quinta-feira, 14 de outubro de 2010


Noite Latina

trinta e três mineiros chilenos
emergem do centro da terra
como se de parto originário
brotassem as árvores e as pedras
os anjos e os bichos de todas as espécies
as cidades e suas maquinarias de tédio
as estrelas todas que povoam o universo

permaneceram no coração
do deserto de Atacama
durante muitas luas e muitos sóis
astros invisíveis aos olhos imemoriais

renascem por milagre ou sorte
por sortilégios da tecnologia
da poesia e da música
da arte de viver
como se de vento solitário fossem
a sua carne e o seu pensamento
e cavalgassem sobre si mesmos
com a leveza do tempo prisioneiro

entre Deus e o Diabo
os trinta e três heróis
operário de um tempo mineral
surgem de longa e solidária espera
da inexplicável fé no amor
confiaram no acaso
na eficiência da técnica
no sempre incompleto
conhecimento humano

só eles sabem o que sentiram
em suas fabulações oníricas
entre as paredes das noites
sem estrelas

o desejo de viver adiou a morte onipotente
o fantasma da solidão
no túmulo provisório

o mundo inteiro assiste ao vivo
em tempo real o resgate inédito
a versão da mídia

uma a um chega à superfície da terra
no útero da cápsula de metal
pisam a terra firme
recebem o carinho familiar
o beijo de Judas
atento e inoportuno
promete maiores alívios
deixa marcas evidentes

todos querem participar da trágica aventura
da bem sucedida empresa

por um momento os deuses pedem trégua
o universo pára de respirar
o canto de Pablo Neruda se eleva além dos Andes

a bandeira chilena ostenta o orgulho
latino- americano

“estamos bem no refugio os trinta e três”


o mundo continua sua acelerada trajetória de enganos
preso às fantasias de uma guerra surda e sem memória

sexta-feira, 8 de outubro de 2010



Pote: poesia e música de viola


1) Como surgiu a idéia de fazer este CD em parceria?


João Evangelista:

“Na realidade esse CD surgiu aos poucos. Eu já era parceiro do Pereira da Viola, há cerca de 20 anos. Em 1993, ele fez seu primeiro disco, no qual está registrado nosso primeiro trabalho de parceria, a música “Veio Caipira”. Eu conheço o Wilson há menos tempo nestas andanças pelo interior de Minas.Trabalhamos juntos , como jurados, no Festivale, na cidade de Bocaiuva, porém, só começamos compor em parceria a partir de um relacionamento mais próximo que se iniciou há cerca de três anos. Neste período já construímos um bom repertório, tanto pela qualidade , tanto pela quantidade. Uma delas foi Brasil Festeiro que está no Cd Vivaviola e também no repertório do CD Pote.. A parceria entre os três foi crescendo e numa conversa surgiu a idéia de se fazer um disco só com letras minhas. A coisa foi tomando rumo e pintou a música Sagarana Ana, depois Brasil Festeiro, Mulher de Argila e Sem Desatino. São músicas muito fortes e, ao mesmo tempo, têm conteúdo lírico, num universo bem de sertão, no sentido mais autêntico da palavra. A idéia da parceria veio dos dois. Eles queriam um CD que valorizasse a letra, o poema e a poesia. E, aos poucos, chegamos no “Pote” que é esse conjunto de quatorze músicas que mostram o sertão real, sertão ficcional e o sertão de cada pessoa. Eu considero este CD mais que um belo presente, uma surpresa”.

Pereira da Viola:

“Foi a energia do nosso encontro, porque até então a gente já vinha trocando idéias. Toda vez que encontrava com Wilson, a gente mostrava uma coisa que fez com o João. “Mas que negócio bonito, que coisa forte! Cumé que João consegue escrever umas coisa dessas”. Nesse ambiente várias vezes a gente se encontrou e o que rolava era música feita em parceria com o João. A energia forte, a afinidade maior parecia que estava nos três. Então o João começou a mandar poesia para gente colocar música. Tinha semana que saía duas, três, quatro. Chegou uma hora que eu falei: compadre Wilson vamos fazer um disco só de parceria com João?

João Evangelista:

Eu fiquei um longo período, - de 200 a 2007, em Arcos e, antes de voltar para Belo Horizonte, escrevendo muito, esboçando letras. Quando eu cheguei aqui eu comecei a revisar, separar as que eu achava que tinham potencial melódico e a deletar as idéias frustradas.Aí comecei a bombardear os dois ) Pereira da Viola e Wilson Dias - com letras, parecia que eu estava produzindo em massa, só que tinha muita coisa já escrita. No meio disso tudo tinha coisa nova também que ia pintando do relacionamento do dia a dia, dos questionamentos nossos. Nós temos temperamentos fortes, posicionamento político muito definido e os valores também em afinidade. Então são três pessoas que quando se reúnem sai faísca até na flor d’água. Não escrevemos porque queremos fazer música. – “Quando eu laço o boi eu cango, bato firme e não esfrego”, ou seja, a idéia da gente é de bater firme mesmo, escrever pra valer e tocar as pessoas pra valer. O resultado são letras fortes que revelam nossa identidade pessoal e coletiva.

Wilson Dias:

Eu ficava olhando os dois _ Pereira e João - um pouco de longe, observando, como naqueles namoro de antigamente. Quando nós nos encontramos a primeira vez mais intimamente, eu fui conhecendo as faces dos dois e percebi que ali não havia apenas três pessoas pensando em um projeto de fazer música, existiam três pessoas preocupadas em construir alguma coisa que tivesse realmente sentido e que retratasse realmente a nossa união e o nosso desejo de caminharmos juntos. Foi um processo tão natural que fica quase impossível definir como é que isso começou. Talvez isso tenha começado até muito antes do que a gente imagina, num outro plano, talvez até uma relação um pouco mais sagrada, talvez esse nosso encontro já tivesse sido determinado de alguma forma, é a única explicação que eu encontro. Porque o Pote? Talvez ai esteja essa explicação. É uma das coisas mais antigas da humanidade, é o barro de onde nós viemos.


2) Como foi o processo de criação deste CD?

João Evamgelista:

A “inspiração”.as informações, vêem das minhas origens. A minha identidade com o congado, com a religiosidade popular, com os rituais afro, que tive a oportunidade de vivenciar no Oeste de Minas. São sons e imagens colhidos de memória , da minha infância. Agora, o Pereira é do Vale do Jequitinhonha, Wilson do Vale do Mucuri e eu do Vale do São Francisco. São três vales e três energias. Minhas verdades estão lá. Meu primeiro presente foi uma enxada jacaré, quando eu tinha de cerca de 10 anos. Então nós temos essa experiência rural, os valores, uma identidade e uma visão política muito parecidas.

Wilson Dias:

A gente se encontra mesmo é quando olha para o passado e volta às origens. Essa coisa de encontrar e de dar um abraço é um “negócio” muito forte. Na verdade, são imagens desse passado, por isso este CD é um trabalho um pouco cinematográfico. Eu fico impressionado que tudo que nós colocamos nesse disco são palavras que, apesar da gente não ter convivido na infância, parece que o João estava escrevendo para a gente. É uma coisa absurdamente misteriosa.

Pereira da Viola:

Este CD descreve um espaço que é real e não só fictício. No contexto da criação em si, existe uma recriação do espaço, nós criamos um imaginário que tem a ver com o Grande Sertão Veredas, com o Drumond de Andrade e vários mestres da literatura. O João tem seu próprio caminho que dialoga com essas idéias e espaços. Do meu ponto de vista, é onde a gente encontra uma riqueza muito grande para se expressar através das melodias e dos arranjos. A palavra dele nos permite cantar. As letras dão asas para as melodias.

Pereira da Viola:

É o puxar de um fio de uma linha que está muito lá atrás, mas, é um trabalho extremamente contemporâneo. Eu acho que tem um fio condutor pra fazer esse link com a nossa ancestralidade africana. Ao lado da espiritualidade, tem uma coisa que é a amizade. Esse trabalho é o resultado deste nosso encontro afetivo e artístico. O que eu falo de doar, quer dizer que toda vez, por exemplo, que eu recebo um email com uma letra do João, eu encaro como um presente. Eu me lembro que na roça toda vez que você vai na casa de alguém sempre tem que levar alguma coisa e não é por uma questão de necessidade e sim de doação.

3) A música de viola está voltando com força?

João Evangelista:

Antigamente, a viola era uma música encarada como reacionária, atrasada. Hoje, estamos experimentando outros estilos e linguagems.A universidade já está estudando e pesquisando a viola caipira. Não se trata de voltar ao tempo das consagradas duplas caipiras que ouvia através do radio. As escolas de música estão ensinando viola.Trata-se de um processo de retomada da viola caipira, enquanto instrumento de composição, de acompanhamento e de concerto. Trata-se, sobretudo, de redescobrir e valorizar uma importante vertente das raízes da cultura brasileira.

Pereira da Viola :

Hoje nós fazemos parte de um grupo de artistas que mais movimentam gente fora do show business. Os violeiros são um grupo alternativo a esse cenário. E a gente lota teatros pelo país afora. Existe um calor e uma coisa efervescente em busca da viola. Há um interesse por parte da sociedade. É um instrumento que mostra a musicalidade do Brasil. Não é só entretenimento. Pra nós é importante que cada vez mais as pessoas assimilem a sonoridade deste instrumento. O movimento da viola é comprometido com valores, mas também fala de amor, da vida e da esperança.

Wilson Dias:

É um negócio interessante. Eu tenho visto um constante crescimento de um público muito heterogêneo. Isso importante para a viola, para o que ela se propõe. As pessoas saem encantadas dos shows que são feitos apenas com a viola. Eu fico impressionado, as pessoas estão redescobrindo a beleza e a magia da viola.

4) Como vocês definem musicalmente o CD?


João Evangelista:

É um disco que se define por um processo, no qual o lado profissional e o lado mágico se interagem e se completam. Este Cd nasce em um momento de maturidade artística dos três autores.Talvez por isso, tem uma amplitude que vai de Minas, passeando pelo Brasil e chegando ao mundo , via América Latina. Trata-se, nele, de um mundo particular sem perder a visão do coletivo e universal, como convém a uma obra de arte, digna deste nome.

Pereira da Viola:

É um disco que eu fecharia os e colocaria qualquer uma das 14 faixas e ouviria com prazer. Parece que a gente foi dirigido por se sabe lá que força ou intuição. São sete músicas para cada um dos violeiros/compositores, é um número interessante. Cabalístico. São músicas de várias formas, ritmos e estilos. Tem até samba rural.E tudo composto com a viola caipira, encostada no corçao.

Wilson Dias:

O CD tem alguns estilos. Brasil Festeiro começa com o ritmo de moda de viola e termina com um boi. Tem toada. Tem a música Sete Donzelas, que começa com um samba e depois vai para uma coisa meio caboverdiana. É essa mistura de coisas. Eu diria que tem muito samba no disco. A célula rítmica é o samba. A música também tem muito do clube da esquina, do auge desse movimento. É musica feita com viola, com certeza, mas que transita por estilos e épocas com os pés no presente e, porque não, com os olhos no futuro,

5) Como foi o processo de criação dos arranjos ?

Pereira da Viola:

Em primeiro lugar, a palavra do João nos dá o note e ,em segundo,canta a viola,. O que me moveu mais foi a palavra. A gente está dialogando com Guimarães Rosa, Drumond, entre outros mestres. A primeira coisa é ressaltar a palavra. Nós queremos que as pessoas escutem a palavra, sobretudo, a palavra poética do João Evangelista Ela chega para as pessoas como um processo de amaciamento das melodias. A viola vem para facilitar a compreensão da letra.


Wilson Dias:

A gente tentou recriar muitas imagens, fazendo com que as melodias apresentassem a coisa cinematográfica da letra do João. A viola já está inserida no contexto social da cultura popular e existe uma grande possibilidade dos outros ouvirem com carinho. Esse casamento foi perfeito. Mesmo o cidadão que nasceu nas metrópoles consegue entender essa vivência que a gente passa. Eu vejo o Brasil bem rural, apesar das grandes cidades, especialmente em Belo Horizonte.

João Evangelista:

Outro dia uma pessoa disse na televisão que o sertão não existe mais, que ele só está nos livros e na cabeça dos pesquisadores, nas bibliotecas universitárias. Estes são os lugares mais imporváveis pra se encontrar e conhecer o sertão que conhecemos de perto, de origem e que cantamos aqui. Mas, quer mais sertão soturno do que a solidão de cada um no turbilhão das megalópolis.Outro dia em um filme estrangeiro falaram do sertão. Mas, o sertão não é só montanha e sol. Rio, vereda, bicho e passarinho. É isso também. `Pode ser. Sem dúvida, a angústia, a solidão e o medo de uma pessoa frente a outra. A violência institucionalizada, o excesso de.O inexplicável cotidiano das multidões cegas de poder e de desejo . As pessoas não têm tempo ou não querem pensar. E no sertão o que mais se tem é tempo, reflexividade, interioridade, mistério e busca de sentido para a existência em si mesma a feito de rio. Coragem no sertão tem outro nome: é vida em estado puro de pedra e sol , de água e vento.

Pereira da Viola:

Na viola tem umas “coisas de arranjos” que são inovadoras. Trazemos para o disco alguns elementos pessoais. O Wilson também está trazendo umas formas diferentes, que remete â música da noite, as folias, os bailes e umas nuances da melodia da viola própria com elementos desconhecidos de tudo que há de viola por aí, atualmente.E uma concepção de viola bem sofisticada e atenta ao movimento de nosso tempo.

6) O que as letras do Pote revelam ?

João Evangelista:

A letra é aparentemente simples, com elementos rurais e com muita intertextualidade com as músicas populares e folclóricas. Dialogam com poetas e pensadores contemporâneos;É ocaso de Leonardo Boff em Pachamama e de João Guimarães Rosas, em Sagarana-Ana. Ouço de que bom, sem preconceito: MPB, Jazz. Blues,rock, música clássica , contemporânea e experimental e,claro, a boa música de viola. O que escrevo pra música tem a mesma linhagem poética ligada à tradição literária e a busca comprometida e crítica por uma estética encarnada na vida do homem de nosso tempo , do qual sou parte e cúmplice.

Pereira da Viola:

O Pote traz uma estrutura literária sofisticada, rica, de um valor importante para as pessoas prestarem atenção e rever alguns conceitos de literatura mineira e brasileira. Foi definido que a música seria feita para valorizar a palavra poética do João. Do meu ponto de vista é um disco necessário para os dias de hoje. Eu dei o que há de melhor dentro de mim para esse disco, de buscar na viola determinadas riquezas que não tenho em nenhum outro disco meu. A poesia do João serviu como eixo em torno do qual se desenvolve toda a riqueza musical do CD.

Wilson Dias:

É um disco que nós optamos em fazer tudo, desde o repertório, estúdio, gravar, mixar, colaborando um com o outro. A gente deixou fluir, vazar, derramar o que a gente estava sentindo. Quando se tem esse zelo ao fazer, as coisas ficam mais fáceis. Foi um processo muito natural. Coletivo, feito por uma trindade unificada pelo sonho e animada pelo desejo comum de criar , de presentear as pessoas com esse misterioso pote pleno de água e de melodiosas palavras..

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Oi João, como vai?

Não fique muito desiludido com tanta porcaria que nos rodeia? Eu estou sem palavras para manifestar o meu repúdio a tudo isso que está acontecendo como essa votação esdrúxula do Tiririca que sinaliza essa tomada de atitude que você tão bem definiu. Protesto? Insatisfação? Desencanto? Acredito que seja uma mistura de tudo isso, mas que é doloroso para a gente é.
Mas cada povo tem o governo que merece e na era Lula acho que ele é o que melhor encarna o resultado de estarmos governados por um analfabeto de pai, mãe e parteira........
Mas sempre é bom receber seus textos e saber como vai.

Receba um abarco e o carinho da Maria

terça-feira, 5 de outubro de 2010


Não atirem! Não atirem pedras no Tiririca.
João Evangelista Rodrigues
O povo sabe o que quer. O povo não sabe o que quer. O leitor pode escolher qualquer uma das duas afirmações para seguir comigo neste breve texto. A questão é a expressiva votação recebida pelo palhaço Tiririca, de trânsito global. Di palhaço, no sentido profissional, carreira artística que escolheu por vocação, necessidade, luta pela sobrevivência ou inapetência mesmo para qualquer outra atividade que exija o mínimo de lucidez, ou preparo técnico, ou intelectual. Isto só Deus e o próprio Tiririca sabem!!
Se o povo souber o que quer, a análise sobre este fenômeno eleitoral, que abalou o coração da mídia - se é que ela tem este órgão vital para a vida humana - e a prepotência das elites brasileiras, segue uma direção. Se o povo não souber, a perspectiva de entendimento da coisa, vai por caminhos bem diversos.
Sei que o leitor/eleitor não é burro nem insensível como tantos que se arvoram em analistas e, por isso, deixo que ele mesmo se posicione. Apenas lhe dou algumas pistas. Um pequeno método para refletir, ele mesmo, sobre o que ocorrido fato que chamou a atenção do mundo inteiro.
Primeiro, procure enumerar todos os absurdos, falcatruas, casos de corrupção, brigas e agressões que ilustraram a vida do Congresso Nacional nos últimos anos. Só o que a mídia noticiou. Nem precisa ir mais longe nem ser um gênio para se descobrir o grau de descrédito de certo tipo de candidato de ficha nebulosa e relativizar o valor da democracia, em um sistema de poder fundado no patrimônio financeiro, no poder da mídia e, pior, na ignorância e bonificação programada da sociedade, em termos educacionais, políticos e culturais.
Segundo, tente recordar as formas como o personagem, não o cidadão Tiririca, aparece na televisão. O que fala? Como age? O que defende....se defende alguma coisa. Aproveite este raro momento de reflexão e enumere os reis e heróis, mulheres melancia, éguas pocotós e outras “esteritas a mãs”, que chegam via mídia em todas as casas, disse casa, não lares, brasileiras, dia e noite.
Soma-se a isto o “besterol” derramado por uma chusma de candidatos claramente despreparados durante a recente campanha eleitoral.
Claro que não exporei, aqui, as minhas conclusões. Para terminar – hoje em dia, poucas pessoas conseguem ler mais do que cinco linhas sem reclamar - podemos simular duas hipóteses, ambas consistentes: se o povo sabe o que quer, teria votado no Tiririca, para mostrar o quanto de palhaçada existe em torno das eleições, em tempo de partidos gelatinosos, de individualismo selvagem, de sarcasmo e cinismo com relação a tudo o que diz respeito à vida e às coisas do próprio povo.
Se o povo não sabe o que quer, por já estar manipulado ao extremo e exausto de acreditar no futuro e lutar para promover as mudanças estruturais via Congresso, portanto, já perdeu o senso, porá em cheque a validade de todo o processo democrático. Não só a eleição do Tiririca, pois, semelhantes a ele, em vários outros ramos de atividade profissional, existem tantos que foram eleitos por serem ídolos das massas, herdeiros do poder e fiéis defensores das elites. Seríamos todos palhaços? Se mirarmos bem, cada manhã, no espelho da realidade nacional, com certeza, descobriremos quem somos e porque o Tiririca foi o candidato – o personagem – mais votado destas últimas eleições.

domingo, 26 de setembro de 2010


esses poetas
o poeta global se gaba
na internet
da patota virtual
mete o pau no poeta federal
o poeta federal
bebe o sangue do poeta estadual
o poeta estadual
come os olhos do poeta municipal
o poeta municipal
sonha um pedaço de fama
por um segundo que seja
no maior jornal da província
no mais conservador de sempre
todos comem e bebem da mesma desilusão verbal
da impossibilidade poética
de se dizer a vida
como a vida não é
palavras não são servas
não se servem à milanesa
em mesa de bar de grife
ou de boteco sem pedigree
poesia não tem fronteira
nem eira nem beira
não cheira à flor burguesa
não termina na porteira do curral
no adro da igrejinha
na nave da catedral
um poeta não cheira o outro
nem se cachorro se faz
por qualquer ninharia
em nome da paz
da morte da ideologia
seja do que for
por mais que sofra
o poeta é cego
apalpando as coisas
de um mundo caduco
o sulco sem serventia
das letras todos os dias
segue sozinho
mordendo o vento
uivindo
uivendo a noite passar
como passam todas as coisas findas
as que nunca ficarão
se o verso não for sincero
asa sonora fincada no chão

sexta-feira, 24 de setembro de 2010


Comentários Blog vialaxia
Caros amigos, sou péssimo em manter correspondências em dia e, sobretudo, em atualizar este Blog , seja pro preguiça, falta de tempo ou incapacidade técnica RSS mas ficarei feliz se vocês ( e outros visitantes/leitores. caso existam) continuarem acessando e me retornando . Para quem escreve, isto e fundamental..mas o mais importante mesmo PE que minha escrita contribua para a recriação do universo através da reescrita de todos que com ela tiver contato . Obrigado. Com um abraço carinhoso do João Evangelista
Oi, João !!!
Amei seus versos !!! são muito inspirados!!! Parabenss !!!
beijos,
Adriana

Caro amigo Joao,
Muito bom seu blog, como já conheço o sua esperteza poéticaica, serei modesto em elogiá-lo.Acredito que seu canto e sua prosa, embora erudita e ao mesmo tempo singela ( via-satélite) , transporá as montanhas destas minas, em gerais.
TL

João, obrigado por seu belo complemento poético ao meu artigo "O problema de ler poesia". Parabens também pelo seu blog e por seus textos.
Aproveito para dizer que publico colunas nos sites acontecendoaqui.com.br e cronopios.com.br
Um abraço. Seguimos em contato.
Sérgio Calderaro
Cacá has left a new comment on your post "pelo poema o poeta se erige e se sustenta escultu...":

João, se você ainda se lembra de mim, sou o Antônio Carlos, o Cacá, aquele que foi mensageiro na Comunicação da MinasCaixa. Outro dia procurei por você na Internet, depois de encontrar com Rubinho,e achei seu blog. Seus poemas continuam ótimos, sua atuação em favor da cultura também. Um abraço.
has left a new comment on your post " sempre viva sempre a amável artesania das mãos o...":

Sempre viva vivas, tanto as fotos quanto o poema.
Bjs, amigo!
htm consuelo abreu has left a new comment on your post " sempre viva sempre a amável artesania das mãos o...":

lCristiane Duarte has left a new comment on your post " No Dia Internacional da Mulher....resolvi brincar...":

Olá¡ João! Pois é, acompanho o seu blog a algum bom tempo. E vejo muita força e criatividade em seus poemas. Tenho um blog também e amo escrever. Adorei esta foto!!! éns por sua arte!
efault.htm Gustavo Guimarães has left a new comment on your post " nada aprendemos com a morte dos inimigos morrem ...":

Grande João! Parabéns pelo blog! Viva a poesia, viva o poeta!

ISABEL HORTA has left a new comment on your post " Mimas submissa mí stica alegoria se ourifica em br...":

João:
Você ouviu com Drummond o bruxismo nas asas das palavras...
Gostei do encontro de vocês... Abraaços, Bel..

sob suspeita
o poeta escreve
a meia noite
a meia luz
ignora a lei do silêncio
a liturgia da lei...
escuta o som da palavra acesa
escapa pelo ferrolho da literatura
efault.htm Janice Sanna has left a new comment on your post " Um Pote para matar a sede de quem gosta da boa mú...":

Reflexão poética

Vedes os arcos da música?
Vossos prováveis acertos
residem em terra firme.

Façais da paixão, liberdade,
em afino com aquela garça no céu.

As lágrimas não correm mais
que vossos gestos de flor,
em flor...

Vesti o couro, sem sangue.
Servistes-vos de oliva madura
em montes férteis,
no caminho á¡rdo que ficou.

Sentis a onda do rio
que trilha o canto, nos dedos?
Não temais erro!

O tempo paira onde resiste a emoção.
Os versos incertos do amor mundano
são sementes frescas para vosso servo que cultiva frutos, no desassossego.

Vedes a doçura do som?
São vossos olhos sobre o sol,
estalos de fogo que cuida,
em noite sem lua.

Vossos bendizentes anjos
São ávidos de cores,
tais quais, infinitas
nas margens da vida.

Vagueai, com força, nos pés,
ao prelúdio dos ventos,
Como os lobos azuis
uivam vossos sonhos
de menino.

Não permitais o frio!

Vedes o diálogo longínquo
dos peixes com vosso oriente?

São a estação que buscais,
em acordes de ar
e melodia. (Janice Pires-2008)


efault.htm Livia has left a new comment on your post " Haiti só quem viu poderá nos dizer quanta dor qu...":

seu trabalho é lindo... Mas passei aqui porque uma vez fiz uma musica com um poema seu (Transversias). Meu nome é Livia Oliveira, Moro na cidade de Confins, trabalha com musica e agora vou estudar no Palácio das artes. Morávamos em Arcos e minha mãe encontrou seu irmão no aeroporto, mas infelizmente perdeu o papel que tinha anotado seu endereço. Espero podermos fazer contato. meu email é livia_itaborahy@hotmail.com
Abraços
ault.htm margaret has left a new comment on your post " crian§a se fores capaz de criançar o vocabulári...":

que lindo vc é demais...amei a foto,ela representa tanto para mim amei o poema.

fault.htm Revista Cidade do Sol has left a new comment on your post " Bate-Pilão celebra a cultura popular Os violeiro...":

Oi, João, tudo bem? Vou fazer um post sobre sua oficina aqui no festival. Vai lá¡ dar uma olhada.

Abraços do Lúcio Jr.
efault.htm Revista Cidade do Sol has left a new comment on your post " culinária o frango a molho pardo o feijão trope...":

Oi, joão.

Reproduzi esse poema no meu blog.

Dá um pulo lá¡. Já divulguei seu blog no meu outro blog, o Penetralia, onde aparecem o Gerald Thomas e o John Hemingway: www.penetralia-penetralia.blogspot.com

Vc falou sobre o Anelito na palestra: eu acho ele um péssimo crí tico, uma merda mesmo. E agora ele é doutor na USP.

Eu me arrependo amargamente não ter feito aquele prefá¡cio para vc. O Anelito te chamou até de poeta de falação e vc aceitou como posfá¡cio...

Tem sempre alunos precisando de temas para monografia que me procuram, uma hora vou escolher seus textos e te mando o projeto, ok?

Mas me fale do lançamento do Visões de João Manoel, que eu quero ir.

Abraços do Lúcio.

fault.htm Sônia (anja) has left a new comment on your post " Um Pote para matar a sede de quem gosta da boa mú...":

Oi!
Estive aqui lendo e relendo. encantada com tuas palavras.
Encontrei o poema da Mãe >>"De repente encantou"
:)
Tem muito com que me deliciar por aqui.
Sou a Sônia (anja) parceira de Josino Medina.
bjos

Aqui alem do blog anjacaramuja: meu habitat do clube caiubi (tem blog tb)

http://clubecaiubi.ning.com/profile/Anja31


fault.htm Sara Roosevelt has left a new comment on your post " depois da missa no adro da igreja matriz homens ...":

Acabei de ouvir sua palestra(sjdr);
Gostei muito das coisas que falou, vou levar comigo áarias palavras ! :)

"vendem gado
trocam lotes
compram carros
pedem votos
negaceiam ívolos acontecimentos"

È o povo mineiirooo ":)) rsrs ...

sexta-feira, 17 de setembro de 2010



Um Pote para matar a sede de quem
gosta da boa música de viola caipira

A melodia vem do chão, da musicalidade, da poesia. Deste encontro telúrico, nasce o “Pote”, um CD independente e inédito, criado em parceria com violeiros e os cantadores - Pereira da Viola e Wilson Dias - e o poeta e jornalista João Evangelista Rodrigues. Três mineiros de águas fortes e confluentes vindos, respectivamente, dos Vales do Mucuri, do Jequitinhonha e do São Francisco. Três vertentes com raízes comuns no que diz respeito à cultura popular, ao sentimento de religiosidade e às convicções políticas, fundados na amizade e na defesa da cidadania. O show de lançamento do CD “Pote” será dia 14 de outubro, quinta-feira, às 21 horas, no Teatro Sesiminas, em Belo Horizonte.

O CD “Pote” pode ser definido como contemporâneo e primitivo. Rústico e refinado. Feito a mão. Modelado pela sensibilidade da palavra e conduzido pelo fio mágico dos acordes da viola. O “Pote” emerge da imaginação, dá asas ao sentimento, vivifica as coisas e objetos perdidos e/ou esquecidos no sertão. O mesmo infinito e indefinido sertão de João Guimarães Rosa, ao mesmo tempo íntimo, concreto e transcendental. Um sertão que todos somos ainda, apesar das urbanidades e desurbanidades contemporâneas.

Em todas suas dimensões de utensílio, de arte, o pote é sagrado pelos segredos que contém e revela, por suas qualidades pictóricas. Um pote pode servir ainda de sepultura, de túmulo. E isto só aumenta e valoriza seu potencial significativo, sua transcendência. Em nada diminui, portanto, a magia de sua beleza. Quando animado pela poesia e pela música, cria asas, canta e voa feito pássaro entre montanhas mineiramente latinas. No CD, faixas como Sem Desatino, Mulheres de Argila, Sagarana Ana, Pacha Mama, Fim de Tarde, Latina e Tributo, sem nenhum prejuízo crítico para as demais canções que integram o disco, atingem alto grau de expressividade poético-musical. Seja pelo lirismo ou pelo comprometimento com a vida e o desatino do ser humano em um planeta ameaçado.

O CD é uma homenagem à palavra poética pela valorização da letra no processo de composição musical. É também um reconhecimento do trabalho de criação do poeta João Evangelista que, além da música, utiliza de várias linguagens e campos de conhecimento para expressão, como filosofia, jornalismo, literatura e fotografia. Foi a intenção de destacar o papel da letra na construção da canção que orientou todas as etapas de produção do CD, desde a composição, passando pelos arranjos, processo de gravação, interpretação, mixagem e concepção gráfica do encarte. É por isso que, ao manusear e ouvir o CD, pode-se perceber com todos os sentidos a intensidade e o sabor de cada palavra, de cada imagem; sua textura e visualidade. Um verdadeiro cinema sonoro, onde a música feita na viola revela as tonalidades de cada história. A palavra cantada torna-se palavra encantada. Música necessária e mágica, fruto de um encontro espiritual e artístico ente os três compositores. Uma trindade que só vem enriquecer a música feita na viola caipira, em Minas. Por isso mesmo, a viola, cada vez mais valorizada no complexo cenário musical brasileiro da atualidade, ganha uma nova aliada: a poesia, que se mistura de maneira equilibrada e harmônica com o timbre e com a autêntica sonoridade do instrumento. Assim, tanto do ponto de vista temático, quanto musical e poético, pode-se dizer que há uma verdadeira sintonia criativa e estética.

Os Compositores

De certa forma, O Cd “Pote”, o sexto da carreira artística de Pereira da Viola e o quarto da de Wilson Dias, é um desdobramento natural do trabalho que estes violeiros vêm desenvolvendo juntos nos últimos anos. Neste contexto, situam-se os espetáculos “Dois Rios” e “Bate Pilão”, ambos muito bem recebidos pelo público e cuja base do repertório são composições feitas em parceria com João Evangelista. Tanto nestes espetáculos, quanto no Cd “Pote”, os dois amigos violeiros primam pelo domínio na execução do instrumento, pela sensibilidade e força interpretativa em um ambiente de admiração e de respeito mútuo.

Pereira e Wilson participam também do projeto Vivaviola, criado em 2008; juntamente com Bilora, Chico Lobo, Gustavo Guimarães e Joaci Ornelas. O Vivaviola já rendeu um Cd, com o mesmo nome e, este ano, foi escolhido pela Natura Musical para realizar o Roteiro Vivaviola Estrada Real, com apresentações nas cidades de São João Del Rei, Diamantina, Paraty, Ouro Preto e Congonhas.

O poeta João Evangelista Rodrigues é parceiro de Pereira da Viola desde o lançamento do primeiro Cd do compositor, “Terra Boa”, do qual participa com a música Veio Caipira. De lá para cá, os dois artistas vêm trabalhando regularmente, criando canções como Aboiador de Viola, Misturas Mistérios, Violeiro Trovador, Viola in Blues entre outras. A parceria com Wilson Dias é mais recente, mas já rendeu inúmeras composições como as que integram este novo CD e tantas outras músicas, ainda inéditas, com estilos e temas diversificados.

O trabalho de composição de João Evangelista Rodrigues, apesar de discreto, é forte e reconhecido. Teve início nos anos 70, quando se mudou para a Capital Mineira, onde cursava Jornalismo e já atuava como militante político e nos movimentos de cultura popular. Vem dessa época sua primeira música, Sinetes de minas, composta com Cristiano Guedes, o Bain. Depois, fez parcerias com Zé Neto, Rubinho do Vale, Enzo Merino, Paulinho Pedra Azul, Gilvan de Oliveira, Cid Ormelas, Téo Azevedo, Zé Baliza, Carlos Maia, Dadi do Norte, Arlindo Maciel, Nelson Ângelo, Marcos Carvalho. Também é parceiro de Joaci Ornelas, Gustavo Guimarães e Chico Lobo. Hoje, dedica a maior parte de seu tempo à literatura, música e fotografia. Atualmente, coordena o projeto Vivaviola, e está preparando um novo livro de poemas, fotos e prosa poética: “Visões de João Manoel”− diálogo com o poeta Manoel de Barros − projeto aprovado na Lei Estadual de Incentivo, e que deverá ser lançado no início do próximo ano. Como poeta, é autor dos livros “O Avesso da Pedra”, “Mutação dos Barcos”, “A Oeste das Letras” e “Transversias”, além de livretos de cordel e participação em várias antologias impressas e eletrônicas.

A melodia do chão

O CD “Pote” é marcante. Pode ser entendido como uma metáfora da condição do homem no mundo contemporâneo. Uma evocação do ambiente do mineiro a partir de uma visão crítica. Cercado de simbologia, um objeto real e mítico, que reflete a arte, a cultura, os valores, a religiosidade e as contradições da mineiridade. O pote, objeto que deu origem ao nome do CD, guarda a água, símbolo da vida, ecoa a essência, marca o lugar e a passagem para o imaginário. Para um mundo real, a poesia e a música, o sorriso e o diálogo, a prosa e a viola, ainda são possíveis.

As 14 composições do CD são todas assinadas por João Evangelista Rodrigues, autor das letras, e por Pereira da Viola e Wilson Dias, responsáveis pelas melodias e interpretação. Participam da gravação os músicos: Pereira da Viola e Wilson Dias (voz e viola), Pedro Gomes (contrabaixo), André Siqueira (guitarra e violão), Carlinhos Ferreira (Percussão). Tem ainda a participação especial do cantador e compositor Dércio Marques. A arte gráfica é da designer e jornalista Doris Sanabio.

Serviço:

Lançamento do CD “Pote”
Local: Teatro Sesiminas - na Rua Padre Marinho, 60
Bairro Santa Efigênia – Belo Horizonte – MG.
Data: 14 de outubro, quinta-feira.
Horário: 21h00

segunda-feira, 30 de agosto de 2010


Um passeio pela Estrada Real ao som da nossa viola caipira

O projeto Vivaviola - Sessenta Cordas em Movimento – Turnê Estrada Real, que começou em julho, deste ano, como parte da abertura do 23º Inverno Cultural, promovido pela UFSJ, vem conquistando a simpatia do público receptivo e ávido por músicas de qualidade. Agora é a vez de Ouro Preto e
Congonhas receberem a viola capira e conhecerem o trabalho dos violeiros e cantadores Bilora, Chico Lobo, Gustavo Guimarães, Joaci Ornelas, Pereira da Viola e Wilson Dias, integrantes do Vivaviola.
Além de São João Del Rei , o Vivaviola já se apresentou no 42º Festival de Inverno da UFMG, em Diamantina e no XVlll Festival da Cachaça , Cultura e Sabores de Paraty.
Os dos últimos compromissos do Vivaviola, dentro do Projejto Tounê Estrada Real, patrocinado pela Natura Musical, será em mais duas importantes cidades históricas mineiras:

dia 10 de setembro - 21 horas - Ouro Preto
local: Teatro Municipal (Casa da Ópera). Entrada franca; ingressos devem ser adquiridos na bilheteria do teatro à partir das 20 horas; parceria com a Secretaria de Cultura e Turismo.
O show de encerramento do projeto será no dia 17 de Dezembro, no Cine- Teatro Leon; parceria com a Fumcult.

Após as apresentações, os violeiros vão autografar o CD VivaViola, o primeiro do grupo, que será vendido a R$20,00.

Paisagem sonora
Versátil e diversa em seus estilos e temas, a viola caipira vem ganhando cada vez mais espaço como instrumento de composição e de execução. Ela está presente e atuante nas mais diversas formações, indo desde os grupos instrumentais, como orquestras, passando pelas duplas, Jazz , choro e
instrumento solo. E mais, como ficou provado nas apresentações que o VivaViola fez tanto em teatro, anfi-teatro, como em praça publica: a viola caipira é forte e consegue despertar a atenção do publico, independente da idade de hábitos musicais dele. É vibrante e não se intimida quando
tem de se apresentar em ambientes marcados pelo predomínio da tecnologia e pelas grandes massas sonoras e rítmicas http://www.blogger.com/img/blank.gifda moda.
Verdadeiro passeio musical, passando pela moda de viola, catira, calangos, folias e muitos outros ritmos da cultura popular , o Projeto Vivaviola - Sessenta Cordas em Momento, Turne Estrada Real, não só contibrui para o desenvolvimento cultural de nosa gente, como afirma a identidade da cultura
brasileira, a partir de suas raízes, ou seja, da música composta feita e executada na viola caipira.

sábado, 28 de agosto de 2010


aos homens de meu tempo
dedico esse poema
sem nódoas
nem rótulos
infenso a todo sentimentalismo
a todo óbvio ornamento
dedico o poema necessário
a todos
de todos os tempos
e enganos
um poema de pedra à deriva
livre de todo antropomorfismo

sábado, 21 de agosto de 2010




os cães de Paraty
são mansos e amáveis espalham-se pelas ruas
a feito da água
dormem no convés dos barcos
na porta das casas

vigiam o tempo ocioso
sem latir
dividem com os pescadores
e turistas
o sabor das caminhadas
após as refeições

são cães de belas plumagens
misturam-se em sossego
com as pedras roliças e gordas das calçadas
dividem com os pássaros
o aconchego mítico da paisagem

assemelham-se a Argus
o espera de Ulisses
os cães de Paraty são amáveis
parecem esculturas a beira do mar

quinta-feira, 29 de julho de 2010


o poema se faz
de água transparente
no limite da pedra
no seu silêncio fluido
por dentro
por dentro da linguagem
sem ressonâncias
a pedra em pensamento
se funde no que ouve
de escuta atenta e rude
entre folhas brancas
ruge o eco seco
sem saliências
a razão implume
o poema se fraga no que diz
insuspeito alheamento
sem música sem perfume
onde de pedra por igual
fico em cada grão
de areia e sedimento

o poema na pedra se imanta
em sintaxe ausente se matura

domingo, 25 de julho de 2010


o poeta não é noz
é a voz do tempo
mais do que nunca
incomum
cada vez mais veloz
a poesia somos nós
nos nós da linguagem
viagem sonora
antevisão da última
utópica
impossível aurora
vertigem visual
asas do albatroz

sexta-feira, 16 de julho de 2010


depois da missa
no adro da igreja matriz
homens conversam em grupos
divididos pelos trajes
pela posse
pelas convicções políticas
e irmandades beneficentes

vendem gado
trocam lotes
compram carros
pedem votos
negaceiam frívolos acontecimentos

falam da vida alheia
em manchetes importantíssimas
comentam futebol
comem com os olhos
a beleza da mulher do próximo

domingo é dia de prece
de frango a molho pardo

quinta-feira, 15 de julho de 2010


minha mãe era mulher de sete serventias
desdobrava-se em tarefas domésticas
e pequenas alegrias maternas
lavava
passava
cozia
costurava
escrevia poemas
enfeitava a casa com flores que ela mesma fazia

professora por vocação
não se curvava ao peso das palavras
por conveniência política
nem por submissão às injustiças
não era de ficar calada
quando lhe pisavam nos calos

isto lhe valeu nove filhos
muitas noites sem sono
e infinitas aflições

com ela aprendi as primeiras letras
descobri o poder das palavras
o prazer da poesia
minha mãe
era mulher de sangue nas veias
de sete sabedorias de repente se encantou

quarta-feira, 14 de julho de 2010


o que somos
somos só no tempo
vida provisória
se inscreve
entre a memória
e um breve esquecimento

segunda-feira, 12 de julho de 2010


quem fala no poema
onde ninguém fala
a voz reponde

a pedra
a água
o vento

o alicerce do poema
a palavra líquida
o som da água na pedra
levado pelo vento

ninguém fala quando no poema fala a fala
a palavra sobre si mesma se faz se esfacela

domingo, 11 de julho de 2010


ouço a Canção do Exílio
no quintal de minha casa
o mesmo sabiá ventríloquo
canta na palmeira de acrílico
na Praça da Liberdade

sexta-feira, 18 de junho de 2010




os atletas se benzem
nos estádios
sonham vitórias invencíveis


Deus dribla os heróis
Brinca com suas bandeiras
domina a bola da vez
a seu bel prazer
impõe-lhes derrotas invitáveis

a torcida grita
delira
chora
Deus continua em silêncio

o universo é um imenso campo vazio


não há surpresas na morte
em si
na morte de ninguém
de nenhum ser no universo
desde o início
avisa de sombra em anúncios
a fúnebre ocorrência
apenas fingimos não ver
ignoramos o idioma letal

todos somos condenados
apenas adiamos nosso entendimento
sobre ausências e despedidas
agarramos a qualquer migalha
qualquer distração nos alimenta

não há regras no jogo contra a morte
sempre vitoriosa
não há ética nem equidade
no olhar da morte não há compaixão
nem esperanças
a morte em si soberana de todo o universo
não há surpresas

quinta-feira, 10 de junho de 2010


copa do mundo

o mundo todo doido
de olho em Jabulani
veloz mais que um gato siamês
sem voz
lua de lã
lúdico animal feroz
anjo de couro cru
monstro de pano
redondo jabuti na lama
a bola rola
a gorduchinha da vez
corre para
sobe desce
bate rebate rebola rebumba
balança a bunda do atleta
escapa impune
no balé dos astros e dos deuses
dribla o bobo da corte
engana o zagueiro
o goleiro engole o gol em seco
o grito da torcida aflita retumba
o choro dos humilhados
dos desde e para sempre
perdedores
inunda o estádio
cheio de falsas esperanças
elefante branco na clareira
da floreta nua

Jabulani se mistura
a tudo que é gente e bicho
a tudo que é lixo e luxo
no fundo da rede
presa feito peixe fica
o coração disparado
se ilude
o mundo todo de pé
de joelhos
se benze
reza
faz feitiço
comunga pão no circo
no parque de diversões
no decurso dos políticos no palanque
faz tremer o altar de afrodite
no mágico ritual das coisas surdas

Jabulani ri
ao som ensurdecedor
das vovuzelas
mais alto que as estrelas
que as cornetas do juízo final

sábado, 29 de maio de 2010


paisagem

entre o visto
e o imaginado retrato
Minas se mostra diamante
a olhos nus se oculta
ostra de ouro
a música barroca
o ventríloquo em suas entranhas
o monumento de capuz
a estrada antiga
a montanha seca
o vôo rasante dos urubus

quinta-feira, 27 de maio de 2010



tudo em MInas é de pedra sabão
os profetas de Aleijadinho
a escadaria das igrejas
seus candelabros de fé
suas esculturas
os degraus da cadeia púbica
o passeio da farmácia
a rua estreita
sob luz minguada
o piso da Casa do Contos
das prostitutas
o murmúrio dos homens
sua esperança
sua inveja
seu ódio e tédio
seu ócio
as folhas do livro sagrado
os muros de lamentações
o chafariz
por onde escorre a água
o tempo líquido do sonhos
a alma dos inconfidentes
os votos os ossos do ofício
as recorrentes traições


tudo em Minas com raríssimas sucessões
pelo sim e pelo não é de pedra sabão

sexta-feira, 21 de maio de 2010


zaz
o poema pássaro
pousou na pagina branca
mais que o albatroz
veloz
voou pela prça
pela paz dos homens

sábado, 15 de maio de 2010


canto as coisas sem nome
as coisas precárias de sempre
as que do passado no abismo se perderam
as coisas do futuro sem retorno
as que no presente se escondem
sob a ruína das letras se levantam

canto as coisas sem nomenclatura
sem registro na memória
nas porcelanas da família
sem herança literária
sem aparências
sem aparatos
sem fronteiras

as coisas das sombras canto
canto as coisas que não se humilham


quarta-feira, 12 de maio de 2010


Sant’Ana

meu avô paterno na janela
olhando o gado indo em direção ao rio
minha Vó no jardim da frente
nolhado as flores
tristes alecrins
rosas e dálias
brancas e amarelas

o rio carrega o tempo de areia
a vida lenta e movediça

o cerrado se estende pelas vertentes
em mandos e segredos familiares
antevejo um tempo de impossíveis reconciliações

segunda-feira, 10 de maio de 2010


comércio

a cidade engorda
com o comércio de pedra
com ares de falso orgulho
e arcos de triunfo
com o comércio de ferro velho
de engodos e grutas esgotadas
troca de roupa
de farpas e influências
com a compra e venda
de votos
de carros
de fazendas
de almas e indulgências
de ferramentas
de cimento
e outros cereais em pó
trocam-se ofensas
e oferendas
por ópios
álibis
e óbitos
diplomas
hematomas óbvios
pães e opiniões
por meia dúzia de ovos
- quem for mais esperto
carrega o ouro
engole o outro
segura touro
diz o devoto contrito
o legislador sem juízo
o oráculo de olho torto
três vezes
com a mão no bolso

o boi todo se lambe
o crime anda solto
envolto em bruma
em moeda mais clara

homens e mulheres se fingem
dobram esquinas e joelhos
choram às ocultas
se riem de si mesmos
de seus múltiplos
mínimos prazeres
da torre da Igreja Matriz
Nossa Senhora do Carmo
tudo vê

sexta-feira, 7 de maio de 2010


notícia

avise a todos
por todos os meios
por todos os códigos
oficiais e falsos
sem falácias nem hipocrisias
avise bandeirantes e paulistas nordestinos e baianos
avise ao rei
ao vice-rei da cobiça
aos bandidos todos da corte
do Planalto
avise
grite alto
não economize verba de publicidade
aos contratadores da ganância
avise às claras
a todas as classes
de casa em casa
às ocultas
de cara limpa
de ficha suja
de capuz
aos padres
aos párias
aos poetas
aos intelectuais
aos corruptos
de todas as verves
e rituais
avise pelos rádios e jornais
pela TV digital
pela Internet
pelo correio
avise ao mundo
a Europa ao fim do dia
aos Clube dos
Sete
aos traidores de plantão
à torcida do Atlético
aos deuses tristes da Grécia
a Atenas em chamas
ao povo da Cochichina
da Pasargada
avise
o ouro de Minas
o orgulho se acabou
a paciência poética
foi para os quinto
o Ribeirão do Carmo
fede a enxofre
esgoto de aluvião
Minas não há mais
nem deveria
pelo que resta da paisagem
da Serra do Curral
pela honra do dever
em nome da liberdade de expressão
espalhem a notícia
avise a Tiradentes
aos poetas Inconfidentes
aos legisladores inconseqüentes
ao oráculo de crentes e beatas
o que Drummond já previa

o ouro de Minas acabou
a prata de Minas acabou
o mundo não rima
não tem sedução
o Pico do Cauê se exilou
de dentro e fundo só restam
dores gerais e solidão

quarta-feira, 5 de maio de 2010


alusões
a pedra em Minas se impõe
em múltiplas figurações
a pedra em Minas se sobrepõe
em muros e discriminações
a pedra em Minas se interpõe
em ruas e desertificações
a pedra em Minas se extravia
em múltiplas migrações
em magras minerações
a pedra em minas se insinua
em suas nuas ulcerações
a pedra em Minas
e suas dúbias interpenetrações
a pedra em Minas não se opõe
em suas líricas alusões
a pedra em minas não se esgota
em suas míseras escoriações
a pedra em Mians poligrota
em suas defuntas manifestações
a pedra em minas pedragógica
em suas fúnebres alucinações
a pedra em Minas polimórfica
sem suas inúteis interpretações
a pedra em Minas cristalógica
em suas históricas escavações
a pedra em Minas cosmológica
em suas concretas construções
a pedra em Minas solidão
em suas crônicas solidificações
a pedra de Minas perdição
em suas barrocas ponderações
a pedra em Minas mitológica
em suas poéticas remições

segunda-feira, 3 de maio de 2010


Minas
não a palavra
a geografia enfática
o cinismo da montanha
não o lugar
de lua enigmática
o abismo da manhã
Minas
o que não se diz
nem de longe se desconfia
a sete chaves se guarda
a luta
o lucro
o luto
o latifúndio das letras
nem mineiro sabe
deveras o mito
as muitas
os segredos maiores
os deveres de Minas

terça-feira, 20 de abril de 2010


A dança dos anjos
Futebol em sua essência é festa para os olhos. Está mais perto do balé do que do Karatê. É lindo, livre e lúdico. Não tem nada a ver com brigas de torcida ou artes marciais.Pode até lembrar, em alguns lances inusitados, um jogo de capoeira. Assemelha-se às artes plásticas, a um painel gigante com minúsculas telas em movimento.Nisto, o futebol tem tudo a ver com a sedução da alegria e da visualidade da estética contemporânea. Nada a ver com a violência das ruas, das disputas de poder nas arenas de Roma ou do Congresso, com a desenfreada competição do mercado. Não quero, aqui, pensar o futebol simplesmente como produto ou evento alienante. Isto existe, mas fica por conta dos que desejam, em nome de interesses próprios ou de grupos hegemônicos, transformar tudo em mercadoria, em objetos de consumo. Em meios de dominação. Também não quero ver, de propósito, o torcedor como alienado joguete das olas e marolas de braços, cores, caras e caretas, apitos, cornetas e bandeiras que aumentam, ainda mais, o brilho dos estádios. Dos grandes e pequenos. Das várzeas, sobretudo. Imagino o futebol como uma confraternização dos sentidos, caarnavalizaçao dos sentimentos e instintos mais primitovos do ser humano à procura de si mesmo. A brincadeira, a sublimação da força bruta, a comunhão da vida com sua dura e permanente realidade. Mas, para isto, dentro das quatro linhas, os atletas também não deveriam ser transformados em gladiadores, em imperadores. Heróis ou réus. Nada disso. Deveriam ser vistos apenas como atletas, seres humanos dadivosos, dedicados a uma atividade profissional, lúdica e solidária. Pessoas habilidosas, artistas talentosos que se entregam de corpo e alma ao que fazem, Seres que desenham com os pés e voam com os braços abertos para muito além dos limites dos estádios. Pássaros, talvez, de tempos míticos.
Ao escrever estas linhas, naturalmente estou pensando nos “Meninos do Santos Futebol Clube”. Não só pelo sucesso da temporada no Campeonato Paulista, já em sua fase final, sob a orientação discreta e competente do técnico Dorival Jr., mas pelo estilo de jogo do grupo. Estes garotos jogam com o coração. Fazem ressurgir, em tempos de tragédias e violência, dentro e fora dos gramados, nas ruas e nos lares, nas cidades e nos campos, o que sempre foi a vocação do futebol brasileiro: a brincadeira, a molecagem sadia, o drible, a velocidade, a dança. A surpresa em cada lance. O espetáculo de jogar o jogo com a bola da vida. E, claro, a chuva de gols. Esse estilo bem poderia inaugurar uma nova tendência no futebol brasileiro. Tendência que privilegie a genialidade, a flexibilidade e a leveza, contra a força, a gritaria, as ofensas pessoais, carinhos, cama de gatos e ponta pés anti-esportivos. E, como estamos próximos da Copa do Mundo, nada mal se o Dunga, técnico da Seleção Brasileira de Futebol, cujo mérito todos reconhecemos, tivesse olhos para ver e sensibilidade para convocar dois craques –Neimar e Ganso – cuja bela atuação tem tudo a ver com a grandiosa diferença técnica, o sentido de conjunto e a união da gloriosa equipe santista. Vale ver jogar, quando olhos e coração vivem e vibram na mesma sintonia. O resultado só poderá ser a justa conquista. A merecida vitória.

quinta-feira, 25 de março de 2010


O olhar que caminha
O título não se quer original. Faz parte do texto “No mundo da leitura: a leitura do mundo”, primeiro capítulo do livro “O jornal como proposta pedagógica”, de Joana Cavalcanti. Não é, nem seria possível ser original em tempos de pós-modernidades, tardias ou não. Paulo Freire já ensinou bastante, com profunda sabedoria, sobre a arte de bem se ler o mundo.
O que há de original neste texto que ora se insinua sobre o vazio que se segue em linhas e signos imprevisíveis é a disposição do leitor em prosseguir na sua leitura. É o momento mesmo em que seus olhos deslizam à procura de algo perdido no tempo, memórias ancestrais, talvez. Terras devolutas, quem sabe. Terrenos baldios, desses atravancados de ferro-velho, caixas de papelão, livros deteriorados, pedaços de canos, restos de carros enferrujados, panelas furadas, todo tipo de rejeito da insaciável oficina de consumo. Desses lugares que só meninos e meninas encapetados, afeitos a molecagens, conseguem ver e explorar. Nesses territórios malditos não se entra de sapato novo e engraxados, de roupa domingueira, branca e alvejada. De grifes exclusivas e excludentes.
Se o leitor se deixar levar pelo prazer do caminho, certamente irá descobrir, pelo desejo e pelo gosto de caminhar, motivos de sobra para continuar sua viagem pelo texto-vida que aqui se estica mundo a fora. Terá rara oportunidade de descobrir e recriar“cores, formas e imagens” , de sentir “cheiros, sons”, de tocar de pele a pele “ texturas” e, se for mais ousado que a média dos mortais, de ler grafismos, gravetos, gramados, garranchos, tudo que sob algum aspecto se assemelha a palavras, ao rastro dos bichos, dos signos na paisagem extensa e infindável. Mais profundas e atraentes, entretanto, são as paisagens humanas. Nem sempre amenas e amorosas. Agrestes e espinhosas, traiçoeiras e abissais muitas vezes. Escorregadias e evasivas, quase sempre. Saber percebê-las e cativá-las é arte para poucos. São mais comuns, nesses jogos, a conquista e o domínio. As gerações mortas já o provaram.
O olhar que caminha desenha percursos os mais diversos, conforme seja seu caminhar ardoroso ou frio. Varia se se desenha em si mesmo, em ritmo de caminhada sossegada em alguma manhã de sol ou no final de uma tarde de verão. Também será diferente se for um olhar solitário ou povoado de companhias amigas e galantes. Faladoras. De cima de uma bicicleta, de dentro de um carro, do trem-de-ferro, no metrô ou de avião, certamente os olhares se mostram diferenciados tanto pela angulação, quanto pela rapidez de seu deslocamento. Cercado pelas águas , de dentro de um barco, os olhos podem colher, aram horizontes e lembranças vickings sob o ondeante azul do céu. Mediatizados ou condicionados pelos óculos, pela lente da máquina fotográfica ou da filmadora, os olhares perscrutam visões e enquadramentos ainda mais diferenciados.Olhares que espiam pelas frestas das janelas ou pelos buracos de fechadura, à moda mineira, por certo herança portuguesa, não merecem tanta consideração.
Produtivos são os olhares ciganos, desses que pousam. Descansam sobre paisagens inacessíveis. Apaixonam-se pelo que divisa entre o permanente e o transitório. Dizem que olhares se parecem com espelhos de água. Há os rasos e lamacentos, os límpidos e profundos. Transparentes. Há olhares misteriosos e vagos. Fisgam. Fingem não ver, para olhar mais dentro e inquisidor.
O olhar que caminha não caminha só. Abre janelas ao vento, de par em par, em sucessões indefinidas, concêntricas. Leve, leva consigo a cultura e a história de seu portador, de sua gente. Mais, carrega dentro de si toda a herança acumulada desde a origem da raça humana. O olhar que caminha não enxerga o mundo tal qual. Percebe-o, apenas, em sutis e vertiginosas representações. São leituras atravessadas por histórias, lutas, guerras, romances, aventuras, descobrimentos, sonhos, projetos, sofrimentos, colonizações. Existem olhares livres e ou colonizados. Livres são os olhares que caminham por caminhos espontaneamente traçados pelo prazer de caminhar. Como diz o poeta “pelo caminho que se faz, caminhando”
O olhar que caminha livremente descobre mundos igualmente livres e lindos. Mundos falidos, lidos a caminho, de ida e volta para a escola, de passagem pelas avenidas da cidade em sossego noturno. Apaziguada em seus afazeres e posses pelas rezas na igreja matriz. Mundos virtualmente lidos e vividos. Mundos de caminhos reais. Leituras mais que decifração dos tristes códigos gravados a ferro e fogo nas páginas dos livros, na pele, no coração dos homens e mulheres, sobreviventes destes tristes trópicos.
O olhar que caminha decifra, inventa, recria e constrói novos mundos. Mira o olhar do tigre e admira a paisagem que nele se reflete. Simplesmente caminha da mesma forma que o tigre e nele se espelha, apesar das bibliotecas e dos livros esquizofrênicos. Desconfie, portanto, de certos livros. O olhar que caminha ama o que lê. Vive o tempo necessário para as leituras possíveis. Caminha solto entre signos ou sobre as florestas incendiadas salta. Aqui o caminhante se insinua em sombras entes de estender seus olhos sobre mapas mais distantes descansam. Estica-se na sala sobre os livros de sua predileção. O mundo da leitura e a leitura do mundo se confundem. Misturam-se a caminho. O olhar brilha.

sábado, 13 de março de 2010



ave palavra nossa de cada dia
pássaros sem pausas
pastos auríferos
sob céu de seda brotam
manso mistério de gado
em descanso de sombrs buritis
só asas cantam
de silêncio em silêncio se imiscui
fora da paisagem a poesia voa

sexta-feira, 12 de março de 2010



nada

nada aprendemos com a morte
no Calvário
no Horto das Oliveiras
não há choro
nada é necessário

a morte dos pássaros e dos rios
das geleiras e florestas
a morte dos peixes
dos bichos de terra firme
nada nos ensina
nem mesmo a morte de nosso melhor amigo
de um parente mais próximo
dá-nos algo essencial
sobre a vida precária
a que em nós teima em resistir
por insistência do corpo provisório
castigo do espírito insaciável

à todas as mortes assistimos
impávidos e inertes
entre omissos e impotentes
mas avenidas e estradas
nos templos e cavernas
nas arenas e super-mercados
nas fábricas e estádios
como se assiste a um ritual de magia
a uma luta de serpentes
a um programa imbecil de TV

a notícia da morte por e-mail
se mistura a imagens de catástrofes
e “spans” de mal gosto
a comentários políticos e inócuos
sobre o cotidiano de um herói sem caráter
de um país sem imaginação

a tudo se iguala a Tal
sem rosto
em consórcios de consumo
sem perceber nos consumimos
em espetáculos sucessivos e recorrentes
sob rótulos e slogans
os mais diversos e eloqüentes

nada aprendemos com a morte
alheia
por mais estúpida e feia
estampada nos jornais
na Internet
com as mortificações globais
menos ainda aprendemos
com a mobilidade das nuvens
com o discurso dos sobreviventes
no percurso de nossa própria morte

nada aprendemos com a morte

domingo, 7 de março de 2010


No Dia Internacional da Mulher....resolvi brincar com o Chico Buarque e escrever uma cação como se...vejam como ficou:A melodia ainda está a caminho.

súplica

olhem para mim
vejam nos meus olhos
tudo o que existe
tudo o que puder
sentir
mais dentro de mim
onde ninguém vê
mora um querubim
dói só de pensar
na dor
no dom de ser mulher

vejam quem sou eu
vejam onde estou
o que se perdeu de mim
por onde passei
ninguém chorou
por mim na TV
eu cai na vida
sou a mãe da vida
estou sem saída
estou de partida
sem saber quem sou
para onde vou

olham para mim
como se eu fosse
sala de visita
capa de revista
um cartão postal
uma presa fácil
um falso rubi
ágil no que faço
dócil na conquista

sou admirada
mais que uma estrela
sou mais desejada
sou mal entendida
pelo que prometo
pelo que espero
pelo que revelo do amor
em nome da vida
ao longo da estrada
nas marcas de meu corpo
em meu próprio espelho
estou dividida

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010


A dengue pode matar
Leia , imprima e divulgue.

Arcos virou notícia
em tudo o que é lugar
eu não falo por malícia
o leitor vai concordar
o mosquito é atrevido
vive sempre escondido
a dengue pode matar

ta virando epidemia
pelo que ouvi falar
o bicho tem picardia
esperteza pra picar
e pior é traidor
adora vaso de flor
a dengue pode matar

tem cada mosquito gordo
que dá dó só de olhar
não trabalha e vive solto
rola de lá e pra cá
mosquito bem titulado
sem nunca ter estudado
a dengue pode matar

cada mosquito sisudo
até no modo de andar
perna fina barrigudo
custa se equilibrar
tem mosquito milionário
que pica só operário
a dengue pode matar

já vi mosquito agressor
em tudo quanto é lugar
tem mosquito professor
este nem é bom falar
pica sé pelo poder
pelo prazer de picar
a dengue pode matar

o mosquito é praga antiga
é só você pesquisar
mais velho quanto a intriga
bem mais velho que o mar
para tudo tem razão
adora flor de caixão
a dengue pode matar

é bicho de tradição
de poder familiar
só não pica a própria mão
pois seria suicidar
mosquito finge de amigo
é onde mora o perigo
a dengue pode matar

ele mora nos quintais
sabe a hora de voar
esconde nos matagais
nos jardins e no pomar
e pior é mentiroso
desleal e perigoso
a dengue pode matar

tem mosquito na igreja
na empresa e no bar
tem mosquito na pedreira
ou no que dela restar
mosquito vive de lucro
pica até cavalo xucro
a dengue pode matar

tem mosquito que sorri
na hora que via ferrar
eu mesmo juro já vi
até mosquito chorar
mosquito neo-liberal
mata mais do que punhal
a dengue pode matar

e tem mosquito na praça
no bairro chique a vagar
tem mosquito que só passa
pra poder alguém pegar
o mosquito é uma droga
vive até na sinagoga
a dengue pode matar

ele adora pneu velho
água limpa é o seu lar
não se olha no espelho
com medo de se assustar
e pior entra jogo
populista e demagogo
a dengue pode matar

ele mora em casa pobre
em mansão mora no ar
de tão falso se encobre
não dá nem pra acreditar
vive do sangue do povo
todo ano vem de novo
a dengue pode matar

tem mosquito ignorante
não sabe nem soletrar
usa apenas do rompante
para poder dominar
mosquito adora dejeto
adora roubar projeto
a dengue pode matar

tem mosquito candidato
a candidato a picar
adora pó de asfalto
mas se diz que é popular
já vi mosquito erudito
este é mais esquisito
a dengue pode matar

tem mosquito sem cultura
sem gosto sem paladar
tem mais bunda que cintura
que cabeça pra pensar
e se acha o maioral
na escala nacional
a dengue pode matar

tem até mosquito brega
não dá nem para escutar
tem mosquito que escorrega
onde acaba de cagar
mosquito é bicho tinhoso
predador mais perigoso
a dengue pode matar

por isto preste atenção
não se deixe acovardar
entre neste mutirão
que tudo pode mudar
combata este mosquito
feito as pragas do Egito
a dengue pode matar

Arcos merece carinho
merece mais se cuidar
não há de ser um bichinho
por destino ou por azar
que vai picar tanta gente
por a cidade doente
a dengue pode matar

vamos todos combater
com este bicho acabar
a vida há de vencer
há de florir e cantar
seu povo merece mais
merece respeito e paz
a dengue pode matar

por isto caro leitor
faça o verso vicejar
seja mais um bem-feitor
de mãos dadas vem lutar
não vote neste mosquito
atrevido e esquisito
a dengue pode matar

por isso caro leitor
não se deixe enganar
pelo zumbido o que for
seja gosto ou paladar
este mosquito moderno
se esconde atrás do terno
a dengue pode matar

e por aqui eu termino
meu cordel de convocar
seja idoso ou menino
todos vão participar
Arcos é civilizada
merece ser bem cuidada
a dengue pode matar

não quero ninguém de fora
a dengue tem que acabar
comece já e agora
a varrer e a limpar
vamos por fim à sujeira
viver não é brincadeira
a dengue pode matar

traga verdade e alegria
vamos com força esfregar
jogue água e poesia
pra tudo desinfetar
casa jardim coração
rua riacho emoção
a dengue pode matar

em nome da ecologia
do bom viver do lugar
em nome do dia a dia
mais feliz e salutar
vamos fazer nossa parte
viver a vida com arte
a dengue pode matar

a morte não é tão feia
como se pode pintar
pior é morrer na peia
sem poder espernear
eu prefiro a liberdade
de viver nesta cidade
a dengue pode matar

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010


o poema prefere
palavras curtas
de pele intacta
mínimas em tudo
sem asas
sem artefatos óbvios

ave e ar
água e pedra
palavras que
sob sol antigo
fervem se afloram

o poema prefere
palavras míticas