terça-feira, 14 de outubro de 2008


o que perco a caminho
me constrói
erige em mim se separa
poeira e pedra
áspera poesia
arranco da carne viciada
a rosa
a felpa
a fantasia do herói
a cada dia parto
livro-me do lírico espinho

sábado, 11 de outubro de 2008

manifesto

a viola é de festa
é de mutirão
é de quem se manifesta
na cidade e no sertão

é memória coletiva
voz ativa e comunhão
tem o som da patativa
urubu não cana não

a viola é companheira
do violeiro e da canção
tem viola feiticeira
nesta eu não ponho a mão

viola de sete fitas
sete dias da semana
sete morenas bonitas
sete sinas de cigana

viola de cantoria
devoção de padroeira
de congado e de folia
de batuque e brincadeira

instrumento delicado
relicário de madeira
guardiã do sentimento
da cultura brasileira

Concerto Vivaviola
60 Cordas em Movimento
A viola caipira nunca esteve tão viva como em nossos dias. Prova disto é o concerto VivaViola que tem a participação de seis compositores e intérpretes da autêntica música de raiz, os violeiros Wilson Dias, Pereira da Viola, Joaci Ornelas, Gustavo Guimarães, Chico Lobo e Bilora. Instrumento fundamental na formação da identidade cultural de Minas Gerais e do Brasil, a viola, continua presente nas festas religiosas e nas manifestações populares. Após um período de ostracismo, relegada ao segundo plano, ressurge nos anos 80 com toda a sua força e importância, para reconquistar espaço na mídia e no mercado fonográfico. A viola está na moda, com todo respeito ao trocadilho. As apresentações acontecem nos dias 24, sexta-feira às 21:00; dia 25, sábado às 21:00 e no dia 26, domingo às 19:00, no Teatro Alterosa, na Av. Assis Chateaubriand, 499 Floresta. O espetáculo VivaViola é uma produção coletiva e mostra além de trabalhos autorais, a tradição da viola caipira, das cantigas de roda e das folias de reis. Os seis violeiros, cada qual com sua peculiaridade, trazem em suas músicas, a viola caipira no âmbito da música mineira, e retratam as influências dos lugares de onde vieram na valorização da criatividade plural e representação de genuínas formas de expressão. Com batuques, modas de viola, toadas entre outros.

Novo conceito

Ao contrário das formas costumeiras de apresentação musical que envolve vários artistas, o VivaViola propõe um formato diferenciado na utilização do palco. Um novo conceito em que os artistas permanecem no palco durante todo o show, com sua viola caipira. Cada músico fará apresentação solo e com um violeiro convidado. A abertura e encerramento será uma bela cantoria com interação junto ao público. No universo dos violeiros há várias afinações. Nesse espetáculo serão “60 cordas em movimento”, durante aproximadamente 1h40 de espetáculo.
Repertório variado
Por se tratar de um espetáculo coletivo, o repertório é amplo e variado, formado basicamente de músicas autorais e de domínio público – que serão apresentadas de modo solo e também em parcerias. Entre as músicas do repertório, Wilson Dias apresentará “Brasil Festeiro”, composição inédita feita em parceria com João Evangelista Rodrigues. E Pereira da Viola interpretará a conhecida “Menina flor” de sua autoria
e Josino Medina. Joaci Ornelas cantará “Moda de Violeiro”, uma de suas parcerias junto ao também poeta e compositor João Evangelista Rodrigues. Enquanto, Gustavo Guimarães cantará “A voz do rio” que faz parte do seu primeiro CD, “Vaqueiro” a ser lançado em breve. Chico Lobo apresentará uma de suas músicas mais apreciadas, “No Braço dessa Viola”. E Bilora apresentará o seu “Calango na cidade”.

Mutirão de vozes
Verdadeiro mutirão de vozes, o espetáculo VivaViola é um panorama do que há de mais representativo na música de viola produzida por uma nova geração de compositores mineiros. Reflete, portanto a formação, as influências e a visão de mundo de cada um dos artistas. Todas essas diferenças e diversidade de linguagens têm um elo comum e o mesmo suporte: a tradição da viola enquanto fator de formação da identidade cultural brasileira, e elementos fundamentais de nossa cultura popular. O violeiro Chico Lobo – um dos mais ativos violeiros do cenário nacional e internacional, idealizador e apresentador do Programa de TV Viola Brasil, especial veículo de divulgação da viola (desde 2003) -, ressalta a importância deste concerto ao dizer que: “É sempre bom juntar minha viola com a dos companheiros. A viola é de festa, é de mutirão, é de coletividade. Sendo assim, se uma viola já é bonita imagina quando muitas se juntam numa cantoria certeira”. Para Gustavo Guimarães – um dos legítimos representantes da nova geração da viola -, o concerto tem um significado especial é um momento de afirmação e ascensão da viola. Além disso, tem como princípios comuns à defesa de valores éticos morais, culturais e espirituais, que giram em torno da música de viola.
Pereira da Viola, um dos artistas mais reconhecido de Minas e do Brasil, presidente da Associação Nacional dos Violeiros (ANVB), analisa o concerto VivaViola no contexto do movimento nacional em torno deste instrumento.
Ele afirma que, “Em Belo Horizonte sempre nos deparamos com um certo vazio se comparado a São Paulo e até mesmo a outros estados, no processo de identificação, estruturação e expansão deste movimento musical. Compreendo que este momento é profundamente oportuno, para esta ação coletiva que estamos desenvolvendo”.

A opinião de Wilson Dias - que tem direcionando sua carreira para o encontro entre a tradição e o urbano com um viés especial a cultura popular -, reforça poeticamente essa idéia, sobre a valorização da música de viola caipira que vem crescendo a cada dia, ao dizer: “cabe a todos nós o trabalho de manter enlaçados os fios que nos ligam, de maneira que a nossa rede de vida permaneça ‘redeviva’, em permanente frescor construtivo”.

Fiel às suas origens, o violeiro Bilora – um dos mais premiados violeiros do Brasil -, faz questão de ressaltar que “A viola representa a cultura popular brasileira do interior. Está presente na alma desse povo e tem cheiro de mato. Este concerto será a festa da música semeando o belo som da viola”, afirma o compositor.

Um dos responsáveis pela realização do I Seminário Nacional de Viola Caipira (evento que reuniu os principais violeiros do país, realizado em Belo Horizonte no primeiro semestre deste ano), Joaci Ornelas cujo trabalho é essencialmente ligado à viola caipira, como tradução musical desde o estilo renascentista, barroco, até os batuques e composições próprias -, afirma que este espetáculo tem dupla importância pessoal e artística. “Primeiro me permite colocar em contato direto com o trabalho musical de outros artistas. Segundo por que favorece uma troca de informações, sentimentos, experiências com artistas que acreditam numa vida mais justa e bela”.
Serviço
Concerto: VivaViola - 60 cordas em movimento.

Local: Teatro Alterosa (Av. Assis Chateaubriand, 499 – Floresta).
Datas: 24, 25 e 26 de Outubro de 2008
Horários: Sexta e Sábado às 21h // Domingo às 19h

Informações:
Picuá Produções / Nilce Gomes: (31) 3427 9670 / 9113 1626
Terra Boa Produções / Daiany Durães: (31) 3482 6674 / 8315 0450
Viola Brasil Produções / Ângela Lopes: (31) 3459 8026 / 9954 6580

Ingressos: Teatro Alterosa (31) 3237 6611
Valor: Inteira R$20,00. Meia entrada R$10,00

sexta-feira, 10 de outubro de 2008


é isto o amor
se for assim
estranho
ermo e cego
ai de ti
amor
ai de mim
ai de todos nós

eo desamor o que seria

segunda-feira, 29 de setembro de 2008


ler-minsk

? os poetas
para que servos
perguntou Leminsk
louco de jogar pedra
em cachorro douto
de bulir com os nervos
de por no bolso o rei
da cocada preta
de por o barco a pique
de escrever sem luvas
sem luar nas letras
de fazer chover poesia
no piquenique das saúvas

domingo, 14 de setembro de 2008


Balanço positivo:

Seminário Nacional de Viola
Caipira supera seus objetivos


Viola. Reflexão e festa.Consciência política e compromisso social. Esta pode ser a síntese do I Seminário Nacional de Viola Caipira, realizado pela Associação Nacional dos Violeiros do Brasil, em Belo Horizonte, no primeiro semestre de 2008.

Durante três dias reuniram-se violeiros, acadêmicos, mestres da cultura popular, pesquisadores e profissionais ligados ao universo da viola. Além de palestras e debates, o encontro contou ainda com exposições, mostras de vídeos e apresentações artísticas.

Uma das participantes, a professora de literatura Alzira Soares, assim se expressa ao comentar sobre a organização e importância do evento: “As palestras do I Seminário Nacional de Viola Caipira remexeram num baú histórico, em algo tão abstrato, como é a noção de cultura. Afinal, o que se cultiva, pois é significativo e instalado em nós? Essas marcas ancestrais estão expressas em nós”.

A dimensão nacional do Seminário não se limitou ao nome, mas se concretizou no número e origem dos participantes. Foram mais de 300 participantes dos estados de São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do sul, Goiás, Brasília, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraná, Rio Grande do Sul e Minas Gerais.

Se em grande parte, o sucesso desta iniciativa se deve ao empenho dos organizadores e ao apoio dos patrocinadores, maior mérito, entretanto é dos diversos segmentos que integra o universo da viola. Todos compreenderam e aderiram à proposta dando importantes contribuições para o enriquecimento dos debates. Ao todo foram realizadas 08 mesas de discussão, com a participação de mais de 40 palestrantes que debateram os seguintes temas: A Viola na Musicalidade do Brasil Colônia; A Viola e suas Manifestações na Cultura Popular; Novos Rumos e linguagens da viola; A Música Caipira; Metodologia de Ensino da Viola, registro e documentação; Orquestras de Viola; Difusão da Viola; políticas públicas segmentadas para a música de viola e suas tradições. Dentre os debatedores e palestrantes, destacaram-se pesquisadores, representantes de movimentos sociais e de órgão públicos, dentre eles, Sérgio Marbert (Secretária da Diversidade Cultural); Pedro Brás (Ministério da Cultura), Adriana Lopes (NEAD), Evelaine Martinez (MST).


O tema central dos debates foi a Viola Caipira como um “toque de identidade da cultura brasileira”, conceito expresso pelo slogan do Seminário que define bem o espírito e a energia que move as pessoas envolvidas nesta área do conhecimento e da cultura. A grande estrela foi a viola caipira, tratada como o instrumento nobre a partir de seus aspectos antropológicos, sociológicod e políticos.


Riqueza Nacional

Os mestres, Badia Medeiros, Oliveira de Panela, Leonildo Pereira e Manelin de Oliveira contribuíram para o encontro com sua experiência, carisma, e profundo conhecimento da viola no contexto da cultura popular.

Durante o seminário discutiu-se sobre o papel da viola caipira enquanto instrumento de resistência, formação e transformação da cultura brasileira.

Para o presidente da Associação Nacional dos Violeiros do Brasil, ANVB, José Rodrigues, Pereira da Viola, no momento atual a música de viola caipira é a mais consistente no que diz respeito à identidade brasileira. Pereira acredita que, dentro de algum tempo, essa música será uma das mais ouvidas no Brasil, por sua riqueza, beleza, sinceridade e sensibilidade.

E não poderá ser de outra forma, pois, a música de viola é uma linguagem expressiva da cultura identitária brasileira. A viola é fruto de uma realidade cultural complexa formada por elementos religiosos, crenças, costumes, permeada por matizes étnicos e históricos. Por isso, o instrumento, em suas diversas formas de uso, contribui para escrever a história da música brasileira, bem como para o fortalecimento de sua identidade e da história do povo brasileiro.

Difusão da viola

O I seminário Nacional de Viola Caipira contribuiu como movimento de revitalização da música de viola nas suas características essencialmente brasileiras. Tal fato pode ser identificado na potencialização de ações nacionais e regionais que promovem a difusão e a fruição da viola, bem como uma maior mobilização do setor cultural em prol de sua valorização.

- Vivemos ali o encontro da alegria, da confraternização, da responsabilidade com a nossa música popular de raiz, da nossa brasilidade! Certamente esse foi o maior acontecimento na história da viola em toda sua existência, e frutos irão aparecer. Esse seminário foi um marco na história de cada um que ali esteve, violeiro ou não. Foi um "carimbo" com tinta forte na poesia, na simplicidade, na alegria, na transformação e na essência de um povo que, com sua arte, romperá a barreira da ignorância e da indiferença. É o que escreve, por e-mail a ANVB - Associação Nacional dos Violeiros do Brasil, o estudioso e violeiro Zeca Colares.

Em seu depoimento, o violeiro Levi Ramiro, afirma que o movimento de viola no Brasil é um movimento que está acontecendo independente de qualquer vínculo em questão de transformar isso em produto. Mas o violeiro precisa trabalhar, precisa viver. Mas violeiro trabalha sem competição, ressalta.

Um dos organizadores e mediadores dos debates, o jornalista, escritor e compositor mineiro, João Evangelista Rodrigues alerta: não se pode comprar gato por lebre. Neste ponto, tudo cuidado é pouco, pois, quando o trem passa, muitos tentam pegar carona, mesmo sem passaporte legal. É preciso unir forças autênticas, sem preconceitos de estilo. Com critério, ousadia e pé no chão. Afinal, como a cultura, viola é coisa séria, não mero entretenimento ou simples objeto de consumo à mercê de um sistema midiático insaciável ávido por tudo devorar. Difusão sim, confusão, não, afirma.

Daí a importância deste Seminário, não só por sua abrangência foi de fato, mas por ter se tornado , de fato, espaço de troca de valores e experiências e fortalecimento dos laços culturais e de amizade entre artistas, pesquisadores, estudiosos e apreciadores da música viola.

Concerto de encerramento

Nada mais adequado que um Grande Concerto para encerar, com alegria e emoção, um acontecimento tão forte como este I Seminário. Um púbico de aproximadamente , 650 agitou o Teatro Sesi Minas, para ouvir, curtir e aplaudir nada menos que Pereira da Viola, Joaci Ornelas, Dércio Marques, Gisela Nogueira, Paulo Freire, Abel Santos, Adelmo Arcoverde, Roberto Corrêa, Zé Mulato & Cassiano, Fernando Deghi, Miltinho Edilberto, Levi Ramiro, Rogério Gulin, Chico Lobo. Foi sem dúvida, uma noite histórica.

A diversidade de temas e estilos marcou a apresentação dos principais nomes da música de viola da atualidade. O violeiro Abel Santos explica que a viola não é só um instrumento musical. É a prova de que os seres humanos são essencialmente artísticos e musicais.

Quem esteve no espetáculo sentiu, ouviu e percebeu que acordes e letras desse universo musical não é somente técnica, não é um sertanejo banal, mas traços de expressão da cultura popular do homem do sertão.


O Seminário

Desde a concepção do projeto, até a produção e sua realização, inscreveu-se uma trajetória de esforços conjuntos. “Foi um longo tempo, desde a concepção da e idéia até a realização. Foram necessárias várias articulações políticas até que se tivesse à estrutura para a realização. Tivemos setores dos governos federal e estadual como parceiros no processo de realização e como patrocinadores e apoiadores do projeto. Isto ajudou viabilizar o que antes era apenas um grande sonho de muitos violeiros. comenta o presidente da ANVB, Pereira da Viola.

Na avaliação do músico e coordenador do Seminário, Joaci Ornelas, o resultado foi positivo. Reforçou-se a articulação entres órgãos públicos ligados à cultura e os artistas representantes da viola. “Cumprimos nosso objetivo de realizar um fórum de discussão com temas importantes e atuais a cerca do universo da “viola caipira” Neste caso, o termo caipira se aplica para ressaltar a origem e a identidade da viola”. Explica Ornelas.

Além dos produtos finais – DVD, CD, revista, banco de imagens e relatório que estão sendo produzidos - o seminário abre perspectivas para novas políticas públicas dirigidas a música de viola e todo o seu ambiente. Após este evento constatou-se que as questões relacionadas à viola e a cultura popular são mais complexas e delicadas do que se imaginava. Por isto, exigem tratamento sério e compromisso de todos ao se criar projetos e exigir ações públicas para o desenvolvimento desse setor, porque trata se não só da formação da cultura identitária brasileira, mas de um movimento extremamente rico e autêntico de relevante importância para nossa música, diz Ornelas.


A Associação Nacional dos Violeiros do Brasil, ANVB.

Fundada em 13 (treze) de março de 2004 durante o II Encontro Nacional de Violeiros em Ribeirão Preto, a Associação Nacional dos Violeiros do Brasil, é uma entidade jurídica de direito privado, de caráter sócio-cultural, apartidária e sem fins lucrativos.

A ANVB é composta de: Diretoria; Conselho Deliberativo; Conselho Fiscal; Assembléia Geral. Tendo como atual presidente: José Rodrigues Pereira (Pereira da Viola) e Vice-Presidente o Sr. Rogério Gulin.

A associação tem por finalidade principal defender, preservar, fomentar e promover a cultura popular brasileira bem como os interesses dos violeiros e dos profissionais relacionados ao universo da viola, assim entendidas: viola caipira, viola sertaneja, viola brasileira, viola de 10 cordas, viola nordestina, viola de arame. É prioridade da ANVB o desenvolvimento de pesquisas, estudos e programas sobre a cultura popular brasileira relacionada ao universo da viola, a realização de projetos, eventos e ações de preservação e difusão da cultura caipira ligada à viola, a promoção de intercâmbio com entidades congêneres e representativas, na busca de parceiras para o desenvolvimento de suas atividades.

Além do I Seminário Nacional de Viola Caipira, a ANVB
realizou como parceira e colaboradora os Encontro Nacional de Violeiros, na cidade de Ribeirão Preto (SP) de 2003 a 2006 e vários Fóruns de discussões sobre a viola caipira e a cultura popular brasileira, em Belo Horizonte, São Paulo e Brasília.

Patrocinadores e Apoiadores

O I seminário Nacional de Viola Caipira teve o patrocínio da Petrobrás e da Caixa Econômica Federal. E contou com o apoio da Secretaria Estadual de Cultura, do Governo de Minas Gerais, da Rede Minas de televisão, TV Integração, Rádio Inconfidência, TV UFMG, SESC–MG, Ministério da Cultura, NEAD, Ministério do Desenvolvimento agrário e do Governo Federal.


sábado, 13 de setembro de 2008





santana

fisgo o Santana de lembranças


o rio ensolarado
- o remanso é perigoso
diz meu pai
de vez em quando cai
barranco de areia branca
- moleque de roça arrisco todo desafio
- até capoeira já vi descer
na enchente
- imagino por um fio
a correnteza


rastos de aves no sossego da praia
a rabanada da tubarana
dos lambaris prateados
meus olhos adultos brilham
- maior perigo é viver
a acauã no ipê mais próximo
fisgo de lembranças fluviais


o que poderia e que não foi
vagueio por lá com minhocas na cabeça
como se gente fosse tudo igual
cerrado e campo
pedra ramo céu e bicho
atravesso a nado o tempo
o engenho das manhãs sem viço
nada no que resta nado
o vento risca a areia quente

o Santana mal respira




"Mira veja" não é mesmo estranho e belo o mundo humano.

Cheio de ausências. Vidas presas aos nadas. Até passarinho obedece os sianis.Mas o fogo, este é de infernal delicadeza.Fransformam bonecos em fantasmas , espectadores do tempo dilacerado.O amor assuta os homens.Só o sol entre montanhas permanece fiel em seu ciclo de obcenas paixões. Sentido?Se tem, não senhor, não sei. Aventuro.Olho.Miro.Vejo.




























































Galeria de fotos ; Setembro/2008



O mundo é um livro infinito.viver é ler e compartilhar seus engimas e sentidos.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007


dos ordenamentos da morte

tudo em ordem com o morto
o atestado de óbito
a escritura do fosso
o terno preto a gravata
a gaveta arrumada
a overnaitw no banco
a overdose no bolso

tudo em ordem com o morto
a vela de cera branca
buquê de flores no peito
as mãos cruzadas
o perfume do banho
o jeito calmo do barco
o passaporte sem porto

tudo em ordem com o morto
tudo quieto abissal
tudo concreto absurdo
a morte ali consagrada
sem carne sem alma sem rosto
a morte ali festejada
por um sorriso de moça
tudo em ordem com o morto
o coração descansado
cartão de crédito quitado
um repertório de choros
a tempestade de rezas
o comentário político
o rosário em família
a hierarquia a herança
escrito o certo no torto

tudo em ordem com o morto
o morto dentro do morto
à espera há tanto tempo
o morro dentro do morro
dentro do uivo do vento
o tempo dentro do tempo
ã espera de outro morto

seu sedimento e engodo
dentro do templo do corpo
dentro do mofo do morto
somente a morte na morte
dentro da ponte do tempo
Sem sentimento ou desgosto
somente o corpo no corpo
sincero em pleno conforto

do livro inédito "Fascínios da Morte".

domingo, 28 de outubro de 2007



Hiroxima e Nagasáqui
não são rosas do passado
são flores tristes
tatuagens
rubras cicatrizes
no coração da humanidade
cogumelos amarelos e vermelhos
letreiros de medo no céu de chumbo

nos jardins particulares do Planeta incendiado
Auschwitz-Birkenau
ainda vive
assusta homens e mulheres
a todo instnate
dissimulados e noturnos
assumem ares inocentes
enquanto servem o pão ázino
trituram mentes e coraçoes

o tempo da história
é de absoluto presente
a memóira não se apaga
não dorme nunca o pensmaento
sob nuvens de silêncio
a palavra liberdade
em quarta crescente
ilumina de esperança lunar
o porão do mundo

Hiroxima e Nagasáqui
não são rosas do passado
são fendas
insondáveis abismos
do um poema envergonhado
gerações de poetas mortos
no perverso ritual cotidiano
cortinas de fumaça
de um turíbulo apócrifo
a morte especular se admira
nos chips eletrôniocs
no espelho global

Hiroxima e Nagasáqui
a multidão atônita
Auschwitz-Birkenau tentam respirar

sábado, 27 de outubro de 2007



por um instante esqueço
a “Canção do Exílio”
exito entre a palmeira sem folhas
e a palmatória dos sentidos
não mereço tanto desaforo
não me humilho
não me entrego ao desespero
não me omito ante o desterro do sonho
do canto de liberdade da pátria

um sabiá pousa na cabeça
de minha professora
exibe notas dissonantes
entre os cabelos do vento
voam dinossauros de luz
existirá mesmo o paraíso
minha “Terra Brasilis”
pergunta pela janela o horizonte
menino desatento de gramáticas e estilos

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Um arco-íris começa a se desenhar no coração de cada um de nós. Nele caberão nossos desejos, nossos projetos, nossos sonhos, nosso trabalho, nossas utopias, nossas criações coletivas, nosso compromisso mútuo, nossa liberdade, como seres humanos e sujeitos de nossos destinos e desatinos.Sejamos livres e conscientes de nosso papel e de nossas responsabilidades!
Foto e texto:Prof.João Evangelista Rodrigues

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Crianças de Arcos (MG), apresentnado
um trablhao escolar sobre meu livro inéidto, O Baile das Letras.

Estatuto-manifesto por uma
pedagogia viva da liberdade

“No Sertão a pedra
não sabe lecionar
e se lecionasse não ensinaria nada;
lá não se aprende a pedra:
lá a pedra,uma pedra de nascença, entranha a alma.”

João Cabral de Melo Neto in A Educação pela Pedra

recomeça pela pedra
pela pedra branca
no túmulo de Cabral
a educação
o que aqui se inicia
...
a pedra líquida
liquefeita em cal
em calma de rio
no Jordão
sob a imposição das mãos
pelo o amor de outro João se batiza

recomeça na pedra a pedra a educação
João Evangelista Rodrigues

Aos mestres, dedico:

Ao educador brasileiro, Paulo Freire, com quem aprendi a liberdade de viver e de ler/escrever/reescrever o mundo com olhos críticos e criativos.

À Noêmia Teixeira Rodrigues, minha mãe e primeira professora, educadora dedicada e exemplar.

Considerando os princípios da Declaração Universal dos Direitos Humanos, e os direitos inalienáveis dos cidadãos brasileiros, garantidos pela Constituição da Republica Federativa do Brasil de 1988, cria-se e se divulga o presente estatuto:
Fica decretado:

Art. 1º Que a vida seja um dom natural e a arte de viver, uma conquista permanente e inegociável Que todas as crianças, jovens e adolescentes, todos os alunos, de todos os níveis de ensino, tenham direito à liberdade de expressão, de manifestar seus pensamentos, seus desejos, suas angústias, suas tristezas e alegrias diante da vida, da realidade de seu país e de sua escola.
Art.2º Que o sol e a chuva, o vento e as estrelas, as geleiras e os mares e rios e as floretas
pertençam a todos os homens da Terra. Que todos os alunos sejam sujeitos e cidadãos do mundo, e que a todos os seus direitos correspondam deveres, em um processo mútuo de participação responsável, crítica e transformadora, pela construção do conhecimento e defesa do patrimônio físico, espiritual e intelectual e da memória da escola em que estudam, da sociedade onde atuam e do País onde vivem.

Art.3º Que o sonho não acabou, nem a Utopia, e a história do mundo continua a ser escrita. Que mesmo em tempos de globalização, do advento de novas tecnologias e de um neoliberalismo, temporariamente triunfante, e de crise dos paradigmas científicos, éticos e estéticos, todos os estudantes tenham direito de pensar o mundo, de nele intervir e de sonhar com um futuro melhor para a humanidade.

Art.4º Que o Universo seja a casa do saber. Que a escola deva ser um espaço confortável e agradável, propício à construção coletiva da liberdade e do conhecimento, através de uma convivência respeitável e de trocas sinceras e justas entre seus atores – alunos, professores, gestores e funcionários - e dos diversos saberes e sabores que nela florescem.

Art.5º Que a palavra luz habite o mundo e mova a vida.Que a sala de aula não se restrinja a um quadrilátero rígido e árido, mas se expanda mundo afora, para, generosamente, dar e receber, de maneira democrática e plural, superando a distância entre teoria e prática, as diversas formas de conhecimento, de arte e de cultura existentes no vasto e inesgotável campo do universo.

Art. 6º Que a escuridão prometa fantasmas e ao mesmo tempo realce mais o brilho das constelações. Que a palavra educação não floresça no quintal do medo. Não possa introjetar em seu coração, sob qualquer pretexto, as causas do medo, isto é, o próprio medo, protagonista de modelos pedagógicos técno-burocráticos, em detrimento de uma visão educativa ampla e integradora, humana , viva e libertária.

Art.7º Que o homem seja o artífice do mundo em que vive. Que a arte e a cultura, a poesia e o prazer devam fazer parte do cotidiano das escolas, da mesma forma que o ar que respiramos, a água que bebemos e as linguagens através das quais nos comunicamos.

Art.8º Que o mundo da linguagem seja a plumagem, a razão e o vôo dos pássaros. Que todos os alunos tenham acesso à informação, ao conhecimento, à leitura, à arte e ao diálogo franco, em um ambiente lúdico, constituindo-se como sujeitos e agentes do processo de ensino-aprendizagem, em um mundo ameaçado pelo individualismo, pela violência, pela falta de ética na política, pelo desequilíbrio de poder no campo econômico-financeiro e geopolítico, pela destruição do Planeta pelo homem e pelo aquecimento global;

Art.9º Que a canção da vida seja composta em parceria e cantada por todos os seres de mãos dadas. Que a educação, em suas dimensões de ensino, pesquisa e extensão, não seja tratada como mercadoria, nem os alunos, como clientes ou objetos regidos pela lei de mercado. Que o ato educativo seja fator de construção da cidadania, de emancipação e autonomia dos estudantes, empenhados em se prepararem para a vida e para sua inserção no processo produtivo, cada vez mais exigente, dinâmico e competitivo, em escala mundial.

Art. 10º Que a vida valha pelo que conhecemos e amamos. Pelo que descobrimos e inventamos. Que o sol possa ser azul, ou vermelho, amarelo ou laranja, conforme seja a imaginação, o sentimento e a criatividade de quem o admira e o transfigura através dos meios de comunicação e de qualquer outra forma de expressão – como cinema, fotografia, literatura, xérox, teatro, música, Internet, grafite, desenho, charge, colagem ou pintura. Fica decretado que todos os seres da terra - animados ou inanimados, todos que andam, nadam, voam ou rastejam e mesmo a pedra inerte - todos sejamos irmãos e que tudo mereça respeito e proteção, de acordo com princípios e valores que norteiam a Ética do Cuidado. Todos habitamos a palavra Mundo, de todos e de qualquer mundo. Que todos sejamos mais serenos e sensatos, mais justos e sinceros, Que todos sejamos felizes.

João Evangelista Rodrigues
Jornalista, escritor e educador
Edméia Faria
Escritora e educadora

Arcos, agosto de 2007

domingo, 23 de setembro de 2007








a arquitetura do fogo


a morte exibe sua musculatura de ira
sobre os “Tristes Horizontes”

setenta línguas de fogo
setecentas mãos ociosas
sete mil cabeças de medo
seu intestino sem fundo
sua fome de tudo
seu coração em pânico
seu insidioso ofício
sua boca sem futuro
sua ironia
seus infinitos pés sem rumo
suas geografias de susto
seus vaticínios e sortilégios


a morte dança
ri e bamboleia
estala estica e se insinua
ao ritmo do vento estéril
estaca
de repente surge cega
sobe silva suga e saboreia
lambe a lua de memória
a ramagem seca
lima a limalha de sangue
avança
nua e crua
se eleva acima da cabeça da urbe
da montanha de ferro
mais que a turba rude
gargalha range e ruge
reina absoluta em luz
arranca da ferrugem a fuligem
a fogueira do abutre
o que resta do inferno
da oficina do lucro
entra de súbito
assalta a janela dos escritórios
as casas
os bares
os bancos
os edifícios públicos
as ruas
os oratórios
nos ônibus
os carros
os sanatórios
parques e viadutos
na fera engrenagem do mundo
a morte triste e bela
mira fere de fogo
a paisagem dos olhos

o mirante se humilha
em delirante ladainha
ante a beleza do fogo
a Igreja São José
treme
da cabeça aos pés
sob a ruína do Fogo
a Praça da Liberdade
chora
sob o rumor do fogo
a Savassi linda e sedutora
geme
sob o rubor do fogo
a Avenida Afonso Pena
pára
sob o aviso do fogo

o Parque das Mangabeiras
se dobra
sob o malabarismo do fogo
a estátua de Tiradentes
cambaleia
sob a covardia do fogo
a Assembléia Legislativa
fica surda ao discurso do fogo
a Avenida Nossa Senhora do Carmo
se exorciza
contra o escárnio do fogo
o BH Shopping se incendeia
com o marketing do fogo
o Palácio das Artes
se evapora no branco
sob a música do fogo
o Parque Municipal
põe as barbas de molho
ante a traição do fogo
a Praça do Papa
se ajoelha
sob o poder do fogo
a Avenida do Contorno
se contorce
aperta o cerco
sob o vórtice do fogo

todos os semáforos se apagam
Nossa Senhora de Lurdes
não se curva
à prece do fogo
à fantasmagoria das chamas

a Rodoviária foge
sob as nuvens de cinza
sob a fumaça de abusos
o febre do fogo
tudo devora e contamina
a rotina dos dias
a ogiva das almas
o coração do vento
o ventre das aves
a vazante das águas
a veia dos bichos
as plantas mais altas
o Belo Horizonte aberto

no vazio da ravina
a morte cega
avança dança devaneia
desafia
desatina
não se troca
não se vende
não se entrega
de mãos beijadas
ao delírio da renda
não se morre nunca a morte
sobre o todo predomina
ao ritmo do vento
ao inchaço do ventre
ao riso do povo
por fora por dentro
do invólucro da fala
da casca do novo
no campo na cama
no sossego do jazigo
mais que vulcão andante
mais que perigo e gozo
a morte reina
definitiva amante
só não se ri
de si
acima da cabeça da cidade
efervescente e triste
proclama
interroga
a impune
misteriosa assassina

e agora Drummond
e agora Carlos
e agora José
e agora amor
e agora todos
todos os rostos e nomes
de ruas e praças
de santos anônimos
de falsários e heróis
de manicômios e presídios
de palácios
museus e monumentos


e agora Joaquim
e agora Silvérios
e todos os mitos
e todos os pretéritos
e todos os gritos
e todos os minérios
e todos os oráculos
e monastérios
todos os livros
bordados com ouro e ferro
todos os homens sem orelhas
todos os anjos sem cérebro
todos os pássaros sem sexo
sem voz
para ouvir
sem asas
para ungir
sem sonhos
para voar
pra recriar e mugir
para gritar e fugir
pra vomitar e latir
pra decorar e sentir
praguejar e repetir
para recitar por mais mil anos
o som da palavra Serra
a insônia do Curral del Rey
a ironia da morte
a afasia da terra
o sono de todas as coisas
o prefácio da vida subalterna
o poema sacro
o evangelho profano
a profecia
a solidão do Poeta Itabirano

São Sete Quedas de agonia
São sete anos de Peste
São sete séculos de luto

a morte exibe sua arquitetura de fogo
o poema em chamas no vazio das formas

a vida passa

quinta-feira, 20 de setembro de 2007


não apresses tua primavera
o setembro ensolarado
no calendário virtual
espera cada flor se abrir
no tempo exato
como o corpo desabrocha
em tímidos avisos
em noites e manhas desinteressadas
não apresses teus passos
para o amor
para o jardim que te espera

a primavera é paisagem

necessariamente secreta

segunda-feira, 10 de setembro de 2007


os homens estão dormindo
de um sono confortável e triste
mesmo depois do sol desperto
queimar de fulgor a cortina do quarto
suas fatigadas retinas

mesmo quando dirigem
seus automóveis velozes
e automaticamente buzinam
estão dormindo

um cão sem dono
permanece esticado no asfalto
um mendigo vasculha ao lata de lixo
a caixa vazia de sonhos
um leiteiro anacrônico
anuncia o branco da manhã

a oficina enfurecida
se agita
grita
se irrita
a cidade acorda
sem dúvida dividida

sob o invisível signo de som
da anti-sinfonia eletrônica


à vida à venda a preço de banana
a morte em suaves prestações

meninas feito bonecas
se oferecem na vitrine das esquinas

o supremo enigma continua vivo
ninguém decifra

os homens estão dormindo

domingo, 9 de setembro de 2007


a língua é nó e nódoa
nem soda tira
moda
signo
simulacro
não é nobre nem mendiga
nem verdade
nem mentira
a língua é móvel
livre experiência antiga
não é obvia
nem objetiva
a língua luta
contra a morte esgrima
bicho estranho
amarra a vida nova
ao nó da narrativa

terça-feira, 4 de setembro de 2007


a contrapelo da pedra
de seu código de cal
leio a feito de lesma
a pedra mesma ilesa
lisa caligrafia mineral

leio de Cabral a Drummond
a lírica impura poesia
ancestral

o poema solto no campo
desliza de rio submerso
como se veia fosse
de sangue inodoro
a palavra bruta
de boa em boca
no socavão da gruta

a contrapelo do texto rola
voa
a pretexto da pedra imóvel
"Nel mezzo del camin
de nostra vita".
a vida mesma desmedido
verso
a contrapelo da pedra no caminho
ecoa

quarta-feira, 29 de agosto de 2007



definições


o que é a poesia
interroga o poeta
jovem sem sonho
sem teagonia
droga
não é
êxtase da alma
talvez
poderia ser só
o que seria
não coisa qualquer
motivo de fé
raiva
rebeldia
nasce na lama
sol
no rosto
clara liturgia
estranha mulher sem rosto
espelho e poço
estranha pergunta
se repete o jogo
ressuscita
grita o enigma
o mito a cada dia

responder não posso
sou de carne e osso
ouço a voz de tudo
de todos os sentidos
palavra e melodia
no início do sol posto

responder não ouso
ouço a voz concreta
de tudo em dobro
o que me cerca
o tempo sem solução
guardado no meu bolso

melhor seria ficar com sede
rasgar o esboço
beber a palavra escura
impura poesia
nostalgia sem dorso

respostas incompletas
a tal pergunta vã
não
de nada adiantariam

segunda-feira, 27 de agosto de 2007


lançe de redes transparentes
sobre o mar
me curvo no vazio

a intenção do peixe se insinua
nega a reta armadilha
a isca fixa no final da linha

em simultâneos movimentos
a pescaria se recolhe
o tempo dança e treme se prefigura

sábado, 25 de agosto de 2007



na estação da escrita
os palavras são mais tristes
coberto de flores negras
estranhas aranhas autofágicas e hirtas
inesgotáveis intangíveis combinações

tudo se perde
na poemação do tempo
a policromia das formas
a polifonia das cores
a sinfonia dos sentidos
tudo
de nada adiantaria acrescentar som na planície branca
tons de azul torquês
algum verde-escuro
nada mais se pode acrescentar a beleza mundo

nem mesmo o vermelho mais nobre ou o amarelo berrante
nada anima o coração das letras esmaecidas
enfileiradas
no campo geométrico
no pensamento minado e estático
há mais de meio século
vejo a primavera
a filha única de setembro
ir e vir
feito a esfera do sol
feito um relógio de pedra
se move
em torno de seu eixo
com sua estética surda e persistentre

o séqüito de formigas se sucede
em laboriosas
perversas
devotas procissões de falsas festas e desejos

se bem me lembro
mal finda o mês de agosto
e tudo recomeça

ai! que saudades não tenho de meus dezoito mil anos

nem pressa

sexta-feira, 24 de agosto de 2007


tinha ou não uma pedra
no meio do talvez caminho
mera transcendental hipótese
de Poeta Itabirano
meio homem
meio pássaro sem ninho

chutou por acaso
o vento em papel laminado
por engano
alguém diria
atraído pelo brilho
do mundo catatônico

torceu o nariz a matriz da língua
o olho da rua
fraturou o dedão do pé
perdeu o equilíbrio
de mais um verso quebrado
dançou um tango argentino
perdeu o rebolado
o sentido lírico da vida
da lua empedernida
mágoa embalsamada

perdeu mãe e ouro
namorada e razão
perdeu amigos
irmão
fazenda e gado

mas o poema de perdas
o Pico do Cauê
último legado
esse não
não se perdeu
anda comigo por todo o lado

quinta-feira, 16 de agosto de 2007


nada além da pedra
da pedra do túmulo à vista
na memória

a pedra mesma na origem
da história
da cidade sob vendas

nada além do pó da pedra
da plebe angular
obscura oferenda

nada além do oráculo da montanha
do santuário de pedra
do palavra branca lei esculpida no ar

nada além da pedra a moratória
do que sobre si e transitório
se dobra feito renda

terça-feira, 14 de agosto de 2007



o poeta desvenda o mundo





não há poesia na miséria


ma matéria bruta do universo


em seus perversos derivados





não é relativa a poesia


nem absolutaa


poesia é radioativa e inútil





viva fruta


vinha envenenada





onde não vai a nave louca


o navio o avião


o poema pousa na boca suave aterrissagem


sem motivo sem razão





vai mais que o pensamento


além do movimento lentode um trem de carga


esbaforido e barulhento
vai além do ar rarefeito


do artefardo de pedra


do que no ventre


no estômago
no peito se imagem lerda pesa


mergulha fundo a poesia no vazio das coisas


de tudo encharca os olhos
de sonhos
de objetos mortos


some no mais diverso do maior abismo


insinua de nudez amável por desvios proibidosr


evela a dor as dúvidas do homem





vai sempre por onde o ser humano for


zomba da água
do fogo
do vidro


do rigor da lógica


do fulgor da ótica
do vigor do orbe


do jogo da música
do visto em sombras


da hecatombe semiótica





não é animal de estimaçao
não é natural
feito a maçã sobre a mesa
não é neutra


transparente


doce ou azeda


obsessiva semente





não se observa no varal das nuvens


nem se experimenta se induz nem se deduz impune a poesia





não há ciência na poesia


mais que a bovina
impaciente siderurgia
pasta
come
rumina o verbo
recria
de nada sabe da permanência


de certo de nada adiantaria o finito ou eterno verso





não é clara nem vidente


não é mansa nem valente


nem artigo de luxo


nem conveniente
a poesia resiste simplesmente
entre o céu e a terra


entre o cérebro e o bruxo


entre o reto e o translúcido


simplesmente existe





o poema se rebela de poesia se tece


com o mundo não se confunde


quando ao poeta atentoà vida breve se entrega


e o mundo em transe assim consente


o poeta desvenda o mundo

segunda-feira, 13 de agosto de 2007


o cavalo vegetal

ver cavalos trepados em árvores
é função da poesia
magia de olhares em descanso
das mãos do vento
quando o animal nas grimpas
pasta as rédeas
e o sol no seu pelo se irradia

ver cavalos trepados em árvores
não é ilusão dos sentidos
é função para imagens desdomesticadas

o cavalo assume ares de céu
agarra-se aos galhos dos arbustos
escoiceia a monotonia da paisagem
como se ramos fosse
homens e astros
fossem vermelhos
fosse gêmeo das nuvens e das chuvas
de flores e folhas
dele mesmo
raiz
esbelto tronco azul fabuloso corcel

domingo, 5 de agosto de 2007

não

não o tudo que posso
não posso tudo
nem tudo que falo
é pássaro
paisagem
nem tudo de passagem
voa
não
não sou mera imagem

nem tudo hulha
nem tudo fogo
nem tudo foge
nem tudo molha
nem tudo brilha

nem tudo bolha
nem tudo milha

nem tudo falha
nem tudo urra
nem tudo mia
nem tudo terra
nem tudo ilha
nem tudo torre
nem tudo folha
nem tudo

basta

não falo pelos cotovelos
para os espantalhos
falo para os espelhos
pelos sem olhos
pelos que de joelhos
ferem de pedra
a pele da voz
falo pelo avesso da alma
pela voz dos que não

não
nem tudo se move
nem tudo é neve
nem tudo suave

não
não sou astro
sou ave

não calo sobre meu corpo
não consinto na minha morte
não
não calo por conveniência
de nenhuma ordem política
de nenhuma desordem pública
pelas contingências da língua
pela beleza das penas
pela imponência da túnica
pela impotência da fala
contra a palavra única
ouço
quando falar não ouso
quando o falar não posso
quanto no vento vou
meu pensamento ecoa

não
não posso falar tudo
nem tudo reaver da fala
a herança legendária
os contos de fada
a falácia da mata
a falência do outro
o som da floresta
o sumo da fruta
o sem razão do dito
o que me cala o sono
o interdito no
na ponta do bico
no labirinto do rio
o que em hábil álibi me ilude
o pouso
a gaiola de ouro
o ufanismo das letras
a profusão das mídias
a imprecisão dos livros
a profusão de eventos
os livros que nunca li

não
não falo
do que não seja pele nova
do que apelo não seja
dentro ou fora da mim
chuva branda
chumbo grosso
cova
casa
covil
minha fala
com a faca no pescoço
com a foice na janela do verso
não falo
não me sujeito
às penas dos homens
sou mesmo sem lado
sem trato
sem jeito
de coração enorme
inconforme e duro
pluriforme pássaro
bípede na vertigem
na voragem dos ares
com a velocidade
com a ferocidade
com a voracidade
da cidade e suas leis suspensas
da cidade e seus jardins suspeitos

se o fosso do bico
se a boca se abre
devolve em vômito
o ar
o murmúrio
a fala insossa
a sonoplastia
a polifonia
a microfonia do mundo
o poema sem carne
o alo do osso
o falso riso
quando falo
o verbo se lança em infinitos vôos
não passo em branco
pelo buraco das nuvens
passo como convém aos pássaros

falo com língua solta
com asas curtas
com os pés presos pelas as flores

falo
como durmo trepo
adoro vento

falo por mim
por mínimas palavras
por cima das sete cores
o mundo em sílabas se funde
só a linguagem me alimenta
debaixo do céu insólito