sábado, 24 de junho de 2006



Literatura de Cordel

A linguagem sempre foi para mim um desafio. A linguagem independente de sua linhagem. Da paisagem onde a letra/signo se desenvolveu.
Desde muito cedo, ainda no curso primário, costumava fazer experiências com a palavra, com o som com a imagem. Tanto a imagem verbal , quanto a plástica ou sonora. Vivia imerso em um mundo de linguagens. Estava como que sozinho naquele universo mágico e magistral da linguagem. Pedras, árvores, rios, pássaros, armas e armadilhas de toda a ordem. Foi neste ambiente que, por acaso, descobri a literatura de cordel. Encontrei um baú no porão da casa de minha avó, Ana Leopoldina de Jesus. Era uma casa grande , com muitas portas e janelas. O jardim ficava na frente. Minha vó dava pousada para os viajantes e mascates. Aueles curiosos livrinhos, com capas engraçadas e rimas ficavam espalhados pela casa. Nem sabia ler ainda e já me agarrava com eles .Foi amor à primeira vista. A terra do Oeste de Minas é fértil e a literatura de cordel germinou, sem dificuldades, ao lado do desafio, da reza de novena, da festa no Cruzeiro, das cantigas de mutirão, das histórias mal assombradas e das cantigas de roda. Só mais tarde me visitariam outras formas poéticas, o que há de melhor na literatura brasileira. Muitos anos depois, viajei para o nordeste brasileiro.Lá enocntrei-me com grandes repentistas e poetas de cordel. Ainda bem, que o preconceito contra esta literatura está acabando. Pra mim, jornalista de profissão, o cordel é uma notícia em verso.Um puco fantasiada, exagerada, ás vees, é verdade.Mas puro jornalismo em verso, atento e capaz de relatar , cantando, aspectros que certamente escaparia ao clássico e rígido modelo jornalístico com seu nada criativo lide.
Ao longo de minha formação e produção literária escrevi vários textos de cordel. No entanto, considerando minha trajetória histórica e cultural, não posso me considerar um poeta de cordel, mas um admirador,colecionador de livros de cordel. Quanto aos cordéis que escrevi e, que aqui divulgo, cabe ao leitor e aos críticos, se críticos houver, a incômoda tarefa de avaliar e comentar. Escrevo.Escavo. Escravo do verbo escreviver como posso o tempo que a mim me cabe viver.Cumpro minha sina. Se a “rima não é solução”, pelo menos para mim é soluço, é som.

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