sexta-feira, 23 de junho de 2006




Muda Brasil V

Muda de ponto de vista,
de papel,
de munição,
muda de capa a revista,
de ponto de imitação.
De indignação.


Muda de mira,
de interrogação,
muda de hóspedes o hospício,
o muro nacional das lamentações.

Muda, pelos poderes do Caos,
pelo pudor animal,
por teus reinados em ruínas,
do Oiapoque a Chauí,
das montanhas de Minas,
do Piauí
ao Planalto ancestral.

Muda,
não por acaso a matança,
nem por ser a mudança fatal.
Muda por necessidade real.
Muda de lógica,
de estação antiecológica,
de ética.
De Estética.
De dialética.
Da patética mutação do samba.
Mudar de ar
faz bem à Nação,
à liberdade do pulmão,
ao coração tropical.
Pela Tropicália,
Pelo futebol,
pelo drible,
pelo gol,
pela gripe,
pelo jogo,
pelo grito,
pela torcida mais canalha,
pelo fio da navalha,
pelo golpe a machado,
pela bolada no bolso,
Pela boiada no pasto,
pela cara- de- pau do palhaço
pelo pau a pique da choupana,
pelo piquenique em Brasília,
pela grana do morto,
pela grama do Jardim Suspenso da Babilônia,
pela granja mais chic,
pelo cheque sem fundo,
pelo mundo sem rumo,
pelo sem remorso:

muda vivo ou torto
muda de cemitério ,
de comentário,
de comissão e salário,
de praça,
de avenida,
de horto,
de aeroporto,
de ministério, de vida,
de posto,
o hemisfério do rosto.

Pelo show das vitrines,
pelo espetáculo de cinzas,
nos presídios,
nos hospícios,
nos asilos e hospitais.
No picadeiro do circo Brasileiro.
Após-tudo, Carnaval.
Nada mais resta,
além do lixo da festa,
além do queixo caído,
das belíssimas falcatruas.
Do olho no meio da testa!

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