sábado, 24 de junho de 2006



A Brasília de Seu Raul


As Peripécias da Brasília de Seu
Raul pelas Estradas de São Tiago



João Evangelista Rodrigues

Março de 1999.




Depois da brasília amarela dos Mamonas Assassinas, a brasília mais famosa do mundo
é brasília de Seu Raul, lá em São Tiago, no interior das Vertentes de Minas Gerais.


O carro do seu Raul
é deveras engraçado
dentro dele tem de tudo
por isto é muito afamado
pras bandas de São Tiago
pra tudo quanto é lado
sempre é muito admirado

não é por razão à toa
tanta fama e atenção
já faz tempo que ressoa
por entre a população
o carro do Seu Raul
já rodou de norte a sul
espalhando sensação

Seu Raul já foi prefeito
segundo dizem dos bão
é homem sério e direito
senhor de bom coração
mas seu carro encomendado
parece almoxarifado
de um hospício do Japão

também parece oficina
pátio de circo mambembe
tem cheiro de gasolina
e por tudo que me lembre
este carro é diferente
de todo carro existente
até pelo nome atende

não é tanto pela marca
nem pela cor com certeza
parece mais uma arca
gorda esticada e obesa
uma Brasília enfeitada
amarela desbotada
mas que faz muita proeza

parece até fantasia
só acredita quem vê
dentro dele tem polia
peça de rádio e TV
tem um ninho de galinha
uma jibóia mansinha
não falta nada pra ter

dentro dele tem de tudo
o que se acha na estrada
ferro velho parafuso
alfinete almofada
tem até um colchão velho
um pedaço de espelho
uma cadeira quebrada

tem de tudo que a gente
imagina que precisa
quando da fé de repente
aperto maior avisa
tem lanterna e lamparina
cigarro pão margarina
faca gilete e camisa

há mesmo quem faz intriga
sobre essa tal condução
mas o seu dono não briga
pois briga é coisa de cão
leva tudo na esportiva
pois a vida mais festiva
dá mais graça e emoção

outro dia foi demais
veja o que aconteceu
até saiu nos jornais
e foi assim que se deu
o carro perdeu o freio
e o trem ficou tão feio
que até o chifre fedeu

foi na boquinha da noite
numa curva perigosa
a chuva com seu açoite
parecia pedregosa
bem no meio do asfalto
a dama de salto alto
pediu carona chorosa

se era viva não sei
nem se era aqui da terra
só conto o que escutei
a verdade aqui se encerra
Seu Raul perdeu o rumo
O carro perdeu o prumo
foi rolando pela serra

antes bateu numa casa
atravessou a parede
nem se o Trem tivesse asa
nem se Deus tivesse rede
o carro tava embalado
nem o mar engarrafado
mataria sua sede

pulou por cima da grota
venceu duas ribanceiras
atropelou vaca morta
quebrou só duas porteiras
o carro seguiu em frente
não perdeu sequer um dente
ao bater nas bananeiras

entrou na porta da igreja
foi para da outra banda
nunca vi tanta peleja
quebrou boteco e quitanda
êta carinho danado
sempre mais acelerado
sempre arribitando a tanga

levou no peito uma ponte
caiu lá dentro do rio
só feriu de leve a fronte
tremeu um pouco de frio
o boné do motorista
voou pra longe da pista
sumiu no capim macio

parecia um bode babo
quando perde a estribeira
o bicho abriu o rabo
e não perdeu a tranqueira
rodou pra tudo o que é lado
e nada ficou quebrado
juro não é brincadeira

o carro trombou num boi
deixou um burro aleijado
foi assim mesmo que foi
e nada foi inventado
bateu numa sucupira
se enroscou numa embirra
só ficou meio amassado

quem viu não acreditou
em tamanha estrepolia
o carro quase voou
por cima da ferrovia
se chocou num trem de ferro
buzinou gritou deu berro
enquanto o chofer sorria

mesmo dando cambalhota
salto mortal e chifrada
não amassou a capota
nem a porta foi quebrada
o carro bateu de pé
você sabe como é
nunca vi fé tão danada

é verdade que a forreca
agora está mais cambeta
só faz ligação direta
nem marcha – à – ré ela aceita
seu Raul não se importa
pois mesmo com a asa torta
chega bem na hora certa

o carro do Seu Raul
é a maior curtição
dentro dele tem tatu
tem cobra e escorpião
há quem diga com certeza
nele só não tem tristeza
pois isto não presta não

dentro dele tem lençol
tem tudo que se quiser
arame fita farol
tudo o que você disser
de tão cheio se arrebenta
mesmo assim seu dono tenta
colocar sua mulher

mesmo velho tem seu brilho
tem o maior farturão
uma lavoura de milho
um canteiro de feijão
só falta agora o quiabo
é um carro malcriado
anda só na contramão

por onde este carro passa
é motivo de sucesso
seja no asfalto ou na praça
eu juro digo e confesso
o carro é tão engraçado
tão diferente e enfeitado
que acabou virando festa

parece coisa de artista
nunca vi tanta armação
dentro dele tem revista
cola batom papelão
um carro assim semelhante
só vi em Belo Horizonte
só o do Grupo Galpão

espero que o seu dono
em nada me leve a mal
é que estava sem sono
e o carro é genial
seu Raul é meu amigo
não vejo nenhum perigo
em rir do que é real

por aqui eu me despeço
neste verso de cordel
nem no vento me tropeço
pois a vida é um carrossel
eu juro que é verdade
vi por cima da cidade
uma Brasília no céu
a notícia correu mundo
e não menos sem razão
é o que diz o Raimundo
e o Zé do Sebastião
parece coisa encantada
seu Raul dando risada
ao ver tanta confusão

o carro do Seu Raul
é deveras bem legal
é feito um museu de tudo
patrimônio cultural
que o leitor me entenda
esse carro virou lenda
atração municipal

se o leitor não acredita
no que aqui eu escrevo
por favor não faça fita
vá conferir o acervo
confira pessoalmente
não seja tão resistente

contra o que aqui escrevo
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