a seu modo, vem, desde os tempos gregos, ora ostensiva oura silenciosamente, contribuindo para que a linguagem da alegria e da esperança não desapareçam para sempre da face da terra. É pela poética, pela libertação e renovação da linguagem, a morada do ser, via Martin Heidegger, que o homem se eleva acima da opacidade cotidiana e ilumina a clareira da enigmática floresta dos signos para erigir, entre nós, o labirinto da Verdade, do bem e da beleza.

Pela poesia, posso dizer sem medo de cair no ridículo, que já sinto saudades de todos vocês, saudade original, plantada no coração mesmo do ser”. Seria o sentimento ético uma espécie de saudade do ser original? Saudade de uma morada comum, de uma vida comunitariamente vivida e compartilhada de maneira livre e solidária? Ou isto seria apenas um devaneio do espírito, uma licença poética absurdamente exagerada? Ou maior absurdo seria viver o que estamos vivendo cômoda e passivamente,sem nos questionar, sem questionar nossos pares, sem nos indignar? Não basta, portanto , sermos livres. Precisamos ter consciência de nossa liberdade e sabermos agir de maneira livre, procurando sempre respeitar a liberdade do outro. E para reafirmar a grandeza, a beleza e a importância da ética podemos dizer com Imanuel Kant, o mais destacado filósofo do iluminismo, que dedicou grande parte de seus estudos para lançar as bases de uma ética autônoma, nos limites da razão humana: "As estrelas no céu e a ética dentro de meu coração", ou seja, dentro dele próprio. Poder-se-ia dizer: dentro do coração de cada homem, cuja principal missão é interferir e transformar o mundo, transformando-se a si mesmo.
Porfim, por tudo que nos aconteceu esta noite, já podemos falar de uma certa saudade, marcada pela afetividade e pelo entendimento, a mesma saudade que, conforme Rubem Alves, é nossa alma dizendo para onde ela quer voltar.”

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

pelo poema o poeta se erige
e se sustenta
escultura de nuvens
solta
no vazio do vento

pelo poeta o poema se inssurge
origem e movimento
o poeta e o poema se fundem
no ser
arte essencial
mútuo esquecimento

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

para além das palavras
descansam formas opacas
o sem discurso da pedra
das coisas insignificantes
o céu sobre árvores mudas
espanta pássaros em bandos
tudo de invisível existência
se banha
molha de solidão os olhos do mundo

o homem indefeso habita
a clareira do verbo

sexta-feira, 31 de julho de 2009




VivaViola lança Cd e se apresenta no Grande Teatro do Palácio das Artes

Depois de lotar o Teatro Alterosa, durante três dias em 2008, o VivaViola lança Cd e se apresenta, no dia 19 de agosto de 2009, no Grande Teatro do Palácio das Artes. Esta é, sem dúvida, uma boa opção para quem aprecia a música de viola de raiz.
Lançado ano passado, o Projeto VivaViola, 60 cordas em movimento, reúne seis importantes nomes da música regional mineira: Pereira da Viola, Chico Lobo, Wilson Dias, Bilora, Joaci Ornelas e Gustavo Guimarães.
O repertório privilegia o trabalho autoral dos artistas, destacando-se a parceria de alguns deles com o jornalista e poeta João Evangelista Rodrigues. Dinâmico e descontraído este espetáculo integra a moda de viola, as folias e os catiras, com ares de renovação criativa. Os seis violeiros ficam no palco durante toda a apresentação, alternando-se em solos e duos. Há momentos, sobretudo, na abertura e no encerramento, que o grupo faz uma cantoria coletiva o que aumenta, ainda mais, a força expressiva e a beleza do espetáculo. Os ingressos já estão à venda na bilheteria do teatro de segunda-feira a sábado, de 10h ás 21h00. Nos domingos e feriados, de 14h00 às 21H00.

CD VivaViola

Primeiro registro sonoro feito por este grupo de violeiros, o CD Vivavio0la é um retrato do espetáculo que será apresentado no Grande Teatro do Palácio das Artes. Além de ter o mesmo nome do projeto, o Cd ViVaViola foi gravado em clima de colaboração, descontração e alegria. Verdadeiro mutirão, onde todos desempenharam, e bem, o papel de cantor, instrumentista, diretor artístico, dando opinião e discutindo cada detalhe do processo de gravação, da arte gráfica, fotografia e textos do encarte. Esta é uma atitude rara em tempos difíceis, marcados, sobretudo, pelo individualismo, pela disputa por verbas via editais e a acirrada competição do mercado. Esta é talvez uma das principais lições destes seis violeiros: a arte pode e deve ser compartilhada e quando isso acontece com maturidade, os resultados são os melhores possíveis.
São ....faixas, correspondentes ao repertório do espetáculo VivaViola, seguindo a mesma ordem e formato de apresentação. A gravação foi feita no estúdio Rio Abaixo, de Gustavo Guimarâes. A arte gráfica tem assinatura de Joaci Ornelas e as fotografias e textos de apresentação de João Evangelista Rodrigues.
Seja pela qualidade do repertorio, seja pela forma que foi produzido, o CD VivaViola é, sem dúvida, um importante documento para a história da viola caipira em Minas, nesta primeira década do século XXI. Pode ser entendido como testemunho de que, contra todas as predições, ainda são possíveis a poesia e a música, a amizade e a esperança. Por isto, é possível resistir. Continuar cantando e se educando, pela magia da voz, pelo toque e sonoridade poética da viola caipira. Por isso pode-se falar, ainda, parodiando o poeta perrnambucano, João Cabral de Melo Neto, de uma educação pela viola.Vale a pena conferir.

O espetáculo
Esta é a segunda vez que o espetáculo VivaViola é apresentado em Belo Horizonte. No ano passado, os violeiros Pereira da Viola, Chico Lobo, Wilson Dias, Bilora, Joaci Ornelas e Gustavo Guimarães lotaram o Teatro Alterosa durante três dias.. Muitas pessoas não tiveram a oportunidade de ouvir e ver o que este grupo de violeiros mineiros é capaz de fazer nos braços da viola. A diferença de estilos, a marca regional de cada um deles, a diversidade do repertorio, tudo contribuiu para que este espetáculo agradasse e conquistasse o coração do público. Nesta apresentação, dia 19 de agosto, no Grande Teatro do Palácio das Artes, a energia não será diferente, tendo como novidade, o lançamento do Cd VivaViola.

Tanto o espetáculo quanto o Cd VivaViola mostram as riquezas e particularidades originas do universo da viola caipira em suas diversas paisagens sonoras. Os seis violeiros, cada qual com seu estilo, suas formações e vivências, procuram ressaltar importância deste instrumento enquanto expressão artístico-cultural coletiva e, por toda sua história, como símbolo da identidade da cultura popular brasileira. Revigora e reafirma, assim, a existência de uma coletividade que se desenvolve em torno da tradição – não conservadorismo - no âmbito da música mineira e brasileira.

Pontos de Vista

Em matéria no dia 24 de outubro de 2008, em O Tempo, o jornalista Daniel Barbosa refere-se ao espetáculo como “Uma verdadeira esquadra da música de raiz (...) mutirão que lotou o teatro Alterosa durante três dias”.

O jornalista César Macedo, especial para o Hoje em Dia, 9 de novembro de 2008, na matéria “A hora da Viola” faz alusão a capacidade deste instrumento de reunir pessoas, de sensibilizar mentes e corações pela a força do seu sotaque ao mesmo tempo mágico e realista, pelas suas inúmeras possibilidades sonoras e melódicas.

De acordo com repórter Eduardo Tristão Girão, Jornal Estado Minas, 24 de outubro de 2008, o espetáculo definiu-se como “Seis Violeiros mineiros de diferentes origens e formação se encontram para provar que a viola tocada em minas está viva, pulsante; (...) mostrando o bom panorama da produção atual para o instrumento, sem deixar de lado tradição como cantigas rodas e folias de reis”.

O repertório

O repertório privilegia o trabalho autoral dos artistas. Dinâmico, integra a moda de viola, as folias e os catiras, com ares de renovação criativa. O formato estético do espetáculo prevê que os seis músicos estejam no palco o tempo inteiro.

Entre as músicas do repertório, Wilson Dias apresentará “Brasil Festeiro”, composição inédita feita em parceria com João Evangelista Rodrigues. E Pereira da Viola interpretará a conhecida “Menina Flor”, autoria dele com Josino Medina. Joaci Ornelas cantará “Moda de Violeiro”, uma de suas parcerias com o também poeta e compositor João Evangelista Rodrigues. Enquanto Gustavo Guimarães cantará “A voz do Rio”, que faz parte do seu primeiro CD, “Vaqueiro”. Chico Lobo apresentará uma de suas músicas mais apreciadas, “No Braço dessa Viola”. E Bilora, “Calango na cidade”.

Os artistas, cada qual com suas particularidades e estilos, naturais diferentes lugares de minas, apresentam músicas que retratam as influencias dos lugares de onde vieram, em genuínas formas de expressão, como modas, batuques e toadas.

A Viola Caipira

Instrumento fundamental na formação da identidade cultural de Minas e do Brasil, a viola caipira continua presente nas manifestações populares, nas festas religiosas e profanas. Nas palavras do professor Romildo Sant’Anna a viola caipira “é uma das mais relevantes expressões da cultura e da arte radicalmente brasileira”.

Símbolo do coletivo, do mutirão, este projeto encadea-se no processo de legitimação da viola caipira como marca da diversidade cultural brasileira. O espetáculo VivaViola é, de certa forma, uma referência aos sertões de minas, através de canções que refletem as vivências afetivo-sensorial deste grupo de cantadores comprometidos com a realidade social e os valores da cultura brasileira.
A música de viola ressurge a partir dos anos 80 no ambiente cultural contemporâneo, após um período de ostracismo com força e importância no cenário fonográfico. Diferente dos modismos, ela retrata questões relacionadas à tradição com ênfase na expressão de raiz.
Sobre os violeiros
Chico Lobo – um dos mais ativos violeiros do cenário nacional e internacional, idealizador e apresentador, desde 2003, do Programa de TV Viola Brasil, especial veículo de divulgação da viola –, ressalta a importância deste projeto: “É sempre bom juntar minha viola com a dos companheiros. A viola é de festa, é de mutirão, é de coletividade. Sendo assim, se uma viola já é bonita, imagina quando muitas se juntam numa cantoria certeira”.
Para Gustavo Guimarães – um dos legítimos representantes da nova geração da viola –, o concerto tem um significado especial por ser este um momento de afirmação e ascensão da viola. “É importante ressaltar também os princípios que giram em torno da música de viola, como a defesa de valores éticos, morais, culturais e espirituais”, aponta.
Pereira da Viola, um dos artistas mais reconhecido de Minas e do Brasil, presidente da Associação Nacional dos Violeiros (ANVB), situa o concerto VivaViola no contexto do movimento nacional em torno deste instrumento. Ele afirma que, “Em Minas, sempre nos deparamos com um certo vazio, se comparado a São Paulo e até mesmo outros estados, no processo de identificação, estruturação e expansão deste movimento musical. Compreendo que este momento é profundamente oportuno, para esta ação coletiva que estamos desenvolvendo”.

A opinião de Wilson Dias – que tem direcionando sua carreira para o encontro entre a tradição e o urbano, com um viés especial para a cultura popular –, reforça poeticamente essa idéia da valorização da música de viola caipira, que vem crescendo a cada dia. Para ele, “cabe a todos nós o trabalho de manter enlaçados os fios que nos ligam, de maneira que a nossa rede de vida permaneça ‘redeviva’, em permanente frescor construtivo”.

Fiel às suas origens, o violeiro Bilora – um dos mais premiados violeiros do Brasil – faz questão de ressaltar que “a viola representa a cultura popular brasileira do interior. Está presente na alma desse povo e tem cheiro de mato. O concerto é uma festa da música semeando o belo som da viola”.

Um dos responsáveis pela realização do I Seminário Nacional de Viola Caipira (evento que reuniu, em Belo Horizonte, neste ano, os principais violeiros do país), Joaci Ornelas tem seu trabalho essencialmente ligado à viola caipira, como tradução musical desde o estilo renascentista, barroco, até os batuques e composições próprias. Ele afirma que este espetáculo tem dupla importância: pessoal e artística. “Primeiro, me coloca em contato direto com o trabalho musical de outros artistas. Segundo porque favorece uma troca de informações, sentimentos, experiências com artistas que acreditam numa vida mais justa e bela”.

Serviço:
Grande Teatro do Palácio das Artes
Dia 19 de agosto de 2009 – 21 horas
Informações bilheteria do Teatro: 3236-7400




Produção VivaViola – 60 cordas em movimento
Coordenação:
João Evangelista Rodrigues
31 3371 5525

Produção:
Ângela Lopes - 31 3459 8026 / 9954 6580
Daiany Durães - 31 8315 0450
Nilce Gomes: (31) 3427 9670 / 9113 1626 / 8721 7122

e-mail: pvivaviola@gmail.com

quarta-feira, 8 de julho de 2009


onde estiver a poesia
aí está meu coração
onde habitarem a dúvida
a inquietude da arte
a luta pela palavra mais fértil
na clareira da cultura
aí habitam meus irmãos
seja homem ou bicho
seja pedra ou pássaro
seja lua clara ou plena escuridão

onde houver a paz
meu coração descansa
até o início da próxima batalha
da alegria da lucidez e da loucura

onde estiver a poesia aí está meu coração

 

terça-feira, 7 de julho de 2009


culinária

o frango a molho pardo
o feijão tropeiro que minha Vó cozia
dava água na boca
o doce de leite
deixa a alma satisfeita
minha Vó não freqüentou escola de culinária
costumava cantar
enquanto o fogo trabalhava
e a panela fervia

de certo não há receita
para o poema de cada dia