sábado, 24 de junho de 2006





O Baile das Letras






João Evangelista Rodrigues


a
s letras do alfabeto
são todas muito engraçadas
algumas cheias de afeto
outras um pouco estouvadas
todas são muito bonitas
com elas são infinitas
as palavras desenhadas

b
asta saber combinar
a forma o colorido
o tato o paladar
o coração e o ouvido
e como fossem magia
mistério ou maestria
as frases ganham sentido

c
ertas letras são magrinhas
belas parecem castelos
há também as gorduchinhas
redondas feito novelos
existem letras compridas
exatas e exibidas
todas cheias de apelos

d
uas letrinhas somente
já dão muito o que falar
ditas de modo eloquente
poderão tudo mudar
se pouco dizem pôr si
juntinhas igual aqui
histórias podem contar

e
xistem letras discretas
outras muito enfeitadas
aquelas duras e retas
muitas letras são quadradas
cada qual é diferente
as vezes parecem gente
andando pelas calçadas

f
igurinhas graciosas
estão sempre de mãos dadas
algumas são montanhosas
há letras bem humoradas
certas letras são tão finas
lembram certas bailarinas
em suas malhas douradas

g
ostam de usar chapéu
apertam bem a cintura
desfilam sobre o papel
mudam de forma e postura
às vezes parecem bola
muitas vezes se enrolam
saltam fora da moldura


h
á gente que nunca sente
o quanto as letras são belas
o quanto são transparentes
muito mais do que janelas
não sente sua ternura
não toca sua textura
por isto não gosta delas


i
maginem se no mundo
não existissem as letras
elas vêm do mais profundo
universo das estrelas
sem elas os pensamentos
voariam com os ventos
ninguém poderiam vê-los

j
á certas letras sugerem
insetos bem divertidos
um gafanhoto severo
uma joaninha de vidro
uma barata tan - tan
um louva – deus no divã
vendo um grilo no livro


l
ogo - logo se percebe
que letras são seres vivos
são espertas feito lebres
mais que espertas são livres
algumas são elegantes
outras mais interessantes
com suas trombas incríveis


m
uitas letras são atletas
praticam vários esportes
são as letras mais esbeltas
mais leves belas e fortes
outras são bem pequeninas
são curiosas meninas
espiando atrás da porta

n
uma página em branco
é mais fácil observar
umas chegam de tamanco
outras pisam devagar
algumas dizem silêncio
outras tem cheiro de incenso
todas desejam voar

o
“o” o “u “ por exemplo
fazem muita algazarra
movem os muros do tempo
ecoam mais que cigarra
o ‘I ‘ é mais estridente
enquanto o “a “ certamente
faz mais farra na fanfarra


p
ode mesmo acontecer
de a letra ficar trocada
seria como escrever
correto a palavra errada
a fala assim fica fula
a mola assim vira mula
a língua fica embolada

q
ue coisa mais venturosa
já disse um dia o poeta
seja em verso ou em prosa
a palavra é uma seta
atinge bem lá no peito
e quando pega de jeito
a fala fica formosa

r
epare o “B” bem bolado
parece Ter dois andares
o chaminé no telhado
leva a fumaça pros ares
seria casa perfeita
se a porta não fosse estreita
e as janelas fossem pares

s
em as três pernas o “M “
não pode se equilibrar
quanto mais alto mais treme
é difícil de escalar
o “M “ é uma montanha
onde se esconde a manhã
de onde o sol vem olhar

t
em letras bem semelhantes
nenhuma delas é feia
são mesmo muito instigantes (?)
se o “S” lembra sereia
e o “T” parece um poste
do “W” só há quem goste
há não ser gente de veia
vê o “V “com vista cheia

u
ma letra faz mudar
o sentido de repente
veja só pra comprovar
o quanto a fala é fluente
se o dedo toca no dado
o dado troca de lado
muda a vida de repente

v
ocê viu bem o vai vem
do alfabeto a beleza
as formas que ele tem
sua poesia e leveza
pois é esta formosura
que dá prazer à leitura
e mantém a chama acesa

X
é o xis da questão
é uma letra enigmática
pode causar confusão
complicar toda a gramática
com poucas letras assim
o livro fica sem fim
a vida fica fantástica
z
ele portanto dos livros
é neles que as letras moram
as letras são seres vivos
ora cantam ora choram
com elas a poesia
habita a casa do dia
toda a paisagem lá fora

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