domingo, 25 de junho de 2006


confessional

nunca fui de mentir
não minto
escrevo com o sol na cara
na tela do micro
sou meio cego
vejo mais do que permite
o olhar domesticado
menos do que almejo
vivo à deriva do sem desejo
não tenho medo da morte
a vida me assusta
a morte é meu adereço
toco o espelho com o dedo
quando acordo
quando penso que acordo a cada
amanhã
verifico se ainda estou vivo
se meu coração expulsa o sangue ruim
se a memória do computador
não se apagou
sempre vou para onde preciso ir
para onde quero raramente vou
de sina herdei a escritura púrpura
figura oculta no submundo da pele
não sei
não invento
não copio estilos
somente escrevo o já proscrito acervo
um cervo cavalga na vidraça
do céu sem nuvens
todos os dias a luta recomeça
peça por peça
do mesmo sem fim quebra-cabeça
dura batalha- palavra ex-tinta
ilha entre águas
e vertentes
entre algas e vertentes
entre agruras e videntes
sei que nenhum caminho leva a Roma
que o rei está em coma
que tudo por aqui Sodoma
acumula insulta afronta
sigo o aroma das flores no cerrado
mais abelha do que homem
não fosse o riso
o comprimento do abdome
rios e córregos me umedecem
somente a poesia me interessa
a que do oeste anda urge decifrar reunir
em lentas leituras
Bueno de Rivera
Adélia Prado
Emilio Moura
a palavra sincera me procura
mais que úlcera
mais que a areia no intestino come
me espera do outro lado do rio
o rio Santana não divide nada
tudo é sem fronteira sem limite
a geografia é invenção desumana
acaba com o tempo o nome se transforma
em mato e pedra a ruína da casa
a escola em asa para a poesia
o gavião de espreita espia
pássaro mais frágil pia
o urubu não foge
nuvem mais alta escolta
se não há remédio para a vida
se aa morte não tem volta
escrevo do que resta o que sinto
o instante me alucina
a lucidez não me doma nem seduz
é instrumento só de desenlouquecer
a conveniência da razão me entristece
ser não sou
estou
stop
let”s golll
não troco farpas nem favores
o poder me ensandece
falar não deveria nem ouvir
sentir somente seguir a sina
do que não se sabe e sente
o que mais a frente me ocorre
acorda pássaros de pedra
manhãs impassíveis

minha sombra entre falsos-signos se evapora

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